CRONOLOGIA

 

1953 – Nasce em 26 de agosto em Nazaré-Ba

1968 – Ingressa no Partido Comunista, na ilegalidade e começa sua

carreira literária com várias poesias e um romance chamado A VIN-

GANÇA DOS IRRACIONAIS.

1971 – Escreve REVOLTA e algumas poesias

1973 – Escreve ALEM DA MISÉRIA e poesias

1974 – Escreve O SANTO DEMONIO  e poesias

1976 -  Muda-se para Belo Horizonte-Mg e continua escrevendo

1977 -  Escreve ESSES HEROIS CAMPONESES e OS DOIS PO-

LOS ANTAGÔNICOS e poesias

1978 -  Muda-se para Salvador-Ba

1981 -  Muda-se para Nazaré-Ba

1979 a1994 – Escreve poesias

1995 – Escreve O SISTEMA e poesias

1998 -  Escreve NEOLIBERALISMO NO CÉU e poesias

1999 -  Escreve IMPÉRIO e mais dois livros que continuam sem

títulos.

2000 -  Escreve ORGIAS CAPITAIS, FERRO, O HOMEM PAR-

TIDO e poesias.

2001 -  Escreve TEATRO IMPRODUTIVO, ZÉ e conclui o livro

FERRO. Escreve poesias.

 

 

ANDRE LEITE

Historiador

                                 

                            

                                   ROTEIRO

Para que o livro seja bem entendido, siga estas pistas:

ANAFERRO- Agencia Nacional Fiscalizadora de Ferro

AFL - Academia Ferrada de Letras

BFDS – Banco Ferrado de Desenvolvimento Social

BOIADEIRO- Motorista de táxi que conduz os turistas para terreiros de candoblé.

CIA – Companhia Inimiga das Américas

CFM- Comando Ferrado de Medicina

COF- Crime Organizado de Ferro

CPF – Cadastro de Pessoas Ferradas

ELETROFERROLHO – Companhia Elétrica de Ferrolho

FAF – Força Aérea Ferrada

FERRADOS – Os que nasceram em Ferro

FERRAGEM – Capital de Ferrolho

FERRÃO – Moeda corrente em Ferro

FERRENHOS – Os que nasceram em Ferrugem

FERRILHA – Capital de Ferro

FERRO – Nome do país

FERROLHO – Um estado de Ferro

FERRUGEM – Cidade histórica de Ferrolho

FERRUPTO FERREIRA – Presidente de Ferro

FME – Fundo da Mão Enferrujada

GAFE- Grande Amigo Ferrado

IFOP – Instituto Ferrado de Opinião Publica

ILHAS CORRUPTAS – Paraíso fiscal

MLT – Movimento de Luta pela Terra

MP – Medida Permanente

OAF – Ordem dos Advogados de Ferro

PETROFERRO – Cia. Petrolífera de Ferro

PMDF – Partido do Movimento da Democracia Ferrada

PRONAF – Problemas Nacionais de Ferro

PTf – Partido dos Trabalhadores Ferrados

PPF – Palácio da Planície de Ferro

SÃO PEDRO – Maior cidade de Ferro

SIDERURGICA FERREIRA – Primeira dama de Ferro

SIM- Sistema de Idiotização em Massa

STF – Supremo Tribunal Ferrado

 

Aproveitem

                                 

 

 

                 

                  FERRO              

 

                       A

 

              VINGANÇA

 

                      DO

 

                   DIABO

 

 

 

      GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA

 

 

             Reg. Min. Cultura/FBN/EDA/RJ-BR-523.484L993F472

                                                                                                              

        

 

 

                   

 

 

               FERRO  – A VINGANÇA DO DIABO – CAPÍTULO 1

 

Nazaré, Bahia 27-11-2010

 

            O Diabo desencarnou. Foi para a espiritualidade. Um ano depois, ele baixou num centro espírita à procura de seus comparsas e não conseguiu localizar nenhum deles. Ele queria praticar mais malvadezas. Foi embora e manifestou em outro centro espírita e encontrou dois de seus comparsas que tremiam de frio e de medo com a presença do seu cacique.

            Ele deu um sorriso sinistro e incisivo e se transformou no Diabo. Ficou num canto da sala a observar os dois que naquele momento sentiam sua presença muito forte. Um médium se manifestou e denunciou sua presença:

            -Sr. Paulo. Tem um entidade que veio direto do inferno e está a lhe observar daquele canto da sala. O pior é que ele se apresenta travestido de diabo, com rabo, chifre e tudo que tem direito.

            Sentiu-se na sala um forte cheiro de enxofre. Do canto da sala em que estava o diabo, saía uma fumaça preta. Então o diabo decidiu se manifestar em um dos médiuns da sala. O médium ficou com receio e tentou recusar a manifestação. Então ele fez um trato com o diabo. Apenas transmitiria para o Sr. Paulo o recado do diabo. O diabo não queria aceitar. Ele queria falar pessoalmente. O médium relutou, se defendeu como pode e conseguiu recusar a manifestação. Então o diabo perguntou ao médium:

            -Tem alguém nessa sala que é médium e foi meu admirador ou meu parceiro? Tem alguém que eu tenha o nome em meus arquivos secretos? Vocês sabem. Eu tenho um arquivo em casa que tem os nomes e cargos de todos os políticos de Ferrilha e de Ferrolho e que me ajudaram a roubar o país.

            Nesse momento apareceu um médium inexperiente e o diabo se lançou sobre ele. Ele tentou relutar mas não tinha mais jeito. Estava pegado. Começou a se sentir mal, vomitou e disse que seu corpo

estava queimando. Esse teve que fazer o pacto. Começou a transmitir as mensagens do cacique da política ferrolhense:

-Eu agora estou bem. Eu só queria saber de meus amigos. Eu só queria saber de Paulo se os outros ficaram ricos na minha ausência e quero que eles saibam que eu não parei de mandar. Sou eu quem manda neles ainda e que não ousem me desobedecer senão eu chamo para cá, como já fiz com alguns e puxo a orelha pessoalmente. Vocês viram o que aconteceu com o prefeito de Ferrugem. Foi passar para o partido socialista, então eu apertei a cabeça dele até que ele morreu e não pôde governar o seu terceiro mandato. Eu estou zangado com todos vocês porque mudaram o nome de minha propriedade. Tiraram o nome original e colocaram o nome do demo. Desse jeito, o Homem aqui de cima vai ficar sabendo que o partido é meu. E se ele descobrir eu estou ferrado. Vou ficar igual a vocês aí de Ferro. E onde está Antônio, porque Luiz já está aqui junto comigo. E o Fernando, deixou o Inácio ganhar a eleição dele? Esse Fernando é incompetente mesmo. A única coisa que ele fez de certo foi abrir aquelas contas nas Ilhas Corruptas. E também as da Suíça. Ele juntou tanto dinheiro que acabou esquecendo de tratar de Rute. Deixou a criatura se lascar. Hoje ela está aqui comigo me ajudando a persegui-lo.

            -Então senhor, já deu seu recado, agora está na hora de se retirar e descansar o médium. A carga foi muito pesada.- disse outro médium.

            -De jeito nenhum. Estou vendo outro comparsa ali no canto, todo encolhido. Ele deve estar com medo de mim e se escondeu. Mas eu lhe descobriiii! Tudo bem César? Diga ao João que eu não apaguei o nome dele de meus arquivos ainda não. E aquele que escondeu a cabeça lá no fundo? Ah! É o prefeito. Está roubando muito como lhe ensinei? Não se esqueça de meu neto. Ele é o pouco que me restou porque meu filho é um banana. Você tem que roubar todo o dinheiro da prefeitura e dar ao juiz eleitoral para que ele faça funcionar a urna eletrônica direitinho. Isto é, a meu favor.

            -Sim doutor.- respondeu o homem que é prefeito da cidade vizinha de Ferrugem, Sajferro.- Eu juro que vou conversar com o juiz eleitoral. E se ele quiser muito dinheiro para fraudar as eleições.

-O importante é que meu neto ganhe as eleições. Mesmo que você vá preso. Mas eu não acredito que você vá preso por causa de uma coisinha à toa. Aliás, ele é o juiz. Se ele vai receber a grana, ele não vai deixar que lhe prendam- disse o diabo sorrindo.

-E se o promotor me prender?- perguntou o homem.

-Aí você manda o juiz lhe soltar e prender o promotor. Ou então manda o juiz dividir a grana com o promotor- respondeu o diabo, convicto. O importante é meu nome não aparecer nessa parada senão o Homem aqui de cima me ferra.

-Mas ele não vai poder fazer isso- disse o homem, atônito.

-Então, manda matar o fila da puta. E é só essa ordem que eu tenho para você, ouviu? E não ouse me desobedecer senão eu mando meu neto contratar um pistoleiro e acabar com sua raça... e a dele também. Você quer vir para o lado de cá, agora? Se quiser eu providencio um enfarto em você.

-Não Chefe. Eu quero viver numa boa, tudo o que roubei da prefeitura.

-Eu protesto contra essa baixaria aqui no centro!- disse o presidente do centro espírita.

-Então mande o prefeito cumprir minhas ordens. Não se esqueçam dos prefeitos que eu já transportei para o lado de cá. E transportei porque eles fugiram ao controle do neoliberalismo. A transferência do prefeito de Ferrugem foi terrível! Você soube o que eu fiz com ele. Esmaguei seu cérebro e ele sofreu muito. Você quer passar pelo mesmo? Fique de olho nele, viu César?- disse o diabo, deixando todo mundo apavorado.

-Estou ciente Chefe. Não desobedecerei.

-O senhor já causou muito sofrimento aqui nesta sala. Queira se retirar, por favor.- disse outro médium, impaciente.

O cacique da política ferrolhense retirou-se da sala, mas prometeu voltar muitoem breve. Nãodeixaria seus comparsas gastar o dinheiro do povo sem a participação de seu neto.

O presidente do centro tomou medidas drásticas e proibiu que todos os políticos ferrados freqüentassem o centro espírita.

No dia seguinte Paulo ligou para Neto, todo apavorado  e contou o ocorrido. Então Neto respondeu:

-Eu sabia que vovô não ia me deixar na mão. Ele é malvado ou não é? Então eu vou ganhar a eleição para governador de Ferrolho! Que bom. Que bom. Fale com todos os nossos prefeitos do interior de Ferrolho porque o de Ferragem já é nosso. Vai ter até alguns que vão duvidar mas, esses você obriga a ir no centro espírita porque vovô vai fazer uma reunião com todos nós.

-É mesmo! Grande idéia! E se alguns duvidarem que é ele?- perguntou Paulo.

-Aí eu vou no sanitário e queimo um pouco de enxofre. Eles vão ficar apavorados. Hi Hi.

-Mas eu soube que o presidente do centro proibiu a gente entrar lá.- disse Paulo.

-Manda desencarnar esse aí. Hi Hi. Manda chamar o César também. Ele não tem mais chance de se reeleger no Senado, então vai ter que me ajudar também.

-Eu vou ver se dar para arrumar tudo para semana que vem. Se o presidente do centro não deixar, faremos a reunião em uma casa de macumba lá no morro- disse Neto sorrindo.

                                            *

Na semana seguinte a fama do centro espírita correu os quatro cantos de Ferro. Os correligionários formavam filas imensas para tomar passes. Todos queriam ver o diabo materializado em forma de gente. Mas o presidente do centro espírita foi obrigado a chamar a policia que não apareceu. Então, o jeito foi fechar o centro espírita naquele dia.

Diante da recusa do presidente do centro, Paulo, Neto, César e toda a sua corja foram parar num morro de Ferragem onde funcionava um terreiro de candoblé. O pai de santo foi logo falando:

-Eu só faço o trabalho por vinte mil ferrões. Se quiserem podem ir para Ferrugem ou para Cascata. Lá tem gente que faz o trabalho até de graça. Eu soube da baixaria que esse sujeito fez no centro espírita. Disse que foi uma esculhambação retada. O pessoal foi até obrigado a fechar o centro.

-Ah! Deixa esse maluco pra lá. Vamos para Ferrugem que me disseram que o negocio lá é forte.- disse Paulo.

O grupo do DEMO se deslocou para Ferrugem. Foram de helicóptero, atravessaram o mar, passaram sobre a ilha e, em uma hora chegaram a Ferrugem. Pousaram no campo de futebol da pequena cidade. Logo o prefeito local destacou um carro da prefeitura para levar a corja até um pai de santo que já os esperava.

A chegada foi gloriosa. O pai de santo nunca tinha visto tantas personalidades importantes em seu humilde terreiro. Jurou para si mesmo que faria um trabalho daqueles. Ele já estava a par do que os homens queriam pois já tinha lido no jornal de propriedade da família do diabo.

-E aí. Quando começa o trabalho? Você vai cobrar quanto? Não pode cobrar muito caro porque o nosso partido tem pouco dinheiro.- disse César.

-Vocês dão quanto quiserem. É uma honra fazer um trabalho para vocês. Eu vou ficar famoso também- disse o pai de santo.

Todos foram para um salão que ficava no fundo da casa, todo enfeitado com bandeirolas e sentaram-se num banco rústico e ficaram a esperar o pai de santo em seus preparativos.

Meia hora depois apareceram algumas mulheres vestidas de branco e anunciaram a presença do pai de santo.

-Onde fui amarrar meu burro... Se meus eleitores souberem  que eu vim aqui, to ferrado- comentou César.

De repente uma mulher caiu no chão, se contorcendo toda. Logo Paulo que já era entendido da matéria comentou:

-Deu santo.

-Manifestou- disse Alencar, um pouco mais entendido.

A médium começou a falar:

-Eu não gosto de manifestar em mulher não. Eu sou muito macho. Mas vai assim mesmo. Eu quero saber de Paulo se o supermercado do povo foi privatizado para minha família e se a companhia de eletricidade de Ferrolho continua na mão da gente porque o banco do estado eu tive tempo de transferir para o nosso quintal. E o aeroporto? Continua no controle  de  minha  família?   Eu soube que até o pipoqueiro e as baianas do acarajé não estão mais pagando aluguel pra minha família. E a barraquinha do caldo de cana que Neto mandou colocar no aeroporto para brincar de comerciante, deu certo?- a mulher estremeceu e reclamou ao pai de santo:

            -Êta trem brabo! Êta trem ruim! Não aguento mais não. Manda esse trem embora. É muito pesado.

            -Excelência. Vou precisar que se retire por algum tempo. Logo mais o senhor vai se manifestar em mim- disse o pai de santo.

            -Uma entidade desse quilate, dessa magnitude, dessa evolução deveria se manifestar no centro espírita daqui da cidade. Você sabe. O pessoal é mais educado, coisa e tal...- comentou o prefeito local com Paulo e com Neto.

            Um vereador comentou:

            -É tudo mentira mesmo.

            -Se você não retirar o que disse, vou baixar em você- disse o pai de santo- o trabalho vai ter que ser aqui mesmo.

            -Está certo. Retiro o que disse.

            Passou-se algum tempo nos preparativos, o pai de santo foi lá pra dentro com as mulheres e, passado meia hora, voltaram:

            -Eu quero saber como está o movimento no porto!-disse o pai de santo.

            -Que porto?- perguntou Paulo

            -O porto que eu fiz para nossa família cobrar os embarques da Drof, aquela fabrica de carros que eu fiz no meu quintal- disse o pai de santo.

            -Eu tenho isso também?- perguntou Neto, surpreso.

            -Então, os americanos estão roubando nossa clã.

            -Eu vou tomar as providencias. Vou falar com a clã dos oas.          Vou perguntar se eles esqueceram de Neto. Não é possível! Como os americanos podem esquecer uma coisa tão importante como essa?- disse Paulo.

            -Eles não esqueceram, não. Foram vocês que esqueceram. Já ouviu o caso da “mão boba?” É a mesma coisa. “Desculpe, eu não queria pegar”. – disse o pai de santo.

            -Eu vou mandar uma mensagem para eles- disse Paulo.

            -Já deveria ter mandado. Vocês são uns bananas!- disse o pai de santo, manifestado e muito nervoso.

            -O pior é que o senhor disse antes de morrer que todos os juizes de Ferrolho tinham que obedecer os caras da fábrica.- disse Neto muito preocupado.- Deveria dizer que era para obedecer a gente.

            -Mas eles ainda obedecem. Cite meu  nome e eles tremerão de medo. Se algum juiz desobedecer, transfira o amotinado para bem longe. Mande para Longeferro- disse o pai de santo manifestado.

            -Onde fica isso!!!- perguntou Paulo

            -Lá onde o vento faz a curva. Fica pra lá do fim do mundo.- disse o pai de santo, manifestado.

            -Está certo, vovô. Vou exigir tudo que tenho direito- disse Neto, sorrindo.- se desobedecerem, manda implantar o terror e diz que foi a esquerda.

            -Igual ao problema do cacau no sul de Ferrolho. Lembram que foi a esquerda a responsável pela vassoura de bruxa? Só assim eu pude fazer meus pastos com a indenização do Governo de Ferrolho- disse Paulo.

            -E aquela malvadeza que eu fiz no estado de Azedo? Ali eu tive a ajuda de Ferrupto Ferreira, mais conhecido como Nando III. Mandei tocar fogo no estado todo para o nosso companheiro Daniel fazer seus pastos. Depois ele vende para os americanos. Pois é: eu quero o país assim: ao dia ninguém sai de casa por causa do sol e à noite também ninguém sai por causa dos bandidos.- finalizou o pai de santo, saindo da manifestação.

            -Agora eu acredito que foi vovô, mesmo- disse Neto.

            -E aí pai de santo. Quando é que ele vai baixar novamente? Já estou com saudades. Logo agora que eu ia contar que passei uma ilha em meu nome. Mandei fazer os documentos em nome de um testa de ferro do governador de São Pedro. Mandei até trocar o nome da ilha porque não gosto de negros. Mandei colocar Ilha da Pomba Branca... –disse Paulo, sorrindo. -desculpe, pai de santo.

            -Ferro já é uma ilha cercada de lama por todos os lados.- disse o pai de santo, manifestado.

            -O que disse, senhor?- perguntou Neto com olhar desafiador.

            -Não foi eu não. Foi outra entidade. Um tal de Pinto.

            -Só podia ser aquele comunista. Peça para vovô enquadrar esse Pinto na lei de segurança infernal, Neto.- disse Antônio.

            -Todas as entidades já se ausentaram. O trabalho terminou. Se quiserem, eu marco outro trabalho para semana que vem.

            -Marque mesmo. Agora, todo mundo tem que vir. Quem faltar, vovô vai puxar a perna de noite.

            -E esse negócio existe mesmo? Eu não acredito muito nessa conversa, não. Eu nem sei se Deus existe- disse o vereador.

            -Devem existir vários deuses. Deus Homem, fez os homens; Deus Pássaro fez os pássaros; Deus Cavalo fez os cavalos e por aí vai.- disse uma das mulheres do pai de santo.

            -Eu também esqueci de dizer a ele que o Alemão quer comprar a TV Ferrolho. Será que ele deixa a gente vender?- perguntou Antônio, preocupado.- A Eletroferrolho continua na mão da gente. Aquilo dá um lucro dos demônios. E olhando para o teto,- Desculpe papai. Foi até bom papai criar aquela MP que diz que quando um raio cai num fio de alta tensão e queima todos os aparelhos da população, o juiz da comarca ganha um carro luxuoso de presente.

            -Estou aqui novamente!- todos se assustaram.

            -É vovô?- perguntou Neto, dando pulinhos de alegria.

            -Não. Dessa vez é Pinto- disse o pai de santo.

            -É o comunista de novo. Eu vou mandar o Diabo te levar para o inferno- disse César, revoltado.

            -Eu soube que o governador de Ferrilha, o senhor Ruta Graveolens, da gang dos Rutaceae, enfiou um bocado de dólar no rabo.- disse Pinto.

            -Foram cédulas de mil. E de primeira mão. Novinhas. Ele foi burro. Deveria enfiar nas Ilhas Corruptas. Era mais seguro e não corria risco de ter uma infecção.- disse Antônio.

            -Eu não aguento mais o cinismo de vocês. Vieram para se aconselhar com o Diabo, não foi? Pois ele saiu daqui dizendo que iria tomar conta do inferno. Eu que sou socialista, estou junto de Jesus- disse Pinto.

            -Mas vovô é assim, ó, com os homens lá de cima.- disse Neto.

            -Ele está é no inferno. Quando ele chegou aqui o inferno era até um lugar legal. Só existia no nome. Agora que ele está administrando, ele passou a funcionar a todo vapor.

            -Zorra! Papai tem um prestigio retado. Até lá em cima o homem manda.- disse Antônio, orgulhoso.

            -Seu pai, quando queria uma vaga numa universidade federal para o filho de algum amigo, ele mandava matar um estudante e a vaga aparecia.- denunciou Pinto.

            -Papai foi o médico mais competente de Ferrolho.- disse Antonio, sorrindo.

            -Por falar em médico, eu soube que filho de trabalhador foi proibido de fazer medicina em Ferro, não foi? Os pobres coitados tem que ir para o país vizinho e morrer de estudar em outro idioma. Ainda tem essa. E quando voltam formados ainda tem que enfrentar o crime organizado do CFM para conseguirem trabalhar. Eles também não são ferrados?

            -São, sim. Mas o problema é que tem que ser feito o controle biológico dos médicos, senão prolifera. Já pensou, Ferro com um médico para cada cem habitantes? Aí a coisa vai ficar mangueada. Já pensou um médico ganhando só três mil ferrões? E também eu sou sócio de uma faculdade particular. Já pensou eu ter que baixar o preço da mensalidade? Assim meus lucros vão diminuir e eu não vou tolerar isso.- disse Paulo.

            -Já soube do casamento entre a esquerda e a direita em Ferrolho?- perguntou Neto

            -Se houve esse casamento foi entre a falsa esquerda e a falsa direita.- disse Pinto

            -Isso foi estratégia minha. Casei César com o alemão. Dá a César o que é de César. Não foi assim que não sei quem lá, disse?- disse Neto, sorrindo.

            -É um bando de vagabundos. Todos vocês. E o alemão também.- disse Pinto.- Como é que faz um casamento desses. Isso deve ter muito dinheiro envolvido. Inclusive a venda da emissora, a TV Ferrolho.

            -Como é que você sabe de tanta coisa?-perguntou Neto.

            -Seu avô não tinha um arquivo secreto quando estava aí? Eu também tenho um arquivo secreto do lado de cá. E o meu arquivo é melhor do que o dele porque o meu é em tempo real.- disse Pinto, assustando a todos os presentes.- há há há.

            -Mas não tem meu nome aí não, né?-perguntou Paulo, apavorado.

            -Tem, sim. O caso do Armazém do Povo, o caso da vassoura de bruxa e muitos outros.- disse Pinto, sorrindo.- Tenho até os números de suas contas nas Ilhas Corruptas.

            -Assim não dá! Quanto você quer para apagar tudo isso?-perguntou Paulo, atônito.

            -Pra que eu quero dinheiro? Esqueceu que sou espírito? E ainda tem o caso da ilha que eu vi seu avô falando- disse Pinto.

            -Meu deus! O que vamos fazer? Se ele sair por aí em todo centro espírita ou de candoblé, estamos ferrados. Vá embora cara. Não apareça aqui mais não.- disse Otton.

            -O Diabo está pagando caro por aqui- disse Pinto, liberando o pai de santo.

 

 

 

                                              CAPITULO 2

 

            Um mês após a manifestação, o diabo apareceu num centro espírita, desta vez travestido de gente. Quase que conseguia enganar todo mundo. Apareceu com aquela voz mansa, procurando o governador de Ferrolho... O médium ficou com tanta pena que prometeu convidar o governador no próximo dia. Logo ele pediu ao médium que lutasse ao lado do Bispo Primaz de Ferro para que este lutasse junto ao Papa para encaminhar a canonização de seu filho Luis e depois a sua própria. O médium respondeu que primeiro o Luis teria que entrar para a turma das boas ações.

            Também o diabo disse que tinha média alta com Irmã Lúcia e que também ela apoiava o seu projeto de canonização do Luis.

            -Essa não! Quem é você?- perguntou o médium, desconfiado.

            -Eu sou gente boa. Governei Ferrolho por quarenta anos. Ajudei os pobres. Tem gente que coloca minha foto na cabeceira da cama e reza pra mim todas as noites- disse o diabo.

            -A reza deve ser para você ficar por aí mesmo. Eu já sei de quem se trata. Porque você não manifesta com sua aparência original? Quer me enganar é? Comigo não. Sai daqui coisa ruim.- disse o médium se livrando do diabo.

            -Não se esqueça de convidar o alemão- disse o diabo saindo e deixando um cheiro forte de enxofre no ambiente.

                                                        *

            Uma semana depois, ao saberem da manifestação do diabo naquele centro, a casa encheu. O presidente foi logo falando para os presentes:

            -Olha gente. Se vocês vieram aqui pensando que nós vamos dá guarita para aquela entidade da semana passada, vocês tirem o cavalinho da chuva porque se ele tentar de novo eu boto todo mundo pra fora e espanto ele também. Isso aqui é um centro espírita e não o Palácio do Governo de Ferrolho.

            -Deixa ele manifestar um minutinho só- disse Neto.

            -Não podemos permitir isso porque é uma entidade que xinga muito e ameaça as pessoas- disse um médium.

            -E é um espírito muito atrasado e perturbador da ordem publica. Ele só se apresentava bem na TV Geral.- disse outro médium, impaciente.

            Os correligionários do diabo esperaram por mais meia hora. Nesse momento sentiu-se um forte cheiro de enxofre.

            -É vovô!- disse Neto todo feliz.

            -Eu peço aos senhores que se retirem. Peço aos médiuns que também se retirem lá pra dentro. Não podemos manifestar essa entidade horrorosa - disse o presidente encerrando a sessão.

            -Há há há. Dessa vez eu fui mais esperto. Entrei pelo buraco da fechadura. Eu vou demorar pouco - disse o médium- Eu queria que vocês convidassem o Arruda porque eu quero que ele divida tudo que roubou com meu neto.

            -Está certo Exa. Vou dar o recado pra ele.- disse Paulo

            -Era só isso que eu queria falar por enquanto- disse o médium.

            No dia seguinte Arruda foi comunicado do chamado do homem e obedeceu fielmente. Foram para um centro espírita em que o presidente era fã do homem. Chegando lá, sentaram-se todos e ficaram a esperar. De repente, um médium manifestou. Sentiu-se um forte cheiro de enxofre:

            -É vovô!- disse Neto

            -É papai! - disse Antônio

            -É ele! – disse Paulo

            -É o chefe! – disse o vereador

            -Eu mandei chamar Arruda. Ele veio?

            -Estou aqui, chefe, pronto pra lhe servir!- disse Arruda

            -Eu soube que você deu um golpe de burro. Distribuiu dinheiro da gente com fichinhas. Um bando de bundão- disse o diabo.

            -Eu pensei que podia confiar neles mas infiltraram um cara no meio... como eu podia adivinhar?- desculpou-se Arruda.

            -Eu quero que você divida tudo o que você roubou, com meu neto senão eu vou complicar sua vida.

            -É isso mesmo vovô- disse Neto

            -Em primeiro lugar, eu já dividi tudo com nossos colegas do DEMO. Você não recebeu sua parte aí não?

            -É uma pena que eu não precise de dinheiro aqui. Mas meu neto está precisando aí. A campanha está perto e o menino tem que ser senador.- disse o diabo

            -Como senador? Um dia desses ele tomou até uma facada nas costas de uma mulher! Esse menino não saiu a você, não. Ele é frouxo pra caramba- disse Arruda.

            -Frouxo coisa nenhuma. Eu vou mandar lhe matar.- ameaçou Neto.

            -Você está me ameaçando porque estamos aqui em Ferrolho. Aqui é seu território. Deixe você chegar em Ferrilha que eu vou mandar uns garotos de lá te dar uns cascudos. Você vai correr pra casa se cagando todo. E tem mais. Eu não converso com menino- disse Arruda decidido.

            -É esse menino que você vai ter que eleger senador senão vou infernizar sua vida. Eu tenho nos meus arquivos o registro daquela prostituta que dormia com você nos fins de semana.- ameaçou o diabo sorrindo.

            -Pôxa chefe. Você é terrível. Não sei porque fui continuar no DEMO. Agora estou de rabo preso. -disse Arruda.- se você não recebeu nada por aí é porque eles lhe roubaram.

            -Não adianta me enganar. Daqui eu vejo tudo. Agora é que vocês vão se ferrar comigo. Você terá que ajudar os outros correligionários a financiar a campanha de meu neto. Ele é quem vai me substituir aí na terra. Dessa vez vocês terão que comprar um bocado de juízes para mexer na urna eletrônica.- ameaçou o diabo.

            -Mas já trocaram quase todos os juízes. Temos poucos agora.- disse Paulo.

            -Ofereçam o dobro da grana. Se não aceitarem, manda substituir o cara.- disse o diabo

            -Não podemos mais substituir ninguém. Agora, quem pode é o PTf- disse Paulo.

            -Depois que eu morri vocês estragaram tudo, não foi? Onde anda o Sarnento?

            -Agora, quem manda é ele. Pelo menos na parte subdesenvolvida de Ferro...- disse Arruda.- ta tudo escapando de nós.

            -E o governador de Minasferro não era correligionário da gente?- perguntou o diabo.

