UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ- UVA.

Curso de Filosofia - CENFLE/UEVA.

Fichamento do Livro

Aurora (Friedrich Nietzsche).

          Camila Sampaio Moreira                                                   

SOBRAL/CE

15/05/2012

Na obra Aurora, podemos perceber que o autor faz por meio de seu discurso poético uma severa crítica a moral. O mesmo começa a se questionar se a moral é realmente algo justo e de significativa estima para os indivíduos. 

 “... Desci a profundeza, penetrei no alicerce, comecei a investigar e escavar uma velha confiança, sobre a qual nós, filósofos, há alguns milênios construíamos, como se fora o mais seguro fundamento... (Pág.10: Aurora: Nietzsche/ Coleção, Companhia das Letras.)”.

Para Nietzsche, a moral tem a característica preponderante em acreditar em realidades que não existem. Para o filósofo, os juízos morais são puras interpretações de determinados fenômenos. Os juízos morais, bem como os juízos religiosos, não distinguem o real do imaginário, não passam de uma “semiótica” elaborada em si mesma. É necessário compreender a natureza da moral para tirar o seu melhor proveito.

Muitos filósofos e homens do senso comum, não tiveram esta percepção do verdadeiro conceito da moral. Por tais motivos, a humanidade sempre esteve aprisionada a tais preceitos, reprimindo-se pelo medo e pelas consequências que as feridas morais poderiam nos trazer todo e qualquer desejo de libertação do espirito, nos tornando como diria Nietzsche, em animais doentes, vivendo reprimidos pela força inanimada da moral.

A humanidade que alimenta em si a falsa ilusão de ser salva e libertada por meio da natureza moral se torna cada vez mais uma humanidade corrompida, onde todos nós nos tornamos pecadores, doentes e miseráveis, pois acolhemos a moral de tal forma a ponto de recusarmos a nossa vontade de potencia, nos tornando personagens fictícios de nossa própria história, condenados a viver de aparência para que possamos seguir os padrões da sociedade, “cujas regras sociais” oscilam em torno da natureza moral. 

“O homem livre é não moral, porque em tudo quer depender de si, não de uma tradição: em todos os estados originais da humanidade, “mau” significa o mesmo que “individual”, “livre”, “arbitrário”, “inusitado”, “inaudito”, “imprevisível”. (Pág.16: Aurora: Nietzsche/ Coleção, Companhia das Letras.)”. 

A moralidade se pararmos para refletir, não é outra coisa e, portanto, não mais do que mera obediência a costumes, não importa quais sejam, os mesmos encontram-se enraizado de forma tão tradicional, que se torna quase impossível ir contra esta corrente ideológica. Em coisas que nenhuma tradição manda não existe moralidade.

Para Nietzsche o modelo de homem livre está nos príncipes do Renascimento: valente, hábil, sem moral (acima do Bem e do Mal), apenas se guiando por sua vontade de poder, a sua energia vital. O super-homem é aquele que aceita a vida como ela é: incerta, conflituosa e sem ilusões, livres das correntes da tradição, cuja autoridade superior a que se obedece não porque ordena o que nos é útil, mas porque simplesmente ordena, causando no espirito dos fracos o medo, que se encontra superior ao intelecto. Dominando todo o ato de potência que o homem poderia vir a ressaltar, por meio de suas escolhas, tornando-se moral, ao sacrificar os costumes e a obediência na qual toda a vida deve que seguir.

A superação deve ser exigida por todos nós enquanto seres racionais, pensantes, livres para escolhermos o caminho no qual julgamos ser o ideal para cada um de nós. Fazermos uso de nossas manifestações individuais, nos torna cada vez mais, seres autônomos, mesmo que reprimidos pelo restante da massa temos a convicção que podemos ser diferentes dos demais, por termos pensamentos que se diferenciam dos mesmos.

 

“Oh, deem-me loucura, seres celestiais”! Loucura, para que eu finalmente creia em mim mesmo! Deem-me delírios e convulsões, luzes e trevas repentinas, apavorem-me com ardores e calafrios que nenhum mortal até agora sentiu, com fragores e formas errantes, façam-me urrar e gemer e rastejar como um bicho: mas que eu tenha fé em mim mesmo! ’’(Pág. 22: Aurora: Nietzsche/ Coleção, Companhia das Letras.).

 

Nietzsche tinha um conceito diferente de loucura, o mesmo afirmava que onde houver loucura haverá também um grão de gênio e de sabedoria. Os loucos conseguem romper um jugo de uma moralidade e instaurar novas leis. Segundo o filósofo é a loucura que abre alas para a nova ideia, que quebra o encanto de um uso e uma superstição de venerados.

