Resumo

O estudo analisa as percepções dos docentes de um dos Departamentos da Faculdade de Ciências da UEM que participaram nos cursos em relação à sua utilidade (usabilidade), promovidos pela Faculdade de Educação. Foi realizado com uma população de dez docentes, tendo usado uma abordagem qualitativa e quantitativa. Usou-se entrevistas e um questionário, contendo dez perguntas. Este estudo tem maior importância pelo facto de trazer as diferentes percepções dos docentes do ensino superior, em relação aos cursos de capacitação promovidos pela FACED quanto à sua utilidade (usabilidade) no Processo de Ensino e Aprendizagem. Os resultados indicam que as expectativas dos docentes em relação aos cursos é de obter mais conhecimentos e experiência de métodos de ensino, ferramentas para melhorar a prestação de serviços como docente na investigação e extensão, melhoramento das abordagens, dar mais retroalimentação em relação à informação que sustenta a prática dos docentes; melhorar os aspectos motivacionais para a participação, capacitar os docentes para poderem elaborar os conteúdos ou materiais didácticos; promover cursos à distância; melhorar o fluxo de comunicação entre a FACED e as diferentes Faculdades da UEM, promover abordagens de aulas teóricas, usando os métodos participativos; aumentar o tempo de discussões ao longo das sessões de capacitação. Recomenda-se à Faculdade de Educação aplicar várias abordagens metodológicas de aprendizagem durante as capacitações de modo a que os docentes saibam orientar os estudantes nas suas áreas específicas com eficácia.

INTRODUÇÃO

Uma das grandes preocupações do ensino superior em todo mundo e, em particular, em Moçambique é a melhoria da qualidade do ensino, ou melhor, da qualidade da aprendizagem dos estudantes.

Internacionalmente foram publicados estudos sobre o desenvolvimento profissional do docente bem como das suas percepções em relação ao seu desenvolvimento profissional, em destaque ao trabalho de Peres, Leite e Kuegant (1998), com o objectivo de melhorar a aprendizagem dos estudantes.

Em Moçambique, existem poucos estudos publicados sobre o assunto em alusão, mas destaca- se o trabalho de Mendonça (2014), em que se mostra que o sentimento dos docentes é da não apropriação da reforma curricular introduzindo a nova abordagem pedagógica e um conflito de interesses no processo de implementação das novas abordagens curriculares.

Nesse aspecto, Garcia (1999) discute a formação do docente como um dos pilares dessa melhoria almejada, pois os docentes são indivíduos que actuam na actividade fim da educação (aprendizagem do estudante), de modo a capacitá - los para o desempenho profissional futuro e ao exercício da cidadania. Assim, constantemente os docentes do ensino superior necessitam de ter uma formação contínua para ajudar a desenvolver as novas abordagens sobre a aprendizagem, razão pela qual a UEM vem investindo na mesma.

No entanto, não basta que o docente tenha apenas o nível académico correspondente à sua área específica de leccionação, mas é importante que este tenha conhecimento didáctico pedagógico da sua área, porém, caso este não tenha passado de nenhuma formação psicopedagógica, terá que faze-lo através dos cursos de curta duração, como os promovidos pela FACED, de modo a aprimorar as suas competências didáctico-pedagógicas a fim de melhorar a aprendizagem dos seus estudantes.

Ainda, de acordo com Piva, Figueiredo & Liao (2008), a capacitação do docente universitário é de extrema importância para a qualidade da aprendizagem no Ensino Superior. Contudo, os cursos de Pós-graduação responsáveis pela formação de docentes universitários têm dado primazia ou relevância à condição de pesquisas e elaboração de pesquisas individuais e muito pouco ou nada oferece aos pós-graduados em termos específicos de preparação à docência (preparação psicopedagógica).

É nesta perspectiva que se propôs pesquisar o assunto sobre a capacitação de docentes do Ensino Superior, cujo tema é: Análise das percepções dos docentes em relação à utilidade (usabilidade) dos cursos de capacitação de docentes promovidos pela Faculdade de Educação da UEM - Estudo de caso num do Departamento da Faculdade de Ciências.

Neste contexto, desde que a Faculdade de Educação da UEM reabriu, em 2001, têm sido realizadas muitas capacitações, contudo, continua a falar-se de fraca qualidade de ensino devido à falta de formação psicopedagógica dos docentes da UEM, não se sabendo, deste modo, se essas capacitações correspondem às expectativas dos docentes. Assim, o problema desta pesquisa consiste em saber: Quais são as percepções que os docentes têm dessas capacitações em relação à sua utilidade (usabilidade) – Caso específico dos docentes de um do Departamento da Faculdade de Ciências. A partir deste problema, pretende-se analisar as percepções dos docentes em relação à utilidade dos cursos de capacitação oferecidos pela Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane.

Para se debruçar deste assunto, o presente artigo está estruturado da seguinte maneira:

I- introdução, a justificação do estudo, descrição do problema, objectivos e as perguntas de pesquisa.

