FORMAÇÃO CONTINUADA COM PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL

UMA FORMA DE PREVENIR O MAL-ESTAR DOCENTE 

Ana Cristina Marques Pedroso Pinheiro

Mestranda na área de Educação na instituição UNiLASALLE em Canoas/RS. Professora de Educação Infantil, Pedagoga e Arteterapeuta.([email protected]/ [email protected]/ )

Introdução:

Este artigo pretende falar ou escrever sobre a Formação Continuada com professores de educação infantil em tempos de mudanças e de uma sociedade líquida moderna.

É um esforço para tocar ou alcançar a atenção de alguns pais e professores, seja dentro da sala de aula ou como administradores, coordenadores ou secretarias. Aqui estão contidas uma linha trajetória de mudanças que pretendem mostrar o acúmulo de deveres e cuidados ejetados nas escolas devido as mudanças numa sociedade transitória.

O objetivo é refletir sobre essas mudanças e trabalhar na construção de significados com os docentes inseridos nessa realidade,visto  que muitos destes não estão preparados para trabalhar e interagir num ambiente onde não estão claras as suas atribuições, o seu verdadeiro papel como professor.

Também é abordado nesse artigo o mal-estar docente com esses professores já que de forma silenciosa, quase imperceptível, tornando-se comum e corriqueiro entre eles vem se instalando o corrosivo e improdutivo mal-estar docente.

Referências teóricas:

Os pressupostos teóricos utilizados são de  Zygmunt Bauman(2007) com uma visão de sociedade liquida moderna, que descreve parte do que é vivido hoje na famílias e escolas ajudando a entender o  cenário de mudanças tão radicais que envolvem os núcleos familiares e a sociedade.

Os estudos de Antônio Nóvoa (2006), no que se refere ao papel da escola na sociedade. Uma escola centrada na aprendizagem com professores conhecedores de técnicas inovadoras e atrativas.

Freud, Vygotsky, John Dewey também são citados numa visão de docente conhecedor das fases de desenvolvimento, construção de significado e reflexão sobre suas práticas.

Evania Reicht (2012)em seus estudos sobre o trabalho de prevenção na primeira infância para uma sociedade menos doente emocionalmente. A preocupação com a formação dos educadores, pois eles reproduzem ao ensinar  as marcas de sua infância.

Esteves(2004),Oliveira (2003), Jesus (1998) e seus estudos sobre o estresse, o acumulo de trabalhos e o mal-estar docente nos fazem refletir sobre o sofrimento desses educadores no seu cotidiano de trabalho e a urgência de uma formação continuada onde os debates as trocas reverterão  esse mal-estar em ressignificação, portanto, no bem-estar docente.

Metodologia:

A metodologia utilizada foi a de pesquisa qualitativa, depoimentos e relatos como amostragem para o desenvolvimento do artigo. Foram entrevistadas professoras de educação infantil de uma escola municipal de Canoas e a  diretora dessa mesma escola. Nessa escola são atendidas crianças de 0 (zero ) a 6 (seis) anos de idade.  O tempo efetuando tal atividade varia de 6 (seis) a 1(um) ano de trabalho, visto que a educação infantil data de concurso para ingresso de professores em 2007 quando passou da área da saúde para a área da educação.

 

FORMAÇÃO CONTINUADA COM PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL, PREVININDO O MAL-ESTAR  DOCENTE

“... a força da educação está no encontro, na comunicação, na cumplicidade, nos objetivos alcançados e na preocupação com o outro, na sensibilidade. É difícil que o professor estabeleça estes vínculos sem que ao mesmo tempo esteja satisfeito com o que faz e viva com equilíbrio emocional. O professor precisa se sentir bem para educar bem.”

(Immordino-Yang y Damasio (2007) ;Gilman, Huebner y Furlong (2009)

Relato de uma professora de educação infantil:

“Trabalhar no Berçário é bom, é gratificante, o carinho das crianças, ver o desenvolvimento dos primeiros passos, o carinho, o aconchego no colo. Porém algumas crianças sentem muito o afastamento da família, principalmente crianças que poderiam estar meio turno.É muito tempo dentro da escola. O Beço aqui chega muito cedo, tipo 7h 30 min e saem muito tarde tipo 18h e 30 min. Os pais mesmo em casa preferem passar essa etapa tão linda para nós e perdem esse desenvolvimento sem aparentar nenhum remorço ou preocupação. A escola em alguns momentos passa a ser um castigo, algumas mães falam: Se tu chorar amanhã eu estou de folga e tu vem pra escola. Quando explico que nos dias de folga ela pode ficar com a criança a resposta da mãe é que já ficou o fim de semana e não aguenta mais.

