O município de Brumado-Ba possui uma população estimada em 62.670 habitantes (IBGE, 1998) com uma taxa de urbanização de 63% e uma densidade demográfica de 21.89(hab/ Km²). Encontra-se situada na microrregião econômica da Serra Geral, no Estado da Bahia. O relevo é constituído por superfícies das serras da borda ocidental do planalto da Diamantina, Pediplano Sertanejo e Patamares do médio rio de contas. Em sua geologia, destacam-se as rochas Biotita-gnaisse, Anfibolitos, xistos, Gnaisses, formação ferrífera, mármore magnesiticos, quartzitos e granitos.

 A empresa Magnesita S/A está localizada a 8 km da cidade de Brumado ao pé da Serra das Éguas (feição marcante na morfologia de região, minas com altitudes com mais de 1.000m e uma extensão de aproximadamente 18 Km, por 10 Km de largura).Sua forma é ovulada, ocupando uma área em torno de 124 Km². A empresa possui uma área industrial construída de 37.000 m². A mineração iniciou-se em 1945, em plena Guerra Mundial a partir daí, a Magnesita S/A vem mantendo estudos permanentes de geologia e pesquisa na Serra das Éguas. A empresa detém 761 funcionários efetivos diretos e 439 efetivos de empreiteiros, sendo a maior empregadora de mão-de-obra industrial da região.

Sabe-se que antes da indústria moderna, a produção dos bens necessários ao dia-dia era feita de forma manual. Essa foi à longa fase do artesanato e da manufatura que se estendeu desde a antiguidade até a Revolução Industrial. Apesar disso, ainda hoje, o fenômeno industrial continua distribuído de forma desigual no planeta, pois se tende a se concentrar nos lugares onde há fatores favoráveis a sua localização. Entre os principais fatores locacionais destacam-se as matérias-primas, mão-de-obra e infra-estrutura.

 A moderna unidade de produção - a fábrica - é necessariamente um fenômeno urbano. Ela exige, em sua proximidade, a presença de um grande número de trabalhadores. O seu grande volume de produção requer muitos serviços de infra-estrutura (transportes, armazenamento, energia, ect.). E quando a fábrica não surge já na zona urbana, é a estrutura urbana que se forma em volta dela.

Sendo assim, uma vila cresce adquirindo característica de cidade que passa a ser o centro de uma região. Pois, a descoberta de um recurso, a introdução de um novo sistema agrícola, a passagem de uma ferrovia ou rodovia, ect, pode ocasionar o crescimento rápido de uma localidade. Por isso, é muito importante desde o inicio de sua formação, planejar e organizar toda a estrutura urbana para poder garantir uma boa qualidade de vida para os moradores.

Em vista disso, a Magnesita surge com uma grande fábrica que tem necessidade de infra-estrutura e principalmente de mão-de-obra.

A mina energética de minérios de talco e magnesita ficam situadas a 8 Km do centro de Brumado. Essa distância foi um importante fator para a formação habitacional da mão-de-obra operária e técnica da empresa.

O município não possui capacidade para formação de trabalhadores técnicos administrativos como engenheiros e geólogos, por isso teve que importar esses trabalhadores qualificados de outras cidades. Com o tempo a empresa passou a contratar pessoas naturais do próprio município que iam estudar em outras cidades, como Vitória da Conquista, Belo horizonte e Salvador.

Diante disso a Magnesita S.A. construiu a vila Catiboaba, (situada em frente da empresa), para abrigar os trabalhadores qualificados (cargos de administração e engenharia) e suas famílias. Imediatamente as vagas para o operário de serviços pesados atraíram muitos brumadenses, inclusive pessoas de outras cidades vizinhas. Essa atração acabou transferindo o operário industrial para as proximidades da Magnesita S.A., surgindo à vila Presidente Vargas, situada apenas 500m da empresa.

Dessa forma, os moradores dessa região se viam situados em um mesmo lugar, porém com formas de vida diferentes.

 A vila catiboaba foi se estruturando lentamente e organizadamente para absorver os trabalhadores qualificados, havendo melhorias na infra-estrutura urbana, moradia, água, esgoto e luz. As casas são todas com amplos jardins irrigados e muros baixos. É notável também que a vila Catiboaba é circundada por uma cerca, no qual, a única entrada é vigiada por um guarda. Internamente encontra-se também um clube recreativo e uma pequena barragem. Os moradores trabalham na própria Magnesita, como também, possui outros cargos em Brumado, como comerciantes e funcionários públicos.

Já a vila Presidente Vargas possui raízes da vida típica da zona rural, embora boa parte dos moradores trabalham na empresa da Magnesita S/A. Seu crescimento, além de concentrado, foi rápido e desordenado. A conseqüência foi uma série de problemas facilmente percebidos na sua estrutura urbana (falta de pavimentação, esgoto e água, ect.). A vila Presidente Vargas formou-se nas margens da ferrovia federal que transporta os materiais minerais da Magnesita, e da rodovia federal BR-030 que liga Brasília a Ilhéus. Essa rodovia que também dá acesso ao município de Brumado, dinamizou a economia local através do surgimento de lanchonetes, borracharias, farmácia e supermercado. Recentemente a vila passou por uma reestruturação urbana, na qual foram pavimentadas as maiorias das poucas ruas que existem. Pois, antes os moradores faziam da via urbana parte de seu quintal, na qual criavam vários tipos de animais, como por exemplo, cavalos, porcos e galinhas.

