Fraternidade e hipocrisia andam juntas
Publicado em 05 de março de 2010 por Gilson Sousa
Longe de mim comprar algum tipo de briga com os poderosos da igreja católica neste país de atitudes dissimuladas. Mas deixar aqui minha indignação com o que considero o extremo da hipocrisia, isso sim, posso fazer. Até porque não dá para engolir calado o fato de representantes desta igreja irem a público lançar a Campanha da Fraternidade ecumênica 2010, com o tema ‘Fraternidade e Economia’.
Por que? Porque mais uma vez as garras da hipocrisia que alimentam esse segmento religioso se mostram afiadas. Senão vejamos: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”, diz o lema da referida campanha. “Ahhhh!”, digo eu. Como assim?
No mundo capitalista em que vivemos, pregar isso é pura balela. E essa igreja aí bem sabe disso. Como as outras também. As evangélicas da vida que ficam cada vez mais polpudas com o dinheiro surrupiado de miseráveis espirituais que se apegam à religião em busca de devaneios.
Durante séculos, todos nós sabemos, a igreja acumula riquezas incalculáveis e vem pra cá agora dizer que pimenta nos olhos dos outros é refresco. Exemplo disso é o próprio Vaticano, em Roma, que concentra uma fortuna em Euro somente para bancar as mordomias eclesiásticas. Uma discrepância.
Portanto, até quando esse modelo de igreja conservadora e alienadora irá dominar mentes e consciências pobres de espírito real? Pelo amor do verdadeiro Deus, quem essa igreja católica pensa que é para lançar tal campanha e criticar ferozmente a utilização do dinheiro? Tá na hora de parar com isso.
Na verdade, essa história de que “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” lembra muito aquela máxima burguesa inventada no século passado dando conta de que ‘dinheiro não traz felicidade’. Essa foi uma maneira eficaz de controlar a ganância e ambição daqueles que poderiam crescer na vida, deixando de lado a idéia de ganhar dinheiro. Com isso, a burguesia ficava à vontade para cada vez mais engordar seus cofres e usufruir das benesses do vil metal. Jogada de mestre.
Hoje o que se vê é uma igreja católica muito afastada da realidade. Homens que insistem nessa história de celibato, abrindo as portas para os padres cometerem pecados horrorosos nesse mundo. Uma igreja que condena o uso de camisinha em relações sexuais, mas que não é capaz de ‘bancar’ um projeto social abrangente para cuidar de crianças abandonadas. E por aí afora.
A propósito, sabemos que são pouquíssimos neste Brasil os sacerdotes que realmente cumprem o tal voto de pobreza. A maioria gosta mesmo é de uma boa mordomia. Então, apelo para que deixemos de lado essa hipocrisia gritante e caiamos na real. Os pecados são todos nossos, eu sei. Peço que quando forem elaborar ‘campanhas da fraternidade’, que sejam mais coerentes.
Caso contrário, essa igreja corre o risco de ser desmascarada pela própria população que anda cada vez mais atenta. Afinal estamos na era da comunicação. E todo mundo manja que essa mesma igreja que agora critica o dinheiro, desde os primórdios alimentava a idéia de riqueza. Não a riqueza dos seus integrantes enquanto cidadãos, mas sim do patrimônio da instituição, capaz de impor e intimidar qualquer um que se oponha ao seu sistema perverso e aterrorizador.
A bem da verdade, considero importante deixar claro que eles (igreja) sabem muito bem que ninguém nesse mundo de hoje vive à margem da economia. E ai dela própria se não apelasse constantemente aos dizimistas para manutenção dos seus cofres. Portanto, reafirmo que é duro dormir com um barulho desses.
E antes que algum leitor pense que sou um ateu desvairado, digo que não. Sou um cristão, sim senhor, convicto de mim, temente a Deus, mas que não preciso seguir regras e conceitos desse grupo mesquinho repleto de homens hipócritas no comando. Ou será que a partir de agora esses senhores astutos que vestem batina irão abrir mão de suas riquezas ocultas e passar a ajudar materialmente os miseráveis que só contam com a ajuda de Deus para sobreviver nesse mundo cruel? Aí eu quero ver.