            -Aquele ali comprou quase todos os juízes de Minasferro e disse que vai faturar sozinho. Disse que não precisa mais da gente não. Vovô, estamos condenados ao fracasso.- lamentou Neto.

            -E Ferrupto Ferreira. E sua mulher, Dona Siderúrgica?

            -O senhor está se referindo ao intelectual? Esse está fora dos nossos planos. Ele foi vender o país de uma só vez? Era pra distribuir com a gente. Ou então destruir de uma vez.- disse Othon.

            Mas o casamento foi consolidado, não foi? Eu soube que Paulo e César se uniram ao alemão. Pensando bem... sabe que eles estão certos? Quando o inimigo é mais forte temos que nos unir a ele e continuarmos poderosos. Tem que fazer como Sarnento. Entrou sem ser chamado.- disse o diabo.

            -Chega! Não quero mais isso aqui não. Libere o médium coisa ruim!- disse o presidente do centro, irritado.

            -Deixa vovôem paz. Maisum minutinho só- disse Neto

            -De jeito nenhum! Não quero essa coisa ruim aqui no meu centro não. Saia! Vá embora - ordenou para a entidade.

            -A essa ordem o médium caiu no chão, exausto e desmaiado tendo que ser levado às pressas ao hospital da cidade.

            -Pôxa. Vovô é um cara retado. Você viu?- disse Neto todo orgulhoso.- Vamos marcar nosso encontro agora em outro centro.

            -Centro espírita, não!- disse o presidente.

            -Então vamos voltar a Ferrugem. Lá o pessoal aceita a gente. É só soltar uma grana e tá tudo feito. Eu já estou sentindo falta do nosso benfeitor.- disse Paulo.- Aqui no centro não precisa pagar mas em compensação o presidente é um chato.

            A turma do DEMO saiu sorrindo satisfeito. Uns gargalhavam e outros comentavam sobre o centro espírita, fazendo criticas destrutivas. Marcaram a viagem para o dia seguinte. Iriam a Ferrugem para o pai de santo mesmo.

                                                        *

            Ao chegarem em Ferrugem um “boiadeiro” foi laçar suas presas na estrada para conduzi-los à casa do pai de santo.

            Dessa vez foi preciso um avião para trazer a todos. Interditaram uma estrada estadual por todo o dia para o avião pousar. Quando o avião pousou já eram treze horas e a estrada ficaria fechada até o avião decolar, às dezoito horas. Vieram todos da turma do DEMO para ver a aparição do diabo. Neto vinha comandando os correligionários que eram em grande número, destacando-se: Saulo Maluco, Juntai, Delfim, Aleluia, Gilmar, Alemão (esse ficou um pouco afastado com vergonha do povo), Cajado, Imbuí, Badejo, Felix e filhos, Zelina, Marcelo, Lobinho, Benvides, Caramujo, Colheiras, Jader, Nando I, Nando II e muitos outros bichos que gostam de passear de avião com o dinheiro do povo.

            A casa do pai de santo ficou superlotada de gente. O pai de santo se empolgou e disse que ia cobrar quinze mil ferrões pelo trabalho.

            -É pegar ou largar. Dessa vez veio muita gente e o trabalho vai durar a tarde toda.- disse. – Eles aceitaram e o trabalho começou.

            Algumas mulheres começaram a entrar  em  transe  e   falavam numa língua africana que os presentes não entendiam.

            Logo o diabo baixou no pai de santo e começou a falar com os presentes. Queria fazer uma comunicação:

            -Prezados correligionários, bom dia. Eu queria comunicar para vocês que o DEMO está sendo fundado no céu. Foi muita burocracia para se conseguir a documentação. A demora foi porque Deus não quis aceitar propina. O presidente do partido sou eu, é claro. Mas junto comigo estão figuras valorosas como Cabral, Bacelar, Sobreira, Ursinio, Brito, Andrade,   Rodolfo, Henrique, Martinho, o banqueiro Carvalho, Erasmo, Castelo, Dulcídia, Goubi, Peixoto que por sinal é daqui de Ferrugem, Figueiredo e muitos outros valores da política ferrada.

            -E sobre a canonização de Juninho? E a sua? E sobre o dinheiro para minha campanha, vovô?- perguntou Neto.

            -Isso já está acertado, meu neto. Todos vão colaborar com a sua campanha, vamos comprar os juízes eleitorais e sua campanha vai ser sucesso total.

            -Oba! Vou ser Senador! Isso que é um país- disse Neto.

            -Pode pular de alegria que isso vai ser verdade. -disse o diabo.

            -Sabia que o alemão está consertando a FE 324 com o dinheiro do estado para depois privatizar? Ele está aprendendo as nossas perversidades também. Agora,  para uma pessoa entrar em sua própria cidade, vai ter que pagar.- disse Paulo sorrindo.

            -Eu já estou com ciúme. Ele está conseguindo ser mais perverso do que a gente. Ele aprendeu a tratar o povo. Não demora nada ele sai do PTf e vem para o DEMO aí da Terra.- comentou o diabo, sorrindo.

            -Eu também pretendo me candidatar para governador de Ferrolho. Dá para arrecadar uma grana pra mim também?- perguntou Paulo.

            -Eu estou de olhoem você. Vocêacabou com o supermercado e agora não tem de onde tirar dinheiro pra campanha. Venda a sua parte na Ilha para seu sócio Motoserra. Não esqueça da parte de meu neto senão convoco você para o DEMO daqui- determinou o diabo.

            -Não me transfira não, chefe. Eu vou continuar obedecendo suas ordens.- disse Paulo tremendo de medo.

            -Você sabe que eu posso tudo. Consegui com os americanos que colocasse até a biografia de Margem Rio e Marola na internet. Vocês viram? A profissão deles agora é comerciante.- disse o diabo.

            -E o GAFE continua? Aquilo faz parte do SIM. Foi uma grande ideia da TV GERAL.- perguntou o diabo.

            -Há! O povo ficou viciado. Mas é bom que não pensamem política. Elesjá estão cientes que a política é para os políticos; profissionais, é claro.- disse César.

            -E o STF como vai? Nosso amigo continua lá?

            -Firme e forte. Está saindo agora porque ele quer.- disse Othon.

            -E o Saulo Maluco já ficou bom do cinismo?

            -Há! Aquele ali não tem jeito não. O amigo dele deve ter chegado por aí, não?- disse Neto

            -Esta aprendendo umas coisas comigo. Mas ele é muito novo aqui. Ainda não acredita que eu o mandei chamar. Esses caras, quando começam a apanhar da mulher tem que ser chamado com urgência para aprender a ser homem.

            -Estou indo agora. Pra semana quero todo mundo aqui de novo. Quem não vier corre o risco de ser transferido.

            O pai de santo após um espasmo corporal falou:

            -É gente. Eu não aguentava mais. O trem é pesado demais. A próxima vez vão ser vinte mil ferrões. Se não quiserem, procurem outro.

            -É que vovô é um cabra retado de forte.- disse Neto.

            -Eu gostei dessa ideia de fundar o DEMO lá no céu...- disse Othon, sendo cortado pelo pai de santo.

            -No inferno! Tem outra entidade aqui que quer falar com vocês. Seu nome é Pinto.

            -Ah! Eu não estou a fim de me contrariar, não. Se não for cobrar nada, manda esse cara falar- disse Othon.

            -Esse é até mais evoluído do que seu avô- disse o pai de santo a Neto.

            -Se você repetir isso, nós não pagaremos seus quinze mil. Os políticos são todos iguais- disse Neto.

            -Está bem. Como o senhor quiser. Ele mandou eu transmitir uma denuncia. Ele falou que o Ministério da Saúde mandou colocar cianureto nos cigarros alegando que só assim os ferrados deixarão de fumar em uma hora- disse o pai de santo.

            -E vão deixar mesmo!- disse Paulo sorrindo.

            De repente o diabo tornou a se manifestar:

            -Voltei só para afastar Pinto. Ele acaba convencendo vocês a ficarem bonzinhos.

            -Chefe! Eu tenho uma consulta para fazer. É o seguinte: os funcionários de minha empresa estão gritando e ameaçando fazer greve por causa dos baixos salários. O que eu faço?-disse Juntai.

            -Faz o seguinte: arranje um economista neoliberal e mande ele inventar alguns termos tipo isonomia, paridade, etc, coisas que a maioria não sabe o que é. Se eles descobrirem o significado dos termos, mande a TV GERAL inventar mais termos e siglas em inglês que aí vocês vão enlouquecer os economistas dos sindicatos e ganhar tempo.

            -Obrigado chefe. O senhor é mesmo um sábio- disse Juntaí.

            -Sábio não. Perverso.- respondeu o diabo.

            -Meus negócios também vão mal, chefe. Eu tenho uma empresa de produtos alimentícios. Já até roubei no peso e na qualidade mas, mesmo assim, vai mal.- disse Felix.

            -Mas eu não te falei que se abrir uma faculdade de medicina que você ficaria milionário? Numa faculdade, quem paga o imposto de renda são os pais dos alunos. E você cobra quanto quiser pela mensalidade. Se os pais não aguentarem pagar, tomam empréstimos na Caixaferro e só o diabo sabe quando vão terminar de pagar.

            -Meus negócios estão às mil maravilhas, chefe.- disse Gilmar.

            -Além de controlar o poder, o que é que você tem?

            -Eu abri o melhor negocio do mundo capitalista. Viva o capitalismo! Mesmo assim eu pago imposto mas é pouco. Estou no trafico de um bocado de coisas: drogas, armas, influencia... agora eu tenho que pagar imposto ao governo americano e colombiano.

            -Pra que pagar ao governo colombiano?-perguntou Neto.

            -São eles que repassam para mim. Também tem que ganhar o deles, não é justo? E Caribe é nosso companheiro de luta. Quando eu quero suicidar alguém ele manda alguém para me ajudar na tarefa.- finalizou Gilmar.

            -É por isso que eu gosto de Gilmar. Ele é um cara retado. Escreveu não leu, o pau comeu- disse o diabo.- Não esqueça da campanha de meu neto, viu Gilmar?

            -Não se preocupe. Vou mobilizar todos os meus colegas para agirem na urna eletrônica. Se eu ver que não é suficiente, eu vendo meia hora de bois e está tudo resolvido.- disse Gilmar.

           

           

 

           

           

 

           

           

      

           

                

            

                  FERRO

     

                UMA VISÃO

 

             APOCALÍPTICA

 

            DE UM FUTURO

 

                 PRÓXIMO

 

 

 

 

 

           

                                                                                                            

                                            

                                                       CAPITULO 3

 

            Pousou um disco voadorem Ferro. Paraser mais exato, na cidade de Ferrugem. O diabo disse que foi ele quem mandou porque os ferrados não queriam mais obedecer suas ordens.

            A porta se abriu e apareceu uma escada. No alto da escada, uma linda loira acenou para os curiosos. De repente a loira falou numa voz alta e metálica:

            -O diabo me mandou. Eu vim aqui para abduzir alguns dos exemplares de ferrados porque vocês merecem ser estudados. O primeiro da lista é... Gabriel, o Pensador! Cadê ele?

            -Esse cara mora lá por São Pedro ou Mar de Fevereiro. Ele não anda por aqui, não.

            -Mas, porque a senhora quer abduzir o Gabriel?- perguntou o prefeito que foi amigo do diabo.

            -É porque ele falou que eu sou burra. Agora, eu quero pegar ele e mostrar o que uma loira pode fazer com um homem.- disse a loira.

            -Mostre pra mim!- disse um jovem mulherengo de Ferrugem.

            -Então venha, meu jovem!

            -Oba! Fui escolhido para transar com a loira- disse o jovem, todo orgulhoso.

            O jovem subiu as escadas do disco voador. A escada subiu e a nave se fechou. Em seguida levantou voo.

                                                        *

            Uma semana depois a nave retornou a Ferrugem e deixou o jovem no campo de futebol. Todos correram para ver. Na frente da multidão estava a namorada traída do jovem, com um cinto enrolado na mão. Disse que ia lhe dar uma surra. Os outros jovens da cidade queriam saber como era a loira, se era boa e por aí vai.

            -Gente, a loira é insaciável! Ela também me mostrou onde é a casa do diabo. É uma mansão muito bonita. Fica lá no inferno. O pior é o cheiro de enxofre. Me deixava enjoado. Lá também faz muito calor mas o diabo me conseguiu um ar condicionado para eu dormir com a loira. Foi bom demais gente!- contou o jovem.

            Depois desse relato, todos queriam ir. Até o filho do prefeito disse que era ele quem tinha o direito de viajar para o inferno com a loira. Só que na hora não teve coragem. Ao se despedir do povo, a loira acenou:

            -Até mais ver! Eu só volto aqui quando vocês chamarem o Gabriel para visitar Ferrugem!

            A escada subiu, a porta se fechou e o disco voador foi embora. O prefeito escreveu uma carta para a NASA. Eles responderam um mês depois, dizendo que Ferro é um país de malucos.

                                                        *

            Ferro é um país que fica entre o kafkiniano e o surrealismo.

                                                        *

            Apesar das acusações , o governo de Ferrolho manteve todo o dinheiro do estado nas mãos honestas do Banco de Deus que ficava na cidade do Diabo. Um belo dia, lá pela madrugada ele fez a grande transferência para o Banco do Diabo que ficava na cidade de Deus.

                                                        *

            Sabem como os ferrados descobriam que os remédios dos laboratórios multinacionais eram falsificados? Eles consumiam a droga; se ficassem curados, o remédio era bom. Se morressem, suas famílias descobriam que foram lesados.

                                                        *

            Enquanto a América Latina pega fogo, o povo ferrado assiste passivo o GAFE.

                                                        *

            Em Ferro há dois tipos de mutilados: os da fome e os da medicina.

                                                        *

            Ferro é o país mais atrapalhado do mundo: é bandido subindo o morro para matar policia, é policia descendo o morro para matar bandido, é policia matando policia, é bandido matando bandido, é o governo mandando o político mandar a policia mandar o bandido  matar o povo...

                                                        *

            Ferro é um inferno preservado pela natureza hostil.

                                                        *

            As escolas ferradas fazem os pais de alunos comprarem livros caríssimos. Depois mandam os alunos pesquisarem na internet.

                                                       *

            Congresso Nacional de Ferro:

BLA BLA BLA BLA BLA BLA BLA BLA BLA BLA BLA...

                                                       *

            Um Deputado esquerdista foi acusado de alta traição contra a Nação Ferrada. Ele foi acusado de apresentar um projeto que estatiza a empresa Vale do Mar Salgado. Essa acusação é parte das palhaçadas da direita reacionária.

                                                       *

            Em Ferro, o chefe do crime organizado é chamado de Líder de Grupo e o Líder da Nação é chamado de Chefe de Estado.

                                                       *

            O pai pergunta ao filho:

            -O que você quer ser quando crescer?

            -Eu quero ser um político corrupto ou um traficante de drogas.

-Mas, porque meu filho?

            -Para passear por todo o país, de jatinho, protegido pela policia e pela justiça ferrada; e ainda ganho o respeito de todos!

                                                       *

            Em Ferro é comum a propaganda de drogas de laboratórios multinacionais e nacionais. Depois da propaganda ir ao ar, aparece a famosa frase que tira a responsabilidade dos laboratórios: se essa droga lhe intoxicar ou se você estiver prestes a morrer por causa da droga desta propaganda, seu medico deverá ser consultado,

            Eles só não falam em devolver o dinheiro da vítima e nem na indenização se a vítima for homem e virar mulher e vice-versa, ou se for bicha e virar um bicho.

                                                        *

            A TV GERAL (órgão oficial do governo ferrado) é inversamente proporcional ao besouro rola-bosta. Não adianta o besouro enterrar a bosta que vem a TV GERAL e a revive.

                                                        *

            Quase todos os sexagenários de Ferro estão com Aids. O motivo é que eles se acostumaram a transar sem camisinha e hoje as mulheres são de borracha sintética. É como disse o Presidente de Ferro: “estamos evoluindo”. Estamos na era do plástico; você transa com uma mulher de plástico, paga com um cartão plástico, e pega um vírus de plástico. Mas legal mesmo é a geração saúde. Fica a noite todo em frente ao computador, masturbando a mente com uma mulher virtual só para não pegar Aids.

                                                        *

            Um entrevistador da elite de São Pedro deu uma mancada de lascar. Com seu jeitão bajulador, localizou um jovem que poderia ter sido filho do dono da companhia aérea PÉNALTE.

            -E aí meu belo jovem, como vai seu pai?

            -Ah! Meu pai vai bem, com saúde...

            -A que se deve o sucesso da PÉNALTE?

            -Ah... sei lá... é que meu pai deve ter comprado todos os aviões à vista, não deve nada a ninguém... por isso que meu pai é um homem rico... e honesto, viu? Acho que é isso mesmo.

            -Seu pai é meu grande amigo. Dê lembranças ao Constaferro. Diga a ele que eu ando constantemente pensando no sucesso dele. Diga que o Amaralferro mandou um beijão para ele. Quando terminar o carnaval, onde o jovem vai passar o fim do verão?

            -Ah! Sei lá... Eu acho que já foi providenciado pela TV Geral quinze dias de descanso num hotel de luxo de Forteaço. E eu vou desfrutar disso também. Também eles arranjaram duas atrizes para dormir comigo. E um ator também.

            -Ah! Você é um rapaz feliz!

            Quinze minutos em rede nacional, descobriu-se que o tão disputado jovem, bajulado por Amaralferro Filho, era um ladrão de galinhas e batedor de carteiras do centro nervoso de São Pedro e era procurado pela policia ferrada.

            Para disfarçar o mal entendido, Amaralferro Filho, disse:

            -Bom. Vamos para a próxima entrevista. Vamos entrevistar agora o nobre neto do ex-deputado Saulo Maluco. E será que é ele mesmo?

                                                        *

            Os ferrados vão ao enterro de um Senador “importante”, assim como não vão ao enterro de uma pessoa que não tem importância nenhuma.

                                                        *

            Em Ferro, as contas de luz, água, telefone e boletos bancários tem que ser guardada pelo resto da vida. (aquele monte de papel empoeirado). Pode ser que a empresa concessionária resolva roubar o consumidor...

                                                        *

            Um cientista ferrado descobriu que a única forma de acabar a corrupção em Ferro é injetando o vírus HIV nos políticos. Só assim, declarou ele, eles perderão a imunidade.

                                                        *

            Diálogo entre dois proprietários de laboratórios multinacionais

            -Qual a forma mais fácil de roubar e matar os ferrados?

            -É simples. Colocamos farinha nos comprimidos para câncer e aids, cianureto nos cigarros e metanol e formol nas bebidas.

            -E na comida?

            -Ela já é transgênica.

                                                        *

            O povo ferrado já anda saturado de tantos casos de policia e bandido. Até os três poderes da republica, que é um grupo de bandidos protegidos pela policia, estavaem baixa. Osjovens preferem fazer concurso para bandido do que para policia. Motivo: o salário é bem maior.

                                                        *

As mudanças não são tão traumáticas assim. Quem inventa as mudanças para piorar as coisas são os mesmos traumatologistas  que dizem que as mudanças tem que ser traumáticas.

                                             *

Em Ferro, os médicos passam nove anos na faculdade e saem sem aprender fazer um parto normal. Em 1905, no Onha, vovó Clarinha já fazia com perfeição. Em Nazaré, em 1950, Dona Zú já substituía os médicos.

                                            *

Em Ferro tem um banco que financia tudo o que seus grandes clientes desejam. Agora eles apresentaram sua nova linha de financiamento: agora o cliente “brilhante” pode passar uma noite de sexo com uma atriz da TV GERAL pela bagatela de cem mil ferrões.

                                            *

Vovó Clarinha já dizia:

Ler é absorver a sabedoria dos mais velhos.

                                            *

No Ministério do Trabalho de Ferro tem uma grande placa na porta com a seguinte frese: NÃO HÁ VAGAS.

                                            *

Até hoje eu não consigo compreender o que aconteceu com meu amigo Geová. Uma pessoa honesta, pagador inveterado de impostos, não devia nada à justiça. Pra que precisava de tantas testemunhas?

                                            *

Em Ferro, o Conselho de Medicina fez um pacto com o Diabo, (atentai bem). Todas as faculdades de medicina teriam que passar por um crivo, controlado “sei lá por quem?” para testar os conhecimentos de quem vinha de fora do país. Os das faculdades públicas poderiam trabalhar sem dever nada ao país. Os das faculdades particulares, que condenaram seus pais à fome, depois de seis anos de estudos a preços exorbitantes, tinham que procurar emprego em prefeituras corruptas. O pior é que além de tudo isso, o curso de medicina foi para a bolsa de valores de São Pedro.

                                             *

Se as pessoas fossem certas, o mundo não seria redondo.

                                             *

Aconteceu em Sajferro num anuncio de um carro volante (aqueles que infernizam o trafego) na via publica: “o prefeito municipal convida o povo da zona urbana, da zona rural, da zona...- sai daí garoto. Quer ser atropelado? Não perturba não...

                                              *

O governo de Ferro está esperando a morte do último torturador para divulgar a história.

                                            *

A ditadura militar transformou Ferro num país de miséria e desigualdades e a ditadura capitalista transformou o país num celeiro de desgraças.

                                            *

No passado, Ferro tinha políticos biônicos. Com o advento da modernidade neoliberal foram criados os políticos transgênicos.

                                            *

Até pouco tempo atrás, em Ferro existia o Partido Ferroliberal, mas com o advento neoliberal da modernidade globalizada, mudaram o nome dessa aberração cromossômica para Partido dos Demônios.

                                            *

Ferro foi o país que mais se adapta às inovações tecnológicas. É celular, é computador, é o diabo a quatro. O ferrado compra um celular por um preço absurdo e garantia de um ano, já sabendo que em seis meses seu aparelho não serve mais para nada. Então, muda o celular, muda o sistema. E o ferrado leva a vida comprando celular, carro, televisão... é plástico por cima de plástico.

                                            *

Em São Pedro, megalópole orgulho de Ferro, um sujeito chamado Berrone, foi preso e acusado de “prostituição dente de leite”. A TV Geral até que lutou junto à elite de São Pedro para liberta-lo. Conseguiu, é claro, com a ajuda do Gilmar. Ao ser libertado, Berrone declarou à TV Geral (órgão oficial do governo de Ferro) que na próxima eleição seria o prefeito de São Pedro.

Obs: Por que não? Até o Saulo Maluco conseguiu ser Senador. E não foi só de São Pedro não. Foi de toda a republiqueta.

                                            *

Diálogo entre dois Deputados do DEMO:

-Eu tenho um projeto de grande importância para Ferro. Na próxima eleição, vamos mudar a numeração dos candidatos. Os deputados do DEMO terão os números representados por dois algarismos.

-E os da esquerda?

-Os da esquerda... coloca o número do CPF

                                            *

A Seleção Ferrada de Bola (SEFEBO) era bicampeã do mundo todo. No estádio superlotado, a seleção se formou para tirar fotos e cantar o Hino Nacional de Ferro. Aí o General gritou:

-Em forma! Direita, volver! Apresentar... armas!

Juscelino entendeu tudo errado e coçou o saco. Quando o Hino Nacional ia lá pelo fim e os jogadores suspirando aliviados, o General descobriu que a metade da SEFEBO não estava cantando e sim, mascando chicletes. Aí o General gritou:

-Ô Juscelino! Porque não está cantando o Hino Nacional!

O craque Juscelino respondeu prontamente:

-Ah General. O Coronel (o técnico) me disse que o importante era treinar jogar a bola pro gol, então eu não tive tempo para treinar o Hino Nacional.

                                            *

Numa cidade praieira de Ferrolho,em Pau Ferro, aconteceu um caso incrível de burrice crônica. Só poderia ter acontecida lá mesmo ou em Ferrugem. O delegado da cidade prendeu um delinquente engravatado. Imediatamente, o advogado do bando foi procurar o delegado e lhe ofereceu vinte mil ferrões para libertar o delinquente. Então o delegado respondeu:

-Nem Deus solta esse criminoso de minha delegacia!

O advogado foi embora. À noite, quando os gatos ficam pardos, o advogado encontrou o carcereiro num bar, enchendo a cara, aproximou-se e disse:

-Olha carcereiro. Tem um preso em sua delegacia que é meu amigo e eu vou lhe pagar dois mil ferrões para você solta-lo. Vou lhe dar também uma serra. Quando você chegar lá, o prisioneiro vai lhe dar um cheque pré-datado (invenção ferrada).

O carcereiro aceitou a proposta e saiu feliz da vida. Foi para a delegacia e cumpriu o prometido. Na manhã seguinte, chega o delegado:

-Escuta aqui ô carcereiro. Onde está o preso desta cela?

-Ah... fugiu. Eu estava aqui na sala e senti uma cacetada.

-Onde foi a cacetada?- perguntou o delegado

- Ah. Eu estava lendo a Play Boy e quando acordei o senhor estava abrindo a porta.

O delegado examinou a cabeça do carcereiro e, nada constatando, falou:

-Esvazie os bolsos, carcereiro!

O carcereiro obedeceu e colocou tudo sobre a mesa. Tinha uma penca de chaves, um mil ferrões em dinheiro e um cheque pré-datado para o dia 31 de fevereiro.

                                            *

Criaram em Ferro a Justiça do Pobre Consumidor. Funciona assim: se você foi roubado por uma empresa multinacional ou ferrada, você pode reclamar os seus direitos sem contratar um advogado. Só que, quando você chega lá, o advogado da empresa já está lá dentro do gabinete do juiz. Com cinco minutos de propina, o juiz vira pra você e diz que tens que contratar um advogado. Como você não tem dinheiro para isso, você tem que mostrar que é um ferrado autentico. Deixa tudo pra lá...

                                             *

Tudo em Ferro foi criado e planejado para não funcionar.

                                             *

Em Ferragem, o Diabo desencarnou deixando seus súditosem polvorosa. Houvedesfile na TV Geral e o escambal. Curiosamente o Diabo, logo depois começou a chamar seus súditos, um a um, para compartilhar o inferno. Os primeiros foram o de Ferrugem e de Sajferro. Logo viriam outros. O cortejo foi lindo, longo e teatral. Todos os súditos foram obrigados a comparecer.

                                              *

            A TV Geral lançou uma campanha em Ferro:

            Atenção ferrados: Colabore com a Velhança Esperançosa:

            Para doar sete ferrões, disque para ouvir os sermões;

            Para doar quinze ferrões, disque para ouvir os Xuxões;

            Para doar trinta ferrões, disque e ouça o som dos jatões;

            Para doar o escambal, disque à parte para a TV Geral

                                                          *

Uma das coisas que o ferrado era especialista, era FILA. Em Ferro existem os provocadores de fila, os pegadores de fila e os furadores de fila (esses eram incríveis). É fila para receber, é fila para pagar (já viram isso?) Era fila até para pegar a ficha para pegar (acredite se quiser) a fila principal. Mas criaram uma saída. Inventaram o “Debito em Conta” (as empresas privadas podiam tirar dinheiro de sua conta). Essa foi para enlouquecer os ferrados.

                                            *

Os políticos ferrados tinham especialidades na Faculdade de Suborno.

                                            *

Em Ferro tem um tal de carnaval que é um inferno: chegaram a mulher grávida e o marido no hospital. O marido perguntou à recepcionista: onde está o médico? Minha mulher vai parir agora. A recepcionista respondeu:

-Só depois do carnaval!

                                            *

Em Ferro, quando o governo toma alguma decisão que contrarie, mesmo de leve, os interesses dos banqueiros e mega empresários, a TV Geral consegue colocar o povo para protestar contra o governo.

                                            *

Um padre ferrado chamado Martelo Tosse vai gravar seu novo disco. Para compor seu novo grupo ele convidou artistas de sucesso como: Xôxa Pornô, Diarréia Tóxica, Lindo, etc. Quando lhe perguntaram porque tinha convidado Lindo, ele respondeu:

-São todos filhos de Deus. É tudo gente boa, principalmente o Lindo. Ele ficou tão bonzinho depois que foi liberado...

No próximo CD os convidados serão: Joãozinho Maremoto, Sr Depravanel, Roberto Riozinho e outros bichos.

                                             *

A TV Geral e suas correligionárias estavam sem assunto para o mês, até que um jornalista descobriu o ovo. Jogaram uma criança branca pela janela e a policia estava em dúvida se foi o pai, a mãe ou o sombra.

Com trinta dias de exaustivas reportagens, gastos do dinheiro público e elogios aos mocinhos da parada, o ovo gorou. Uma correligionária da TV Geral espalhou que a menina era do grupo das super- poderosas. Com apenas cinco anos de idade ela conseguiu arrastar uma poltrona de noventa e cinco quilos até a janela, cortou a tela protetora com os dentes e se lançou no vazio acreditando que podia voar. O bom veio depois. Após longas declarações do pai, da madrasta, da mãe, da tia, da avó, do avô, do advogado, da vizinha, da prima, do papagaio, descobriram que a mãe havia recebido duas propostas irrecusáveis: uma para gravar com Martelo Tosse e a outra para pousar pelada numa revista americana com o apoio da TV Geral.

                                                        *

            O Ministério da Saúde de Ferro descobriu uma forma dos empresários ganharem mais dinheiro. Em vez de distribuir a vacina contra meningite para a população, vendeu para as clinicas particulares de todos os estados de Ferro, por dez ferrões. As clinicas revenderam ao povo por cento e trinta ferrões a unidade. Quem não comprasse corria o risco de morrer. É o cúmulo da crueldade.

