O título acima, na verdade, é um eufemismo para o conhecido “filho da puta”!

 

O leitor tem uma expressão mais apropriada para denominar o bípede implume que abusa sexualmente de criancinhas desprotegidas? Animal, monstro, aberração da natureza?

 

Felizmente, o leitor há de argumentar que o assunto em questão é relevante e, por isso, exige um comentário menos apaixonado e simplista e mais grave e responsável da parte do colunista.

 

Dessa maneira, o “filho da mãe” será chamado apropriadamente de pedófilo – que é o indivíduo acometido de compulsão sexual por crianças. Aliás, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, trata-se de uma doença cujo diagnóstico e tratamento constituem um desafio e tanto para profissionais especializados.

 

Ainda segundo a ABP, o tratamento médico e psicológico da pedofilia passa por várias etapas, incluindo a psicoterapia de linha cognitivo-comportamental específica. Além disso, medicações para controle do impulso sexual podem ser indicadas para amenizar a compulsão ou mesmo a excitação sexual com crianças. Associados à psicoterapia, os antidepressivos são a primeira escolha no tratamento desses casos.

 

O certo é que a impulsividade exacerbada e patológica dos pedófilos precisa ser contida, controlada e – se possível – curada, para a segurança dos serzinhos indefesos. Afinal, não existe nada mais revoltante do que a notícia de que uma criança foi molestada sexualmente. Lembremos o caso do médico pediatra (55 anos) de Porto Seguro, acusado de abusar sexualmente da filha de apenas 4 anos... A mãe da vítima conta que, numa madrugada de 2008, teria visto o médico cometer os supostos abusos. Esse teria sido o primeiro de outros abusos e investidas. “Eu não estava acreditando que aquilo estava acontecendo na minha casa”, declarou a mãe indignada, após denunciar o ex-marido à polícia.

 

Indignação é a reação imediata a uma atrocidade dessas. E quando um ato tão repugnante parte de uma pessoa próxima como o pai, e ainda por cima um pediatra (da mesma etimologia de pedofilia – só que os pedófilos abusam, enquanto os pediatras cuidam – ou deveriam cuidar – das crianças), as coisas perdem a razão de ser, saem do eixo e se complicam de vez. O que sinaliza, infelizmente, que as crianças se encontram vulneráveis à violência sexual, seja na escola, na casa do vizinho ao lado, na do parente de confiança, ou no próprio lar. Enfim, toda segurança é relativa e todos precisam ficar atentos.

 

Motivado por ocorrências como a de Porto é que o senador capixaba Gerson Camata (PMDB) propôs a “castração química” para autores de estupro e abuso sexual contra crianças e adolescentes. A expressão, por lembrar punição, sofrimento e dor, suscitou mais confusão do que discussões sérias. Tanto que o senador deve substituir a “castração química” por “tratamento por supressão hormonal”, para que tenha algum sucesso na CCJC do Senado.

 

Uma vez aprovada, a medida altera o Código Penal e permite a redução da condenação para quem aceitar a aplicação do medicamento que diminui a libido (desejo sexual). A dosagem do remédio e a periodicidade do tratamento podem variar conforme o caso – da primeira vez, é pelo tempo que o sujeito foi condenado; da segunda é para sempre, em caso de reincidência.

 

Como toda polêmica, a “castração química” gerou prós e contras. Para o presidente da CPI que investiga a pedofilia, Magno Malta (PR), a medida favorece o criminoso. “O sujeito abusa de criança, aceita tomar o medicamento e terá a pena reduzida. Qualquer advogado vai mandar ele tomar o medicamento”, ironizou.

 

E acrescentou: “Quando o remédio acaba e passa o efeito, a pessoa tem apetite dobrado. Como os pedófilos são compulsivos, não há redução de libido com castração química que vá mudar a situação”. Ainda provocou: “Quem vai fornecer o medicamento? Vai ser o SUS? O pedófilo vai ter uma carteirinha de pedófilo? Como é que faz para comprar na farmácia?”.

 

Gerson Camata, no entanto, apresenta uma réplica bastante razoável. Segundo ele, em países como Canadá, a reincidência após se fazer a chamada castração química é de menos de 1%. E, depois, o objetivo central do projeto é proteger as crianças dos pedófilos no futuro.

 

Em tempo: todo pedófilo comprovadamente culpado, sendo um Roman Polanski ou não, precisa pagar legalmente por seu crime. E, por ser doente, precisa se tratar com urgência. A castração química (ou qualquer outro nome que se lhe dê) será um bom início.

 

(A. Zarfeg)