Os loucos assassinam as leis e conseguem serem superiores a elas. Se não formos superiores as leis, seremos objetos e marionetes das mesmas, aprisionados em um estado de loucura oculta, sombria, oprimida. Somente a loucura nos liberta e define realmente quem somos. Na visão do filósofo ela nos revela quem somos, e o que podemos fazer quando não estamos titulados pelas leis morais que a todo custo nos policia constantemente.

 

 

“A crueldade está entre as mais velhas alegrias festivas da humanidade” (Pág. 24: Aurora: Nietzsche/ Coleção, Companhia das Letras.).

O prazer na crueldade encontra-se presente na sociedade em que vivemos já se tornou um habito natural do homem. Muitos matam, aterrorizam e oprimem os menos favorecidos pela simples satisfação de seu ego.

A moral, também nos causa este estágio de dor, por ser algo na qual toda a humanidade se sacrifica para obter algum retorno, como diria Nietzsche uma espécie de sofrimento voluntário, tornando o martírio deliberado em um sentimento de valor, para cumprir as leis dos costumes, na qual há muito tempo nos tornamos escravos.

“As pessoas dizem a si mesmas: pode ser que os deuses nos tratem desfavoravelmente por nossa felicidade e benevolente por nosso sofrer.” (Nietzsche).

É de tal modo que o homem moral é definido na sociedade. Um homem virtuoso, que se sacrifica com o frequente sofrer, do duro viver, da privação, da cruel mortificação, como meio de disciplina, de autodomínio, cujo anseio oscila em torno de uma felicidade individual.

A humanidade encontra-se contaminada com a pura ilusão de que tudo será recompensado, e todo martírio não será em vão. Demorará anos para que a humanidade sofrida e oprimida perceba segundo Nietzsche, que é impossível executar bem o preceito, somos inteiramente fracos e pecaminosos, e no fundo incapazes de exercer a fundo o papel da moralidade, sendo de tal modo já mais poderemos reivindicar felicidade e êxito, os preceitos e promessas morais foram dados para serem melhores do que nós. Neste sentido, a história dos sentimentos morais é muito diferente da história dos conceitos morais.

“... A cada conhecimento tropeçamos em palavras eternizadas, duras como pedras, e é mais fácil quebrarmos uma perna do que uma palavra.” (Pág.43: Aurora: Nietzsche/ Coleção, Companhia das Letras.).

Não importa o quanto à humanidade possa ter evoluído, em algum ponto ela parece ter estacionado. O cristianismo constituiu todo o valor moral pautado no fanático amor a Deus, condenando em geral a racionalidade, convidando a todos os homens a manifestar-se na sua força e esplendor extremos, como amor, temor e cega esperança em Deus.

Como romper com tão sólida tradição? Se esta poderosa e segura verdade defendida pela Igreja sempre demonstrou para o povo, a verdade manifestada na fé? Dificilmente poderemos demonstrar que o cristianismo é apenas um recanto onde a humanidade se refugia nos momentos de desespero e angustia, elevando a Deus toda a sua confiança, depositando no mesmo toda a responsabilidade que no fundo só a nós cabemos resolver.

O cristianismo tem o instinto do caçador para todos aqueles que, de algum modo, possam ser levados ao desespero. Se há tempos estivéssemos compreendido o verdadeiro significado do cristianismo, há muito tempo o mesmo já teria evaporado da humanidade. Pois sua função foi sempre fechar o máximo o circulo e proclamar a dúvida como pecado. O individuo deve ser lançado na fé sem uso da razão, pautado em um estágio de cegueira e vertigem, elevando um eterno cântico sobre as ondas em que se afogou a razão.

Este é o papel do cristianismo na visão do filósofo, que não ver nesta razão um sentimento verdadeiro e leal, uma moral que nos condena e nos priva de qualquer potência individual. Desviar-se desta doutrina é ter coragem de deixar a contemplação cristã pela verdadeira contemplação filosófica, que consegue enxergar para além do senso comum.

“A compaixão torna-se antidoto para o suicídio, como sentimento que contém paz e faz provar a superioridade em pequenas doses: ela nos distrai de nós, enche o coração, afasta o medo e a rigidez, incita a palavra, aos elementos e atos comparados a miséria do conhecimento, que de todos os lados empurra o individuo para o aperto e a escuridão e lhe tira o folego, é relativamente uma felicidade. E a felicidade, seja ela qual for, traz luz, ar e liberdade de movimento.” (Pág.104: Aurora: Nietzsche/ Coleção, Companhia das Letras.).

A ideia da compaixão, de tolerância, de piedade, tudo isso lhe parece bastante desagradável e condenável para Nietzsche. O filósofo repudiava estes sentimentos por estabelecer cada vez mais a miséria humana.

 A compaixão só torna aqueles que são vitimas de pena cada vez mais inconformado e amargurado por tal situação, os “caridosos” que se dizem fazer o bem a quem necessita, no fundo só estão preocupados em exercer seu papel de homem moral justo e piedoso diante da sociedade.