 

           

                    A CRIAÇÃO DO DEMO NO INFERNO - CAPITULO 4

 

            O diabo começou a tecer as alianças para a criação do DEMO no inferno. Um antigo Deputado do PTf disse que ia criar seu partido também, para que o inferno não se tornasse uma democradura. O diabo concordou, mas com uma condição. Um não ficaria contra o outro e a palavra final ficaria com o mais poderoso.

            -Assim não dá! Desse jeito, querem fazer uma democracia. Eu queria fazer o socialismo de forma lenta e gradual- disse o deputado.

            -Ou você adere ou então você tem outra opção- disse o diabo

            -Qual é a opção?

            -Passar para o nosso lado.- disse o diabo.

            -Isso é uma palhaçada!- protestou o Deputado. -Eu vou tomar as providencias. Vou falar com Jesus.

            -Jesus é aquele rapaz loiro dos olhos azuis que mora naquela mansão da esquina. Ele disse que ia ficar do nosso lado- disse o diabo.

            -Oi! Jesus sou eu. Tudo o que o diabo disse é verdade? Vamos fazer uma democracia aqui no além?

            De repente aparece o verdadeiro Jesus. Era um homem negro de estatura mediana:

-Quem usou meu santo nome em vão?- disse Jesus, surgindo do nada.- Eu prefiro o socialismo do que a democracia por aqui. E o primeiro ministro vai ser eu.-e olhando para o diabo- e você, vá fazer sua democracia no inferno ou em Ferro porque lá o povo é otário.

-Então correligionários, vamos discutir isso no inferno. Vamos planejar outro golpe de estado aqui no céu. Aqui não é o céu?- perguntou o diabo a Jesus.

-Não. Aqui é o outro lado. O além. Aqui só ficam as pessoas de bem. Vão para o inferno ou o umbral, sei lá como vocês chamam...

-Então vamos. Vamos nos reunir no inferno, mesmo- disse por fim o diabo.

Os correligionários acompanharam o diabo e sumiram. Foram discutir a fundação do DEMO no inferno.

Sentaram-se em volta de uma grande mesa e começaram:

            DIABO- Eu soube que o Arruda foi solto. Aquilo é que é um homem retado. Agora temos que descobrir onde ele enfiou o dinheiro. Não é possível que tanto dinheiro vá sumir assim de uma hora pra outra.

            JUNINHO- Eu soube que os outros companheiros dele foram soltos e convocados, sei lá por quem, para escolher o novo Governador de Ferrilha.

            DIABO- Então, continua tudo como a gente deixou. Nós temos um agente secreto em Ferrilha e não sabemos quem é.

            MEDISSE- Já sei. Deve ser o companheiro Syr Ney.

            GOUBI- Eu queria estar lá para ajudar os velhos amigos: Syr Ney, Nando II, Paulo, Erasmo e outros que me ajudaram na limpeza de Ferro.

            PEIXOTO- Eu vim de lá recentemente. A coisa agora funciona diferente. Agora é na base do computador. As vítimas podem denunciar ao mundo por uma tal de internet.

            DIABO- Eu vou mandar ligar essa coisa aqui no inferno, logo teremos as informações que precisamos. Quem é o dono dessa tal de internet?

            RODOLFO- É um americano. É gente boa. É nosso companheiro. Ele só colocou internet em Ferro porque o bolso é maior do que a cabeça.

            MOTINHA- Eu soube que o símbolo da empresa dele é a suástica nazista.

            GOUBI- Ahhhhhhhh! Então é gente boa mesmo. Pede a ele para ligar logo essa coisa aqui no inferno. A gente precisa saber quem são os estudantes comunistas de Ferro. Vou matar todos eles.

            RODOLFO- Tem também uma tal de urna eletrônica que agora vai trabalhar para o PTf.

            MEDISSE- Assim não dá. E nossos companheiros não vão mais ganhar eleições não?

            DIABO- Vão sim. Nossos companheiros estão se unindo ao PTf para não perder as eleições. Não está vendo o que aconteceu em Ferrolho? Nossos companheiros agora, são socialistas. Há! Há! Há!

            GOUBI- Faça a reunião mas sem falar palavrões.

            -O pior é que o PTf está usando o dinheiro da loteria de Ferro para financiar suas campanhas.- disse o recém chegado Peixoto.

            -Mas não vão usar por muito tempo, não. O povo ferrado confia mais no jogo do bicho do que na loteria ferrada.- disse o diabo, sorrindo.

            -Então, vamos acertar tudo. Vai ser como da outra vez. Vamos trazer um trio elétrico lá de minha fazenda, mandaremos o cara ficar tocando a noite inteira aquela música: “mas de quem é de quem é, sou loucão”. Quando Deus e Jesus estiverem de saco cheio, nós dominaremos o céu.- disse o diabo sorrindo.

            -Tem até uma queixa de meu amigo que é dono da maior indústria de congelados lá de Ferro. Ele disse que os pequenos empresários estão competindo com ele.- disse Sobreira, preocupado.

            -Convoque também ele para nossas reuniões na casa do pai de santo. Eu vou ensiná-lo a colocar os ficais para trabalhar. É só molhar a mão dos caras e ta tudo resolvido- o diabo tinha resposta para tudo.

            -E se os pequenos se juntarem e se revoltarem contra o governo?- perguntou Juninho.

            -Eu mando matar todos eles- disse Goubi, sério.

            -Precisa não. O povo ferrado é igual ao país. É um gigante abestalhado.- disse Marinho.

            -Agora mesmo vou mandar minha empresa de energia elétrica lá de Ferrolho, aumentar as contas de energia elétrica em 500% só para pessoa física.- disse o diabo.

            -E para pessoa jurídica?- perguntou Bacelar.

            -Para empresas de grande porte 0,5% e de pequeno porte 500% também. Se quiserem que fechem suas bibocas.- disse o diabo sorrindo com suas perversidades.

            Nesse momento chega Andradino:

            -Eu ouvi vocês falando em jogo do bicho. Sabe que nós somos mais sérios e damos mais empregos. Ainda financiamos o carnaval.

            -Mas não tem plano de saúde.- disse um Deputado recém chegado ao inferno.

            -Você que pensa. Todos os nossos empregados tem plano de saúde. Os da loteria de Ferro é que não tem.

            -Então, sua empresa é mais organizada do que as empresas do governo?- perguntou o Deputado

            -É claro que sim. Quem manda em minha empresa sou eu e nas empresas do governo de Ferro é um bando de políticos ladrões.

            -Você tem razão. Em Ferro tem uma empresa que se chama Banco de Ferro. Sabe que os empregados não tem plano de saúde odontológico? Tinha um sobrinho que trabalhou lá e me disse isso.- falou o Deputado.

            -É por isso que eu não tinha conta no Banco de Ferro. Já pensou, uma funcionaria banguela me atendendo?- sorriu Andradino.

            -Vamos deixar de saudosismo e vamos trabalhar- disse o diabo sorrindo.- Quem tem uma ideia?

            -Eu, papai!- disse Juninho.- Vamos fazer como da outra vez. Trio elétrico com bicos pulverizadores...

            -Não vai dar certo. Deus já instalou exaustores no circuito do carnaval.- disse Medisse

            -O negocio é chamar os militares e a CIA para nos ajudar a dar um golpe celeste.- disse Goubi

            -Não adianta. Todos os que participaram da operação Bambam estão num lugar pior do que o inferno.- disse o diabo- No umbral.

            -Vamos resgatá-los com urgência. Nós pedimos a Deus que transfira o nosso pessoal e, em troca, faremos uma eleição limpa. Agora, daqui a um ano quando Deus estiver despreparado e confiando na gente, nós daremos o golpe- disse o diabo.

            -É uma boa ideia. Vamos voltar para o céu e comunicar a Deus. Vamos mandar que ele marque as eleições.- disse Goubi – Fui eu quem falou em eleições? Eu não vou pra lá, não. Eu só vou quando tiver na época de dar o golpe de estado... ou! Golpe celeste.

            -Eu tive outra ideia, papai! Diga a Deus que nós aceitamos uma eleição limpa, mas com urna eletrônica.- disse Juninho

            -Garoto! Você está pensando que Deus e Jesus são otários como o povo ferrado, é?- disse Rodolfo.

            -Ah! Desculpe senhor. Eu pensei que era uma boa idéia.- disse Juninho.

            -Poderia ser, se Deus fosse otário- disse o diabo.

            -É. Vamos conversar com Ele. Quem sabe consigamos negociar?

                                                        *

            -Senhor Deus. Precisamos conversar como pessoas civilizadas sobre as eleições.- disse Medisse.

            -Quem! Você? Ah Ah Ah ! Essa é boa. Desde que você matou um bocado de gente em Ferro e foi um dos chefes da Operação Bambam que eu te castiguei severamente... Aliás, quem lhe tirou do castigo?- disse Deus

            -Foi o diabo quem me resgatou quando foi instalada a democracia no céu- disse Medisse.

            -Eu só estou esperando chegar a hora de Nando I e Nando II. Quando eles chegarem aqui vão ficar eternamente. Eles provocaram muito sofrimento em Ferro e tem que pagar caro. Nunca mais vão reencarnar. E nem você também, Diabo. Vocês conhecem aquela frase: Deus é ferrado? Fizeram para mim.- disse Deus.

            -Mas quem acabou com Ferro não fomos nós. Foram os europeus e americanos em 1945. Eles traçaram o destino de Ferro assim: vamos fazer de Ferro um verdadeiro mangue e deixar a cabeça do povo sem pátria. Ao invés de deixarem os mestiços, negros e índios viverem em paz, vamos mandar também italianos, japoneses e alemães para cruzar com o povo de lá para ver no que dá. Vai aparecer até índio loiro dos olhos azuis. Vai ser uma esculhambação dos diabos. Por falarem Nando Ie Nando II, quer que eu faça a transferência?- disse o diabo.

            -Ôpalas! Estou doido para me vingar dele. Transferiu a grana toda para as Ilhas Corruptas e deixou minha família passando fome.- disse Motinha.

            -Tem um cara que eu mandei para o umbral mas se comportou bem e já está sendo transferido para o inferno- disse Jesus.

            -Quem é?- perguntou o diabo.

            -Entulho Vagos- disse Deus

            -Está aí um grande homem! Ele foi quem ajudou Ferro a se livrar dos comunistas. Ah se não fosse ele...- disse o diabo.

            -Só que o Luis Carlos Rápido está aqui com Jesus- disse Deus.

         -Cuidado! Esse homem é um terrorista revolucionário! Ele é um comunista perigoso. Vai colocar o céu num liquidificador e vai bagunçar tudo!- disse Castelo.

            -Qual o perigo se comunismo é a vida em comum? Eu sou comunista também. E Luis Carlos Rápido tem um bom coração. Foi ele quem me ensinou como vocês fazem política. Depois daquele golpe celeste que vocês aplicaram no ano passado, foi ele quem me ensinou a fazer a política socialista por aqui. É contra mim e ele que vocês vão ter que disputar- disse Jesus.- Ele abriu minha cabeça.

            -Puta que pariu! Estamos ferrados!- disse o diabo.

            -Já que vocês falaram palavrão, volta todo mundo pro inferno e só apareçam daqui a um mês. Estão de castigo!- disse Deus.

            -Aqui é bom porque a gente luta com a inteligência. Deixa eles irem buscar o trio elétrico deles. Eu vou rir tanto com a estratégia que estou armando para esses criminosos. E sabem mais? O diabo andou espalhando lá pela terra que já fez parte do Partido Comunista- disse Luis Carlos Rápido.

            -Mas, ele já foi, sim. Eu lembro.- disse Jorge Adorado.

            -É mais fácil ele ter sido um entreguista. Todos não foram presos? Quem denunciou? Quem ficou milionário depois? São perguntas que só Deus pode responder...- disse Jesus.

            -E aí cara. Me responda essa...!- disse Jorge Adorado

            -Mais respeito! Olhe como fala comigo! O Entulho Vagos foi falar grosso e eu mandei para o umbral. Depois ele me pediu, disse que estava a fim de melhorar e eu o mandei para o purgatório e agora para o inferno. Ele vai passar um bom tempo por lá com vocês. E vocês que deram o golpe ainda tem muitos pecados para pagarem. Vocês expulsaram muitas auras douradas de Ferro.- disse Deus.

            -Na verdade, aquilo foi um plano americano e europeu. Deram o golpe e obrigaram a gente transferir os cérebros para ensinar nas universidades deles: foram: Pires, Jaguaribe, Cony, Conder, Carpeaux

e muitos outros que eu já esqueci- disse o diabo.

            -Vocês estragaram Ferro. Ferro poderia ser um país de primeiro mundo e vocês deixaram tudo na merda.- disse Jorge Adorado, triste.

            -Até eu queria ir mas, disseram que eu era mais necessário em Ferro mesmo. Como eu sou um patriota, eu fiquei.- disse o diabo, cinicamente.

            -Mas em Ferro, acontece é coisa. Disse que uma cantora de Ferrolho pariu um filho da Xôxa. Foi aquela artista... como é mesmo o nome dela... Diarréia Tóxica.- disse Jorge Adorado, sorrindo.

            -Bom. Sr. Deus, vamos organizar as eleições.- disse o diabo.

            -Eu soube que nos confins do mundo, um vulcão entrou em erupção e atrapalhou o trafego aéreo de toda a Europa. As empresas de aviação tiveram um prejuízo enorme.- disse Rodolfo

            -Vocês estão confundindo prejuízo com não lucro- disse Pinto.

            -Ah! Se fosse em Ferro, o governo ia ter que indenizar as empresas. Lembra do apagão? Nós indenizamos todas as empresas pelo não lucro. Quem mandou o povo economizar? Êta povinho otário. Eu vou até mandar a companhia elétrica aumentar em 1.000% as contas de luz dos Ferrolhenses para financiar a campanha de Neto.- disse o diabo.

            -Como você é malvado!- disse Jesus.

            -Só assim alguém se sustenta no poder. Se eu fosse honesto, chegaria um ladrão com discurso de socialista e me derrubaria do poder. O povo tem que ser tratado assim: chicote na mão direita e um copo de cachaça ordinária na mão esquerda, só na hora das eleições.- disse o diabo com ar de professor.

            -Mas deixa isso pra lá. Vamos nos concentrar nas eleições. Vamos marcar para daqui a um ano luz. Isso deve dar a media de um dia na Terra. A eleição pode ser realizada aqui mesmo no céu. Então, vamos voltar para o inferno e nos concentrarmos no mal.- disse o diabo.

            Todos de volta ao inferno. Numa grande mesa retangular, com o diabo na cabeceira e Juninho na cabeceira do outro lado, começaram a  reunião:

            -Como ninguém tem mais fofocas para contar, vamos nos concentrar no mal, na perversidade, na corrupção, na malvadeza.- determinou o diabo, mandando que todos se concentrassem. Alguns instantes depois, Mamede falou:

            -Tive uma grande ideia. Vou aumentar os bônus de meus escravos no Supermercado Astral. Vou começar a vender água benta e hóstias a preço de vento.

            -Você vai poder até abrir uma loja também no céu. Aí você fica com uma no inferno e outra no céu. Agora tem que tirar aquele nome de fantasia. Pai Medonho? Deus e Jesus vão reclamar.- disse Rodolfo.

            -Bom. Já que nos concentramos no mal, vamos agora escolher o nosso candidato.- disse o diabo.

            -Por mim, será você mesmo, diabo. É o único que tem o poder de controlar tudo com facilidade.- disse Martinho- Se quiser eu faço propaganda até lá na Terra com a minha TV GERAL.

            -Não. Quem vai primeiro é Juninho. Já pensou se eu perder a eleição? Todos nós vamos ficar desmoralizados. Disse o diabo, sabiamente.

            -Ôba! Vou ser o Presidente-arquiteto do universo! Oba!- disse Juninho, feliz da vida.- Vou mandar fazer uma cidade com meu nome aqui no céu também. Oba! Obrigado papai!

            -É. O mestre tem razão. Vamos encarar essa eleição com coragem. O filho do diabo contra o filho de Deus- disse Rodolfo.

            -Se não fosse uma frase verdadeira, até que seria boa- disse o diabo.

            -O senhor é quem sabe, papai! Ôba!

            Retornaram ao céu. O diabo e seus secretários. Foram falar com Deus:

            -Senhor Deus. Estamos aqui. O meu candidato será meu filho. E o seu, quem é?

            -O meu também vai ser meu filho. Vamos logo fazer as eleições.- disse Deus

            -Eu gostaria que o Senhor liberasse o umbral e o purgatório pois existem vários eleitores meus por lá. Inclusive alguns cabos eleitorais. Depois que eles votarem o Senhor manda de volta pra lá.- propôs o diabo.

            -Não. Não pode não. Você já viu prisioneiros criminosos terem direito a voto? Assim eu estou instituindo o crime no céu.

            -Assim o Senhor vai ganhar a eleição no mole. Disse Rodolfo.

            -Olhe o respeito!- respondeu Deus.

            -Perdão, Senhor.- desculpou-se Rodolfo.

            -Está perdoado.- disse Deus.

            Na última hora, Deus foi justo. Liberou todos os presos do umbral e do purgatório. Mas estabeleceu uma condição. Nenhum deles, quando fosse solto, ganharia o reino dos céus. Só poderiam morar no inferno junto ao diabo. A proposta foi aceita pelo diabo. Pelo menos ele teria mais eleitores.

                                                       *

            O diabo tentou fraudar as eleições. Colocou uma urna eletrônica no céu, porem Jesus tinha tomado um curso de informática e não deixou que a fraude fosse efetivada:

            -Vocês estão pensando que estão em ferro, é? Aqui não é Ferro não. Aqui tem que ter honestidade- disse Jesus.

            As eleições foram feitas com voto declarado. Jesus ganhou com 90% dos votos.

            -O tiro saiu pela culatra. Eu pensei que Deus ia liberar os nossos companheiros do umbral e purgatório, definitivamente.- disse Rodolfo.

            -Também esquecemos de planejar as fugas.- disse o diabo.- De agora em diante todos vocês vão ter que seguir meus planos.

            Todos voltaram para o inferno. Chegando lá, o diabo falou:

            -Já pensaram se eu me candidatasse?

            -O senhor é um sábio, papai!- disse Juninho todo orgulhoso.

            -Agora temos que aguardar um ano luz. E o pior é que não temos força para dar o golpe celeste.- disse Medisse.

            -Pensaremos nisso mais tarde.- disse o diabo.- Vamos continuar nos concentrando no mal. Pode surgir até uma idéia terrível. Eu fiquei chateado porque não elegemos nem um deputadozinho. Vocês são todos incompetentes! Eu tenho que pensar sozinho em tudo que tem que ser feito! Até o governador do inferno eles poderiam ter eleito, se quisessem! Vamos pensar em uma idéia mais horrorosa.

 

 

                                             CAPITULO 5

 

            -Descobri! Vamos fazer no inferno um lugar igual a Ferro, só que mais evoluído. Nós ficaremos no controle de tudo e o povo inferniano será numerado. Os ferrados não são numerados? Lá não tem um tal de CPF? Criaremos aqui também. Só que aqui, quem será numerado é a classe obediente. Aqueles que nós usamos pra votar na gente?- disse o diabo.

            -Então, vamos ser mais modernos do que Ferro! Que beleza! Como temos atualmente 999.999 almas penadas, vai ser fácil numerar todo mundo. O nome da coisa pode ser chamado de O Sistema.- disse Goubi todo feliz.

                                               O SISTEMA

            Ainda não havia chegado o terceiro milênio e o inferno já era o país mais moderno do universo. Seus habitantes eram numerados e o governo diabólico havia colocado transmissores bombas para rastrear o povo onde quer que alguém fosse. Existia uma classe dominante que controlava tudo. Eram os diabolicos e seus banqueiros, os políticos do sistema que foram eleitos com urna eletrônica, os juizes e a policia. Os numerados, eram na maioria os assalariados. Eles eram obrigados a consumir todo o seu salárioem supérfluos. Eramobrigados a comprar vestimentas caras com a bandeira do inferno enquanto faltava dinheiro para comprar coisas mais importantes como um ventilador ou aparelho de ar condicionado.

            Haviam três classes sociais no inferno: os diabólicos, os controladores e o resto. O maioria do resto foram castrados e não se reproduziam. Um raro casal do resto, o Sr.150525 que era casado com

A Sra. 205134 foram para uma loja a fim de comprar roupas para suas crias:

205134-Olha aqui, 150525, essa roupa é mais barata e de melhor qualidade.

150525- Deixe isso aí que é para os turistas. Nós só podemos comprar essa aqui. Viu como ficou linda naquela criança do filme americano? Temos que vestir nossa cria da mesma maneira.

            205134- Eu acho aquela roupa horrível! (nesse momento foi acionado o botão número 205134 no controle diabólico e a mulher caiu se contorcendo de dores na cabeça) Perdão! Por favor, me poupe!

            150125- Eu já lhe disse que pare de falar besteiras. É isso que acontece- disse ele com cara de alienado.

            205134- Vamos gastar logo nosso dinheiro e sair daqui. Vamos para casa.

            Ao chegarem em casa, foram para cama. Certamente iam fazer amor. A casa tinha câmera em todos os cômodos. Os dois entraram embaixo das cobertas para mudarem suas roupas. Nesse momento o botão numero 150125 foi acionado como advertência.. pois o casal poderia estar tramando algo socialista embaixo das cobertas, contra o governo diabólico. Uma rebelião, talvez. Ele olhou a câmera com desprezo e leu a frase que tinha num adesivo sob ela: Sorria, você está sendo filmado. Eles se entreolharam e começaram a pensar: Estamos a ponto de ficarmos loucos. E ela pensou: Já estamos loucos! Nesse momento o aparelho de TV ligou automaticamente e apareceu um homem da policia que disse:

            Controle- Vocês não podem pensar! Só se for em voz alta. Digam o que pensam senão vou acionar o botão.

            205134- Estávamos pensando em nosso filho. O número 963852. que futuro ele pode ter?

            Controle- Se vocês seguirem à risca tudo o que ordenarmos, ele poderá ser um policial. Só assim ele sobreviverá.

            150125- Queremos pedir licença para praticarmos o ato sexual. 205134 já tomou o anticoncepcional.

            Controle- Não podemos permitir. O anticoncepcional tem que ser ingerido em frente à câmera. Se continuarem mentindo, vocês serão castigados exemplarmente. Hoje terão que dormir vestidos e sem o uso de cobertas.

            150125- Então nós vamos programar para amanhã.

            Controle- Amanhã pode ser, pois ela estaráem menstruação. Nãose esqueçam que amanhã tem eleição eletrônica e vocês terão que votar no numero 1. se votarem na oposição, vocês serão destruídos. Boa noite.

            205134- Como é que nós podemos votar na oposição se tem câmeras na urna? Nem precisa avisar...

            Controle- A câmera da urna eletrônica não é visível a olho nu. Como foi que você descobriu?

            205134- É porque tem câmeras em todos os lugares que eu vou. Porque lá não teria?

            Controle- Quem descobriu foi só você. Os outros infernianos não sabem de nada. Se você falar, será destruída imediatamente com seu marido. Também destruiremos 963852, entenderam?

            205135- Estamos ferrados com esses governantes da elite. Eu quero que todos vocês desapareçam!

            Controle- Se desaparecessem todos os governantes da elite, de repente, o inferno ficaria correto.- e apertou os botões.

 

 

O CONTROLE DO SISTEMA

            Policial para Controle- 147258 e 852741 estão tentando fugir. Estão fugindo em direção ao sul infernal. Já estão fora de alcance.

            Supervisor- Acione o inferno sul. Rápido!

            Policial- (acionando um botão vermelho) É o supervisor do sul infernal? Aqui é do centro. Queira acionar os botões 147258 e 852741 para queimar dois fugitivos da democracia integrada inferniana.

            Supervisor- Botão acionado. Já destruímos os dois. Grato pelo aviso. Vocês são muito eficientes. O diabo vai ficar feliz com isso.

            Policial- Vocês também. São pessoas eficientes como vocês que ajudam a manter nossa democracia.

            Policial para o Supervisor- 123456 já bebeu quatro doses de álcool. Está na hora de parar. Assim não sobra para os outros. Posso apertar o botão?

            Supervisor- Deixe que ele beba mais. Ele é solteiro e castrado e tem que gastar nisso mesmo.

            Policial- Chegou uma mulher junto dele. É a de numero 951753. estão se beijando. Ele acaba de alisar suas pernas. Vou entrar em contato.

            O aparelho de TV liga e aparece um policial:

            Controle- Mensagem para 951753. Afaste-se de 123456.

            951753- Já tomei anticoncepcional há uma hora atrás. É necessário que se tome outro?

            Controle- Não precisa. 123456 é castrado.

            951753- Obrigado pelo aviso. Vou procurar outro companheiro para me satisfazer.

 

A FUGA DO SISTEMA

            Apesar do grande controle inferniano, alguns conseguem fugir pela grande floresta diabólica, feita de fogo e enxofre que fica localizada no norte do inferno. 987654 e 654789 conseguiram uma fuga cinematográfica através da floresta. Eles residiam no norte do inferno. Tinham saído de férias e disseram para a empresa do diabo que iriam fazer turismo na floresta. Aproveitaram o contrabando de roupa de amianto e os dez minutos que o sistema faz a troca de guardas e atravessaram a floresta voando. Logo chegaram à fronteira do inferno com o purgatório e atravessaram sem muita dificuldade.

            Policial-Atenção região norte do inferno. Continuem a pressionar os botões 987654 e 654789.

            Supervisor- Eles devem ter atravessado com roupas de amianto.

            Policial- Atenção região norte. Envie dois agentes para o purgatório e elimine os números 987654 e 654789.

            Supervisor- Vamos enviar. Já estamos com a imagem do casal e já espalhamos por todos os meios de comunicação do purgatório.

            Policial- Ótimo. É bom porque eles não conseguem atravessar a fronteira para o lado hostil.

            Dois dias depois:

            Policial- Atenção região norte. Os agentes conseguiram achar o casal?

            Supervisor- Não. Nossos agentes informaram que eles conseguiram atravessar a fronteira para o lado hostil. Recebemos ajuda do purgatório mas de nada adiantou.

            Policial- Você é um supervisor incompetente. Apresente-se na região central em duas horas. Queremos um relatório.

            Supervisor- O que vai acontecer comigo?

            Policial- Você perderá sua função de supervisor e será castrado. Já joguei um numero para você no sistema. Seu nome agora é 131313. Vamos colocar uma bomba em seu cérebro para não ter que elimina-lo e os dois agentes que foram lá para o purgatório serão eliminados pela sua incompetência ferrada.

            Supervisor- Eu até agradeço por não ser eliminado. Muito grato. Se o diabo quiser eu serei um de seus eunucos.

            Policial- Quando se referir ao diabo se expresse com mais respeito senão nós reencarnamos você e o jogaremos em Ferro como habitante pobre.

            Supervisor- Nãaaaaaoooooooooooo!

 

 

                            CAPITULO 6 – REUNIÃO DO SISTEMA

 

            -Alguma coisa nova sobre Ferro?- perguntou o diabo.

            -Eu vi num jornal ferrado a seguinte frase: “em Ferro não existem vulcões, terremotos, maremotos ou tornados. Segundo os seus habitantes (que acreditam até em políticos) o motivo é porque Deus também é ferrado.”- disse Rodolfo.

            -Eu soube que em Ferro a pena de morte foi abolida para que a metade da população não fosse executada.

            -O Arruda foi solto. Pegaram ele roubando o dinheiro dos ferradosem Ferrilha. Agora, o governo agiu corretamente. Soltaram todos os seus comparsas para ajudar a escolher o novo governador de Ferrilha.- disse Juninho.

            -Há!Ha!Ha! Tudo como dantes no quartel dos governantes!- sorriu o diabo.- Mas ele é um bom companheiro.

            -O diabo que o ajude a se dar bem. Mas, não tomaram o que ele roubou não, né?- perguntou Goubi preocupado.

            -Eu não sei não. Estão ferrando com todos os nossos companheiros... A vez agora são dos novos ladrões. Nós já estamos ultrapassados. E como está o careca de São Pedro? Será que desta vez ele ganha as eleições ou também está ultrapassado?-disse Medisse

            -Sei não. Sei não. Do jeito que vai... o Lulu dando pra os americanos tudo de graça... Sei não- disse Rodolfo.

            -O Lulu agora é bicha, é? Bem que ele não me enganou. Com aquele jeitão de peixe fresco, aquela barbinha aparada e bem cuidada, quando antigamente era toda desgrenhada.- disse Figueiredo.

            -Não. Vocês entenderam mal. Ele está dando é o dinheiro do povo para os americanos.- disse Rodolfo.

            -Então, está igualzinho ao Nando I e Nando II- disse Juninho.

            -Está na hora de convocar os nossos coligados lá de Ferrolho num centro de umbanda ou candoblé, já que o centro espírita não aceita a nossa presença. Sabe né, estamos em ano eleitoral e Neto tem que estar no poder de qualquer jeito.- disse o diabo

            -Mas a nossa turma não vai negar fogo, não. Eles vão ter que ajudar o nosso garoto.- disse Ernesto.

