Em tempo. Chega um momento em que somos levados a nos deparar com a mais nefasta contingência de nossa vida. É nesses momentos que pensamos em Eurípedes, ou, propriamente, em Ésquilo.

Por falta de outra opção mais palatável, resta-nos o luto do porvir, como companheiro das horas e dos dias. Em razão disso tudo, por que não pensar no fracasso e na infelicidade?

Ora, a possibilidade do fracasso é uma das mais reais condições de nossa existência. A probabilidade do fracasso se fazer presente é enorme. Em razão disso tudo, é que se pensa, por oposição, no sucesso.

No entanto, pondere-se: se o fracasso pode nos visitar das mais variadas formas; não menos verdade, que também assim o é o com o sucesso. Inadvertidamente, esses dois personagens, achegam-se a nós.

Assim, sorrateiro, o sucesso surge e se encarrega, assim como o fracasso, de subverter a direção pretendida para nossas vidas.

Inobstante, de um sentido ou de outro, no frigir dos ovos, é trágico que assim o seja (pela presença de um ou pela ausência de outro).

Se o bem precisa do mal para sua percepção, a partir da noção de contraponto. Sucesso e fracasso somente fazem sentido se forem apresentados em dupla. Sem esse parâmetro de comparação, nem o sucesso, ou mesmo o fracasso, fazem qualquer sentido mais profundo (a nós).

Notem, no entanto que conceito de algo é dinâmico. Ou seja, deve abarcar circulo de latência do ente, como uma percepção de tudo que esse ente pode fazer. Seus elementos essenciais e acidentais.

Então uma representação ilustrativa desse ente não se mostra suficiente para expressar toda a sua totalidade. Um filme, talvez, pudesse ter uma maior representatividade do ente em si. No entanto, ainda não tão completamente quanto a sua percepção contraposta ao que lhe é oposto, ontologicamente falando.

Sucesso e fracasso, somente fazem sentido em dupla, e vistos na contingencialidade de uma vida inteira. Essa é a percepção que podemos estar tentando elucidar.

Se, como diz o poeta Joseph Brodsky, o encontro com o mal é inevitável. Também, desconfiamos nós, parafraseando Guimarães Rosa, o encontro com o fracasso também o é.

E, nesse caso, se o mal se apresenta tão difuso e dissimulado, que nos dá a impressão de estarmos cara a cara como o bem. Também assim o é, com relação ao sucesso.

A condição humana, num mundo de aparências, faz nos ponderar, parafraseando Joseph Brodsky, se a imagem que projetamos no espelho não seria a significação mais própria do fracasso anunciado pela nossa visão de sucesso?

Portanto, se por um lado, a vertente do sucesso nos dá a dimensão (ir)real de nós mesmos. Já que ter a vaidade por conselheira é uma das maiores tragédias que nos possa acontecer. Não é menos verdade, que o fracasso pode nos prostrar de tal forma, que todo o ânimo de continuar vivendo, possa, em determinado momento, extinguir-se por completo.

O (des)tempero de realidade que emana do sofrimento, tira-nos, a fórceps, do ideal de vida (ir)refletidamente concebido. A uma, porque a dor, apesar de seu caráter pedagógico, é axiomaticamente afastada; a duas, porque o hedonismo irrefletido que se tornou o padrão de felicidade, em nossa sociedade atual, leva-nos à mais profunda (in)felicidade, pela ausência de reflexão (ARENDT, 2007, passim).

A subversão do mal, deriva do seu escamoteamento em bem. A instrumentalização da vida, pela fetichização do eu, é a definitiva e derradeira caminhada para a morte (por uma vida insignificada).

Entretanto, a par do fracasso e do sucesso, (os) dois (referidos) impostores, qual é a real significação do Carpe diem? Aquilo que tanto grasnava o corvo de Edgar Allan Poe?

REFERÊNCIAS.

ARENDT, Hanna. A Condição Humana. 10 ed. Rio de Janeiro, 2007.