Em relação ao reconhecimento do nosso trabalho não existe. O nosso trabalho é visto como o cuidar e apenas o cuidar.As aprendizagens não são valorizadas. O cuidar, deixar em lugar onde ofereça comida e os cuidados básicos sem precisar pagar é o interesse da maioria dos pais. Sinto-me decepcionada. Gosto do que faço mas estou triste com a realidade. Nós é que criamos essas crianças, até a questão da retirada das fraldas é vista como nossa responsabilidade. Os pais só querem o pacote pronto. E pergunto, será que não fazemos nada? Por que esse trabalho tão importante de cuidado, carinho, aprendizagens e estímulos não é reconhecido? “Professoras L. e J. turma de berçário de uma escola municipal- crianças de 0 a 18 meses

A importância da Educação Infantil nos tempos líquidos modernos é evidente e inegável. Os tempos são líquidos porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, ser sólido. As relações (pessoais, trabalho, em comunidade, em conjunto) sociais não são mais estáveis, concretas duráveis. Com a globalização e a abertura social, por ser incompleta, tornou-se uma sociedade impotente como nunca antes visto, tem dificuldades em decidir com certeza o caminho a seguir. (Bauman 2007).

A busca frenética pelo ter, os incentivos e cobranças que os meios de comunicação em massa nos fazem ingerir diariamente não nos dá tempo para o ”ser” e sim pela busca desenfreada do consumismo, o “ter”. As mulheres conquistam cada vez mais seu espaço trabalhando fora e sendo reconhecidas pelo que fazem.

O tempo não tem sido mais o aliado das famílias, que enfrentam suas longas jornadas de trabalho e precisam contar com as escolas de Educação Infantil e as escolas de turnos integrais no Ensino Fundamental para educar e cuidar de seus filhos. As escolas tomam no momento atual um papel fundamental e indispensável.

Para os responsáveis que precisam enfrentar suas jornadas exaustivas de trabalho é de fundamental importância ter um espaço adequado, seguro e com profissionais competentes para deixar seus filhos ,  deixa-los em casa, sozinhos ou sob o cuidado de outros irmãos seria no mínimo preocupante e irresponsável.

Então surge a pergunta inquietante: Para quem é a escola? Qual o papel da escola na sociedade atual?

Nóvoa  (2006) aborda esse tema quando nos chama a refletir sobre a luz dos seguintes questionamentos: A escola deve estar centrada no aluno ou na aprendizagem? Escola como comunidade ou como sociedade? Escola como serviço ou como instituição?

Vale lembrar que as atuais escolas de Educação Infantil eram vistas e mantidas como assistência social, portanto como um serviço e não como instituição  na visão de Nóvoa. A Lei de Diretrizes e Bases ( LDB)creditou a responsabilidade pela Educação Infantil aos municípios, compreendendo a Educação Infantil dos zero aos seis anos de idade. Portanto de serviço social passou a ser da área da educação.

Segundo Nóvoa(2006) a escola deve estar centrada na aprendizagem,seja ela de Educação Infantil ou qualquer outro nível de ensino:

“...os professores precisam se apropriar de um conjunto de novas áreas científicas que são muitos mais estimulantes da que serviram de base e fundamento para a pedagogia moderna. Como, por exemplo, todas as descobertas das neurociências, sobre o funcionamento do cérebro, as questões dos sentimentos e da aprendizagem, sobre a maneira de produzir a memória, sobre as questões da consciência... a psicologia cognitiva e teorias de complexidade.”

Levando em consideração os estudos de Nóvoa falemos então sobre as Escolas Infantis . Elas devem estar centradas nas aprendizagens. E para que isso realmente aconteça, temos que pensar nos profissionais que compõe o corpo docente dessas escolas.Como estão os profissionais que recebem diariamente essas crianças de 0 a 6 anos de idade?

Sabemos que há um déficit de práticas e reflexão dessas práticas na formação dos professores. Segundo John Dewey o que é essencial é a reflexão sobre as práticas.