            -Como estão em cima das eleições é melhor se prevenir. É bom marcar mesmo. Pode até ser naquela casa lá de Ferrugem. Eu gostei daquela cidade. O prefeito de Sajferro foi quem pagou as viagens dos helicópteros, não foi?- disse Rodolfo.

            -Foi sim. Por isso que eu quero deixar que ele viva bem com tudo o que ele roubou da cidade.- disse o diabo.

            -O promotor até descobriu, mas compraram ele também senão a coisa ia ser feia.- observou  Afrisio.

            -Sabe quem está por aqui? O Tenório!- disse Clemente

            -Eu quero ver o diabo! Vou coloca-lo para se urinar todo como aconteceu no passado. Depois vou para o purgatório orar para Jesus continuar sendo o líder do alem. Quem sabe ele me chama para lá?- disse Tenório, sorrindo.

            -Este reino aqui é meu. Você não tem o direito de entrar sem pedir minha permissão- disse o diabo, tremendo de medo.

            -Escuta, amigo Tenório. Junte-se a nós. Você sozinho não vai pra lugar nenhum.- disse Juninho.

            -Eu vou embora. Eu só queria provocar uma incontinência urinária no diabo. Há! Há! Há!- disse Tenório, indo embora.

            -Papai! O senhor ta todo molhado! Quem é esse cara?- perguntou Juninho, apavorado.

            -Esse aí é terrível! Mas seu pai é bem mais terrível do que ele. Isso é uma velha historia e...- disse Rodolfo

            -Vamos encerrar esse assunto!- disse o diabo, nervoso.

            -Então, vamos planejar a nossa ida a Ferrugem.- disse Afrísio.

            -Porque não transfere Mãe Garotinha para o inferno? Assim não precisamos mais baixar em centro nenhum.- disse Medisse.

            -Já convidei. A ingrata mandou que eu me respeitasse. Já pensou? Até ela aqui? Seria ótimo. Estaríamos todos de corpos fechados- disse o diabo, muito sério.

                                                        *

            Todos os infernianos se prepararam para ir a Ferrugem. Mandaram juntar todos os reforços que tinham e mandaram o recado para o pai de santo. Recebendo o recado, o pai de santo logo telefonou para Neto que comunicaria aos outros correligionários.

            O diabo contratou um conjunto musical do inferno para tocar na sua chegada a Ferrugem. O nome do conjunto era Os Infernais. Era um conjunto de metaleiros pesados que faziam um barulho infernal com suas guitarras elétricas.

            Dois dias depois, chega Neto com seus correligionários a Ferrugem. Foram direto para a casa do pai de santo. Assim que o diabo baixou no terreiro, Os Infernais começaram o seu barulho infernal. O pai de santo gritou:

            -Pára! Assim não dá para eu me concentrar.

            O conjunto parou e o pai de santo resolveu se manifestar:

            -Eu sou o diabo! Eu vim cobrar de vocês o apoio que foi prometido a Neto. Onde está o Prefeito de Sajferro?

            -Ele gastou todo o dinheiro do povo para fazer uma clinica de luxo em Ferragem- disse Neto.

            -Esse aí é burro. Quando Neto ganhasse a eleição ele poderia fazer dez clinicas de luxoem Ferragem. Agora, elimine-o de nossa lista. Muito em breve eu dou um jeito de chamá-lo  para o inferno. Ele não perde por esperar.- disse o diabo, contrariado.

            -Veja bem senhor diabo. Hoje veio o dobro de correligionários que da outra vez. Hoje vieram mais de vinte. O prestigio de Neto estáem alta. Ondeestá o Presidente do IFOP? Há! Está ali.- disse Goubi.

            -Já comecei a publicar os dados falsos. Seu neto já está com 45% de preferência popular. Até o alemão está colaborando conosco.- disse o Presidente do IFOP.

            -Se o Prefeito de Sajferro não veio, quem vai pagar a viagem dos helicópteros?- perguntou Medisse.

            -Eu pago, Excelência!- disse o Prefeito de Ferrugem.

            -Isso é que é um companheiro de confiança. Eu vou demorar muito para lhe chamar para o inferno- disse o diabo.

            -Jesus Cristo tem poder!- disse o Prefeito

            -Não falem o nome desse comunista aqui em nossa reunião! Não vê que ele atrapalha o trabalho do inferno? Você quer ser chamado, é?- ameaçou o diabo.

            -Não! Não! Desculpe, Excelência- disse o Prefeito.

            -Então vamos continuar nossa reunião.- disse Goubi.

            -Eu tenho certeza de que Neto vai ganhar essa eleição. A urna eletrônica vai nos ajudar.- disse o prefeito de Ferrugem.

            -O pior é que essa invenção de urna eletrônica não está dando o resultado previsto.Até a esquerda está ganhando eleição!-disse Neto

            -O sistema é perfeito. Todos os de esquerda que ganharam, ficaram devendo ao sistema, portanto já que conhecem o segredo, tem que aderir ao sistema senão é cassado. -disse o diabo.

            -Quem inventou o sistema foram os americanos, portanto temos que aceitar a urna eletrônica e seus resultados. A urna foi inventada para beneficiar Ferro então, todos tem que entrar no jogo e tentar entender o que está acontecendo porque quem inventou o sistema, mora lá fora e só vem aqui para fazer sex turismo.- disse Rodolfo, sorrindo.

            -Como está a criminalidade em Ferragem? Ouvi dizer que os bandidos e traficantes tomaram conta de tudo. Quando a fazenda era minha eu só deixava os bandidos da política. Agora é bandido de toda ordem: é traficantes de crack, de maconha, de cocaína, de armas, é o diabo! Ou... eu não.- disse o diabo sorrindo.

            -Mas tudo isso começou com você. Foi você quem instituiu o banditismoem Ferrolho. Hojea coisa está fora de controle porque a ditadura militar instituiu a violência sem castigo no nosso querido Estado de Ferrolho.- disse Pinto, aparecendo de repente.

            -O que você está fazendo aqui? Quem lhe convidou para a reunião?- disse o diabo, contrariado.

            -Ainda trouxe o nosso Tenório. Lembra? O homem que fez você mijar nas calças. Há! Há! Há!- disse Pinto, sorrindo.

            -Escuta aqui ô pai de santo. Nossa reunião não era particular? Dessa forma quem vai ter que lhe pagar é o PMDF.-disse Neto.- Falei

bem, vovô?

            -Dessa forma temos que ir embora. Como é que o pai de santo permite que um sujeito como Pinto se manifeste em seu terreiro? Dessa forma, vamos escolher outro terreiro.- disse Goubi.

            Os Infernais começaram a tocar suas guitarras. O pai de santo  começou a protestar contra o barulho mas não houve jeito. Eles aumentaram mais ainda as vibrações do som para mil decibéis. Nessa  hora, Tenório e Pinto se afastaram. Então a manifestação continuou entre os médiuns da casa:

            -Graças a ... ao diabo essa gente foi embora. Já estava atrapalhando nossa reunião.- disse Medisse.

            -Mas, quem é esse sujeito, vovô? O senhor tem medo dele, é?- perguntou Neto, interessado.

            -Seu avô não tem medo de ninguém. Eles que ficaram com medo e se mandaram.- disse Castelo.

            -A esquerda está tomando tudo aqui em baixo, vovô.- disse Neto.

            -Tem nada não. Só é esquerda até alcançar o poder. Eles aprenderam fazer política com a gente. Quando ganham uma eleição, tem que aderir ao sistema senão, pode vir uma bala perdida, um suicídio... – disse Rodolfo, sorrindo.

            -Então, vamos começar nossa reunião. Vamos começar a sabatina pelo prefeito de Ferrugem. Como vão as arrecadações?- perguntou o diabo.

            -As arrecadações estão indo. Já estabeleci as multas para veículos. Se um veiculo parar em qualquer rua da cidade, mesmo dentro da garagem, é multado. Aprendi com o prefeito de Sajferro. Ele conseguiu arrecadar dois milhões de ferrões em apenas um mês. Só que 70% ele embolsou. Disse que está fazendo uma clinica de primeiro mundoem Ferragem. Deveser por isso que ele não quer colaborar. Se os outros 30% ele deu para o juiz da cidade?- disse o prefeito de Ferrugem.

            -Está bem. Não vá fazer como o prefeito de Sajferro, não. Quer vir para o inferno?-ameaçou o diabo.

            -Não. Não. Eu nem sou médico?- desculpou-se o prefeito.

            -Como está aquela Senadora de Alagaferro? A de rabo de cavalo no cabelo?- perguntou o diabo.

            -Ah! Queria dar um a zero nela, mas ela é muito esperta. Não caiu na cilada, não. Eu fiz o seguinte: coloquei o nome dela na TV GERAL/ IFOP, numa pesquisa inventada por nós, com 28% de preferência popular para a Presidência da Republica. Se ela acreditasse e saísse candidata,  perderia a  oportunidade para o Senado de oito anos. O objetivo era que ela ficasse sem a Presidência da Republica e sem o Senado. Se a eleição eletrônica é polarizada entre os dois candidatos de direita?- disse o presidente do IFOP.

            -Foi um bom plano, mas para um candidato idiota. Você acha que ela ia cair no conto do vigário?- disse o diabo.

            -Poderia até dar certo. Se eu vou mandar mexer na urna eletrônica?- disse o presidente do STF.

            -Se ia ter o dedinho do Mendes, é realmente um plano diabólico. Parece até que saiu de mim.- disse o diabo.

            -Eu me inspirei no Senhor, Excelência!- disse o presidente.

-E a copa do mundo? Lulu já fez as propagandas para ganhar a eleição? Eu não confio muito naquela candidata dele não. Ela foi até guerrilheira, não foi? Não dá para mexer na urna e o Motosserra Cabeça de Prego ganhar a eleição? Nando II não conseguiu entregar tudo aos americanos, não. Tem que entregar tudo. O país todo. Assim Tio Sam não vai gostar nada. Na minha época eu consegui manipular tudo com a Copa 70. Contratei o Saldanha, aquele comunista para dirigir a Seleção até a véspera. De repente eu o demiti e coloquei como técnico o sobrinho de um General, amigo meu.- disse Medisse com orgulho de bom entreguista.

            -Mas o povo está correspondendo ao Lulu. Ele agora faz o que quer. Ele está agradando a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo. Se o Nando II fizesse isso, estaria no poder até hoje.- disse Rodolfo.

            -Agora, se Ferro perder a copa, Lulu tá ferrado. Lá não tem urna eletrônica...- disse Neto.

            -É bom que o Cabeça de Prego ganha a eleição.- disse Goubi.

            -E como está a semente do crime organizado que eu deixei antes de embarcar para a espiritualidade?- perguntou o diabo.

            -Está às mil maravilhas. Todo mundo em Ferro, de alguma forma, é criminoso. Tem os das drogas, tem os da corrupção política, tem os agiotas, tem os das escolas de transito, enfim, uma infinidade, como o senhor queria.- disse Neto, sorrindo.

            -E os juízes e promotores?- perguntou o diabo.

            -Também! Todos! Inclusive esses são os que mais ajudam na nossa trajetória política.- disse Neto, sorrindo.

            -E os programas de televisão?- perguntou o diabo.

            -Estão obedecendo fielmente. Inclusive nós colocamos alguns programas no ar para indicar onde fica os pontos de drogas, denunciar os denunciantes, etc. Tem um amigo nosso que quando faz entrevistas, denuncia logo o denunciante e ainda mostra o rosto. É um tal da antena, conhece?- disse Neto.

            -Antena? Ah! Sim. Conheço. Inclusive estamos eu e o Martinho apoiando eles na mídia. É um bom sujeito. Ele quer ser Deputado na próxima... quando perder o emprego.

            -Aquele merece, vovô. Ele dá o endereço certinho. Tem também o Farelo que ficou com vergonha de sair candidato e casou às pressas. Vai colocar sua mulher. O senhor concorda com isso? Ele está lhe esculhambando... – disse Neto.

            -Deixa. Essa merda aí pertence a gente. No fim, dá certo.- disse o diabo em som estridente.

            -Nós, gerentes do Sistema, inventamos outra palavra idiota para a Copa do Mundo de Futebol porque o ferrado já queria fugir ao Sistema. Eles tem que continuar naquela alienação que nós criamos em 64. agora foram obrigados a aprender outra palavra que nada significa. O Sistema criou uma corneta que não dá nota musical nenhuma e colocamos o nome de Vuvuzela. Eles até que aprenderam rapidinho.- disse Neto todo orgulhoso.

            -É isso aí. A TV GERAL já divulgou o que nós mandamos? Se Ferro perder a Copa do Mundo, culpar a altitude e o frio. -perguntou o diabo.

            -Claro! Não é assim toda vez que perde? E os ferrados são tão alienados que nem pensam que o outro país que ganhou, sofreu com a tal da altitude e do frio também.- disse Neto.

            -Cuidado para não ouvirem!- disse o diabo.- Deixa os ferrados soprando as ... como é mesmo o nome da coisa?

            -Vuvuzela, excelência.- completou Goubi.

            -É cada coisa idiota que vocês colocam os ferrados para comprar...- disse Rodolfo.

            -E assoprarem também! Ah! Ah! Ah!- disse Medisse.

            -E a ligação do Governo de Ferro com o crime organizado?

            -Está indo de vento em popa, vovô. Os políticos também aderiram de uma vez por todas. É um derrubando o outro para roubar no seu lugar. O problema é que quando um político ou traficante toma conta da “boca” não quer mais parar de ganhar dinheiro. Então vem outro grupo, denuncia ou mata o dono da  “boca” e toma seu lugar.- explicou Rodolfo.

            -Tem que organizar melhor isso aí. Tem que fazer igual aos banqueiros. Trocam os gerentes constantemente para que eles não fiquem viciados em ganhar dinheiro.- disse o diabo.

            -A PFF (Policia Federal Ferrada) foi privatizada- disse Neto.

            -E quem comprou?- perguntou Rodolfo.

            -A TV GERAL. Hoje mesmo já entrouem ação. Subiuo morro e destruiu trinta mil antenas de TV a cabo e ainda descobriu a central de controle. Já pensou o prejuízo que a TV GERAL estava levando com tanta ligação falsa? Semana passada a TV GERAL cedeu a Policia Federal Ferrada para ajudar os nossos irmãos dos laboratórios americanos. Saíram de madrugada, de posto em posto de gasolina e tomaram todos os remédios que os motoristas de caminhões eram obrigados pelas empresas a usar para conseguirem dirigir durante vinte e quatro horas seguidas.- disse o prefeito de Ferrugem.

            -É assim que se faz. O sindicato quer uma coisa absurda. Quer que as empresas de transportes mande dois motoristas para se revezarem numa viagem curta de dois mil quilômetros. Quando eu fui motorista de caminhão eu andava o dia todo na boleia.- disse o diabo.

            -E o senhor já foi motorista de caminhão? Não era médico?- perguntou Neto.

            -Faz de conta que fui. Ora! Esse menino não entende nada...

            -Ah! Entendi! Desculpe vovô- disse Neto.

            -Agora vamos ao que interessa. Como vão os financiamentos da campanha de meu neto? Já arrecadaram quanto?

            -Dois milhões de ferrões. Mas teve gente que prometeu comprar votos no dia da eleição. Ainda bem que o voto é obrigatório. Se fosse livre como nos países democráticos a gente estava ferrado. É bom que ficou como no regime militar  e nos Estados Unidos. O povo só tem duas opções. Ou vota na direita 1 ou na direita 2. Tem ferrado que viaja mais de quatrocentos quilômetros para votar na gente.- disse Viana, sorrindo.

            -Mas do jeito que ferrado é conformado, se não fossem obrigados a votar na gente, ninguém ia lá. Por eles o país explode.- disse Rodolfo, sorrindo.

            -Olha Pinto de volta: Eu só queria dar uma declaração: Ferro poderia deixar de ser uma esculhambação do caralho e passar a ser o país mais desenvolvido do mundo. – disse Pinto.

            -Como? Me dá uma ideia.- perguntou Paulo.

            -Vendendo água e executando políticos corruptos.

            -Ah não. Está errado. Dessa forma não fica ninguém vivo.- disse Rodolfo.

            -E como está a Copa do Mundo? E a SFB? (seleção ferrada de bola).- perguntou Martinho.

            -Ah! Um técnico, um tal de Sunga não queria obedecer a TV GERAL. Mas graças a D... ou! ao Diabo a seleção perdeu a Copa do Mundo e aproveitamos para desmoralizar o Sunga. Vocês souberam o que ele fez? Mandou nosso agente secreto tomar na bunda. A TV GERAL manda um agente para a África do Sul para escalar a Seleção e o Sunga nem respeita o rapaz. Saudades do meu tempo- disse Medisse com saudade dos anos dourados.

            -Agora, nós estamos rezando para a Europa ganhar a Copa do Mundo. Até o Papa está rezando pra gente.- disse Goubi.

            -E os africanos? Quase que ganham não foi?- disse Neto.

            -Era até melhor os africanos ganharem do que a Seleção do Sunga. Mas eu estou torcendo pelos europeus também. Já pensaram? Um time africano ganhar a Copa do Mundo?

            -Mas não ganham não. Nem que eu tenha que usar a estratégia da Igreja Católica com o Jesus Cristo. Vou mandar colocar peruca loira e lentes de contato azuis em São Benedito.- disse o diabo.

            -Ah! Ah! Ah! Com essa eu vou embora!- disse Paulo sorrindo.

            Todos os médiuns ficaram liberados e os espíritos rumaram para o inferno. Os encarnados do DEMO saíram mais confiantes depois da reunião com o Diabo.

                                                                                                            

                                              CAPITULO 7

 

O DIABO OBSERVA A REUNIÃO NO CONGRESSO NACIONAL

 

MÃO BENTA- Blá blá blá blá blá.  Porque essa semana eu fui ao Piorferro, na minha cidade natal e fui bem recebido pelos médicos de lá por causa de minha luta em favor do Conselho Ferrado de Médicos.

SYR NEY- Obrigado. (disse à sua babá que o ajudou a sentar na poltrona de Presidente do Senado Ferrado.) Com a palavra o nobre Senador da oposição.

NANDO I- Senhores Senadores ferrados, boa noite. Fui acusado de louco, drogado, híbrido e reptiliano num passado recente quando fui o primeiro presidente de Ferro depois da dita... do governo militar. Vim dizer ao Senador ao lado e que me acusou injustamente de louco e reptiliano que eu vou me vingar. Ele não perde por esperar. Lá nas lagoas de Ferro nós nos vingamos é com bala. Ele que não ouse ir até lá para fazer a campanha política. Ele vai ser recebido a bala. Ele tem que saber que eu puxei a meu pai.

SYR NEY- Mas isso não importa agora. Lá fora vocês tiram suas diferenças. E no celular para os seguranças: Providencia o desencarne do Senador Luis Heleno.

MÃO BENTA- É de admirar o desenvolvimento dessa nação. Hoje, temos até negros no Congresso Nacional, nas Universidades e etc. Antigamente eles eram escravos e...

PENSADOR- (Os negros são bem mais inteligentes que os brancos. Eles apenas não tem as mesmas oportunidades para mostrarem o que são e o que podem. Alguns deles, em vez de se manifestarem quanto à questão das quotas universitárias para cursos de terceira categoria, fazem os cursos e ficam conformados. Enquanto houver capitalismo, haverá escravos.)

            O deputado Reinaldo Pintado fez uma visita ao Congresso Ferrado, para ver como funcionava:

RONALDO PINTADO- Eu sou um membro da UDRF (União da direita radical ferrada) e gostaria que todos me ouvissem: Eu queria denunciar que o Ministro da Justiça queria me denunciar só porque eu estou facilitando a compra de terras ferradas para estrangeiros que vêm da Europa e dos Estados Unidos para desenvolver o nosso país e comprar nossos produtos primários.

SYR NEY- O companheiro tem razão no que diz. Suas reivindicações são nobres tais quais as minhas reivindicações lá do nosso Estado do Malharão e do companheiro do Estado de Ferrolho. Os ferrados não podem pagar um preço bom para nossas terras. Então, temos que vender nossas terras para americanos e europeus porque eles pagam mais que os ferrados.

PROFESSOR- É por isso que Ferro, de repente se transformou em dinheiro e por isso virou um imenso puteiro.

SYR NEY- Eu posso caçar seu mandato só por causa do palavrão.

PROFESSOR- V, Exa. está disposto a provar que esse país não passa de uma ditadura? E com a criação do SIM pela TV GERAL, nunca mais teremos um ensino de qualidade. Os jovens de hoje aprendem a ler e escrever de acordo com o vocabulário do computador e da TV GERAL.

            O Diabo baixou no Congresso Ferrado e começou a gozação com os Senadores:

DIABO- (Se fosse no meu tempo eu mandava matar esse professor. Meu amigo Syr Ney está ficando abestalhado e eu estou ficando retado com ele. Não demora nada eu mando chamá-lo para o inferno. Só não chamo agora porque ele vai querer me tomar a liderança. E você Luis Heleno? Como vai sua língua no  Senado de Ferro?

HELENO-E eu vou me prestar a conversar com você? Me respeite seu corrupto!

DIABO- Eu roubei tudo o que eu quisem Ferro. Agoraestou aqui comandando o Inferno. Eu nasci foi mesmo para comandar.

PENSADOR- Na democracia o beneficio é para os dois lados. É como o caso dos torturadores. Em Ferro, o cidadão é ladrão e o ladrão é cidadão até prova em contrario.

HELENO- Você nunca deveria ter saído do inferno. Isso aí foi feito para você mesmo.

DIABO- Eu gosto muito daqui mas de vez em quando eu me materializo quando tem que ir até Ferrolho para olhar meu patrimônio antes que meus pupilos coloquem tudo a perder.

HELENO- Seus correligionários fugiram todos do DEMO, ou melhor, do Inferno.

DIABO- Eu vou puxar a orelha de todos eles. Eles que não elejam meu neto. Minha vingança vai ser maligna. O Syr Ney ficou comandando Ferro agora, não foi?

HELENO- Eu não entendo muito de crime organizado não. Nunca estive lá dentro.

DIABO- Diga a Syr Ney que é pra botar pra quebrar em Ferro, se ele não quer ser chamado para o inferno. Aliás, já está bem perto.

HELENO- Você quer que ele roube mais do que já roubou? Assim não dá! Dessa forma o país quebra de vez.

            Hoje Neto foi convidado para conversar com o Diabo materializado no Senado de Ferro mas acabou conversando com seu pai, o filho do Diabo:

NETO- Papai, sonhei com vovô me dando conselhos.

FILHO DO DIABO- O que foi que ele lhe disse?

NETO- Ele disse que eu estava muito devagar na minha campanha. Disse que era para eu viajar pelo interior de Ferrolho e entrar em contato com os prefeitos e empresários que o vovô corrompeu ao longo dos anos. Disse que era para eu exigir dinheiro vivo. Primeiro eu telefono para o cara arrumar a grana e no dia seguinte eu vou buscar.

FILHO DO DIABO- E se eles não quiserem colaborar?

NETO- Vovô disse que era pra eu fazer chantagem. Esqueceu que vovô nos deixou o seu arquivo sobre a vida pessoal de todos os políticos de Ferro?

FILHO DO DIABO- Ah sim. Então, vamos pesquisar para atacar a próxima vitima. Se você perder a eleição, não tem problema. Você vai sair milionário e não vai precisar financiar campanha para ninguém porque nos arquivos de papai não tem os nomes da nossa família.

DIABO- Esse é o nosso garoto!

NETO- (sorrindo orgulhoso) Olá vovô. Estou seguindo todos os seus ensinamentos. E estou aprendendo!

FILHO DO DIABO- Olá papai. O  presidente  do Japão  mandou uma ordem de serviço para o Porto de São Pedro. É um relatório de uma conversa que ele teve com o Obama. A conversa diz o seguinte:

            O Presidente do Japão ligou para o Presidente dos Estados Unidos da América e solicitou sua opinião no assunto:

JAPÃO- Meu amigo Obama. Eu tenho aqui no Japão, um milhão de toneladas de lixo radioativo e não tenho onde jogar. Eu posso jogar no mar do Caribe? É bom que a gente acaba logo com Cuba e Venezuela de uma cacetada só.

OBAMA- No mar do Caribe, de jeito nenhum. Fica muito perto de meu império. Aqui nós só liberamos é petróleo e mesmo assim, de cinco em cinco anos.

JAPÃO- E onde eu jogo essa porcaria?

OBAMA- Manda para Ferro. Encha alguns navios e mande para o porto de São Pedro. Mas acerte antes com o chefão lá do porto e com o pessoal da PF (policia ferrada) Mande alguns milhares de dólares para eles.

JAPÃO- Não dá para mandar uma nave espacial e jogar esse lixo na Lua, lá no Mar da Tranquilidade? Lá não vai incomodar ninguém.

OBAMA- Você está no mundo da lua, é meu amigo? Onde eu vou achar uma nave espacial que chegue até a lua?

JAPÃO- Vocês não mandaram o homem em 1969? Manda uma nave de carga e...

OBAMA- E você acreditou naquilo?

JAPÃO- Foi fraude, foi?

OBAMA- Nada não...faz de conta que eu não disse nada. Manda para Ferro mesmo. Lá que é o lugar do lixo. Não esqueça de mandar a ordem de serviço.

JAPÃO- Tá bom. Muito obrigado.

DIABO- Vá até o porto de São Pedro e converse logo com o pessoal antes que o Paulo Maluco lhe atravesse. Diga a ele que quer 50% da propina. É muito dólar que vai rolar nessa jogada.

NETO- Obrigado vovô. Você é um gênio!

DIABO- Eu sou o diabo...

            O Diabo sumiu como fumaça no ar. Foi para o outro lado depois que fez a felicidade dos endiabrados de seus parentes e amigos mais próximos.

PROFESSOR- O mundo é uma imensa feira livre com barracas alugadas. Tem vendedores e compradores, todos trabalhando sem parar. Mas quem manda nessa feira são os donos das barracas, uns vagabundos que nada fazem e nada produzem. Receberam essas barracas de graça de governos corruptos.

HELENO- Ferro está caindo de podre! É pedofilia, assassinato de crianças e mulheres, é crack, é o diabo!

DIABO- Eu não! Eu só fiz facilitar as coisas...- e sumiu deixando um terrível cheiro de enxofre.

            Quando o Diabo foi embora, um senador reacionário acordou o outro para conversar:

CESAR- Mas você viu, colega? Esse escândalo do vazamento na Receita Ferrada? Está uma confusão dos dia.... opa! Não vou assanhar o ex-companheiro.

MÃO BENTA- É assim mesmo. Eles vão badalar até as eleições. Quando perderem as eleições, eles desistem. Primeiro disseram que foi o Presidente quem mandou pedir a informação. Depois vão dizer que foi a candidata do Presidente. Depois vão dizer que foi o funcionário da Receita Ferrada. Quando estiver pertinho da eleição, vão botar a culpa em cima do boy. Como o boy é menor de idade, a coisa fica por isso mesmo. Eles já perderam a eleição mesmo.

CESAR- No tempo do Diabo a gente mandava matar.

DIABO- Alguém me chamou? Ah! Foi esse traidor!

CESAR- Você foi morrer? E ainda deixou sua família milionária e os companheiros todos pobres. E ainda quer que a gente financie a campanha de seu neto. Como é que pode? E a minha campanha, como fica?

DIABO- Sua campanha não importa. O que importa é manter minha família no poder. Custe o que custar. Você me traiu, seu filho da puta.

MÃO BENTA- Não vamos baixar o nível! Ninguém lhe chamou aqui seu aloprado. Sim. Como eu estava dizendo... pra que você me acordou?

CESAR- Foi pra falar do vazamento.

MÃO BENTA- Vazamento? Onde? O chão não está molhado.

CESAR- Esqueça. Pode voltar a dormir. Na hora da votação, eu te chamo.

            Nesse momento, o Presidente da casa tentou se levantar mas não conseguiu. Foram preciso duas babás para levantá-lo. A muito custo levantou a mão direita e acenou para os outros colegas. Nessa hora o Diabo não poderia ter deixado de observar:

DIABO- Está pertinho de você vir para cá. Eu ainda não lhe trouxe para o inferno para que você não tome o meu lugar. Se você aceitar ser o vice-presidente daqui, por vir. Eu lhe coloco no lugar de Medissi.

PRESIDENTE- E você acha que eu vou querer abandonar minha fortuna para ser o vice aí no inferno?

DIABO- Um dia não vai ter que vir? Se você quiser eu providencio tudo. É só você renunciar a tudo aí na terra. Larga tudo na mão do meu filho.

PRESIDENTE- Seu filho é burro. Aquele não vai para lugar nenhum. Só se for para a cadeia. Eu só não fui porque aceitei apoiar a seita. Senão, eu já estaria aí junto com você apoiando o DEMO aí do inferno.

DIABO- Eh! Eh! Eh! Aqui eu sou o presidente eterno. Ainda não apareceu ninguém mais perverso do que eu, para tomar o meu lugar.

            O Diabo fez suas observações e, como sempre, deixou seu rastro de enxofre. Quanto ao Presidente da casa, este foi levado para o sanitário, pois estava com diarréia e se borrou todo. Foi substituído por um cara da seita:

SUBSTITUTO- Com a palavra o colega da direita:

SENADOR- É como eu havia dito. Temos que substituir esse presidente... que fedor é esse?- disse ele tapando o nariz.

