RESUMO: 

 O presente artigo é resultado de uma pesquisa bibliográfica, onde discorre sobre o tema o fracasso escolar no contexto educacionalque tem sido um desafio a ser enfrentado pela educação formal.  Conhecer as questões sociais relacionadas ao fracasso escolar é fundamental para os profissionais de Educação. O fracasso escolar é objeto de inúmeras discussões e investigações científicas que buscam compreender e apontar uma solução (definitiva) para a questão.

Palavras-chaves: Fracasso escolar, Educação,Docência.

ABSTRACT

The present article is the result of a bibliographic research, which discusses about the subject the school failure in the educational context that has been a challenge to be faced by formal education. Knowing the social issues related to school failure is fundamental for education professionals. School failure is the subject of countless scientific discussions and investigations that seek to understand and point out a (definitive) solution to the issue.

Keywords: School failure, Education, Teaching.

1 - INTRODUÇÃO 

O conhecimento da questão social envolvida no fenômeno do fracasso escolar é de importância fundamental para os profissionais de Educação, incluindo-se aí aqueles que trabalham com orientação profissional, já que o grau de escolaridade é o principal critério que sustenta a forma de divisão social do trabalho que vigora em nossa sociedade de mercado (Tfouni & Paula, 2008). Assim, uma visão mais ampla da realidade educacional brasileira torna-se indispensável para a compreensão do processo no qual as pessoas escolhem suas profissões.

Alguns trabalhos na área da Orientação Profissional já começam a levar em consideração alguns aspectos dessa realidade educacional e social desigual. É o que podemos ver em Melo-Silva e Lassance (2008). Para estas autoras é a partir do enfoque sobre o trabalhador, e não sobre o trabalho, que a orientação profissional organiza-se na modernidade. Segundo as autoras:

A demanda por serviços de orientação aumenta não só em quantidade de clientes, mas em especificidades de demanda, estendendo-se a populações minoritárias e com desvantagens sociais e físicas, gerando a necessidade de maior qualificação dos profissionais de orientação. (Melo-Silva & Lassance, 2008, p. 1).

Também em outro trabalho da área (Lassance, Melo-Silva, Bardagi, & Paradiso, 2007), uma realidade social mais ampla e mais diversificada é levada em conta. As autoras destacam a necessidade de uma reformulação do modelo tradicional de Orientação Profissional, voltado basicamente para o atendimento de adolescentes de ensino médio de escolas particulares que buscam por uma profissão de nível superior. Em contrapartida, elas propõem um modelo contínuo e dinâmico de orientação profissional que não se limita à adolescência ou a um contexto de transição específico, tal como a transição ensino médio-universidade.

Assim, considerada a necessidade de ampliação dos conhecimentos envolvidos na intersecção entre os campos da Educação e do Trabalho, a proposta deste artigo é apresentar, através de uma revisão crítica de literatura, a ligação estreita que existe entre os fenômenos da divisão social e do fracasso escolar. Para tanto, foram selecionados e analisados textos teóricos e textos de revisão de literatura sobre a problemática do fracasso escolar, os quais forneceram os elementos empíricos para esta análise.

Sempre presente na educação brasileira - não como um fenômeno isolado, uma exceção, mas como uma realidade (incômoda) muito conhecida - o fracasso não pode escapar aos interesses dos pesquisadores. Nesse sentido, foi possível introduzir neste artigo as seguintes questões: Como o fracasso escolar é interpretado pelos cientistas da área da educação? Que relações estabelecem-se entre esses saberes científicos e as práticas escolares cotidianas?

É importante adiantar neste ponto que o referencial teórico-metodológico adotado para realizar esta investigação é aquele proposto pela Análise do Discurso francesa (Pêcheux, 1997), disciplina científica que investiga como se articulam os elementos históricos e subjetivos que afetam a linguagem, tendo como mola propulsora a ideologia, na medida em que, considerando essa leitura, toda e qualquer descrição é também uma interpretação, pois é mediada pelos valores do pesquisador, sua forma de olhar para a realidade, ou seja, é mediada pela ideologia (Paula, 2008).