“ a formação dos professores continua hoje muito prisioneira de modelos tradicionais, de modelos teóricos muito formais que dão pouca importância a essa prática e sua reflexão.”Nóvoa  (2006)

E quando se trata de Educação Infantil  as perguntas são muitas: Como os professores estão trabalhando com essas crianças? Como é feita a avaliação do desempenho, conhecimento, amadurecimento? Quais os reais objetivos e o que deve ser desenvolvido e observado nessa faixa etária? Como essas crianças estão saindo das escolas infantis?

Refere Nóvoa(2006) que a escola transbordou, assumiu muitas missões. É preciso que as famílias, comunidades locais, grupos culturais, igrejas, entidades científicas, clubes assumam o seu papel para que a escola deixe de assumir tantas missões que não consegue dar conta. É preciso recusar todas as tendências que apontam a escola como um serviço e afirma-la como instituição. A escola deve estar centrada na aprendizagem.

Porém as mudanças na sociedade não nos permitem um retrocesso nas conquistas em nenhum sentido. Tampouco seria válido desprezar os esforços de gerações que lutaram pela igualdade no mercado de trabalho entre homens e mulheres.

É preciso adaptar-se ao novo, a essa sociedade em que a escola é um alicerce na construção de conhecimentos e nos primeiros passos de uma criança. Não colocando essa escola como responsável pelo futuro, pois nesse sentido seria um fardo muito pesado, mas a escola como parceira na construção de conhecimentos e produtora de um ambiente saudável para os que dela participam, sejam pais, professores ou comunidade.

Inserir essas aprendizagens, construir um ambiente saudável  aliado  com o cuidado e zelo que o professor de educação infantil tem que ter com seus pequeninos é a questão central desse artigo.

Considerando que a fase inicial da vida de um ser humano, as primeiras experiências, são as que marcam mais profundamente a pessoa, e quando positivas tendem a reforçar, ao longo da vida, as atitudes de autoconfiança, de cooperação, solidariedade e responsabilidade. É de grande importância que voltemos nossos olhares para aqueles que estão recebendo diariamente essas crianças nas escolas de educação infantil. Os professores.

Para Antunes (2006) se a ciência mostra que o período que vai da gestação até o sexto ano de vida é o mais importante na organização das bases para as competências e habilidades desenvolvidas ao longo da existência humana. É a Educação Infantil que irá contribuir na formação de um cidadão crítico e reflexivo. Lembremos que é preciso ter uma visão critica e reflexiva do mundo que nos cerca para podermos passar essa convicção àqueles que estão a crescer conosco.

Hoje as crianças chegam cada vez mais cedo às escolas infantis. A licença maternidade que em alguns países desenvolvidos chega a até dois anos, no Brasil se resume a quatro ou seis meses. Levando em consideração que muitas mães não permanecem esses meses em licença por motivos diversos, ponderemos que crianças de quatro meses já estão inseridas na realidade escolar. O vínculo inicial da amamentação e o cuidado da mãe são substituídos por uma outra figura, a do professor de educação infantil.

Freud já alertava em suas pesquisas e estudos a importância de um desenvolvimento equilibrado e saudável nas fases Oral , Anal e Fálica – que está entre 0 e 6 anos de idade- Esses mecanismos de prazer e desprazer desenvolvidos nessa fase da vida são a base futura da personalidade da pessoa. É nessa faixa etária de 0 a 6 anos que as crianças aprenderão a dominar seus instintos e medos ou apenas sufocá-los.

Depoimento de Camila Saccomori,colunista do jornal Zero Hora:

“minha filha acaba de completar um ano e sete meses .Há exatamente um ano voltei ao batente. Tive a feliz oportunidade de ficar sete meses de licença-maternidade.(...) Não consigo imaginar como teria sido esse período inicial, onde se aprende a ser mãe na marra e nasce o incrível vinculo com aquele pequenino ser caso tivesse que conciliar com as responsabilidades do trabalho diário.

Surge desse histórico meu estranhamento ao testemunhar o retorno de Marissa Mayer à presidência do yahoo! Apenas 15 dias após o parto. (...)passou a gravidez dizendo que dispensaria a licença. (...) seu discurso é “eu trabalho porque quero”

Tal qual Claudia Leite impecável, com sua silhueta instantaneamente enxuta e sem olheiras ou roupas babadas, a executiva de 37 anos e fortuna pessoal de US$ 300 milhões subiu no salto e baixou a cabeça para trabalhar. (...) seu discurso é “eu trabalho porque quero (...)”