PROFESSOR- Esse presidente deveria estar no museu e não no Congresso Ferrado. Que fedor é esse?

SUBSTITUTO- Olhe o respeito, companheiro.

PROFESSOR- Mas, o Presidente estava conversando sozinho.

SUBSTITUTO- Não. Ele é médium vidente. Ele estava conversando com uma entidade espiritual. Por isso que o senhor sentiu esse cheiro estranho.

PROFESSOR- Eu senti dois cheiros. O primeiro, de enxofre e o segundo de fezes.

SUBSTITUTO- Mas ele já foi para o banheiro! Que diabo!

PROFESSOR- Ah sim. Entendo. Sabe? Eu também sou médium vidente. Estou vendo um antigo Presidente aí do seu lado. E é o Diabo quem está aí. Não está sentindo o cheiro de enxofre?

DIABO- Olha Professor. Se você continuar esculhambando o meu amigo, eu vou te trazer para o inferno. Enfim, quem me chamou?

PROFESSOR- Antes de mim, tem muita gente para ir na frente. Quem lhe chamou foi o Mão Benta. Ele deve estar com saudades de você.

SUBSTITUTO- Há! Há! Há! Bando de aloprados. Eu  sinto saudades é do meu Piorferro.

DIABO- Cuidado, Mão Benta! Eu tenho seu nome nos meus arquivos, também.

MÃO BENTA- Ah! Desculpe. Eu não sabia quem era...

DIABO- Na próxima vez que você não souber quem é, eu mando meu neto publicar os meus arquivos.

PROFESSOR- Então, foi com esses arquivos que você conseguiu se manter no poder por tanto tempo, não foi? Com chantagem, extorsão e outros golpes baixos.

DIABO- É claro! Mas agora eu vou para o inferno tratar da organização do meu partido. Nós pretendemos tomar até o céu. Já tomamos uma vez, com a ajuda de trios elétricos, cocaína e LSD, mas Deus conseguiu resgatar. Na próxima vez, vamos nos organizar melhor. Deus quer que a coisa seja na base da eleição, mas só aceitaremos se a urna for eletrônica porque eu já tenho experiência no assunto. Há! Há! Há!.

 

 

 

                    CAPÍTULO 8 – É CHEGADA A HORA DAS ELEIÇÕES

 

            Era época de eleiçõesem Ferro. O Diabomandou chamar seus correligionários para uma reunião muito importante. Estavam presentes na reunião: Paulo, Cezar, O Alemão, Neto, Junior, Arruda, Syr Ney, Ieda, Mão Benta, Aleluia, Ornelas, Juntai, Barbalho, Calheiros, e outros animais de sangue frio. Desta vez o Diabo levou todos os reforços possíveis. Foram convocados em regime de urgência: Medissi, Rodolfo, Castelo, Juninho, Figueiredo, Afrísio, Artur, Amador, Pinochet, Trumann, Mamede, Martinho e outras energias negativas que perambulavam pelo inferno.

DIABO- Vocês tem sido incompetentes. Se eu pudesse ainda me candidatar aí em Ferro, vocês veriam que eu não perco eleição. E você Neto, não tem usado o meu arquivo secreto que lhe dei de presente.

NETO- Mas eu tenho usado só para ganhar dinheiro. Se eu perder essa eleição, ficarei rico do mesmo jeito.

DIABO- Rico, mas sem poder. O que importa é o poder! Com o poder na mão, você nunca ficará pobre.

NETO- Ah! Desculpe vovô. Eu também estou ajudando meu tio Junior.

DIABO- Se vocês perderem essa eleição, juro que vou tocar fogo no Congresso Nacional e vou chamar para o inferno um bocado de gente. Vou chamar todos vocês porque são todos imprestáveis. Principalmente Paulo.

PAULO- Eu!!!! Porque chefe? Se eu fui um dos poucos que não lhe traiu?

DIABO- Porque você é burro. Você tentou fechar os colégios com o nome de meu filho e o mercado Saco do Povo. Eu agradeço ao Alemão a manutenção dessas empresas. Ele sim, foi competente e merece ganhar novamente. Como é que pode levar o santo nome de meu filho em vão? Até Dona Dulcídia cedeu sua canonização para meu filho! Só não deu certo porque o Papa é um traidor. Estou até querendo chamá-lo para cá.

MOTOSSERA- Olha patrão, queria até lhe pedir  desculpas  pelo meu péssimo desempenho nas eleições. Parece que a candidata daquele molusco vai ganhar no primeiro turno. Em compensação eu negociei com ele, na urna eletrônica. Parece que vamos ficar deitando e rolando com o estado de São Pedro. Você sabe, não é? O resto é merda pura. A gente fica com os estados mais ricos e continuamos no poder.

DIABO- Eu mandei até uma mensagem telepática para Obama. Perguntei a ele se não já é hora de dar um golpe de estado em Ferro.

GOUBI- Opa! Podem contar comigo.

TORTURADOR- Se precisar de mim...

MARTINHO- Se precisar de minha ajuda... da TV GERAL...

MOTOSSERRA- Se quiser, eu começo as articulações.

DIABO- Mas o Obama me disse que o molusco é obediente. Tanto ele como sua candidata.

NANDO II- Se o Diabo me conceder essa graça de ser o Presidente, eu juro que vou matar todos os aposentados. Aqueles vagabundos...

DIABO- Ah Nando II. Você sim que é um homem competente. Você conseguiu privatizar tudo e ainda conseguiu meter na cabeça do povo que estatização é crime. Você é um cara retado! Quando tiver um golpe de estado, o presidente vai ser você.

NANDO II- Obrigado pela consideração, chefe.

MARTINHO- Mas ele? E aqueles livros que ele escreveu?

NANDO II- Já mandei queimar tudo. E quem escreveu não fui eu não. Foi minha mulher.

RUZINHA- Tudo bem, meu marido? Sabe com quem estou aqui do outro lado? Com o seu amigo Motinha.

MOTINHA- Tá vendo Nando? Viu que lhe disse que somos sócios em tudo? Sua Ruzinha agora é minha mulher.

NANDO II- Seus traidores desgraçados. Vocês vão queimar no fundo do inferno. Vou pedir ao Diabo para nunca mais tirar vocês de lá.

PUXA SACO- Tem razão, excelência!

TORTURADOR- Se precisar de mim...

GOUBI- Tem um pessoal aí que quer apurar as torturas, não é?

SYR NEY- Podem ficar tranquilos porque eu já comprei o Paulo. Ele aceitou esconder tudo por um século. E também os generais da época já tocaram fogo na maioria dos documentos. Quando abrirem, não vai encontrar mais nada. Ah! Ah! Ah!

DIABO- Você também fez um bom trabalho.

SYR NEY- Descobriram minha sala secreta no Senado Ferrado. Mas já providenciei outra que é mais secreta ainda. Essa, eu mandei fazer láem casa. Agora, se descobrirem, o jeito é fazer uma sala nos Estados Unidos. Eu já pensei até sobre isso.

DIABO- É mais fácil os americanos mandar fazer uma sala secreta em Ferrilha do que você fazer lá. E para isso você vai ter que falar com Colin Powell. Quem manda lá é ele. O Obama é um simples capacho.

SYR NEY- Eu tentei falar com o Colin. O pior é que nem o seu secretário quis me atender. Ele disse que nunca ouviu falar meu nome. Como é que pode? Depois que você foi chefiar o inferno, todos os nossos companheiros ficaram sem prestigio.

DIABO- Nem pense em vir agora para o inferno. Aqui, quem manda sou eu. Eu não estou acostumado a obedecer a ninguém. Eu estou querendo chamar o Papa para chefiar a Santa Inquisição daqui. Ele é um companheiro muito competente.

JUNIOR- Papai. Eu acho que vou perder a eleição.

DIABO- E você já ganhou alguma?

ALELUIA- Eu também estou com medo de perder essa eleição. Depois que você morreu todo mundo aqui ficou como barata tonta. O que é que eu faço?

DIABO- Deixa os dois candidatos do Alemão levarem essa. Na próxima, você ganha. Isso, se não for incompetente também.

NANDO II- O pior é que perdemos o controle da urna eletrônica. O controle agora está na mão do molusco. Os americanos transferiram para ele. Agora ele é o homem de confiança do Colin. Ele até já mandou a candidata dele ir aos Estados Unidos para jurar obediência!

SYR NEY- Mas isso, todos tem que fazer. Se não fizer, não assume.

ARRUDA- Eles deveriam deixar o país para a gente roubar sozinho, como nos velhos tempos. Eles só ficavam com uma pequena parte. Agora eles querem tudo. Como é que eles podem querer nossa ajuda? Até eu fui preso! Só porque fui fazer uma farra.

SYR NEY- Você foi preso porque estava se metendo com peixe pequeno. Pense grande e serás feliz para sempre.

DIABO- Eu agradeço a todos vocês pela fundação que leva meu nome, a Fundação CAIM. É bom porque a Fundação vai divulgar minhas ideias. Estou feliz porque nunca serei esquecido, pelo menos em Ferrolho.

PAULO- Eu estava na inauguração. Você viu? Eu estava lá batendo palmas para a sua memória, por que você merece. Agora, tiveram alguns traidores que faltaram à cerimônia. O Cezar mesmo, não apareceu lá. E eu te admiro muito, pois você foi meu professor.

DIABO- Eu estou de olho nele. Até o Prefeito de Ferragem foi bater palmas para mim. Eu quero até que seja aliviada a pressão sobre o pai dele. Ele agora está muito obediente. Graças a mim. Quanto ao Cezar, depois eu cuido dele.

TORTURADOR- Se precisar de mim...

DIABO- Por enquanto, não. Mas no futuro vamos precisar de gente como você para dar aulas de torturas em alguns países da América Latina. Aqueles países que ficaram independentes e se livraram da corrupção e do trafico de drogas. Temos que manter tudo isso por ordem direta do Tio Sam.

TORTURADOR- Eu agora fiquei todo arrepiado de orgulho. Então, vocês vão precisar de mim! E eu que pensei que nunca mais arranjaria  trabalho.

SYR NEY- Pois bem. Pode ir se aquecendo que vem muito trabalho pela frente. Pensamos em mandar você até para Honduras. Agora tem que saber falar espanhol.

TORTURADOR- Eu sei torturar não é só em português, não. Eu sei torturar em espanhol também. Se precisar de mim...

PUXA SACO- Tem razão, meu amigo. Concordo em gênero, numero e grau com o senhor.

DIABO- Quanto às eleições, tá tudo acertado. Quem ganhar, ganhou. Quem não ganhar vai ser condenado a ficar rico até a terceira geração, porem, se ajudar minha família a se manter no poder. É pegar ou largar. Quem for bom de pesquisa é só ajudar a meu neto e ele fornecerá as informações necessárias à vida dos outros políticos e eles terão que colaborar com a campanha de meu neto. Os outros políticos, para não ter o nome sujo e os que vão se candidatar, para serem eleitos. Do contrario, a seita vai tomar toda a política ferrada logo, meus arquivos estão à disposição de todos os que ajudarem meu neto.

MARTINHO- Já notaram que estão sendo eleitos muitos candidatos da oposição? Sabe o que é isso? É Tio Sam que está ajudando os reptilianos. Ele está nos traindo!

DIABO- Não é não. São nossos descendentes, de outra geração que não sabem como manipular a massa. E tem também a sua TV GERAL que só ajuda quem está em evidencia, é claro.

MARTINHO- Queria lhe dizer isso, mas não ouso. Nós já estamos do lado de cá e não temos lançado muitas influencias malignas para os nossos filhos e netos. Nós mandamos à vontade e esquecemos deles. A culpa não é deles. Eles estão iguais a baratas tontas, sem saber o que fazer com a massa. O poder é semelhante a um narcótico. Se não for bem controlado, vicia. O dono de tudo aquilo, mora lá fora.

NETO- Ôba vovô. Fui o deputado mais votadoem Ferrolho. Deram-mea noticia agora, fresquinha em meu celular. Graças a De... ao senhor, aos seus conselhos, a coisa se encaminhou. Beijos vovô. Jesus te guie.

DIABO- Assim você está fazendo pouco dos meus poderes.

NETO- Desculpe vovô. O Diabo esteja conosco!

DIABO- Ah sim. É assim que se fala. E os outros? Os nossos amigos?

NETO- Eu tive tantos votos que vai dar para eleger mais três deputados. Quais são os escolhidos?

DIABO- O Cesar, nem para vereador. O filho de Paulo, esse é do nosso time. É um jovem promissor. Tem a cabeça vazia e fala como o nego do leite. Esse é bom. Cuidado para não lhe suplantar.

NETO- Jamais vovô. Eu nasci igualzinho ao senhor. Eu sou o seu representante na terra. Estamos planejando um golpe de estado, eu o Gilmar, o Motosserra, o Nando II, o Obama e mais alguns amigos do Underground, entende né... os reptilianos.

                                                       *

NETO- Vovô! Ganhei! Ganhei! E ainda por cima enganei todo mundo. Tomei dinheiro dos empresários e comprei votos para   minha                                                                                                                                                                                                                                                                                                         campanha. Não sou esperto, vovô? Viu que eu puxei ao senhor? Agora vou me preparar para tomar Ferro de assalto. Eu vou ser o Presidente do futuro.

DIABO- Não, meu neto. Nando II é o preferido dos americanos. Ele é ainda mais terrível do que todos nós, juntos. Para ser Presidente de Ferro é preciso ter gelo nas veias. Você vai ter que invadir alguns países vizinhos e entregar para os americanos. É preciso ter uma cabeça veloz e gelo nas veias.

PAULO- Consegui eleger meu filho também. O Neto me ajudou muito. Também meu filho saiu com ele pelo interior para arrecadar os dízimos do DEMO. Mas o Neto é muito competente nas cobranças. Ainda deu para eleger um bocado de deputados.

NETO- É como o senhor me ensinou, vovô. Fiquei milionário e ainda tenho o poder em minhas mãos. Como foi bom!

PAULO- Mas isso não seria possível se eu não tivesse destruído o resto das escolas publicas. Os alunos ficaram um ano sem estudar.

DIABO- Eu já decidi que isso foi uma burrice e uma falta de consideração ao nome de meu Juninho. Isso até atrapalhou o processo de canonização de meu filho.

PAULO- Ah! Desculpe chefe. Eu só queria imitar o senhor. Aquela historia do chicote numa mão e o dinheiro na outra. Quem aprendeu muito bem aquilo foi o molusco. Ele agora está pousando de Getúlio Vargas. Já mandou até sua candidata para os Estados Unidos para fazer o juramento a Obama.

DIABO- Qualquer um que ganhar terá que fazer isso. Se não fizer, a urna eletrônica dá o resultado ao contrario.

MOTOSSERRA- E porque não exigiram isso da Venezuela, Bolívia e Equador?

PINTO- Porque lá, a eleição é limpa, o povo sabe votar e também não tem TV GERAL para fazer a cabeça dos alienados. Foi fechada.

DIABO- Quem lhe convidou para a reunião, seu intrometido?

PINTO- Eu me convidei. O espaço é publico. Fui...

DIABO- Mandar esse cara para atrapalhar a nossa reunião, foi arte de Deus. Ele me paga.

NETO- Vovô! Tenho uma noticia que o senhor vai adorar. Na semana passada ia ter um congresso de advogados em São Pedro. No fim do congresso eles saíram para passear de iate e o barco afundou. Morreram duzentos e cinqüenta advogados. É melhor preparar a porta no inferno porque a fila vai ficar enorme.

DIABO- Ôba! Que legal! Eu não esperava tanto... Sim. Vamos conversar sobre as eleições.

NETO- Vai ter segundo turno para presidente. O Gilmar já está providenciando a fraude na urna eletrônica. Já começou a campanha de difamação da candidata do PTf e do PMDf. Motossera até já telefonou para Gilmar providenciar as coisas.

DIABO- Mas a campanha de difamação tem que ser agressiva. Se o Nando II entrar no meio, aí sim. Ele é tão perverso quanto eu. Por isso que eu preferi chamar a mulher dele para o inferno ao invés dele. E também o Motinha estava com saudades, né?

MOTINHA- Obrigado patrão. Eu estou muito feliz junto a Ruzinha. Quando eu estava em Ferro, ele me disse que nós éramos sócios em tudo e que até o país era nosso. Então, quando o ex-Diabo chamou a gente, eu fiquei foi feliz. Quando o senhor chegou e demitiu Goubi e Medisse e assumiu o inferno, eu fiquei muito satisfeito. O senhor é muito competente. Governa o inferno e ainda manda em Ferro.

DIABO- Obrigado pelo elogio. Vamos embora que eu estou feliz. Já virou um barco cheio de advogados, meu neto já ganhou a eleição, o Alemão já é amigo dele...

ALEMÃO- Fui reeleito pelo povo. Agora sou novamente o governador de Ferrolho.

DIABO- Só até pisar na bola e eu lhe chamar para cá.

ALEMÃO- Não pode chamar minha mulher, primeiro? Ela só é a primeira dama e eu sou o Governador. Eu juro que de agora em diante vou ajudar seu neto.

DIABO- Está bem. Mas estou de olhoem você. Sepisar na bola, já sabe, sua mulher é quem vai ficar viúva e você deve ter um sócio por aí, não é?

ALEMÃO- Não! Deus me livre! Ou...! O Diabo que me livre de sociedade desse tipo. Isso é pra gente rica. Nando II, Motinha etc.

DIABO- Ah! Ah! Ah!

            O Diabo voltou para o inferno, deixando no ambiente um forte cheiro de enxofre e um calor dos diabos. Ao chegar ao inferno encontrou uma enorme fila de advogados que tinham desencarnado em alto mar, no litoral de São Pedro. Contou todas as suas aquisições e sorriu com o lucro. Haviam duzentos e cinqüenta espíritos prontos para entrar nas trevas.

GOUBI- Diabo, temos mais duzentos e cinqüenta espíritos prontos para ajudar no inferno. Já que o senhor chegou, assuma seu posto. Eu sou só seu substituto eventual.

DIABO- Obrigado Goubi. Já colocou a marca eletrônica em todos eles? Epa! Aquele no fim da fila tem a aura muito brilhante. Deve ter sido advogado dos pobres láem Ferro. Eunão quero ele aqui, não. Manda esse espírito de volta para o corpo. Aqui, eu só quero mesmo o que não presta para nada. Vão ficar duzentos e quarenta e nove, apenas.- O espírito voltou para o corpo e o advogado dos pobres acordou. O Diabo ficou com medo que ele ficasse no inferno e pusesse os outros a perder. Ele era advogado do MLTf.

MEDISSE- Esquecemos de perguntar a Neto se já começaram a campanha de difamação da candidata do molusco.

DIABO- Ele me disse que já foram tomadas todas a providencias.

NETO- Já sim. Agora, eu gostaria de saber porque o senhor mandou chamar o Romeu.

DIABO- É porque os torturadores daqui estão ficando defasados. Precisamos de novas tecnologias. O pior é que tem muita gente aqui, esperando por ele. Mas eu o protejo para não acontecer um linchamento. Eu disse a ele: Você não deveria se meter pessoalmente naquilo. Deveria fazer como eu, que mandava fazer. Mas, de qualquer forma, dá para ser meu secretário.

NETO- Vovô! Noticia de ultima hora! Dona Dulcidia resolveu ser santa. Vai ser canonizada. Ela traiu a gente. Quem ia ser canonizado não era titio? Ela traiu a gente, vovô!

DIABO- Ah! Essa ela me paga. Vou mandar buscar o Papa. O pior é que ele vai querer ser o gerente do inferno. Aí, vai querer competir comigo e não vai dar.

NETO- Tenho outra noticia legal. Querem privatizar o ar.

DIABO- Quem? O molusco? Agora, para o DEMO vai ser de graça não é?

NETO- É claro. Eu soube que o senhor privatizou o ar no inferno. Como foi organizada a coisa aí?

DIABO- Aqui, eu fiz o seguinte: ar puro, só para os chefes e ar poluído, com enxofre, para o resto. Aí em Ferro dá para fazer a mesma coisa. Ferrado é burro mesmo. Imaginem que até para assistir a TV GERAL eles pagam um salário mínimo. Não são idiotas mesmos?

NETO- É mesmo vovô. Já tá sabendo da guerra do Rioferro? Os traficantes estão vencendo, vovô.

DIABO- Quem está vencendo é a gente. Agora, uma porrada de gente vem para o inferno.

PINTO- O que o governo do Rioferro está fazendo não adianta. Vai ter que matar muita gente inocente. O melhor é quando essa guerra for para Ferrilha. Vai ter que cercar o Palácio da Planície Ferrada, o Congresso Nacional,  o Senado Ferrado e o Supremo Tribunal Ferrado e matar todos os bandidos que tem lá dentro. Não vai sobrar quase ninguém.

DIABO- Quem lhe chamou na conversa? Não vão ter que cercar nada porque todos eles são meus amigos, principalmente o Gilmar. Tem que cercar é o céu. Está cheio de comunistas por lá. Um dia eu bombardeio aquilo tudo. Não vai sobrar nada.

LEONEL- Estou triste com o que está acontecendoem Rioferro. OEstadonão tem um plano de ação. Primeiro eles atiraram para espantar a metade dos traficantes que fugiram de carro. O que ficou lá foi a raia miúda que foi taxada de lideres para que o Estado não passasse vergonha depois. Só falta chamar agora a CIA para invadir Rioferro. É como diz aquele torturador dos anos 60: “Isto é uma burrice” ou coisa parecida.

DIABO- Não é não. Eles estão fazendo a coisa correta. Já pensou se acabar as drogas em Ferro? Como a CIA vai poder controlar o povo ferrado? Aquilo ali acaba virando Cuba.

NETO- Tem razão, vovô. O povo vai até perder as falsas esperanças no molusco. E como é que a gente vai sobreviver na pobreza?

PINTO- Trabalhando!

DIABO- Trabalho é pra burro. Não é pra meu neto não. Você conhece algum milionário num país subdesenvolvido que não roubou? Agora, comigo era diferente. Eu roubava, mas fazia. Isso fazia com que o povo me deixasseem paz. Aindame adoravam!

LEONEL- Sabia que Syr Ney está perto de vir para cá? Que cargo você vai dar a ele?

DIABO- Ali é meu amigo de fé. Vou colocá-lo na casa de minha mulher. A casa da Desgraça. Eu não posso deixar que ele se meta muito na administração daqui porque ele pode querer meu cargo, não é? E isso é inadmissível. Aqui, quem manda sou eu. Como eu já disse, não quero ele agora não. Vou esperar ele ficar doente porque fraco, ele já está. Tem até babá para levantá-lo da poltrona do Senado!

 

                   CURTA PELEJA NO SENADO FEDERAL

 

MARLA SUPER CHIC- Com a palavra o Senador Eduardo Marcha Lenta:

EDU- Quando nós éramos marido e mulher, você gostava de gastar todo o meu dinheiro com os seus cabelos e seu corpo.

MARLA SUPER CHIC- Mas depois que você se separou de mim, eu deixei de gastar dinheiro com besteira, senão as crianças passariam fome porque você ficava com preguiça de acordar cedo para comprar o pão do café da manhã.

EDU- É porque eu achava bonito você levantar cedo e calçar os scarpans para ir na padaria. Tinha algum namorado por lá, é?

MARLA SUPER CHIC- Se você continuar a me ofender eu vou cortar seu microfone. Não esqueça que eu estou na Presidência do Senado Ferrado! Eu só namorava com gente boa: meu personal, o Senador, o Deputado, o Governador, o Verea... Você não tem nada com minha vida privada! (desligou o microfone).

            Cá no inferno, os habitantes começavam a pensar, exalando um terrível cheiro de enxofre:

GOUBI- O Diabo já concluiu a implantação do neoliberalismo no inferno.

DIABO- Já privatizei a fornalha e a fábrica de ventiladores, agora vou ceder um lote para Bush implantar uma fábrica de ar condicionado.

GOUBI- O pior é que o senhor privatizou a energia elétrica.

DIABO- Mas para a produção das fábricas, são os infernianos que pagam.

GOUBI- E o combustível da fornalha?

DIABO- O enxofre? Também é o povo quem vai pagar.     

Nesse momento aparece Pinto:

PINTO- Mas se desativasse a fornalha, acabaria com o calor excessivo e não precisaria importar o enxofre, a fábrica de ventiladores e nem a fábrica de ar condicionado, pois o ar ficaria limpo e respirável.

DIABO- Impossível! Assim o sistema não funciona! Temos que dificultar a vida do povo para roubarmos seu dinheiro. É assim que funciona o neoliberalismo. Temos que provocar mega acidente para termos onde superfaturar os concertos. Temos que criar dívidas para o povo perder tempo na fila dos bancos pagando boletos.

PINTO- Soube do “apagão” que teve no nordeste de Ferro? Sabe a desculpa do Ministério de Minas e Energia? Um cara lá do ministério disse que a causa de tudo foi que uma peça que quebrou a mola. Depois apareceu outro e explicou com maior riqueza de detalhes: ele disse que foi a mola da ribombeta que encostou na prancha da catarineta e desencadeou a explosão em toda a parafuseta.

DIABO- Ele falou com um cara do Ministério que ia provocar outro apagão, só de sacanagem. Quando acontece isso, o povo tem prejuízo e as fábricas de eletrodomésticos tem lucros. É assim que se faz.

PINTO- Soube do diálogo entre Dilma e Vanucci? Vou contar a palhaçada desses neoliberais:

Dilma- Companheiro Paulo. O Lula não já mandou que você providenciasse a investigação dos desaparecidos políticos e punir os caras que me torturaram?

Paulo- Companheira Dilma. Você não assiste a novela da TV GERAL, não?

Dilma- Assisto. Porque?

Paulo- Você não viu que o torturador Max Martinez foi punido?

Dilma- Ah. É mesmo. Então eu vou comunicar ao companheiro Lula que o problema já foi resolvido e que as famílias dos desaparecidos podem rezar em paz.

DIABO- Mas eles estão certos mesmo. Tem que meter novela na mente desses cabeçudos.

PINTO- Por falar em tortura, o golpe de estado que vocês deram em Ferro, foi em trinta e um de março ou primeiro de abril?

DIABO- Vocês comunistas gostam de torcer tudo. Só porque demos o golpe às 0 hora e dez minutos não quer dizer que foi no dia seguinte.

PINTO- Ah Diabo. Se passou das 24 horas foi mesmo no dia da mentira.

 

                                  

                                 TEATRO IMPRUDUTIVO

              DISCURSO DA POBREZA NO SENADO DE FERRO

            Nazaré, 18 de agosto de 2000

            Estamos no Congresso Nacional de Ferro. Senadores e Senadoras, bem vestidos, bem alimentados e bem remunerados, discutem a pobreza dos ferrados:

            -O caso é grave e esse governo que aí está, não dá uma solução para o problema.- disse um senador que apoia o governo de Ferrupto Ferereira.

            -Eu apresentei um projeto de lei que acaba com a pobreza em quatro anos (mesmo que ela volte depois) mas foi rejeitada pelo governo.- disse um senador de oposição.

            -Temos que fazer o dever de casa e pagar os juros da dívida externa para podermos tomar mais dólares emprestados.- disse um senador banqueiro.

            -É isso mesmo! Se não pagarmos os juros da dívida, o FME não empresta mais dinheiro pra gente, sobe o risco Ferro e a estabilidade do Plano Ferrão vai por água abaixo.- disse um senador sem partido (um à toa).

            -Temos que garantir a estabilidade da moeda para o país não quebrar, mesmo que quebre o povo- disse um senador da esquerda do PTf, sendo aplaudido de pé por um senador baixinho e feio do todo poderoso PMDF.

            -Eu quero instituir a pena de morte para crime hediondo- disse um senador da exótica direita comunista.

            -V.Exa. sabia que corrupção com dinheiro público é crime hediondo?- respondeu um senador democrata de esquerda.

            -Então, eu não quero instituir nada mais não.- disse ele.

            Lá de cima do galinheiro, o pensador observa:

            -Gloria aos que morreram no Araguaia, pois não tiveram tempo de aderir ao sistema.

            -Se começarmos a distribuir armas para o povo, talvez em pouco tempo se resolva o problema da fome.- disse um senador da esquerda radical moderada.

            -Eu soube que no norte de Ferro, a esquerda está formando grupos guerrilheiros para desestabilizar o Plano Ferrão.- disse um senador da esquerda revolucionaria cristã.

            -A culpa não é da esquerda, não. esta já está domada. A culpa é do centro, que não se define.- disse um senador da esquerda central.

            -Se a culpa não é de ninguém, de quem é a culpa?- diz o pensador para si próprio.

            -Já ouvimos as inteperências do STF sobre esse assunto mas o juiz do Supremo já resolveu fumar o cachimbo da paz com o Presidente de Ferro.- disse um senador da direita central integrada.

            -Nós temos que ser competitivos e não esquecer os problemas da globalização da economia, senão não conseguiremos melhorar as exportações de soja orgânica para os Estados Unidos e para a Europa, perderemos o trem da historia se não corrermos atrás, não conseguiremos a estabilidade do Ferrão e não completaremos a banda Fê da telefonia celular.- disse um senador da bancada ruralista, deixando seus correligionários arrepiados de orgulho.

            -O povo ferrado não come soja, mas eu concordo com seu discurso. Foi muito bonito mesmo, embora eu não tenha entendido nada.- disse um senador radical de centro.