Muitos dos moradores da vila Presidente Vargas trabalham na vila Catiboaba ocupando diversas funções, tais como empregado doméstico, jardineiro, cozinheiro e pedreiro, ect. A Magnesita além de promover empregos aos moradores da vila P. Vargas, já promoveu alguns projetos direcionado a educação ambiental, como a plantação de árvores.

Mas um aspecto negativo que se torna evidente, é a poluição. Essa poluição atinge praticamente toda a vila, mas se torna mais evidente na parte alta, onde a grande parcela dos moradores reside. Muitos moradores mudaram para outros lugares por motivo desse incômodo, principalmente por questão de saúde.

 Diante dos problemas a vila Catiboaba vem enfrentando algumas dificuldades atualmente. Os serviços que antes a Magnesita custeava, como água, luz, telefone e esgoto, agora são os próprios moradores que tem a obrigação de arcar com esses gastos. Na vila Presidente Vargas apesar dos últimos investimentos em pavimentação e saneamento, ainda contam com outros problemas, como falta coleta de lixo e iluminação pública.

No campo dos festejos culturais, a vila Catiboaba no mês de junho (época do São João) muitos viajam para outras cidades. Porém a vila possui a tradição de colocar uma fogueira em frente de cada casa para serem queimadas ao longo do ano. A tradição revela que cada família que ascender a fogueira tem a obrigação de convidar todos os outros moradores para fazer parte de um churrasco ou de um aniversário.

 Já na vila Presidente Vargas os moradores tem a tradição de fazer leilões, onde na maioria das vezes são leiloados galinha e bode assados. Devido aos baixos salários possui pouca circulação de dinheiro. Daí o motivo de pouco lazer, mas é visível a quadra poliesportiva como uma área propicia para distração. Mas a grande tradição da vila Presidente Vargas é a realização da corrida de cavalo do Campo Seco. A cada ano esse festejo atrai muitas pessoas, não só pela festa, mas também pela agitação da corrida.

Pode-se perceber que cada um dessas culturas realizou uma escolha através dos modos comuns que são apreendidos e transmitidos ao longo do tempo de sua formação. Para essa adaptação da cultura foi possível modificar o espaço regional, como também modificar o meio sócio-ambiental.

 Portanto, muitas pessoas de variadas origens, atraídas pela Magnesita, resultaram em novas formas de pensar e de viver.  Elas podem até estar separada por imensas distâncias sociais e de oportunidade de vida, mas estão ligadas pelo circuito do capital industrial que a Magnesita envolve. Esse quadro pode ser comparado com uma cidade grande industrial, na qual há uma seqüência de habitações pobres, onde a pobreza pode estar perto ou misturado com as habitações modernas.

O modelo de cultura analisado, segundo Leslie A. White pode ser classificado como extra-orgânicca, que são objetos materiais (fábrica, ferrovia, ect.) situados fora de organismos humanos, mas dentro dos padrões de interação social entre eles.

A cultura em destaque também pode ser classificada como cultura Material (ergologia), que consiste em coisas materiais oriundas da criação humana e resultante de determinada tecnologia, como por exemplo, as formações habitacionais das vilas.

Toda cultura possui conhecimentos que são passados de geração pra geração. A vila Catiboaba transmite uma técnica de trabalho (administração industrial) totalmente diferente da vila Presidente Vargas (operário industrial de serviços).

O valor na presente análise tem haver com a indicação de objetos materiais (estrutura urbana das vilas) e objetos de riqueza (condições de vida diferentes).

Já as Normas, são regras que indicam os modos de agir dos indivíduos em determinada situação. A norma em vigor diferencia o comportamento de uma vila para outra na medida que as pessoas da vila Catiboaba consomem mais artigos de luxo do que a vila P.Vargas. Isso acaba introduzindo preconceitos em relação a cada grupo (etnocentrismo).

Portanto, o comportamento das pessoas de cada vila é influenciado pelo padrão habitacional em que vivem.

Boa parte dos profissionais que ocupam os cargos de chefia reside na Vila Catiboaba, vila de propriedade da empresa, construída inicialmente pela falta de infra-estrutura da cidade, se tornando hoje um sinônimo de alto poder aquisitivo e de segregação de classes, tendo em vista que na Vila Catiboaba residem pessoas que exercem cargos administrativos.

Contudo isso, o projeto de instalação da Magnesita teve um respaldo de discurso desenvolvimentista, resultante de uma visão economista que não se preocupou com o surgimento da Vila Presidente Vargas, nem levou em conta o interesse dessa comunidade, pois esse projeto foi comandado por grandes grupos transnacionais, interessados apenas em abrigar os empregados de alto escalão e principalmente em euferir altos lucros. Todavia, a empresa mantém alguns trabalhos de assistência social na região, porém não abrangem a todos.

REFERÊNCIAS

Arquivo biblioteca municipal / Brumado Ba.

CORREIA, Roberto Lobato. Espaço Urbano. São Paulo: Atica, 1989.

Derek Gregory, Ron Martins, Grahan Smith (orgs). Geografia Humana: sociedade, espaço e ciência social. Rio de Janeiro: Jorge Zaha ed., 1996.

MARCONI, Maria de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria. Antropologia: Uma introdução. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1998.