Para tudo e para todos há um lugar reservado no calendário que vigora até nossos dias. O gregoriano, aquele que vem transpondo as raias do tempo, tem em sua longa vida um relicário de elementos registrados, quer concretos, quer abstratos. Os concretos têm sua razão de ser, não obstante muitos serem considerados aberrações por insistirem em tomar lugar num mundo que sepultou até as lembranças de sua existência. Os de conteúdos vagos, os segundos da relação, mesmo tendo um significado muitas vezes obediente à mente humana e aos organismos criadores, padecem da essência. Isso nos leva a conjecturar sobre o quanto isso representam para os povos que adotaram esses símbolos. Entre tantos que obedecem a este status, destaca-se o dia de finados que, apesar de representar momentos de dissabores, trás em seu bojo um significado até certo ponto transcendental, por tratar de possíveis situações. Estas, contudo, nada proveitoso trazem sem que contenham o verdadeiro significado. 
      No que tange ao lado do tocável, da matéria, pouco se pode dizer deste dia, a não ser que ele movimenta altos contingentes que persignam em meio a túmulos, alamedas e odores de parafina, sem contar os ramalhetes de flores para o encanto das abelhas. Do outro lado o sentimento. Este faz com que a maioria tenha como obrigação depositar um referencial sobre uma campa, momento que evoca os idos, do tempo em que o ente em vida representava um corolário com imensa gama de atividades.
Cabe destacar aqui uma reflexão, o pequeno curso que uma vida permeia neste mundo, com seus folguedos, dissabores e o inevitável: o deixar este mundo marcado por contrastes tremendos. É quando se atinge um grau de nivelamento, onde ricos e pobres passam a ocupar o mesmo nível. Não resta dúvida que a morte é o único segmento na vida, que se apresenta como o acontecimento que jamais falha. Nascer nem sempre ocorre, muito menos viver. Mas a morte, esta é implacável, não medindo escala de valores. Nesse contexto, podemos com exatidão afirmar: Eu, tu, eles, todos, sem exceção, baixaremos aos jazigos. E depois, o que virá? Vida eterna, inferno, retorno com ciclos evolutivos ou, um confinamento, onde o "congelar" manterá em suspense uma vida aguardando a libertação, sendo contado novamente  com mais um no mundo dos felizardos viventes, neste imenso e maravilhoso planeta azul?
     Morte, palavra que não soa bem aos ouvidos, principalmente aos nossos. Ela é para os outros, porque temos uma compleição de um Davi de Miguel Ângelo, ou de um colosso de Rodes. Não pensamos nela, nem a levamos em conta. Saímos em debelada carreira, cantando pneus até, sem darmos conta que no virar da esquina a foice na mão da caveira pode estar a espreita, esperando-nos e, sem clemência, desferir o golpe fatídico. Então somos ceifados do mundo dos vivos, engrossando fileiras no além, ao lado de legiões e mais legiões imensas daqueles que, não obstante sua condição invejável, "desistiram" de viver.
     Ante este prosaico trecho, ou perante aos muitos conceitos do inevitável “the end”, além do que se possa dizer sobre esse indesejável hóspede que nos surpreende sem ser convidado, muitas questões se nos apresentam, para as quais nem sempre as respostas se afloram satisfatoriamente. Contudo, mesmo com as deficiências, podemos arriscar um palpite, na esperança que haja pelo menos uma resposta, ainda que vaga. Assim, sem muita insistência, apresentamos as mais triviais, envolvendo o assunto: Para onde vamos? Como num vestibular, estamos preparados para enfrentarmos o novo e possível grau? Esta vida realmente termina aqui? E se ela continuar além do possível “outro lado da vida"? Que faremos? A forma como vivemos, como nos comportamos neste rincão em que vivemos, nos garante um lugar no oposto deste mundo, essa tão propalada dimensão, que tem levado gregos e troianos às mais duras pelejas verbais?

    Complexo, muito complexo este assunto! Tanto que centenas de teorias, concepções e até testemunhos de indivíduos que, em sonho epiléptico ou sentindo o torpor da morte, atestaram terem vivenciado lugares nada parecidos com os destas paragens. Claro, dependendo da forma de vida de cada um, visto que, em havendo outra dimensão, ela simplesmente será uma “xerox’ do que se viveu neste mundo de contrastes.   

    Mas, existe um lado extremamente significativo da morte, muito mais que o simples desaparecer deste porto onde as naus se atracaram, procedentes de “mares nunca d´antes navegados”. Estes aspectos, mais que distinto, trata-se de outro e intrincado quebra-cabeça para muitos que militam em esferas além-matéria. Por que um ser tão completo, tão cheio de atributos e qualidades, tende a desaparecer sem fornecer, pelo menos, uma pista que coloque termos às discussões sobre o assunto? Temos, porventura, a resposta, a fidedigna e concreta verba que dará um basta neste intrincado assunto? Não, absolutamente não, porque para onde se vai não há retorno, não pode haver vontade própria, visto que os atributos humanos, bem como tudo que se relaciona ao poder material desaparecem “do outro lado da vida”.

    Nova vida, novos horizontes e novo senhorio, o qual não legou algo além do que compete ao homem saber. Fora destes termos, dos enunciados outorgados ao mortal pela sapiente Vontade , o que vier nada mais sserão que especulações, frutos de conceitos firmados por visionários, cujos teores foram assimilados por outros que abraçaram tais fulgores de mentes divorciadas da realidade nua e crua.