Temos a realidade das pessoas que precisam trabalhar e consequentemente de um lugar adequado para deixar seus filhos. Mas a realidade não se resume a isso. Existem os pais que mesmo com condições de estar com seus filhos na fase inicial preferem colocar qualquer oura coisa como prioridade. Mesmo com essas inquietantes questões que envolvem nossa sociedade atual e que com certeza provocaria um debate sobre as prioridades na sociedade liquida moderna, o enfoque desse artigo é sobre o papel fundamental das escolas e Educaçõa Infantil e dos profissionais que a compõe. Como esses profissionais estão administrando tantas demandas? Sua formação realmente os preparou para tantos desafios? Existe uma visão dos administradores em relação a essa nova realidade?

Evânia Reicht (2012) nos alerta para a urgência de trabalharmos a matriz, o que ainda é  saudável, ou seja a criança. Reicht aborda com autoridade que a sociedade está adoecida. Então, a importância de trabalharmos com a prevenção, com o cuidado  na primeira infância. Ou seja, crianças desde o ventre até o sexto ano de vida. E acrescenta:

“É preciso educar o educador, seja ele mãe,  pai, professor ou cuidador, porque o adulto reproduz as marcas de sua infância em seu modo de educar”

Observando que o trabalho docente vem sendo acrescido e modificado. Oliveira(2003) diz:

“o trabalho do professor não é mais definido apenas como atividade em sala de aula, ele agora compreende a gestão da escola, no que se refere a dedicação do professor aos planejamentos, à elaboração de projetos, à  discussão coletiva de currículos e da avaliação”

As Escolas  assumiram  muitos papéis, e os professores tem consciência disso. É com esses professores durante essas doze horas diárias  que a criança aprenderá a engatinhar, dar os primeiros passos, retirar as fraldas, usar os sanitários, comer, usar os talheres, socializar-se, emitir suas primeiras palavras... e muito mais  . Além disso, muito da personalidade daquele adulto cuidador/professor será dividida e absorvida pela  criança. Se tornando parte dela e de seu desenvolvimento.

Depoimentos de professores de educação infantil de uma escola municipal em Canoas.

“Eu me sinto gratificada pela profissão que exerço pois as crianças de dão um retorno muito legal no sentido de carinho, respeito e amor. Porém isso não justifica a negligência no crescimento e desenvolvimento dessas crianças por parte dos pais. Deixando para nós a criação de seus filhos.Percebo nesse contexto que a sociedade tem parcelas na educação dessas crianças e os professores, muitos com filhos já criados ou sem filhos ainda não estão preparados para essa demanda que deveria ser um serviço social. Nos falta apoio com psicólogos e terapeutas que nos ajudem nos conflitos.Os pais enxergam os problemas mas não sabem como agir passando para nós essa responsabilidade.”

Professoras L. e T. turma de pré-maternal de uma escola municipal –crianças de 18 meses a 30 meses.

“ As crianças que chegam de manhã não querem trabalhar, fazer as atividades em sala, querem apenas pátio. Os que chegam a tarde estão mais dispostos e ativos para as atividades propostas. A ansiedade por não ficar até anoitecer na escola é uma preocupação que incomoda os que ficam por último na escola, principalmente os que chegam pela parte da manhã. A participação dos pais é muito pouca na Educação Infantil. Na sua grande maioria estão preocupados com um lugar para deixar seus filhos desprezando ou ignorando as aprendizagens oferecidas. Dessa forma me sinto pouco valorizada pelo trabalho oferecido a essa crianças.”

Professora S. turma de jardim de uma escola municipal- crianças de 5 a 6 anos.

“ Gosto de trabalhar no jardim, o trabalho pedagógico rende. As crianças já conhecem as rotinas e dão um bom retorno em relação as atividades. O comportamento é o maior problema. A falta de limites, não aceitam frustrações, muita competitividade. Não identifico os culpados, mas a falta de parceria entre as famílias e a escola, o espaço físico, as atividades limitadas pela estrutura que temos  são fatores que incomodam. Apesar dessa limitação a maioria das crianças gosta e participam das atividades, aceitam bem as propostas. Meu trabalho é reconhecido pela turma mas pelas famílias ainda falta muito. A visão do desenvolvimento pedagógico não existe por parte de alguns pais. Existe um equilíbrio entre os pais no sentido de ter um lugar para deixar seus filhos e os reais objetivos da escola que é o desenvolvimento integral do aluno.