As pessoas vivem escondidas por debaixo de mascaras, e se não vivessem por traz das mesmas, revelariam quem realmente são. A moral só existe para esconder de fato as pretensões e personalidades que todos nós indivíduos possuímos e que não temos coragem para demonstrar por medo dos castigos, das punições das leis e das criticas pessoais do restante da massa.

Pobres e dignos de piedade são os que vivem forjados em falsos preceitos morais e religiosos, seres pecaminosos, sujos de alma, e covardes de natureza. Morais são os homens que não necessitam da piedade do outro para sobreviver, que conseguem ser feliz na escuridão de seu mundo isolado, mas que desfruta do verdadeiro contentamento, da luz e do movimento da verdadeira felicidade.

 

 

 

“O estado de sentimento em que a música nos põe está quase sempre em contradição com a evidência da nossa situação real e da razão que percebe esta situação real e suas causas.” (Pág.110: Aurora: Nietzsche/ Coleção, Companhia das Letras.).

A música tem a força de reproduzir no nosso corpo e na mente um estado de leveza e liberação dos nossos estímulos mais ocultos por meio da sensação que sentimos ao apreciarmos a melodia de uma bela canção. É a música, porém, que nos mostra mais claramente que mestres somos na percepção rápida e sutil de sentimentos na empatia, pois a mesma é considerada reprodução da reprodução de sentimentos, causando em nós alegria, melancolia, desprezo, raiva, dentre outros sentimentos.

Nietzsche nos afirma que a música nos oferece momentos de verdadeiro sentimento, pois só a música colocada ao lado do mundo, pode nos dar uma ideia do que deve ser entendido por justificação do mundo, como fenômeno estético que percebe que a vida sem a música é simplesmente um erro, uma tarefa cansativa, um exílio.

A música, enquanto arte essencialmente dionisíaca é o meio para se desprender da individualidade. Nietzsche ver na música uma junção de apolíneo, cenas e palavras. Para o mesmo a música é um conjunto de representações onde podemos expressar todo o nosso sentimento, por ter o poder de nos levar a um estado de êxtase, de prazer, não por recordamos precisamente de algo ou de alguém, mas por apreciarmos a verdadeira arte, que segundo Nietsche é a única que pode nos oferecer força e capacidade para enfrentar as dores da vida.

 

“Os juramentos dos amantes deveria ser publicamente invalidado, e o seu casamento, interdito: pela razão de que o matrimonio deveria ser levado muito mais a serio, de modo que, justamente nos casos em que até agora se realizou, não se realizaria normalmente!” (Pág.116: Aurora: Nietzsche/ Coleção, Companhia das Letras.).

Nietzsche faz uma critica ao casamento moderno, segundo o filósofo não se pode fundar um matrimônio pautado no amor. Para Nietzsche o casamento por amor é o responsável pela perda do estatuto de indissolubilidade do casamento.

Segundo o filósofo o casamento deveria ser sustentado por outras razões que não fosse o “amor”, dentre eles: o instinto da espécie, e o instinto de propriedade. Tais razões, segundo Nietzsche, serviriam para dar uma base maior as responsabilidades e compromissos dos homens.

Na visão de Nietzsche, até agora o casamento só serviu para colocar rédeas nos casais, onde os mesmos se habituam a viver em uma rotina constante, sem outros fins e interesses próprios, sustentando um casamento pautado apenas na moralidade, cumprindo assim as leis da sociedade, cujas tradições até agora só serviram para manipular e oprimir as potencialidades do homem.

    

Resumo do livro Aurora.

Na obra Aurora, Nietzsche começa a fazer uma severa critica a moral, nos levando a um estágio de reflexão sobre os preconceitos morais que nos foram postos, cujos padrões de certa forma oprimem e pune o homem da liberdade. Uma vez que a moralidade não é outra coisa que mera obediência aos costumes impostos. Nietzsche quer romper esta maneira tradicional de agir e de avaliar os preconceitos morais. Em Aurora, Nietzsche discute a história dos costumes e da moralidade, a história do pensamento e do conhecimento, além de ressaltar os preconceitos cristãos que vararam a história da humanidade. Para o filósofo a humanidade vive oprimida alimentando em si a falsa ilusão de serem salvos e libertados por meio da natureza moral, se tornando cada vez mais uma humanidade corrompida, onde todos nós nos tornamos pecadores, doentes e miseráveis, pois acolhemos a moral de tal forma a ponto de recusarmos a nossa vontade de potência, nos tornando personagens fictícios de nossa própria história, condenados a viver de aparência para que possamos seguir os padrões da sociedade, “cujas regras sociais” oscilam em torno da natureza moral. 

REFERÊNCIAS:

NIETZSCHE, F. Aurora. São Paulo: Companhia Das Letras, 2004.