            -As privatização tem que continuar- falou de repente o dona da Casa- e não tendo mais o que discutir, encerro.

            Um senador da direita radical começou a alisar o paletó azul-marinho do Diabo, afim de tirar as limalhas que caíam aos  montes de seus cabelos prateados. Um senador, careca e barrigudo, interveio colérico e com um ciúme ferrenho.

            Todos agora foram para suas mansões em seus carros luxuosos e com vidros à prova de balas e impropérios... e cercados de seguranças.

                                         

                                            O DIA SEGUINTE

            -Com a palavra a bancada dos banqueiros.- abriu a seção, o dono da Casa.

            -Senhor Presidente... quem é esse baixinho que não para de lhe alisar? Que agonia!- continuou- Senhor Presidente, senhores Senadores. Desejo apresentar meus protestos contra o MLT, esse órgão esquerdista e bandolista e que agora pretende invadir a fazenda do Presidente de Ferro.

            -O problema é que se não for liberada a verba do PRONAF, o latifúndio do Presidente Ferrupto Ferreira vai ser invadido mesmo. Eu sou contra a violência e não concordo com a invasão da propriedade privada- disse um senador da direita esquerdista radical moderada.

            -V. Exa. Diz isso porque é latifundiário também.- interveio um senador radical sem partido.

            De repente alguém liga um telão e aparece o Presidente de Ferro sendo entrevistado por um cara da TV GERAL:

            -Senhor Presidente, o que V. Exa. tem a declarar sobre a ameaça de invasão de sua fazenda?

            -Eles estão é agradecendo os milhões de assentamentos que eu fiz em Ferro.- disse o presidente e virando-se para um ministro de Cuba, perguntou:

            -Aqui na ilha, o Comandante não tem um latifúndio?

            -Não. Não podemos dar mal exemplo ao povo.- a imagem sumiu e recomeçou o teatro improdutivo.

            O dono da Casa fala sobre um projeto. Um senador de esquerda se levanta, diz que é contra mas que vai votar a favor porque se sente constrangido em votar contra.

            Outro senador fala de um projeto:

            -Eu tenho um projeto muito importante para a nação ferrada. Vamos providenciar  o título de acadêmico do século,  para o jogador de bola Ronezinho Gaúcho, que será concedido pela Academia Ferrrada de Letras, pelos serviços prestados à nação ferrada.

            -Obrigado. Obrigado. Mas, que premio é esse?- perguntou Ronezinho.- Academia de ginástica, é?

Com essa, o pensador pirou de vez.

            Outro senador que estava dormindo, acordou assustado e pediu a palavra:

            -Senhor presidente. Eu quero o apoio de V.Exa. para um grande projeto de lei que não é só meu mas também de dois senadores de meu partido. O projeto é o seguinte: -Queremos obrigar todos os ferrados que tem curso superior a usar paletó e gravata. Eu sou advogado e sempre usei paletó e gravata e sempre me dei bem.

            -É um bom projeto.- disse o presidente, sorrindo.

            -Mas eu tenho um filho que é veterinário. Só se ele usar paletó e gravata quando for atender um animal como V. Exa.- rebate uma senadora da esquerda radical da Assembléia de Deus.

            -Seu filho deve usar paletó e gravata quando entrar no galinheiro para atender V. Exa.- disse o dono da Casa, continuando.- e por falar em galinheiro, a policia ferrada já conseguiu tomar as armas do povo ferrado? Eu já disse mais de mil vezes. Só quem pode usar armas em Ferro é policia e bandido.- e no ouvido do colega- Só que bandido pode usar armas mais sofisticadas, é claro.

            -Vamos parar com a baixaria no Congresso Ferrado, agora! Isso aqui não é um galinheiro. E o meu voto é a favor do projeto, porque eu tenho medo de votar contra- disse um senador radical de centro esquerda.

            -Senhor presidente.- disse um senador sem partido (o à toa)- eu tenho um projeto de lei e queria o apoio de V. Exa. para que fosse votado ainda hoje em caráter de urgência. É de suma importância para o povo ferrado: é aquele projeto que privatiza de uma só canetada, a marinha, o exercito, a aeronáutica e a Receita Federal.

            -Este sim! Isso é que é um projeto patriótico. Precisamos tratar disso com urgência.- disse o dono da Casa- Isso deu certo no Haiti.

            -Aqui só se aprova os projetos do Executivo. Essa Casa deveria sentir vergonha em aprovar  todos  os  projetos  contra o povo  ferrado. No ano passado eu mesmo ajudei a aprovar um desses projetos macabros contra o povo, mas foi só porque eu não tive tempo de ler o projeto como um todo.- disse um Senador da esquerda cristã, ficando vermelho de vergonha.- é só Presidente.

            Com essa, o pensador entrou em parafuso e aconselhou a si próprio a morar em Vênus.

            -Isso é um abcego! Isso é um abmudo! Isso é um absurdo!- bradou um Senador da esquerda ruralista.

                                

 

                                         A DESPEDIDA DO ÔMI

            O dono da Casa começou a falar:

            -Sras. E Srs., boa noite.

            Um neoliberal de esquerda radical pediu a palavra e começou a rasgar elogios ao dono da Casa.

            -V.Exa. foi o melhor Presidente que já se sentou nessa cadeira do Congresso Nacional. O senhor sempre ajudou a aprovar os projetos do governo, é verdade. Eu também já fiz isso e hoje me arrependo amargamente. E para provar minha lealdade a V. Exa. a partir de hoje eu aprovo todos os projetos que V. Exa. mandar.

            -Tanto V. Exa. quanto o seu inesquecível antecessor foram homens de palavra e por isso eu votei a favor da reeleição do Presidente de Ferro, Ferrupto Ferreira, como votaria se possível fosse, num projeto de reeleição de V. Exa.- disse um Senador comunista radical de direita.

            Enquanto isso, o pensador:

            -Onde estou? Porque vim parar aqui? O que está acontecendo? Isso aqui é uma esculhambação.

            De repente se levanta um Senador com um vasto currículo político. Ele já foi guerrilheiro comunista, torturado e estuprado, mas hoje é neoliberal de esquerda com forte tendência ao socialismo utópico de centro, porem, ultimamente tem se declarado um anarquista kropotkiniano cristão de esquerda moderada:

            -Senhor Presidente: nos idos anos 60 nós fomos inimigos políticos ferrenhos. Num passe de mágica, todos nós viramos democratas. Eu defendia a esquerda e V. Exa. defendia a direita. Mas hoje eu vejo que o senhor tem razão. Eu saí da esquerda  radical assim  que se deu a queda do Leste Europeu. Lembro-me que o senhor me aconselhou a sair da esquerda e foi o que fiz. Também não traí a esquerda porque me engajei num partido de centro. Hoje eu tenho a consciência tranquila porque também não traí o centro quando fui para a direita a conselho de V. Exa. hoje eu já nem sei quem sou...- vacilou um momento, provocando risos dos colegas e até do dono da Casa.- é só, Presidente.

            -Com a palavra o Senador...- foi interrompido por um senador careca e barrigudo.

            -Senhor Presidente. Eu gostaria de elogiar as palavras do colega ao lado, embora não tenha entendido tudo, pois não sou bom em política e nem em matemática. Talvez porque eu pense muito lentamente. Muito obrigada.

            Uma Senadora da esquerda ruralista cristã, interveio:

            -Senhor Presidente. Devo confessar que estou arrependida de tantos atritos que tivemos ao longo desses anos e quero pedir desculpas a V. Exa. prometendo não mais repetir os discursos passados e inflamados. É só. Obrigado.

            -Senhor Presidente- interveio outro Senador que o povo de Ferrolho colocou no Congresso Nacional, não se sabe como.- devo confessar que estou comovido com as doces lágrimas de V. Exa. e prometo votar em seu candidato a Presidente desta Casa, pois se trata de um homem inocente de todos os atos que fora acusado por Senadores desta Casa.

            -Amanhã será feita a votação para elegermos o novo Presidente desta Casa- disse o dono da Casa- Espero que esquerda e direita deem-se as mãos e eleja o nosso candidato, para o bem estar do povo ferrado.

            Uma Senadora eco capitalista, com sua voz infanto-juvenil, conversava alegremente com um Senador de paletó colorido:

            -É preciso pensar no país, em primeiro lugar. É preciso pensar na Floresta Amazônica- disse ela, arrepiada de emoção.

            Outro Senador da esquerda nazitrabalhista pediu a palavra:

            -Senhor Presidente. É com orgulho que rasgo elogios à gestão de  V. Exa. Faço isso,  com total  apoio  de  nossos  companheiros  da oposição. Graças a V.Exa. foi possível a formação de várias CPF’s, embora nenhuma delas tenha dado o resultado esperado por culpa dos esquerdistas radicais. Mas, mesmo assim, nós agradecemos o apoio que V.Exa. tem dado no dia a dia do Congresso Nacional. Foi graças ao senhor que quase impedimos o Governo de Ferro de privatizar as principais empresas deste país. Muito obrigado.

            -Senhor Presidente. Lembro-me que participei com V.Exa. da campanha “Ouro para o bem de Ferro” nos anos 60 e me orgulho disso. Me orgulharia muito mais se V. Exa. continuasse sendo o Presidente do Congresso Nacional Ferrado.- disse um Senador da esquerda fascista central radicalizada.

            -Como ninguém tem nada mais a declarar, encerro a ultima seção do Congresso Nacional Ferrado, sob minha gestão.

 

                                      

                                              ORGIAS CAPITAIS

 

            Numa região muito distante do mundo civilizado, existe um país democrático onde o povo passa fome e os políticos são milionários porque decidiram dividir o país entre eles mesmos.

            Esse país se chama Ferro. Esse nome lhe foi dado por seus descobridores, pois quando aqui chegaram existiam muitas árvores de pau-ferro. Ali viviam milhões de índios que ao longo do tempo foram dizimados e taxados de preguiçosos porque não aceitaram a invasão de suas terras e nem o trafico de pau-ferro, ouro e outras riquezas. Com o tempo vieram as doenças dos brancos e a execução de sua cultura por homens que usavam saias compridas.

                                    MUITOS ANOS DEPOIS

            Ferro acabara de sair de uma ditadura militar e os mesmos corruptos e assassinos formariam outra ditadura civil e econômica, com eleições fraudulentas e eletrônicas. Uma típica democracia ocidental:

EX-DITADOR- Como é que nós vamos fazer essa transição?

NOVO DITADOR- Não tem nada de transição. Vai ter uma transação e usaremos a esquerda (que já endireitou) para subir no palanque e pedir eleições diretas. Quando a esquerda  (que será calçada por gente de minha confiança) tomar o poder, nós continuaremos no governo. Se alguém não gostar ou sair da linha, daremos sumiço no infeliz.

TORTURADOR- Se precisar de mim...

EX-DITADOR- E eu, vou sair com fama de mau?

NOVO DITADOR-  Não! Nós vamos ser tão maus que o povo irá pedir a sua volta.

TORTURADOR- Vão sentir saudades da gente...

EX-DITADOR- O que der errado, a CIA resolve e eu acabo saindo como herói. O pior é se quiserem apurar as torturas.

DONO DA TV- Isso, só daqui a cem anos. Todos nós estaremos mortos. Por enquanto, vamos anistiar os dois lados. Os torturadores e os torturados. Só que os torturadores terão suas identidades preservadas e uma ajuda de custo milionária.

TORTURADOR- E os torturados?

BANQUEIRO- Esses não se lembram mais de nada. Há! Há! Há! Estão todos alucinados.

EX-DITADOR- E eu, como fico?

NOVO DITADOR- Você será esquecido. Você e quase todos os participantes dos assassinatos.

EX-DITADOR- Eu não vou ganhar nem uma fazenda para criar meus cavalos árabes?

NOVO DITADOR- Procure a fazenda e me informe as despesas.

PUXA-SACO- O senhor foi um santo, General.

EX-DITADOR- Claro. Limpei o país. Matei todos os comunistas perigosos, principalmente os que comiam criancinhas. Os que ficaram vivos, vão endireitar, com certeza.

BANQUEIRO- Será?

TORTURADOR- E os que ficaram loucos, não é melhor dar um fim neles?

NOVO DITADOR- Precisa não. ninguém vai acreditar neles. Se insistirem, mandaremos para um manicômio judicial qualquer.

DONO DA TV- (apontando para o novo ditador) Eu vou até arranjar um pistolão para você entrar e vigiar mais de perto os comunistas da AFL.

PUXA-SACO- O que é isso?

DONO DA TV- Academia Ferrada de Letras.

NOVO DITADOR- Mas... no lugar de quem?

TORTURADOR- Se quiser, eu dou um jeito nisso.

NOVO DITADOR- E se eles não aceitarem? Eu nunca escrevi um livro.

DONO DA TV- Não se preocupe. Lançaremos um livro com seus discursos. Não precisa nem vender volume nenhum. Mandaremos para os nossos correligionários. O que sobrar, o Governo manda para as escolas públicas do interior.

NOVO DITADOR- Então, está combinado. Providencie isso, amanhã mesmo.

PUXA-SACO- Eu também quero entrar para a AFL.

DONO DA TV- A única coisa que você escreveu foi uma revista pornô. Sabe que eu tive uma idéia?

            Depois de muitos protestos e comemorações, esquerda e direita entraram num acordo inconsciente que levaria Ferro à bancarrota total e moral. A elite elegeu seu presidente e o povo aceitou, confiando na esquerda que naquela época era a legitima representante do povo ferrado.

            Passaram-se alguns anos e nada mudava. Apenas o poder modificou um pouco a sua elite mas a destruição da esquerda se processava a passos largos. A corrupção se tornou um fato rotineiro e normal em Ferro. No inicio se falava no escândalo do ano. Logo veio o escândalo do mês, da semana, do dia...

            O prefeito de Ferrilha, capital de Ferro, começou a frequentar a elite de bêbados, mas a amizade não durou muito. Motivo: ele gostava de levar a primeira dama para as farras com o dinheiro publico, mas só era permitida a participação das amantes.

PUXA-SACO- Senhor Prefeito. Tem uma família aí fora lhe procurando.

PRIMEIRA DAMA- Você sabe quem é?

PUXA-SACO- Sei não. Estão num carro pequeno.

PRIMEIRA DAMA- Porque essa ralé não se contenta em dar só o voto? Diga que o Prefeito está em reunião e não pode atender.

PREFEITO- Você não sabe quem é?

PUXA-SACO- Se está num carro pequeno, não é ninguém então deixa pra lá. A eleição é indireta mesmo...

PRIMEIRA DAMA- Quem são essas mulheres que estão chegando?

SENADOR- São nossas secretárias.

PRIMEIRA DAMA- E onde estão suas esposas?

SENADOR- A minha está em casa, cuidando dos filhos.

PRIMEIRA DAMA- Meu marido não vem mais aqui sem mim. Só se passar por cima do meu cadáver.

TORTURADOR- Alguém falou em cadáver? Tem serviço pra mim? Onde é? É o pessoal do carro pequeno?

AGIOTA- É, meu amigo. Você é gente boa mas na próxima farra você será convidado a não vir.

PRIMEIRA DAMA- E não vem mesmo!

TORTURADOR- Se é minha mulher, eu a torturava até a morte.

PREFEITO- É... vamos para casa. Boa noite a todos.

 

                                              NA BOATE

            Estavam reunidos numa boate de luxo em Ferrilha, capital de Ferro, o Presidente Ferrupto Ferreira, um Senador, um Deputado, um ex-torturador, um puxa-saco, um agiota, empresários, secretárias, um latifundiário, todos preocupados com o futuro do país deles:

PRESIDENTE- Não sei mais o que fazer para convencer o povo ferrado de que eu já fiz o que pude para colocar Ferro nos eixos.

PUXA-SACO- Já fez demais, Excelência. Já fez demais. Eu não sei como é que o povo ainda tem a cara de pau para dizer que estão passando fome e que o país vai mal.

GOVERNADOR- (com a secretária no colo) sei não... se não implantarmos uma urna eletrônica, sei não...

TORTURADOR- O que o senhor quer dizer com isso?

GOVERNADOR- Sei não... sei não.

AGIOTA- Quando é que eu vou poder comprar uns dólares novamente?

PRESIDENTE-  No dia eu lhe aviso.

BANQUEIRO- Não se esqueça de me avisar com uma semana de antecedência.

LATIFUNDIÁRIO- Não vá aumentar o preço do boi gordo agora não, Presidente. Minha fazenda está vazia. Primeiro deixe eu comprar cinco mil bezerros. Ano que vem, quando eu for vender, aí aumenta o preço.

DONO DA TV- Se algum de vocês precisarem de meus canais, é só avisar. Aquilo ali é para servir-nos.

PUXA-SACO- O povo também já quer demais. É direito do consumidor, é emprego, é escola, é saúde gratuita é o diabo! Assim o país não agüenta! Isso é negocio de comunista. Eu não sei como é que o Presidente agüenta tanta pressão. O senhor é mesmo um homem forte, Excelência. Eu não suportaria nem a metade da pressão. Estourava logo.

SECRETÁRIA- E como!

PRESIDENTE- Ontem mesmo eu fui editar uma Medida Permanente que o FME mandou, para dilapidar os bancos públicos e outra que a CIA mandou, doando nossas florestas para os americanos e queriam até me acusar de crime de lesa pátria. Veja só que povo chato e que jornalistas incompetentes! A porcaria toda não é minha?

PUXA-SACO- É mesmo Excelência! É mesmo.

SECRETÁRIA- E como!

DEPUTADO- Na semana passada eu fui pego com minha secretária no colo e foi o maior escândalo na Câmara. Veja! Ninguém tem nada com isso? Eu não sei o que é que o povo quer.

SENADOR- É mesmo. Já demos uma cesta básica no ano passado, perto das eleições. O Presidente dá todo mês, o pagamento dos aposentados e eu não sei mais o que é que o povo quer. Já demos até demais.

EMPRESÁRIO- No mês passado eu aumentei o preço do meu produto e diminuí a quantidade na embalagem. Teve até protestos! Se o produto é meu, eu faço o que quero e ninguém tem nada com isso.

PRESIDENTE- Que produto você fabrica?

EMPRESÁRIO- Remédios genéricos.

SENADOR- Mas você é dono de um cartel...

EMPRESÁRIO- E daí? Quem não gostar de farinha de trigo, que compre um remédio de marca, pois  a farinha que eu  uso nas capsulas  é importada. Se não curar, também não mata. E eu pago a farinha em dólares.

PUXA-SACO- É isso aí, Chefe. Esse povo já quer demais e assim não dá!

SECRETÁRIA- E como!

PRESIDENTE- Veja que eu já assentei vinte milhões de famílias e os sem terras ainda não estão satisfeitos!

DEPUTADO- Só fazendo um Eldorado dos Carajás ou um Carandirú aquiem Ferro. Sóassim esse povo mal agradecido entende nosso recado.

SENADOR- Isso não! Pode dar um escândalo dos diabos.

DONO DA TV- Tem nada não. Eu invento outro escândalo e jogo por cima desse. O povo só decora o escândalo do dia.

PRESIDENTE- E se não tiver nenhum escândalo para substituir?

DONO DA TV- Arranjaremos um desastre com um herói nacional. Depois ele vira fundação.

PUXA-SACO- Isso vai dar um escândalo dos diabos...

DONO DA TV- Isso, o que?

PUXA-SACO- Qualquer coisa que o senhor fizer, será bem feito, Chefe.

DONO DA TV- tem até um padre que quer ficar rico, fazendo palhaçadas na TV GERAL.

GARÇONETE- Se é padre é um santo. Querem uísque?

SECRETÁRIA- E como!

SENADOR- Manda descer o melhor, que o povo paga.

AGIOTA- Minha mulher descobriu que eu trazia minha secretária para cá e demitiu a moça. Agora eu tenho que alugar outra para vir comigo.

PRESIDENTE- O Palácio paga isso também.

PUXA-SACO- E como é? Arranja uma pra mim também.

SENADOR- Mas você tem cada ideia... além de tudo você é velho e impotente.

PUXA-SACO- Tem razão chefe. Tem razão.

SECRETÁRIA- E como!

BANQUEIRO- Há! Há! Há!

PUXA-SACO- Bom uísque, esse...

SECRETÁRIA- Cuidado para não cair os dentes.

PRSIDENTE- Agora vocês vão ter que me dar licença porque eu tenho que levar minha secretária ao reservado. Faz tempo que ela não me faz um carinho. Se alguém me procurar, digam que estou lá fora e que não quero ser interrompido!

SECRETÁRIA- Isso dá um trabalho... ai meu Deus!

PUXA-SACO- Tá vendo que não é só eu? Eu me sinto até orgulhoso porque o órgão presidencial tem o mesmo problema que o meu.

PRESIDENTE- Cale a boca, seu idiota!

PUXA-SACO- Sou um idiota mesmo. Obrigado chefe.

SECRETÁRIA- E como!

PRESIDENTE- Eu não tenho mais aquele problema, não. Agora eu uso viagra. É tiro e queda.

SECRETÁRIA- O pior é se for só queda... VAMOS VER.

DONO DA TV- Também quero.

SECRETÁRIA- Ai meu Deus. Assim não dá.

PRESIDENTE- Você ganha pra isso também.

PUXA-SACO- É isso aí, Excelência. Bota pra quebrar.

GARÇONETE- Mais alguma bebida, senhores? Tira gosto...

DEPUTADO- Só se o tira-gosto for você, gostosa.

GARÇONETE- (sorrindo) Estou ao seu dispor, Deputado.

PUXA-SACO- Deixa essa aí pra mim.

DEPUTADO- Você trouxe viagra?

PUXA-SACO- Não.

GARÇONETE- Então eu quero o Deputado mesmo. Trouxe a bomba de ar?

DEPUTADO- Ah! Garçonete da língua comprida. Eu vou mandar lhe demitir.

PROPRIETÁRIO- Algum problema, senhores?

DEPUTADO- Sua garçonete tem a língua muito comprida.

PROPRIETÁRIO- Está demitida!

TORTURADOR- (no ouvido do Deputado) Quando ela for embora, eu a sigo e dou cabo da vida dela.

DEPUTADO- É isso aí. Nosso clube é fechado. Só entra gente nossa.

Já pensaram se o povo descobre?

TORTURADOR- Que é que tem? Nós cobrimos de novo. Deixa comigo. Eu vou logo resolver isso.

DEPUTADO- Eu não lhe pedi nada. Eu nem sei o que é que você vai fazer. Se o mundo dançar, você dança com ele.

            Os homens que mandam em tudo, levantaram-se e foram embora.

 

                                  II PARTE – NO PALÁCIO

 

SECRETÁRIA- (consigo) Ninguém veio trabalhar hoje...

FAXINEIRO- Esses caras devem tá tudo de ressaca.

SECRETÁRIA- Quem pediu sua opinião? Recolha-se à sua insignificância.

FAXINEIRO- Aqui, ninguém faz nada mesmo!

SECRETÁRIA- Está demitido!

PRESIDENTE- (chegando) Quais são as ordens do FME, CIA, Banco Mundial...

SECRETÁRIA- Está tudo em sua mesa, Presidente. É só assinar.

PRESIDENTE- Aqui é bom porque não precisa fazer nada. Já vem tudo pronto. É só cumprir à risca e estamos salvos.

FAXINEIRO- Viu que eu disse?

SECRETÁRIA- Eu já disse que o senhor está demitido!

PRESIDENTE- É... depois você abre um concurso para faxineiro. Devem ser inscritas umas trinta mil pessoas. E isso entra uma grana...

SENADOR- Joga no caixa dois. Serve para pagar nossas farras.

PRESIDENTE- Essa de concurso é uma boa. Dá um lucro!

PUXA-SACO- (chegando) Minha mulher me mandou embora. O que eu faço, Presidente?

PRESIDENTE-  Compra uma mais nova.

PUXA-SACO- Há! Há! Há! É isso aí! Eu vou abrir concurso público.

SECRETÁRIA- Agora, o senhor vai ter que dar garantias.

PUXA-SACO- Eu vou colocar uma prótese porque nem o viagra adiantou nada.

SECRETÁRIA- Há! Há! Há!

DEPUTADO- Excelência. Temos que cortar o beneficio dos aposentados. a previdência está quebrada.

PRESIDENTE- Ah vagabundos! Até a previdência eles quebraram!

DONO DA TV- (chegando) Não se preocupem. Eu vou mandar dizer nos meus canais que é para o povo procurar uma previdência privada. Tem tantas por aí. Até eu tenho uma.

FAXINEIRO- E vai pagar, como?

SECRETÁRIA- Excelência! Eu já demiti esse homem. Porque ele não vai embora?

PRESIDENTE- É porque ele é patriota. Ele sabe que já está trabalhando de graça?

FAXINEIRO- Eu até recebi uma proposta do Partido Comunista para trabalhar em seu comitê. Com tudo o que eu sei daqui de dentro, eles falaram que eu vou ser muito útil ao país.

PRESIDENTE- Olha. Pensando melhor, deixa esse cara aí mesmo. Eu vou até editar uma Medida Permanente para aumentar seu salário.

FAXINEIRO- É isso aí, Presidente. Eu só me arrependo de não ter votado no senhor.

TORTURADOR- Vai deixar por isso mesmo, Excelência? Manda esse cara embora. (no ouvido do Presidente) Lá adiante, eu dou um jeito nele.

PRESIDENTE- É... pode ser. Está demitido, faxineiro. E você, secretária, abra um concurso público. E só vai ser aprovada se for mulher. Mesmo assim, bonita. Pode ser até loira, não tem problema. Tem que ser bonita.

            O faxineiro chutou o balde com violência, molhando todo o chão. Em seguida, saiu muito irritado, praguejando e sendo seguido pelo torturador.

 

                     III PARTE- NO PALÁCIO DO PRESIDENTE

 

DONA SIDERÚRGICA- Isso é hora de você chegar em casa? O que estava fazendo?

PRESIDENTE- Estava tendo relações sexuais com o país.

D. SIDERÚRGICA- Tomara que os jornalistas descubram tudo.

PRESIDENTE- Tem nada não. O patrão deles estava com a gente.

D. SIDERÚRGICA- Tinha mulher no meio?

PRESIDENTE- Tinha uma da esquerda, mas só queria aderir ao sistema.

D. SIDERÚRGICA- E as secretárias?

PRESIDENTE- Estavam secretariando a reunião.

D. SIDERÚRGICA- Você já deixou de andar com aquele garoto de dezoito anos? Ainda vão pensar mal de você.

PRESIDENTE- Cale-se!

 

                      IV PARTE –EM CASA DO BANQUEIRO

 

BANQUEIRO- A reunião de hoje foi muito prolongada.

MULHER- E o resultado?

BANQUEIRO- O Presidente vai armar outra, para que eu fique mais rico ainda. Já pensou?

MULHER- E Dona Siderúrgica, como vai?

BANQUEIRO- Quem sabe?

MULHER- Você não estava com eles?

BANQUEIRO- Mas ele estava com a segunda dama.

MULHER- E você?

BANQUEIRO- Você sabe, não é? São ossos do oficio. Eu trabalho muito e preciso me divertir de vez em quando.

 

                    V PARTE –EM CASA DO DONODA TV

 

DONO DA TV- Reunião estafante, essa de hoje.

MULHER- Vá tomar um banho, meu velho. Você não aguenta mais essas reuniões. Você está caindo aos pedaços e nem pensa direito. Porque não deixa nossos filhos resolver essas coisas?

DONO DA TV- Só eu mesmo resolvendo. Os homens lá, tinham cada secretária... todas bonitas.

MULHER- Ah! Tinha mulher no meio, não foi seu velho sem vergonha? E você fez o que? Se não tem mais nada?

DONO DA TV- Exatamente. Não fiz nada. Eu só ficava olhando.

MULHER- Que coisa feia. Olhando a mulher dos outros.

DONO DA TV- Dos outros, não. De todos.

MULHER- Você não vai mais a essas reuniões.

DONO DA TV- Se eu não for, os americanos não mandam a grana.

MULHER- Ah... então pode ir. Vá sim.

 

                          VI PARTE-EM CASA DO AGIOTA

 

AGIOTA- A reunião foi produtiva.

MULHER- Eles lhe pagaram o que o país deve a você?

AGIOTA- Só pagaram os juros, como sempre.

MULHER- Cuidado para esses caras não lhe passarem o calote.

AGIOTA- Aí eu demito o do BC, o do MF e ainda o Presidente de Ferro.

MULHER- Você é bom mesmo.

AGIOTA- O Deputado queria me enganar com um cheque pré-datado, mas eu insisti e acabou saindo em dinheiro mesmo. Ele até me ofereceu a secretária dele, mas eu caí fora. Ele queria que eu assumisse sua secretária e aí ele sumiria com meu dinheiro.

MULHER- Eu tenho orgulho de você, amor. Você é igual a banco. Não perde nada pra ninguém.

AGIOTA- No passado eu perdi muito. Perdi no Vietnã, em Cuba, na Coréia. Em compensação eu ganhei o dobro em Ferro e nos países vizinhos.

MULHER- Não tem jeito de você ganhar sem sacrificar vidas humanas?

AGIOTA- Só se matar todo mundo e ficar com o mundo. Aí também não ficará ninguém para sofrer por minha alegria.

MULHER- Não dá para matar só a metade?