Professora J. turma de jardim de uma escola municipal- crianças de 5 a 6 anos.

Segundo estudos de Vygotsky, é a partir do outro que o homem se constrói. A construção não se dá em níveis mas de formas dialéticas. A relação com o outro, as interlocuções é onde o homem se constrói. O outro deve ser significativo e importante para haver essa construção do seu significado.

As  crianças criam vínculos com os professores, se constroem com trocas realizadas com eles, pois estes são os adultos responsáveis portanto significativos e importantes. Então consideremos como se encontram emocionalmente inseridos nessa realidade esses docentes.

Oliveira (2003) acrescenta:

“O professor é chamado continuamente a provar sua competência profissional  ou seja: o trabalho como deve ser e a realidade do trabalho. Consequentemente o investimento afetivo e cognitivo exigido ao professor reverte-se no seu sofrimento no cotidiano de trabalho...”

Os professores se deparam com realidades completamente diferentes dentro de sua sala de aula, precisam estar prontos para acolher aquela criança que chega chorando ao se despedir dos pais e acolhe-la com carinho, entender aquele que não quer voltar para casa. Precisa enfrentar e trabalhar diariamente com a diversidade cultural, inclusões e muitas outras demandas que lhe exigem um grande esforço .Mas precisam dar conta de seu trabalho. Além de tudo isso, o professor não pode perder sua essência como pessoa.

Para Esteves (2004):

“nossos professores enfrentam cem por cento dos problemas sociais e psicológicos, envolvendo-se em conflitos que os põe a prova, e que exigem deles um grande desgaste pessoal”

E, nesse sentido ressalta a importância do respaldo a esses professores. É urgente e inadiável a formação continuada desses profissionais para que o mal-estar docente não venha minar silenciosamente esses docentes.

A urgência de espaços para debate, reflexão, a formação continuada deve ser uma preocupação imediata.

A formação continuada é destacada por Jesus (1998) como um processo que deve, fundamentalmente construir uma oportunidade de (re) construção do bem estar docente. A formação deve centrar-se nos problemas reais dos professores, pois o foco principal deve ser a sua prática diária na escola, pois  :

“cada vez deve se conceber a formação de professores como um processo de autoaprendizagem e reflexão sobre a prática, de acordo com o modelo do professor reflexivo”.

A construção de um espaço para debates, conversas e reflexões ensinará coisas que não estão nos livros. Ajudará na produção de sentido e bem estar de cada um. A luz de um estudo teórico sobre o desenvolvimento integral de como se dá a aprendizagem em suas diversas facetas trazendo simultaneamente para a prática e reflexão sobre essas práticas em  encontros agendados com os colegas, todos ganharão.

Frankl (1992)nos inquieta com a fala:

 “ cada época  tiene sus neuroses y cada época necessita de uma psicoterapia”

Bruzzone (     ) com sua lucidez habitual nos confronta com a seguinte fala:

“... esto vale com más razón para lá educación: cada época tiene sus necessidades educativas y por lo tanto requiere uma pedagogia. Uma época marcada por el vacío existencial necessita de uma pedagogia apta para prevenir y combatir la falta de sentido.Esta pedagogia probablemente no existe todavia, nos toca a nosotros construila “

Vale levar em consideração que o professor precisa , em primeiro lugar, estar bem consigo mesmo e ter uma imagem positiva de si. Pois esses pequeninos aprenderão também com seus gestos, olhares, toques e sentimentos que as palavras não mostram. Construirão seu significado através desse professor.