II - revisão da literatura, formação contínua, capacitação, desenvolvimento profissional de docentes, em particular os do ensino superior. De referir que usa-se a palavra “docente” além de “professor” para evitar o equívoco que muitos docentes têm ao considerar “professor” um indivíduo que tenha o nível de doutoramento ou tenha ascendido à categoria de Prof. Auxiliar, Associado ou Catedrático.

III - metodologia, referindo-se à população e amostra, técnica e instrumentos de recolha de dados, validade e fiabilidade dos instrumentos, procedimentos para recolha de dados, questões éticas, limitações e procedimentos para análise dos dados.

IV - resultados da pesquisa, da percepção dos docentes do Departamento em relação à utilidade dos cursos de capacitação promovidos pela Faculdade de Educação da UEM.

V - conclusões e recomendações.

Formação contínua de docentes do Ensino superior versus suas percepções em relação a sua capacitação 

A capacitação deve ser permanente na vida de todos docentes, no contexto de desenvolvimento profissional de modo a desenvolver várias competências didácticas pedagógicas com o objectivo de facilitar a aprendizagem do estudante. Porém, Soares e Cunha (2010) afirmam que os docentes devem actualizarem - se permanente por conta dos desafios das competências exigidas, comprometidas com as renovações constantes, que é mais importante do que conseguir um diploma e mantê-lo vivo, diante de um mundo composto de novos desafios de cada dia.

Com estas ideias, pode-se aferir também que o desenvolvimento profissional requer do docente uma curiosidade e actualização permanente de modo a acompanhar a dinâmica e o surgimento de abordagens emergentes sobre o PEA, daí a necessidade de participar em muitos eventos científicos com finalidades de aprimoramento do conhecimento pedagógico e científico a fim de desenvolver uma reflexão crítica acerca das suas práticas.

Docente universitário e importância da sua formação ou capacitação

De acordo com Pachane (2005), a análise da história da docência leva o autor a acreditar que possam existir ao menos três factores contribuindo para que, na cultura universitária, a tarefa de ensinar e a formação pedagógica dos docentes sejam relegadas a segundo plano. Em primeiro lugar, a formação para a docência constituiu-se historicamente como actividade menor. Inicialmente havia a preocupação com o bom desempenho profissional.

Entretanto, ensinar significava ministrar grandes aulas expositivas sobre determinado assunto ou “mostrar na prática como se faz”. Acreditava-se (como alguns ainda hoje acreditam) que “quem soubesse, saberia automaticamente ensinar”, não havendo preocupações com o preparo pedagógico do docente ou com a qualidade didáctica de seu trabalho (Masetto, 1998 citado por Pachane 2004).

Estas ideias levam a crer que, a questão da formação psicopedagógica ainda carece de grande destaque no processo da formação ao nível da docência do ensino superior, facto que pode-se evidenciar na nova missão da UEM, em que destaca a investigação para atingir a excelência “Produzir e disseminar o conhecimento científico e promover a inovação através da investigação como fundamento dos processos de ensino-aprendizagem e extensão, educando as gerações com valores humanísticos de modo a enfrentarem os desafios contemporâneos em prol do desenvolvimento da sociedade”.

Portanto, a partir do pressuposto acima descrito, é de referir que a ênfase na produção académica bem como o maior estímulo à pesquisa não ocorre apenas em Moçambique, podendo ser observada no contexto internacional através do trabalho de Benedito, Ferrer e Ferreres (1995), Kennedy (1997), Garcia (1999) e Serow (2000), discutidos por Behrens (2007), que enfatizam a necessidade de que a falta de formação para a docência do ensino superior, seja revertida, dando primazia também à formação psicopedagógica.

No entanto, caberia ao docente procurar desenvolver – se profissionalmente a custo próprio ao longo da carreira e não no princípio, o que até certo ponto o docente lecciona tendo em conta os modelos adquiridos na sua formação inicial, tomando como referências de alguns docentes que foram seus durante a formação.

Portanto, a formação profissional ou a capacitação do docente universitário é muito importante porque permite ao docente reflectir sobre as suas acções no PEA.

De acordo com Schon (1992), reflectir durante a acção consiste em perguntar-se o que está acontecendo ou o que vai acontecer, o que pode-se fazer, o que deve-se fazer, qual é a melhor táctica, que desvios e precauções deve-se tomar, que risco corre-se, etc.

Com esta ideia, pode-se aferir que não basta que o docente tenha conteúdo para transmitir aos seu estudantes, mas sim é preciso prever várias situações que podem contribuir negativamente ou positivamente no processo, daí que há sempre a necessidade de o docente ter em conta o contexto, a realidade, comportamento, conteúdos, metodologias, estratégias de que vai se servir durante a aula, e que tudo isto deve servir como elementos para a sua reflexão de modo a conduzir o PEA com eficácia.

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