A situação era terrivelmente problemática, não por causa do inverno congelante, mas devido à pobreza da população. Enquanto o povo padecia a cúpula Czarista vivia no luxo e ostentação. Nesse clima econômico e político, independentemente dos rigores dos invernos, formou-se um terreno fértil para o crescimento das ideias socialistas e a primeira revolução se fez em 1917.

Entretanto, aquilo que foi idealizado e implantado como solução para os problemas da nação russa, tornou-se deficitário. Não por deficiência das ideias socialistas, mas devido aos confrontos pelo poder: desavenças dentro do grupo revolucionário. O homem, “lobo do homem”, segundo Hobbes, quer dominar e se beneficiar com isso. Os homens que implantaram o socialismo soviético não foram diferentes. O povo – rebanho inerte, e manipulável – pagou o preço: guerra civil, perseguições e prisões instalaram-se ao lado do progresso e melhorias na saúde pública, na ciência, na economia, na educação... Ao lado do sofrimento, o povo usufruiu de alguns dos benefícios implementados pelo regime socialista em favor do bem social do povo russo. Desde que não fizesse oposição ao regime...

Mas a propaganda e a pressão do mundo capitalista contra o socialismo – principalmente soviético – cresceu a partir de várias frentes. Greves operárias, como na Polônia de Walessa. Pressões populares contra o muro da vergonha erguido em Berlim. Conflitos internos como as divergências tribais na Iugoslávia, produzindo guerra civil e rebeliões no Kosovo e na Bósnia, um na Checênia, em território russo, todas regiões que buscavam sua independência. E na própria Rússia o governo apresentou propostas para inovar a economia e a política: a Perestroika e a Glasnost. Além disso, o acidente nuclear em Chernobyl aumentou o descrédito internacional em relação à capacidade da Rússia controlar e resolver seus problemas.

O fato é que os anos finais da década de 1980 e início dos anos 1990 trouxeram mudanças que, dizem alguns analistas, “varreu o leste europeu”. Mudanças que, se por um lado democratizaram as relações políticas, por outro lado também “democratizou” a pobreza. É verdade que se instalou um processo de liberdade na economia, mas também aumentou o número de pobres e excluídos, seguindo o exemplo do mundo capitalista.

A pergunta que se faz, neste momento da história, não poderia ser outra: considerando o fim do socialismo soviético é: a liberdade e possibilidade dos ricos aumentarem suas riquezas compensa o preço da exclusão social e econômica da maioria da população?

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura – RO