AGIOTA- Tem que ser menos da metade, assim não sobra consumidor para comprar nossas porcarias.

MULHER- Ah! Entendi. É isso que você chama de globalização, não é?

AGIOTA- Até que enfim, você entendeu.

 

                            VII PARTE- EM CASA DO LATIFUNDIÁRIO

 

LATIFUNDIÁRIO- Não entendi nada da reunião. Eu estava pensando que eles iam diminuir o preço da arroba do boi e quando eu chego lá, está a alta cúpula do governo ferrado, tomando uísque  com as secretárias do colo.

MULHER- E você, junto daqueles vagabundos, não é?

LATIFUNDIÁRIO- Mas eu não comi ninguém. Só fiz passar a mão na bunda de uma delas.

MULHER- Então vá desinfetar a mão! E não toque em mim! Você quer que eu faça a mesma coisa, é?

LATIFUNDIÁRIO- Eu lhe passo bala, mulher!

MULHER- Amanhã mesmo, eu vou ligar para Dona Siderúrgica Ferreira e vou contar tudo.

LATIFUNDIÁRIO- Eu lhe passo bala, mulher!

MULHER- Aliás. Eu vou ligar agora mesmo!

LATIFUNDIÁRIO- (sacando o revolver) Eu lhe passo bala, mulher!

MULHER- (pegando o telefone) Alô? É Dona Siderúrgica Ferreira? Seu marido é um pilantra! Sabe onde ele estava?

PRIMEIRA DAMA- Ele me disse que estava conversando com um jovem de dezoito anos.

MULHER- Que nada! Ele estava foi com um bocado de garotas de dezoito anos. Meu marido estava lá, também.

PRIMEIRA DAMA- Ele também é?

MULHER- É o que? (o latifundiário deu dois tiros)

 

                                 VIII PARTE- A CAMPANHA

 

PRESIDENTE- Só o que importa é a estabilidade do Ferrão.

OPERÁRIO- Mas o senhor está falando isso há seis anos!

PRESIDENTE- Porque é só isso que importa!

OPERÁRIO- Mas eu estou com fome há seis anos!

BANCÁRIO- Eu já tenho cinquenta anos de idade e fiquei desempregado.

PRESIDENTE- A solução é simples. É só procurar outro emprego.

CAMPONÊS- Eu estou passando fome. Eu plantei uma roça de bananas e o resultado não dá nem para comprar um saco de soja.

MINISTRO- Porque você é burro. É só comer as bananas!

OPERÁRIO- Ta na hora de dar banana ao Presidente!

SEGURANÇA- Se você der banana ao Presidente, eu dou um tiro na sua cabeça, seu terrorista.

OPERÁRIO- Então, ta na hora de dar banana ao segurança!

OUTRO SEGURANÇA- Se você me der banana eu também lhe dou um tiro.

OPERÁRIO- Então, ta na hora de dar banana ao segurança do segurança.

SEGURANÇA- Não me irrite, senão eu mando todo esse povo aí lincharem você. Então, é você quem vai sair daqui embananado.

OPERÁRIO- Então, vamos dar banana ao povo!

PRESIDENTE- Aí pode. Já fizeram isso no passado e o cara ainda ganhou a eleição.

POVO- Apoiado! Viva o Presidente!

PRESIDENTE- (ao Senador) Viu o que eu disse?

SENADOR- (no ouvido do Presidente) Eu não preciso nem me desgastar. Se a urna é eletrônica? Se o povo descobre, daqui a dois anos a gente troca a presidência pelos estados e continuamos no poder. Seu governo está insustentável mesmo.

PRESIDENTE- A culpa é dos americanos.

SENADOR- Fique calmo. O próximo presidente vai dizer a mesmo coisa. Só que nada poderá ser feito.

PRESIDENTE- E se a esquerda ganhar?

SENADOR- Aí você ganha cento e setenta milhões de inimigos. Mas não se incomode não. Seus inimigos são todos burros e os poucos que comandam esses burros, vão endireitar, com certeza.

PRESIDENTE- Ainda bem que eu tenho você perto de mim. E a meu favor!

SENADOR- E a urna eletrônica também. Ela sabe o que faz.

PRESIDENTE- Então, larga esses otários aí e vamos para a boate tomar uns uísques.

SENADOR- É assim que se fala.

PUXA-SACO- Eu arranjei duas loiras para o senhor.

AGIOTA- Será que essa urna eletrônica garante minha grana?

PRESIDENTE- Não foram vocês que pediram esse monstrengo? Sua grana será sempre intocável, em qualquer governo, meu patrão.

 

                                    IX PARTE- NA BOATE

 

LATIFUNDIÁRIO- Excelência! Minha mulher queria lhe entregar para Dona Siderúrgica Ferreira!

PRESIDENTE- E você deixou?

LATIFUNDIÁRIO- Eu já mandei ela pro inferno. Depois a enterrei  no fundo do quintal.

SENADOR- E se os jornalistas descobrirem?

DEPUTADO- Aí a gente contrata aquele perito para dizer que os ossos tem quatro milhões de anos.

DONO DA TV- Assim, você está me ofendendo. Você não sabe que está tudo sob controle?

PRESIDENTE- Não precisava fazer isso não. Eu disse à minha mulher que eu só converso com a juventude. Os garotões de dezoito anos. Aí, ela fica tranquila.

SECRETÁRIA- É por isso que o senhor não faz uma gracinha com a gente.

PRESIDENTE- Se respeite, vagabunda!

PUXA-SACO- É isso aí. Nosso Presidente é muito macho. Semana passada eu vi o Presidente até com uma loi... ou!  uma morena.

SECRETÁRIA- Loira ou morena?

PUXA-SACO- Sei lá. É porque o lugar estava um pouco escuro.

SECRETÁRIA- Que lugar foi esse?

PRESIDENTE- Você está demitida. Vá embora.

TORTURADOR- (no ouvido do presidente) Manda embora que eu dou um jeito nela.

PRESIDENTE- Vá rápido!

TORTURADOR- Também vou Excelência. É uma honra. Eu me sinto orgulhoso e novamente prestativo.

PROSTITUTA- Que confusão é essa aí?

PROPRIETÁRIO- Como foi que você entrou aqui?

PROSTITUTA- Eu paguei. Quer ver minha ficha? Aqui está.

PROPRIETÁRIO- Então, vá lá para baixo.

PRESIDENTE- Não. Pode deixar ela aí.

TORTURADOR- (voltando) Tudo sob controle.

PRESIDENTE- Agora demita essa prostituta aí. Manda ela sair pela porta de emergência.

TORTURADOR- Outra?

PRESIDENTE- Outra, o que? Não lhe disse nada.

TORTURADOR- Estou muito orgulhoso pela confiança que o senhor depositaem mim. Agora, fora sua puta!

LATIFUNDIÁRIO- (para o puxa-saco) Vá na rua e me arranje uma de boa aparência e uns doze anos de idade.

PUXA-SACO- É um orgulho servi-lo, Doutor.(saindo)

LATIFUNDIÁRIO- Esse puxa-saco até que é um cara legal.

SENADOR- Eu só deixo ele andar com a gente, porque ele é de confiança.

DEPUTADO- Onde vocês o conheceram?

PRESIDENTE- Ele foi alcaguete do serviço secreto.

DEPUTADO- E o torturador?

PRESIDENTE- O torturador andou tomando uns cursos de tortura nos Estados Unidos, depois voltou e matou muita gente por aqui. Hoje eu falei até para ele que não precisamos mais de seus serviços. Basta o puxa-saco para resolver nossos problemas. Quem me apresentou a ele foi o Omar. O mandante lá Supremo Tribunal Ferrado.

SENADOR- É...

DEPUTADO- Podemos usa-lo contra os sem-terra.

SENADOR- Mas, ele sozinho?

DEPUTADO- Se não der certo, vira queima de arquivo. Podemos até matar muitos sem-terra com a morte dele.

PUXA-SACO- (chegando com uma garota de dez anos) Essa aqui serve, Doutor?

LATIFUNDIÁRIO- É uma gracinha.

SENADOR- Senta aqui no meu colo, minha filha.

GAROTA- O senhor é muito velho...

PUXA-SACO- (dando um cocorote na garota) O homem falou pra sentar, tem que sentar! Ou quer apanhar?

GAROTA- Desculpe senhor.( sentando-se)

PRESIDENTE- Que idade você tem, diabinha?

GAROTA- Dez anos.

PRESIDENTE- Precisamos acabar com a prostituição infantil.

LATIFUNDIÁRIO- Hoje não, Excelência. Deixa pra pensar nisso de amanhã em diante.

PRESIDENTE- Sabe? Eu vou deixar esse assunto para o ano que vem. Aliás não. Eu deixo logo para o próximo governo. É melhor. Depois a oposição fica falando que eu estou fazendo campanha, etc. Deixa pra lá. Quem não gosta de um carro novo?

PUXA-SACO- (chegando) É isso aí, Excelência. A culpa é da oposição mesmo. Só sabem falar e reclamar. Agir que é bom, nada. E me sinto orgulhoso por vocês terem me ouvido. Obrigado.

LATIFUNDIÁRIO- Eu vou levar essa menina pra trabalhar na cozinha lá de casa.

GAROTA- Oba! Eu vou ganhar um salário mínimo. Até meio, serve.

PUXA-SACO- Que mal agradecida. O homem já vai dar comida e dormida de graça e você ainda quer mais.

GAROTA- Desculpe senhor.

PRESIDENTE- Ela é uma gracinha. Ah se eu pudesse.

GAROTA- Por que não pode?

PRESIDENTE- Isso é problema meu!

TORTURADOR- (dando um cocorote na garota) Essa menina é muito ousada. Quer que eu dê um jeito nela?

LATIFUNDIÁRIO- Eu já disse que irei leva-la para a cozinha lá de casa.

PUXA-SACO- Porque não leva minha filha? Ela tem catorze anos e é muito bonita.

GAROTA- Eu só não sei cozinhar.

LATIFUNDIÁRIO- Não tem problema. Se você souber fazer as outras coisas...

GAROTA- Eu sei um bocado de  coisa boa  e que vai  deixar o senhor muito feliz.

PUXA-SACO- (com inveja) Você sabe de nada, sua putinha. E nunca se esqueça que fui eu quem lhe arranjou essa boca.

LATIFUNDIÁRIO- Eu já disse que a garota é minha.

PUXA-SACO- (fazendo um gesto com a mão e com ódio) Me aguarde garota. A gente ainda se vê.

LATIFUNDIÁRIO- (irritado) Tira esse cara daqui. Ele está me irritando.

SENADOR- Manera cara, manera.

PUXA-SACO- Desculpe doutor.

DEPUTADO- Excelência. Como é que eu faço para colocar três filhos e duas sobrinhas na faculdade federal?

PRESIDENTE- Eu vou anotar e segunda feira você me lembra.

DEPUTADO- Mas não vai precisar vestibular, não é?

PRESIDENTE- Não. Vestibular é para o povo. A universidade federal não é da gente?

PUXA-SACO- Eu tenho um neto que quer entrar nessa.

PRESIDENTE- Mande ele fazer o vestibular. Se passar...

PUXA-SACO- Pois não, Excelência. O senhor tem toda razão. Grato.

SENADOR- Vá se distrair um pouco lá embaixo, na boate.

PUXA-SACO- (saindo) Obrigado pela sugestão, senhor. Foi uma grande sugestão. O senhor é um gênio.

LATIFUNDIÁRIO- Vem cá garota. Venha mostrar o que você sabe. Vamos matar os outros de inveja.

 

                                   X PARTE- NO PALÁCIO

 

PRESIDENTE- Eu prometo acabar de uma vez com a prostituição infantil em Ferro.

SECRETÁRIA- É um gesto digno, Excelência.

ASSESSOR- Assim o senhor acaba com as empresas de turismo de Ferro. E meu filho tem uma dessas empresas.

PRESIDENTE- Não é nada disso que vocês estão pensando. Eu só estou treinando meu próximo discurso.

ASSESSOR- Ah, sim.

SECRETÁRIA- Eu sabia que o senhor não ia provocar essa tragédia.

PUXA-SACO- Imaginem a quantidade de gente que ia ficar sem emprego.

PRESIDENTE- Puxa! Eu nem pensei nisso.

PUXA-SACO- Obrigado Excelência! Estou orgulhoso. Olha aqui como eu fiquei todo arrepiado. (mostrando o braço)

            Nesse momento o telefone toca.

PRESIDENTE- Quem fala?

LATIFUNDIÁRIO- Sou eu, Excelência.

PRESIDENTE- E a mercadoria, está fazendo tudo certinho? Sabe que você está sendo cotado para ser Ministro da Agricultura? Você não tem um latifúndio?

LATIFUNDIÁRIO- Eu quero é devolver essa garota. Ela inventou querer dormir com meu filho que veio para me visitar. Para quem eu devolvo?

PRESIDENTE- O dono está aqui. Fala com ele.

PUXA-SACO- Alô? A garota está dando muito trabalho, é?

LATIFUNDIÁRIO- Está, sim. Não quero mais não.

PUXA-SACO- Não se incomode não, doutor. Eu vou busca-la e ensinar a ela com quantos paus se faz uma canoa.

LATIFUNDIÁRIO- Venha rápido.

PRESIDENTE- Está arranjando material de segunda, é?

PUXA-SACO- Desculpe, Excelência. Eu prometo ajeitar as coisas da mesma forma que o torturador.

PRESIDENTE- Eu não sei de nada. Eu nem sei do que você está falando. Olha, vai ver se eu estou subindo o elevador?

PUXA-SACO- Certamente está, Excelência. Com toda certeza.

SECRETÁRIA- Esse puxa-saco é um banana.

PRESIDENTE- Por falar nisso, hoje eu ainda não vi o boy.

SECRETÁRIA- Eu vou procura-lo, Excelência.

PRESIDENTE- Vá que eu preciso falar com ele e não quero ser interrompido, entendeu senhora Ferreti?

SECRETÁRIA- Pois não, Excelência.

            Alguns minutos depois, entra o boy:

BOY- E aí, coroa, tudo bem?

PRESIDENTE- Senta aqui na mesa mesmo. Vamos ter uma conversinha. (piscando o olho)

BOY- E aí. O que é que manda?

            O puxa-saco entra de repente:

PUXA-SACO- O que é isso, Excelência!?

PRESIDENTE- (para o boy) Eu já lhe disse para não vir trabalhar com a calça manchada desse jeito.

PUXA-SACO- E agora Excelência. Aquela vaga para o meu neto na faculdade, vai sair ou não?

PRESIDENTE- Claro que vai. Quem falou que não vai? Eu ia até editar uma Medida Permanente só para tratar disso.

PUXA-SACO- Obrigado Excelência. Estou orgulhoso do senhor.

PRESIDENTE- (para o boy) Esse cara é um pé no saco. Logo eu o demito.

BOY- Manda esse cara pro inferno. Eu tenho um amigo que pode dar um jeito nele sem deixar rastro. Ele é tão bom que nem identidade tem. Ninguém sabe de onde ele veio.

PRESIDENTE- Sua intenção é me proteger, não é? Só não diga que falou comigo senão, quem vai dar um jeito em você é ele.

BOY- Eu sou um túmulo.

PRESIDENTE- Lembre-se de que não lhe pedi nada. Você foi quem se ofereceu.

BOY- Não se preocupe. Bom dia, Excelência. (saindo)

            Entra a secretária:

SECRETÁRIA- Hoje, sua agenda está cheia.

PRESIDENTE- Primeiro as ordens dos americanos senão eles não mandam verba para pagar os juros deles mesmo. Depois as ordens dos banqueiros. Depois a agenda e por ultimo, as necessidades do povo.

SECRETÁRIA- Mas, não é o povo quem paga tudo isso?

PRESIDENTE- Você agora é comunista, é?

SECRETÁRIA- Desculpe, Presidente.

PRESIDENTE- Pode sair. Só à tarde você me traz a agenda.

SECRETÁRIA- O senhor tem uma entrevista hoje à tarde na TV.

PRESIDENTE- É na TV de meu patrão?

SECRETÁRIA- Não. É na TV Ferro. A Estatal.

PRESIDENTE- Cancele. Vou até providenciar a privatização dela.

SECRETÁRIA- Mas...

PRESIDENTE- Eu disse para cancelar.

SECRETÁRIA- Está bem.

PRESIDENTE- Agora saia.

SECRETÁRIA- Ia me esquecendo. A justiça reabriu o caso da pasta roxa.

PRESIDENTE- Roxa, é?

SECRETÁRIA- É. Estão lhe acusando de um bocado de coisas mentirosas.

PRESIDENTE- Me traga o jornal.

SECRETÁRIA- Está bem.

            O telefone toca. É o banqueiro.

PRESIDENTE- Alô?

BANQUEIRO- Olá amigo. Está ventilando nas altas rodas que vai ter outra operação “Calada da Noite.” Se isso for verdade, eu vou pegar três bilhões de ferrões de meus clientes e vou trocar por três bilhões de dólares hoje à tarde. Amanhã eu volto a trocar os três bilhões de dólares por seis bilhões de ferrões para repor as contas de meus clientes. No fim eu fico com um lucro gigantesco.

PRESIDENTE- Não esqueça de mandar minha partes para as Ilhas Corruptas. Não lhe disse nada.

BANQUEIRO- Ok. Você é mesmo um amigão!

PRESIDENTE- Vamos à boate hoje à noite?

BANQUEIRO- Estarei lá às vinte e duas horas.

PRESIDENTE- Ok. Até à noite, quando as coisas estranhas acontecem.

 

                                     XI PARTE – NA BOATE

 

SENADOR- O povo está passando fome. Precisamos arranjar um paliativo com urgência, senão a coisa explode e a gente perde a eleição.

DEPUTADO- Eu confio cegamente na urna eletrônica. O país gastou uma fortuna para comprar essas máquinas.

BANQUEIRO- Porque não libera as maquinas caça níqueis? Eu tenho um amigo que comprou cinco mil máquinas e elas continuam paradas.

PRESIDENTE- Assim o povo para de jogar nas loterias do governo. E as máquinas são cheias de mutretas.

BANQUEIRO- Mas, não liberaram a urna eletrônica? Qual a diferença?

SECRETÁRIA- Eu não gosto daquelas máquinas. Esse negócio de centavos. Pobreza... ah!

AGIOTA- Nunca mais eu ganhei uma graninha extra, mas amanhã é meu dia.

BANQUEIRO- Deixa essa conversa para amanhã.

PUXA-SACO- Tem razão doutor. Tem razão.(tirando as caspas)

PRESIDENTE- Vamos conversar sobre isso, hoje mesmo.

PUXA-SACO- Eu acho que é melhor mesmo. Pensando bem, o senhor tem razão.

SECRETÁRIA- Eu também vou ganhar minha pontinha. Mas é pouco. Só vai dar para comprar uma cobertura. Pobreza...

BANQUEIRO- Você merece muito mais do que uma simples cobertura.

PUXA-SACO- Também acho, doutor.

SECRETÁRIA- O senhor vai me ajudar a comprar?

BANQUEIRO- Amanhã vá a meu banco que eu financio para você.

SECRETÁRIA- Pobreza... eu queria de presente.

SENADOR- Eu ajeito. Não se preocupe. Eu também vou ganhar minha grana amanhã. Pelo menos, quando eu brigar com minha mulher, já tenho onde passar a noite.

SECRETÁRIA- Com certeza. Isso que é um homem decidido.

PUXA-SACO- Também acho, senhora. Eu concordo.

SECRETÁRIA- Você concorda com todo mundo, não é? Porque você é assim?

PUXA-SACO- É porque todos vocês estão certos. E ainda deixam eu ter amizade com vocês. Obrigado senhora.

LATIFUNDIÁRIO- Presidente. Manda esse cara ver se eu estou lá fora?

PUXA-SACO- Deve estar, senhor. Deve estar. Eu vou ver lá fora.

SECRETÁRIA- Que cara chato. Como é que vocês conversam certas coisas na vista dele? Vocês não tem medo não?

LATIFUNDIÁRIO- A moça tem razão.

PUXA-SACO- (voltando) Eu fui lá fora e não vi o senhor.

PRESIDENTE- Então, vá vigiar a porta.

PUXA-SACO- Eu tranquei a porta de emergência, senhor.

SECRETÁRIA- Assim não dá!

LATIFUNDIÁRIO- De amanhã em diante eu vou frequentar outra boate. Essa aqui, está visada demais.

PUXA-SACO- Eu já ia falar isso, doutor. O senhor tem razão. Tá muito visada mesmo. O povo pode perceber que eu me reúno aqui com vocês.

LATIFUNDIÁRIO- Mas é por sua causa que eu quero mudar de boate. Você é um cara muito chato. Eu não sei como é que o Presidente lhe atura.

PUXA-SACO- Eu também não sei não, doutor. Eu não sei como é que o Presidente me atura. Eu sou muito chato mesmo. O senhor tem toda razão, doutor.

SECRETÁRIA- Assim não dá! Vá la fora ver a porta.

PRESIDENTE- Qual a desculpa que vamos dar aos jornalistas para a operação “Calada da Noite”?

SENADOR- Nenhuma. É só aumentar o preço dos cigarros e das bebidas que todo mundo lhe apoia. Aí o povo pensa que precisa fumar e beber menos. Ninguém contesta esses aumentos. Principalmente que não fuma e não bebe, o que é a minoria. Quem fuma e bebe fica mudo para não ser criticado.

PRESIDENTE- Genial. Usamos a psicologia contraditória dos povos alienados.

PUXA-SACO- Bonita frase, Presidente. Eu queria ter a sua capacidade.

SECRETÁRIA- Assim não dá! Eu não aguento mais a presença desse homem.

PUXA-SACO- Está certa, senhora. Eu também não aguento mais não. Eu vou ficar um tempo lá fora.

SECRETÁRIA- Saco! Esse cara é um louco.

            O puxa-saco sai. De repente, dois tiros lá fora. O proprietário da boate corre para a porta de emergência e olha para fora. Em seguida, volta-se:

PROPRIETÁRIO- Santo Deus! Mataram o homem!

SECRETÁRIA- Então, não era só a gente que achava esse puxa-saco um saco.

DEPUTADO- Isso foi alguém do Partido Comunista. Ele torturou muita gente no passado. Atualmente ele praticava a tortura mental em nosso grupo. Foi mesmo um crime de vingança.

LATIFUNDIÁRIO- Vamos cair fora daqui, antes que a policia chegue.

SECRETÁRIA- O pior é que os jornalistas chegam primeiro.

PRESIDENTE- Amanhã faremos um funeral honroso para ele. Com bandeira a meio pau e o Hino Nacional de Ferro.

SECRETÁRIA- Mas eu não vou ser obrigada a ir não, né? Esse negocio de mastro a meio pau não combina comigo.

SENADOR- Você vai se quiser, minha querida.

PRESIDENTE- Vamos cair fora.

            Todo o grupo fugiu pela porta secreta e foram terminar suas orgias em uma casa de massagens na zona sul. Ao saírem da boate em seus carros luxuosos, ouviam-se as sirenes da policia, que chagava.

 

                                   XII PARTE – O FUNERAL

 

            Todos estavam aparentemente tristes e a viúva chorava junto ao caixão:

VIUVA- Ai meu Deus! O que vou fazer agora?

PRESIDENTE- Fique tranquila, senhora. Vamos arranjar uma pensão bem gorda para a senhora viver bem.

SENADOR- Desse jeito, a previdência explode.

PRESIDENTE- Já explodiu. Mas não tem nada, não. O povo paga tudo. Ele foi um ferrado exemplar.

SECRETÁRIA-(no ouvido do latifundiário)  Até morto, o cara complica tudo. Eu tenho até medo de morrer e encontrar esse cara láem cima. Jápensou que chatisse? Ele vai continuar me perseguindo.

LATIFUNDIÁRIO- Há! Há! Há!

            Todos olharam para o latifundiário:

PRESIDENTE- O que foi?

LATIFUNDIÁRIO- Eu estava pensando uma besteira.

SECRETÁRIA- Quando eu sair daqui, vou precisar de um uísque duplo.

LATIFUNDIÁRIO- Eu pago. E em dólar.

SECRETÁRIA- Em ferrão é mais vantagem, pois o uísque só vai subir de preço semana que vem.

VIÚVA- (sorridente) Então, a morte dele vai me trazer lucros.

SECRETÁRIA- A todos nós.

VIÚVA- Ele era um chato mesmo...

SECRETÁRIA- (para o presidente) Viu que eu disse?

PRESIDENTE- Nunca vi alguém mais chato e puxa-saco do que esse cara.

O MORTO- (levantando a cabeça) Tem razão, Excelência. Tem toda razão.(agora foi que ele morreu de verdade.

VIÚVA- Hã!?

SECRETÁRIA- Assim não dá!

PRESIDENTE- Santo Deus! Esse cara é complicado. Nem a viúva ele deixa em paz!

SECRETÁRIA- Nem ele mesmo. Com essa, eu vou é tomar um duplo. Até mais ver.

LATIFUNDIÁRIO- Eu também.

PRESIDENTE- Eu também.

TODOS- Eu também.

AGIOTA- E quem vai enterrar o morto?

SECRETÁRIA- Ele se vira.

VIÚVA- Eu enterro e logo mais encontro vocês no bar.

SECRETÁRIA- Mas você não é igual a ele, é?

VIÚVA- Não. Eu sou uma mulher.

SECRETÁRIA- Mas você não é chata como ele...

VIÚVA- A senhora é quem decide, Madame. O que é que a senhora quer que eu seja? O que é que respondo?

SECRETÁRIA- Ah não! Eles são gêmeos.

LATIFUNDIÁRIO- Ai meu Deus! Outro puxa-saco, não! Eu não agüento. Estamos ferrados.

VIÚVA- O senhor está certo, doutor. Estamos ferrados.

PRESIDENTE- Parece que a senhora é igual a seu marido.

VIÚVA- Se o senhor acha isso, eu também acho, Excelência. Agora vão e mais tarde nos encontraremos no bar. Ah Presidente, sabia que meu marido me contava tudo do trabalho dele?

PRESIDENTE- (preocupado) Eu me recuso a acreditar!

VIÚVA- A pensão gorda, vai sair mesmo, não é?

PRESIDENTE- Claro. Amanhã mesmo vou providenciar. Anote aí, secretária. Urgente, urgentíssimo.

SECRETÁRIA- Eu quero morrer!

            Todos se foram e a viúva ficou para enterrar o morto.

 

                                   XIII PARTE – NA BOATE

 

PRESIDENTE- Que mulher chata!

            Ouve-se uma voz atrás dele:

VIÚVA- Se o senhor acha, eu sou mesmo Excelência.

PRESIDENTE- Hã? Ou! já enterrou o morto?

VIÚVA- Eu não. Mas eu deixei a funerária cuidar de tudo. Até gente pra ficar chorando, eles contrataram.

SECRETÁRIA- Outro uísque duplo, garçom!

LATIFUNDIÁRIO- Olha gente. Em homenagem ao nosso saudoso amigo, vamos desfazer esse grupo. Sem ele não há alegria.

SENADOR- Boa ideia!

SECRETÁRIA- Adorei!

VIÚVA- Mas minha pensão vai sair, não vai?

PRESIDENTE- Claro!

VIÚVA- Não vai me enrolar senão...

PRESIDENTE-(no ouvido do Senador) O diabo foi embora e mandou a secretária.

SENADOR- O Presidente não vai enganar a senhora, não. Mas não é melhor a senhora ir chorar em casa?

VIÚVA- Já chorei até o que ele não merecia. Uma vez ele me  contou  algumas coisas sobre o Presidente. Se minha pensão não sair, eu boto a boca no mundo.

SENADOR- (no ouvido do Presidente) Saudades do torturador. Ele já teria resolvido essa situação.

PRESIDENTE- Me dê licença que eu vou ao sanitário. Está tudo certo, viu senhora?

            No sanitário, o Presidente pegou o celular:

PRESIDENTE- Alô? É o boy? O que foi que você me prometeu?

BOY- Fazer uma reza para o homem e a reza já foi feita.

PRESIDENTE- Faltou rezar a viúva também. É pior do que ele. Estamos naquele lugar, bebendo. (desligou).

            O Presidente volta para a mesa:

SENADOR- Presidente! Ela ainda não está acreditando.

PRESIDENTE- Vem cá, senhora. Senta aqui junto de mim. Vamos conversar.

            O Presidente de Ferro conversou um tempo com a viúva e a mandou embora. Ela saiu pela porta de emergência e algum tempo depois ouviu-se dois tiros já um poço distante.

 

                              XIV PARTE – O DIA SEGUINTE

 

SENADOR- Já viu o jornal de hoje, Presidente?

PRESIDENTE- Não. O que é que há?

SENADOR- Há um grupo de traficantes que está matando pessoas ligadas ao governo. Anteontem foi o nosso amigo e ontem foi a viúva dele.

PRESIDENTE- Xiii! Isso é muito grave. Vou precisar da ajuda do nosso amigo da TV GERAL.

SENADOR- Liga pra ele.

PRESIDENTE- É uma boa ideia. (liga o telefone)

DONO DA TV- Alô? Oi! O que é que você manda!

PRESIDENTE- Tem um grupo de traficantes de drogas assassinando pessoas ligadas ao nosso governo.

DONO DA TV- Não se preocupe. Meio dia vai ao ar e à noite também. Vamos fabricar a noticia muito bem.