Desta forma, com base nesse modelo de investigação científica, empreendeu-se uma análise discursiva das teorias e ideias que tratam da questão do fracasso escolar, procurando caracterizá-lo como um discurso organizado e orquestrado por formações ideológicas específicas, cujo efeito é dissimular as verdadeiras causas desse fracasso, dando a entender que ele é um fenômeno inevitável e impossível de ser descrito.

Partindo de trabalhos de revisão sobre o tema, como o de Patto (1992), procurou-se identificar algumas condições históricas e sociais que possibilitaram o surgimento das diversas interpretações sobre o fracasso e a vinculação dessa produção científica com determinadas ideologias ou interesses de classe. Assim, este trabalho oferece outra leitura sobre a questão do sucesso e do fracasso sócio profissional, pois aponta a forma como a ideologia participa desse processo, não se tratando meramente de uma escolha de vida que o sujeito faz.

 2 - O FRACASSO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

A história da Educação brasileira é marcada pela recorrência de evasões, repetências e uma série de outros fatores negativos que são geralmente classificados como fracasso escolar, como nos atestam alguns trabalhos críticos nessa área (Silva, Barros, Halpern, & Silva, 2003). O fracasso escolar apresenta-se, desta forma, como uma realidade indissociável da história da Educação e do processo de escolarização das classes populares no Brasil. Só para se ter uma ideia, dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) (2000) apontam que até o início da década de 1950 menos da metade da população brasileira era alfabetizada. Em outro trabalho (Ribeiro, Vovio, & Moura, 2002), encontramos estatísticas recentes nas quais 29% da população brasileira acima de 15 anos é classificada como analfabetos funcionais - pessoas com menos de quatro anos de estudo.

Dessa forma, apesar de todo o progresso urbano e tecnológico pelo qual passou a sociedade brasileira nas últimas décadas, e de todos os projetos e iniciativas dos governos no sentido de erradicar o analfabetismo, aumentar a escolarização da população e diminuir a repetência e a evasão escolar, a realidade de fracasso persiste. Isto é atestado não só pelas estatísticas oficiais que reconhecem a permanência de altos índices de evasão e repetência no ensino fundamental e médio como também por jornais e revistas, que cotidianamente retratam a precariedade das escolas públicas e a insatisfação da população pobre com o ensino (Dimenstein, 2007; Azevedo, 2007).

Inicialmente, chamamos a atenção para o fato de que a noção-conceito de fracasso escolar é empregada quase que de forma natural por aqueles que tratam do tema. É o que nos diz Charlot (2000), autor que afirma não existir (estritamente falando) o objeto de pesquisa fracasso escolar. O que há, segundo ele, são alguns fenômenos sob essa denominação. Na leitura empreendida por esse autor, o fracasso escolar é entendido como uma categoria genérica, ou seja, uma forma de interpretação que comporta vários fatores, tais como repetência e evasão escolar, dificuldade de aprendizagem ou mesmo um desempenho insatisfatório em uma única disciplina escolar.

Partilhando da abordagem apresentada por Charlot (2000), destacamos ainda que os fatores que estariam situados dentro da categoria genérica fracasso escolar - repetência, evasão, distúrbios de aprendizagem, analfabetismo, etc. - também se constituem em interpretações daquilo que ocorre no espaço da Escola. Para que um aluno seja reprovado em uma disciplina escolar qualquer, por exemplo, ele precisa ser avaliado segundo critérios criados pelo Estado, por uma escola em particular, e às vezes até por um professor específico. Assim, a classificação “fracasso escolar” não pode ser tomada como um evento natural da mesma forma como uma síndrome que compromete, invariavelmente, uma parcela de 5% da população, mas como uma atividade interpretativa, sustentada por diferentes teorias e ideologias apropriadas pelo sujeito (Pêcheux, 1997). [...]