Resenha sobre o Texto A formação Integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade

O estudo de Maria Ciavatta apresenta a ideia de que os gestos, a imagem e a história, com sua evolução e relações, constituem a memória e a identidade de pertencimento dos indivíduos.

Na introdução, nota-se o surgimento de novos termos, como formação integrada, para uma repetida discussão de ensino voltado a uma formação plena do cidadão-trabalhador, a qual, para ser efetivada, depende de vontade do poder político, de meios e recursos disponibilizados para tal e de respaldo da opinião pública. Assim, constata-se que a finalidade da pesquisa gira em torno da reflexão acerca do que caracteriza a formação integrada, a qual precisa romper com a dualidade existente entre trabalho manual e trabalho intelectual, a fim de formar trabalhadores preparados para a atuação como dirigentes e cidadãos, conforme apregoa Gramsci.

Para tanto, urge a superação da formação voltada apenas ao operacional, tendo em vista que se torna necessária uma formação emancipadora do indivíduo em sua plenitude, no entendimento das articulações socioculturais em todos os fenômenos.

O capítulo Historicidade do tema e formação integrada nos embates político-ideológicos apresenta o viés socialista da formação omnilateral, marcada pela integralidade física, mental, cultural, política, social e cintífico-tecnológica, segundo Marx. Tal abordagem demonstra que o conhecimento, historicamente, tem sido privilégio das elites, as quais recebem ensino diferente da instrução popular, com preconceito em relação aos trabalhos manuais.

Isso se comprova ao se perceber que somente na metade do século XX o analfabetismo entrou, no Brasil, na pauta das preocupações educacionais. Porém a meta era ofertar uma educação geral para as elites e uma preparação ao trabalho para os desamparados. Monacorda e Saviani discordam de tal dicotomia entre manual e intelectual, manifestada na instrução profissional vs. Instrução geral.

Na história da educação profissional no Brasil, portanto, prevaleceram o industrialismo e o economicismo, com operacionalismo e assistencialismo vs. Preparo intelectual. Contra isso, Hobsbawm defende uma educação profissionalizante não somente centrada na atividade laboral mas também nas condições de vida dos trabalhadores e nos seus vínculos políticos, sociais e culturais.

Na Historicidade dos conceitos nos estudos comparados, encontra-se a reprodução das desigualdades, diferenciada em alguns países que desenvolvem formação profissional a partir de um indivíduo que já obteve educação básica de qualidade, com base cultural, social, científica, humanista e universal. Um ponto positivo da América Latina constitui a oferta de educação profissionalizante focada nas instituições nacionais, com as demandas mercadológicas e as necessidades da sociedade. Porém a crítica a essa postura se observa na visão de curto prazo do mercado, e não no trabalho de longo prazo exigido pela educação, a fim de eliminar a visão secular de subalterno do trabalhador.

Na discussão sobre Trabalho, Ciência e Cultura: núcleo básico do currículo integrado, fica clara a crítica à alienação e a busca do sujeito ontológico defendida por Lukács, para formar um indivíduo capaz de conhecer, atualizar e ressignificar os processos fenomenológicos. E uma política curricular se faz urgente na educação omnilateral. Nesse sentido, a organização curricular voltada para o vestibular é criticada porque não forma o humano plenamente, e os PCNs se apresentam distantes da realidade, por intermédio de seleção e produção de saberes dissonantes das necessidades discentes.

A pesquisa indica a Escola e o Trabalho como lugares de Memória e de Identidade. O sentimento de pertencimento se faz por meio dos lugares de memória, como museus, bibliotecas, cemitérios, festas, associações, testemunhos. E a formação integrada precisa valorizar tais questões socioculturais e se fortalecer contra as inversões de valores e a cultura da violência que exibe um ser humano cada vez menos educado na civilização da cultura da paz. Os indivíduos não podem perder sua identidade, pois carecem de projetos de futuro que exigem a valorização dos espaços de memória e identificação.

Nesse contexto, defende-se uma reforma no ensino médio e profissional, com as escolas construindo seu próprio Projeto político-Pedagógico, calcado na reafirmação de sua identidade, história, memória e objetivo, com ações autônomas de educação.

Em vista disso, o trabalho propõe uma educação baseada em projeto social sem a formação para o mercado de trabalho apenas, mas sem a desprezar. Também defende a manutenção em lei da articulação entre o ensino médio de formação geral e a educação profissional, tudo com mais investimentos no ensino público. Ainda se sugere a adesão de gestores e professores no ensino teórico e prático, de formação geral e específica, com lições no próprio ambiente de trabalho. A articulação das instituições de ensino com os alunos e os familiares se mostra imprescindível na defesa de que a formação integrada não se faz isoladamente. Assim, o exercício da formação integrada se apresenta democrático, portanto participativo, com professores flexíveis, sem autoritarismos, preocupados na formação de sujeitos autônomos, compromissados com as questões ético-políticas e culturais, capazes de articular arte e ciência. Além disso, cobra-se a garantia de investimentos na edução pública de projetos de ensino médio, EJA, e ensino profissionalizante.

Todas as propostas discutidas visam a uma educação transformadora, com compreensão das desigualdades e formação da cidadania plena.

Dério José Faustino Júnior

Jean Carlos Neris de Paula