“ A profissão docente é apaixonante mas ao mesmo tempo complexa e exigente, pois para desempenhá-la com êxito é necessário múltiplas e variadas competências, não só profissionais, tais como conhecimentos pedagógicos e teóricos mas também conhecimento de si mesmo. Pois é uma atitude de compromisso moral e equilíbrio emocional “ ( Korthagen 2004)

O professor de Educação Infantil deve entender e trabalhar no desenvolvimento da autonomia e competências. Segundo Perrenaut (2000)

“Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. Porém ,antes de ter competências técnicas, ele deveria ser capaz de identificar e de valorizar suas próprias competências, dentro de sua profissão e dentro de outras práticas sociais. Isso exige um trabalho sobre sua própria  relação com o saber.  O principal recurso do professor é a postura reflexiva, sua capacidade de observar, de regular, de inovar, de aprender com os outros, com os alunos, com a experiência. saber gerenciar a classe como uma”

Portanto,está mais do que na hora de dar condições para que esses professores  ampliem e melhorem suas práticas e o conhecimento de si mesmos. O professor não é somente parte importante para uma educação de melhor qualidade.Ele é a chave, conforme as palavras de Maslach, citado por Jesus (2002) “... os professores são o que há de mais valioso no sistema educativo pelo que promover o seu bem-estar deveria ser o principal objetivo em política educativa”.

Diante desse contexto convém perguntar: existe, efetivamente preocupação institucional em relação as diferentes queixas formuladas por esses professores?. Para Martinez (2003)

“ A saúde do trabalho docente e saúde escolar, ambas tão relacionadas com a vida cotidiana na escola, suas regulações e exigências, não aparecem no interesse dos governos nas áreas de educação e saúde pública “

Sinaliza ainda Martinez (2003):

 “O docente chama a atenção sobre si com um grito de dor/loucura”.

Relato da diretora de uma escola municipal de Educação Infantil:

“ O concurso para professores só aconteceu em Canoas em 1997. Desde então as escolas tentam se adaptar com a nova realidade. Porém acredito que muitos professores ao encararem a realidade da Educação Infantil acabam desistindo. Aqui na escola nesse puco tempo, digo de 2007 a 2012,  já se afastaram da escola quatro professoras. O número de afastamentos em decorrência de debilidades físicas e em alguns casos psíquicas ao meu ver encontran-se solidificadas em função da não prevenção. Por muito tempo desgasta-se o físico e também o psicológico e não se atende essas necessidades, culminando com a impossibilidade de dar conta das necessidades dos outros, ou seja, nosso trabalho é extremamente sensível com nosso bem-estar, educar seres humanos em formação”

Diretora G. de uma escola de Educação Infantil em Canoas.

Considerações finais:

Pondo em vista radicalização das mudanças sociais e o exarcebamento das exigências impostas pela nova ordem mundial, bem como as exigências impostas aos professores de Educação Infantil colocando-os em situações de constantes desafios que exigem respostas concretas na preparação tanto profissional como emocional é urgente e inevitável a mudança.A mudança no sentido de um olhar mais atento, um olhar de quem realmente quer fazer a diferença. Mas não basta apenas constatar os problemas e demandas, é preciso agir. Agir no sentido de estimular um ambiente saudável onde as trocas e crescimentos são possíveis de acontecer.

Proporcionar espaços e encontros onde os professores possam identificar seu mal-estar e resignificar, numa caminhada para o bem-estar.Isso leva tempo e investimento humano de todos os envolvidos.

As exigências e demandas são muitas, a falta de reconhecimento- vista nesse artigo,como uma das principais queixas dos professores- ser trabalhada junto com a comunidade, com os pais, com a escola.Visto que é uma caminhada não só da qualidade e bem-estar dos profissionais, mas uma reestruturação do próprio ambiente ,considerando que apuco tempo esses mesmos espaços eram tidos como assistência social e agora, em Canoas desde 2007, devem ser reconhecidas como Escolas de Educação Infantil.

Buscar estratégias de copping que auxiliem no dia a dia desses profissionais.Trabalhar com uma linha da psicologia positiva onde cada um descubra seus pontos fortes e os potencialize de forma a fortalecer sua auto-estima,focando suas forças no positivo, no que há de bom e expandindo, contagiando o grupo que participa.

Tudo isso só será possível se for aberto espaços para a formação continuada desses profissionais. Essa formação continuada não se trata apenas de conhecimentos teóricos, sua prática e reflexão sobre as práticas - que tamém é impressindivel e muito importante- mas esses encontros chamados de formação continuada terão a responsabilidade de ver o professor como um todo, a sua essência emocional e profissional trabalhando para fortalecer cada um positivamente com cargas de sabedoria em todas as áreas possíveis da emoção humana.

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