PRESIDENTE- Obrigado mais uma vez. Se aparecer mais algum crime do tráfico, esconda a noticia, ok?

DONO DA TV- Ok. entendi.

SENADOR- Agora eu vou ao Congresso Nacional de Ferro. (saiu)

PRESIDENTE- (pensando em voz alta) E agora? Quem vai resolver o problema do boy? Eu não posso contar isso a ninguém.

BOY- (chegando) Bom dia, coroa! Está feliz hoje, não é? E a grana pra dar ao cara? Ele já me cobrou duas vezes.

PRESIDENTE- Eu quero o telefone desse cara. Quando eu precisar de um serviço, ele faz pra mim. E não vá demorar muito nesse lugar, não. É muito perigoso.

BOY- O numero do telefone está aqui.

PRESIDENTE- Ok. agora tome o envelope com o dinheiro e vá entregar a ele. Não se esqueça de minhas recomendações. É para sua segurança mesmo. Entregue o envelope a ele e caia fora o mais rápido que puder.

BOY- Tudo certo, Presidente. Vou lá agora mesmo.(saiu com o envelope contendo cinco mil ferrões).

            Pouco depois o Presidente pegou o celular e ligou:

PRESIDENTE- Alô? Gostei muito de seus serviços. Estou mandando vinte mil ferrões para você. O garoto vai lhe entregar daqui a meia hora.

O HOMEM- Tudo bem, meu amigo. Mas, quem está falando?

PRESIDENTE- Eu sou um Deputado, mas não posso lhe dizer meu nome. Mas vinte mil, paga os três serviços, não é?

O HOMEM- Três? Eu só fiz dois!

PRESIDENTE- É que em meia hora, tem o próximo, entendeu?

O HOMEM- Ah! Entendi! Vinte mil, não é?

PRESIDENTE- Confirmado. Nem converse com ele. Vá logo atirando e fugindo com o dinheiro porque em cinco minutos, a policia aparece. Quando eu precisar, eu ligo.

 

                                   XV PARTE – NA FAVELA

 

            O boy encontra-se com o homem na favela:

O HOMEM- E aí, garoto. Me dá minha grana.

BOY- Aqui está.

O HOMEM- Quanto tem?

BOY- Não contei não. Está como o homem me entregou.

O HOMEM- Passa pra cá! (atira duas vezes no boy e foge com o dinheiro). Já em sua casa, ao contar o dinheiro o homem dá um murro na mesa.

O HOMEM- Ah! Se eu descubro quem é esse Deputado. Eu deveria apertar o garoto!

 

                                  XVI PARTE – NA BOATE

 

PRESIDENTE- Que tranquilidade! Sem puxa-sacos, sem viúvas... Só com os amigos e com as secretárias.

DEPUTADO- Isso é que é um país. Daqui a dois anos estaremos aqui novamente. Ano após ano, o país será todo nosso.

PRESIDENTE- Está tudo projetado para mais cinquenta anos. Se nada acontecer com o patrão, no terceiro milênio o país vai se tornar um celeiro de merda. E eu quero estar longe daqui.

BANQUEIRO- Não se preocupe. Está tudo sob controle. Pode beber seu uísque em paz.

SENADOR- Senta aqui perto de mim.

SECRETÁRIA- E meu AP de cobertura?

SENADOR- Você ainda não foi coberta mas quando sairmos daqui vamos providenciar as duas coberturas.

SECRETÁRIA- Você é um grande homem!

SENADOR- Rá! Rá! Rá! (pegando na bunda da secretária.

            E as gerações futuras serão felizes para todo o sempre.

 

 

 

                                 AGIOTAGEM EM FERRO

                              PALAVRAS DO NARRADOR

 

            Como sabemos, Ferro é um país engraçado que fica no fim do mundo, onde o povo morre de fome, mas sorrindo sempre... e pedindo sempre.

            Existe uma cidade em Ferro que se chama Ferrugem. Tudo acontece nessa cidade. A metade da população está com aids e ninguém liga pra isso. Nem as próprias vítimas. O povo vai vivendo assim mesmo, na maré mansa.

            Em Ferrugem não há mais emprego para ninguém. O único concurso público que existe em Ferrugem acontece de quatro em quatro anos mesmo assim, quem decide quem vai passar nesse concurso é o sistema de urna eletrônica e o juiz eleitoral. A urna eletrônica é uma inovação inventada pelos americanos e que só funciona em Ferro.

            Em Ferrugem existe um Prefeito que anda cercado de bons amigos como o seu principal conselheiro, o Manteiga, que manda o Prefeito tomar dinheiro na mão dos agiotas locais  para depois passar vexames na cidade.

            O pior é que os agiotas são tão ignorantes que nem percebem que viram escravos do Prefeito e de seu grupo, pois ele tem que investir sempre no mesmo prefeito, na esperança de receber seu dinheiro de volta. Portanto, os únicos agiotas espertos que tem em Ferro são os banqueiros internacionais que exploram o povo e destroem o país. Portanto, os agiotas de Ferrugem não são seres tão espertos como eles pensam de si mesmo. Ele é burro, pois vira vítima do prefeito e de seu próprio dinheiro.

            O principal agiota de Ferrugem é um tal de Ferrucinho do Ferrão, que perde quase todo o seu dia atrás dos juros de seu dinheiro. O pior é que o Prefeito desvia o dinheiro para seus principais amigos e engana o agiota Ferrucinho do Ferrão que é um homem ignorante e sem leitura. Dessa vez Ferrucinho conseguiu, a muito custo, uma audiência com o Prefeito de Ferrugem:

FERRUCINHO- E aí seu Prefeito. Esse mês você não me deu nada. Como é que eu fico?

PREFEITO- Esperando. O problema é que eu comprei uma ilha na Grécia e não sobrou nada para lhe dar. Quando o Presidente de Ferro desviou dinheiro para sua conta nas Ilhas Corruptas, o povo foi lá cobrar alguma coisa dele?

FERRUCINHO- Eu soube que o Fagulha tomou seu carro e vai tomar sua fazenda. E se eu começar a fazer isso também?

PREFEITO- Você não vai fazer isso. Você é um rapaz educado. Tenha paciência. Se eu ganhar as reeleição, eu juro que lhe pago toda a dívida e os juros. E ainda lhe dou um agrado.

FERRUCINHO- Então, vou ter que investir o meu dinheiro na sua reeleição? E se você não me pagar?

PREFEITO- De outra vez que for eleito, pago.

FERRUCINHO- E se você perder a eleição, posso ficar com a outra fazenda de sua propriedade?

PREFEITO- Eu nada tenho em meu nome. Está tudo em nome de meus amigos de confiança.

FERRUCINHO- Vai acabar eu fazendo a mesma coisa que Fagulha fez com você. E vai rolar muita bala. Tenha cuidado comigo.

            O pior de tudo é que o Prefeito de Ferrugem sabia muito bem que Ferrucinho, apesar de ser uma pessoa gananciosa não teria capacidade de enfrentar os seguranças do Prefeito. Ele só conseguia cobrar juros de velhos aposentados ou pessoas indefesas. Também conseguia cobrar alguma coisa de funcionários públicos, segurando os cheques pré-datados ( uma aberração legalizada em Ferro) e as vítimas não tinham como se defender.

PREFEITO- Como é que você ousa ameaçar o Prefeito Municipal? Sabe que eu sou a maior autoridade daqui?

FERRUCINHO- Você que pensa! Deixe chegar a próxima campanha. Vou investir meu dinheiro no candidato da oposição.

PREFEITO- Você sabia que meu inimigo político já deve mais de trezentos mil ferrões a Limalha? E nunca vai pagar!

FERRUCINHO- Mas, Limalha está com a escritura da casa e da fazenda dele. Eu quero ver ele perder alguma coisa.

PREFEITO- Só se ele comprar o juiz e o dono do  cartório. Você acha que o juiz vai querer se sujar com agiota?

FERRUCINHO- Na semana passada eu comprei um juiz na cidade vizinha. Ele cobrou uma dívida para mim de cem mil ferrões e eu dei vinte mil ferrões para ele. Você acha que aqui eu não consigo a mesma coisa? Quem é que aguenta ver tanto dinheiro?

PREFEITO- Então eu vou fazer o seguinte: você me adianta mais duzentos mil ferrões e eu lhe pago antes das eleições.

FERRUCINHO- Se você não tem dinheiro agora, como é que vai arranjar nas eleições?

PREFEITO- É simples. Eu ainda vou receber mais seis meses de verbas federais. Todo mês eu desvio duzentos mil ferrões para você. Eu tenho como justificar. Você pega um trator e melhora a estrada que vai para minha fazenda. Esse trabalho cale dois mil ferrões por quilômetro mas eu vou lhe pagar duzentos mil ferrões. A cada mês você faz um ou dois quilômetros.

FERRUCINHO- Não tem mais rua para calçar? Podemos aplicar o golpe do calçamento e da nota fiscal.

PREFEITO- O Prefeito anterior já calçou todas as ruas e ficou milionário. Não deixou nada para mim.

FERRUCINHO- Então a gente faz um calçamento por cima do outro.

PREFEITO- Assim não dá! Você é louco!

FERRUCINHO- Dá, sim. Você diz que é para ficar mais reforçado. Se der certo, aí você calça a cidade inteira. Com essa, a gente fica rico de uma vez.

PREFEITO- Mas, isso é maluquice!

FERRUCINHO- Então, eu tenho outra ideia. Vamos calçar as estradas que vão para minha fazenda e para a sua. Isso vai dar uns trinta quilômetros de paralelepípedos. Não é uma grande ideia? Depois você manda colocar nessa tal de nota fiscal, que foram cem quilômetros de calçamento.

PREFEITO- Até que é uma boa ideia. Se ninguém for medir depois...

FERRUCINHO- Que medir que nada! Eu quero é a minha grana de volta. E o pior é que você só tem seis meses. Também esse negocio de calçamento  não é  muito  bom para mim,  não. Aí eu vou ter  que  me lascar de trabalhar e eu não estou gostando nada disso. Só se atrasar o salário de nossos funcionários públicos. Eles vão se conformar. Você diz que foi para pagar a Ferrucinho. Eles são meus amigos. É até bom que eu faço agiotagem com eles. Ganho duas vezes.

PREFEITO- Aí eles fazem greve e o escândalo vai ser pior.

FERRUCINHO- Que nada! Mete a policia em cima deles. Já viu trabalhador cantar de galo! Quem canta de galo é a gente.

PREFEITO- Não. Eu vou fazer o calçamento da estrada de minha fazenda.

FERRUCINHO- Assim não vai dar tempo de fazer o da minha. Faça o meu calçamento primeiro. Depois você faz o seu. Assim o povo não fala que você está calçando a estrada por causa de sua fazenda.

PREFEITO- Quantos quilômetros são até sua fazenda?

FERRUCINHO- É perto. Só tem quinze quilômetros. Nisso aí, você vai poder desviar mais de um milhão de ferrões.

PREFEITO- Mas o pior é que só ficam três quilômetros dentro do município de Ferrugem. E se os homens de Ferrolho ou de Ferrilha me pegarem, o que é que vou dizer?

FERRUCINHO- Sei lá. Inventa qualquer coisa. Diga que foram quinze quilômetros e acabou. Se quiser eu confirmo.

PREFEITO- Mas a coisa não funciona assim não. Eu vou ter que provar. E o pior é que os homens lá de Ferrolho vem medir mesmo.

FERRUCINHO- Você pega a treina e corta no meio.

PREFEITO- Não dá. Eles vão trazer um aparelho e vão medir o calçamento.

FERRUCINHO- Se você quiser, eu tenho uma treinaem casa. Nolugar que tem o metro eu coloco quilometro, de caneta. Se eles reclamarem eu mando eles se respeitarem.

PREFEITO- Olha Ferrucinho. A coisa não é assim como você pensa. Quando esses homens vem aqui apurarem alguma coisa, eles vem cheio de policiais.

FERRUCINHO- Mas, aqui em Ferrugem não tem policia? A gente bota a daqui pra brigar com a de lá. Se a gente ganhar a briga, estamos salvos.

PREFEITO- Santo Deus!  Você não é normal, não. Você não  está  se  ligando. Se eles tiverem alguma dúvida, somos nós que teremos que chama-los para medir o calçamento. E onde é que eles vão achar uma avenida de quinze quilômetros na pequena Ferrugem?

FERRUCINHO- Boa ideia, essa de avenida. A gente coloca o nome da avenida de Avenida Ferrucinho Ferreira.

PREFEITO- É. Acabei de crer. Você é maluco mesmo.

FERRUCINHO- (falando alto) Eu moro aqui. Eu empresto dinheiro ao Prefeiito! Eu tenho fazenda aquii! Eu tenho um bocado de caaasa!

PREFEITO- Mas tudo isso, você ganhou fazendo agiotagem. Sabia que agiotagem é crime? Você pode ir preso por isso.

FERRUCINHO- Mas o juiz da cidade vizinha me disse que crime é não pagar o que deve. Por isso é que ele obrigou um trabalhador a me pagar o que me devia. Veja! O cara trabalha e diz que não tem dinheiro para me pagar. Já pensou?

PREFEITO- E o juiz obrigou o cara a lhe pagar?

FERRUCINHO- Claro! O cara tem o trabalho dele e sua mulher é professora. Você vê que cara descarado? Queria me dar o calote.

PREFEITO- Não é não. Às vezes as pessoas se apertam.

FERRUCINHO- Então, me pagassem os juros. Eu fiquei zangado porque tive que pagar os vinte mil ferrões ao juiz.

PREFEITO- Se você ficar falando isso por aí, o juiz lhe colocaem cana. Nãofique com essa boca calada, não...

FERRUCINHO- Eu por mim! De agora em diante ele vai ter que cobrar tudo para mim, de graça. Se ele está comendo na minha mão?

PREFEITO- Mas vai chegar ao ponto que ele não vai mais poder fazer isso, não.  O homem é juiz. Desse jeito, você acaba com ele e não vai achar outro juiz que lhe ajude. O juiz nunca deixa de ser juiz e você pode ir preso e não poder mais cobrar a ninguém, sabe disso?

FERRUCINHO- Ah! Se me prenderem eu boto a boca no mundo. É juiz, é deputado, é prefeeeeito, é delegado. Eu vou acabar com todos eles. Você não conhece minha natureza. Sou misera de gente.

PREFEITO- Sim. E nossos planos, como vão ficar? Fale uma coisa que não complique. Uma boa ideia.

FERRUCINHO- Eu queria que colocasse meu nome na tal avenida. É até bom que Ferrugem vai ganhar uma avenida. E com meu nome! Os  ferrenhos vão se sentir orgulhosos!

PREFEITO- Suas ideias não estão nada boas. Eu vou chamar Manteiga para a gente planejar alguma coisa juntos. Ô Manteiga!

MANTEIGA- Diga aí, meu amigo? (apertando a mão de Ferrucinho). O que é que você manda?

FERRUCINHO- É seu prefeito que está botando dificuldades para pagar o meu dinheiro. Você tem alguma ideia boa?

MANTEIGA- É o seguinte. É que não está vindo verba para o município. Faltam seis meses para a reeleição e os homens de Ferrilha e de Ferrolho trancaram tudo.

FERRUCINHO- Ah! Então não vem verba, não é? Então o Prefeito é um mentiroso! Então, você está me enrolando não é, Prefeito? E eu que confiava em você! Adeus, seus duzentos mil ferrões. Aqui ó (com o dedo médio).

GANSO- (chegando) Que confusão é essa aí?

 

                            NOVAS TENTATIVAS DE GOLPES

 

            Ferrucinho foi embora. Na sala, ficaram apenas Manteiga, Ganso e o Prefeito:

PREFEITO- Você é louco, Manteiga? Eu ia conseguir mais duzentos mil ferrões para terminar a minha mansão nas Ilhas gregas. Você botou tudo a perder. E agora, onde vamos conseguir dinheiro?

MANTEIGA- Como é que eu podia adivinhar o que vocês estavam discutindo? Se você se trancou no gabinete com ele? Eu pensei que ele estava lhe cobrando e você enganando ele.

PREFEITO- Tudo bem. Tudo bem. O que vamos fazer?

MANTEIGA- Pode deixa Ferrucinho pra lá. Agora, vamos trabalhar com Limalha.

PREFEITO- O pior é que Limalha é bem mais esperto que Ferrucinho. Você vai ter que ganhar ele no papo.

MANTEIGA- Deixe comigo. Ligue para ele e diga que eu quero lhe falar uma coisa. Se ele desconfiar da gente, diga a ele que é um grande negocio para ele ganhar dinheiro... e nós também.

PREFEITO- Do jeito que  aquele homem é  louco por dinheiro, talvez ele venha aqui hoje mesmo. É até melhor deixar para conversar com ele amanhã. Acaba Ferrucinho vendo ele entrar na prefeitura, vai querer saber o que é e vai atrapalhar tudo.

MANTEIGA- É mesmo. Tem razão. Vamos deixar para amanhã.

PREFEITO- Tem outro jeito também. Tomar dinheiro dos comerciantes que apoiam a gente. O pior é que é pouco dinheiro.

GANSO- Inventei uma ideia maligna. Soltaremos todos os bandidos que estão presos com a condição deles assaltarem a agencia do Banco de Ferro aqui da cidade.

 

                                         O DIA SEGUINTE

 

            O Prefeito ligou para Limalha e este veio imediatamente:

LIMALHA- Bom dia. O que é que meu Prefeito manda?

MANTEIGA- (apertando a mão de Limalha) O problema é o seguinte: tem uma verba que vai ser liberada até o fim do mês para fazer um calçamento na estrada que vai para aquele lugar que Ferrucinho tem uma fazenda. Sabe onde é?

LIMALHA- Sei, sim. E aí?

MANTEIGA- Eu fiz uma proposta a Ferrucinho para que ele nos emprestasse duzentos mil ferrões a um juro de dez por cento. Você sabe que a inflação dá menos de dois por cento não é?

LIMALHA- É. Aquele Ferrucinho é ganancioso demais. Por isso é que ele demora de ganhar dinheiro. Mas vamos fazer um acerto. Vocês me pagam oito por cento e a gente faz negócio.

PREFEITO- Olha. Está vindo uma verba de quatrocentos mil ferrões. Essa verba seria para aplicar na merenda escolar, no hospital publico que fica no Bairro dos Ferrenhos e no calçamento que Manteiga lhe falou. Então, você libera esse dinheiro pra gente e eu lhe dou um cheque pré-datado como garantia.

LIMALHA- Eu não quero cheque, não. Eu quero as escrituras de todos os seus imóveis, inclusive eu soube que você comprou uma ilha não foi? Sabe que eu tenho a maior vontade de ter uma ilha? Então...

MANTEIGA- Você sabe que escrituras só tem validade se o proprietário for no cartório e assinar.

LIMALHA- Não se preocupe, não. Eu dou um jeito. O juiz da cidade vizinha é meu amigo. Já tomou até dinheiro emprestado em minha mão.

MANTEIGA- O fato é que todos os imóveis do Prefeito fica em nome de amigos. Como vamos fazer essa transação?

LIMALHA- Então, não tem negócio. Eu não vou arriscar. Depois a verba se perde lá por Ferrolho e quem sobra sou eu. (saindo)

PREFEITO- Estamos perdidos. Só apelando para Fagulha ou então executar a ideia de Ganso.

            Manteiga ligou na mesmo hora para Fagulha e este apareceu uma hora depois, com seu sotaque arrastado:

MANTEIGA- (apertando a mão de Fagulha).O problema é o seguinte: tem uma verba que vai ser liberada no fim do mês e nós precisamos de um adiantamento. Estamos dispostos a pagar dez por cento dentro de trinta dias se você nos emprestar esse dinheiro. A verba que está vindo, importa em quatrocentos mil ferrões. Só nessa brincadeira você ganha vinte mil ferrões se nos emprestar duzentos mil. O que você acha disso? (disse sorrindo, esperançoso.)

FAGULHA- A gente faz o seguinte: passamos a casa do Prefeito e a sua casa, a ilha que ele comprou ano passado e a fazenda que ele tem, com tudo dentro, no meu nome. No dia em que vocês devolverem meu dinheiro, eu volto tudo para o nome de vocês.

PREFEITO- O problema é que não tem nada no nome da gente...

FAGULHA- E como é que vocês vão me pagar. Se vocês não podem me dar garantias?

MANTEIGA- É um problema de confiança. Você fica com o carro da prefeitura.

FAGULHA- Mas eu soube que você também tem carro. Porque não passa seu carro e a sua casa em meu nome?

MANTEIGA- Eu já não lhe disse que não tenho nada em meu nome? Nem eu e nem o Prefeito...

FAGULHA- Então, vocês querem dinheiro mas não podem dar garantias. Como é que vou poder emprestar? Desse jeito eu vou me lenhar!

PREFEITO- Olha. É pegar ou largar. Que a verba vem, isso vem. Com certeza. Se você não tiver interesse, eu arranjo outro agiota. O negocio é seguro. Por isso é que eu lhe chamei primeiro.

FAGULHA- E o que foi que Ferrucinho saiu ontem da prefeitura, zangado? Vocês já ofereceram pra ele e ele caiu fora, não foi?

MANTEIGA- Não! Ferrucinho veio tratar de outro assunto. Foi sobre a construção de uma avenida aquiem Ferrugem. Jáacertamos tudo com ele. Começamos daqui a uma semana.

FAGULHA- Se vocês quiserem eu construo a avenida.

MANTEIGA- E você tem máquinas?

FAGULHA- Não. Mas eu posso alugar as máquinas de Ferrucinho por dez mil ferrões e depois eu alugo a vocês por duzentos mil ferrões.

GANSO- E nós, não ganhamos nada?

FAGULHA- Mas vocês não telefonaram e disseram que tinham um negocio bom para mim? Não disseram que eu ia ficar rico?

PREFEITO- É claro que vai. Mas só se emprestar os ferrões para a gente. Você vai ganhar vinte mil ferrões sem fazer nada!

FAGULHA- E de onde é que           eu vem essa verba? É do céu, é?

PREFEITO- Não. É a verba mensal que vem de Ferrilha. São quatrocentos mil ferrões. A verba cai na mão do Governador de Ferrolho, que come cem mil. Os trezentos mil que chegam a Ferrugem nós podemos investir no que quisermos. E queremos investir em você, se você quiser adiantar os duzentos mil.

FAGULHA- Podemos fazer o seguinte: eu tenho um pedaço de terra que valem vinte mil ferrões. Eu vendo a vocês por duzentos mil ferrões.

MANTEIGA- Quantos hectares tem a terra?

FAGULHA- Uns dois ou três.

PREFEITO- Só isso? Como é que vou justificar a compra dessa terra numa área rural? E o que tem a ver com nossa conversa? Se tivesse uns dois mil hectares...

FAGULHA- É só medir com barbante e dizer que deu dois mil hectares. Manda Lui da Lua medir que a justiça aceita.

MANTEIGA- Mas o problema é que o pessoal de Ferrilha vem medir. Quando eles descobrirem a fraude, vai todo mundo pra cadeia.

FAGULHA- Eu não! Se a terra não fica em meu nome? A terra está em nome do juiz da cidade vizinha.

MANTEIGA- Sabe Prefeito. Eu quero conhecer o juiz da cidade vizinha. Vamos fazer negocio com ele.

PREFEITO- É meu amigo. Não dá para fazer negócio com você, não. Eu vou beneficiar o juiz, mesmo.

            O Prefeito e seus secretários ligaram para o juiz da cidade vizinha e o pediu que viesse ao seu gabinete para uma conversa:

PREFEITO- Tudo bem, Excelência? Eu soube que o senhor está sendo bonzinho para algumas pessoas da região. Nós queremos entrar nessa parada também.

JUIZ- Quem lhe falou dessas coisas?

MANTEIGA- O Ferrucinho me disse que se o senhor não fizer o que ele quer, que ele bota a boca no mundo e que também o senhor anda ajudando os agiotas a cobrar as explorações que praticam, não é?

JUIZ- Eu não sei de nada disso, não. Quem mais falou o que?

MANTEIGA- Ontem mesmo Limalha estava falando que tem vários cheques pré-datados do senhor e que o senhor andou fazendo umas cobranças para ele e para Ferrucinho.

JUIZ- Isso é mentira! Eu sou um juiz honesto e não posso andar errado.

PREFEITO- Mentira! (pegando o telefone) Manteiga, ligue para Ferrucinho e mande que ele venha aqui. Ele precisa dizer umas coisas a esse juiz. Ele não falou que provava tudo?

JUIZ- Ah! Ferrucinho. Eu cobrei uma dívida para ele mas não sabia que era coisa enrolada, não. Ele estava com o cheque de uma pessoa, não me lembro de quem...

MANTEIGA- Ferrucinho falou que o senhor sabia que o cheque era de agiotagem. Ainda falou que lhe deu vinte por cento.

JUIZ- Eu nem conheço direito esse Ferrucinho. Deve ser um mentiroso. Eu nem lembro bem dele...

MANTEIGA- Alô? Ferrucinho está? Preciso falar com ele. Ok!

JUIZ- Onde vocês querem chegar?

MANTEIGA- (desligando o telefone) Agora podemos conversar. Vai chegar uma verba de quatrocentos mil ferrões daqui a trinta dias e nós queremos emprestado duzentos mil ferrões a juros de dez por cento.

JUIZ- Se vocês falassem em vinte por cento e algumas escrituras como garantia...

PREFEITO- Eu nada tenho em meu nome. Está tudo em nome de amigos.

JUIZ- Então, nada feito. Se quiserem, podem me denunciar. É até bom para o povo porque nunca mais vocês vão ganhar uma eleição na urna eletrônica e ainda coloco todos vocês na cadeia.

MANTEIGA- O senhor está muito cheio de si...

JUIZ- Claro. Eu nunca vou ficar pobre. Agora, se eu obrigar vocês a devolverem tudo o que roubaram do povo aí sim, vocês estarão ferrados para o resto da vida.

PREFEITO- E o que eu tenho em nome de amigos, como é que o senhor vai tomar?

JUIZ- Eu sempre dou um jeito. Tem sempre outro juiz para fazer a minha vingança.

MANTEIGA- E os duzentos mil ferrões, vamos negociar ou não?

JUIZ- (gritando) NÃO! Eu não negocio com ladrão barato. Só com coisa grande e vocês três são ridículos. E não liguem mais para mim, entenderam?

            Os três corruptos ficaram em maus lençóis. O único jeito foi passar o calote no pagamento da compra da ilha e nos funcionários públicos, beneficiando assim, Ferrucinho. Quando o juiz foi embora, Ganso comentou:

GANSO- O homem é mais corrupto do que nós três juntos.

 

 

 

 

                             NEOLIBERALISMO NO CÉU 

                             

Pensamento: a falta de alimentos levam os animais à extinção e o ser humano à proliferação. Gilberto 07/1998.

 

                               PALAVRAS DO NARRADOR

 

            Esta é uma estória de um neoliberal que veraneava em Ferrilha e era possuidor de bens materiais como: grandes industrias com milhares de sub-empregos, latifúndios improdutivos, latifúndios irrigados no nordeste de Ferro e ilhados por grandes desertos áridos, canais de televisão, bancos, porém tudo o que possuía foi conquistado a duras penas com seu salário de deputado... apenas. Seu sócio, que possuía o dobro do que ele tinha, conquistou seu patrimônio da mesma forma que ele. Chamavam-no de Motinha e seus sócio, no submundo do crime, atendia pela alcunha de Nando II.

            Depois de várias estripulias, o chefe lá em cima, finalmente resolveu chama-lo. Como Deus finalmente entendeu que criou a elite num momento de fraqueza, resolveu fazer uma ressalva e punir Motinha. Chamou-o para si. Ao chegar lá em cima, Motinha encontrou vários companheiros, dentre os mais importantes eram destaques: Juninho, Medisse, Mussolini, Hitler, Trumann, Castelinho etc., tudo gente boa.

 

                                                 I PARTE

 

MOTINHA- Oh Deus! Fizeste sacanagem comigo. Ainda não atingi a casa dos setenta, tinha um grande futuro pela frente e ceifaste minha bela vida de uma cacetada só.

MEDISSE- Comigo foi a mesma coisa. Eu nem tive tempo de completar a Tranzazônica!

TRUMANN- O que ser Transazônica? Que nome complicado é esse?

MEDISSE- É uma estrada que liga o nada a lugar algum. Fica láem Ferro. Láé bom. É um país livre. Nós pegamos o dinheiro do povo e temos liberdade para fazermos  o que  quisermos.  É só  estar  do  lado  certo. Não é um país livre?

TRUMANN- Ser sim... sem dúvida. Há! Há! Há!

MOTINHA- Eu não gostei nada de ter que deixar o meu patrimônio na mão de Nando II. Ele não sabe administrar nem a casa dele. É capaz de deixar o MLT ocupar minhas fazendas.

DEUS- É, meus filhos. Eu já estou de saco cheio de ouvir tantas besteiras. Os bens materiais pertencem aos que moram na Terra.

MOTINHA- Ê? E porque o senhor não chamou o meu sócio, também?

DEUS- É porque o Nando II vive no mundo da lua. Também porque eu ordenei que ele esquecesse tudo o que escreveu e ele obedeceu.

MOTINHA- (falando consigo mesmo) Não era para eu vir agora. Eu vou me vingar de Nando II. Vou baixar num centro espírita e vou denunciar tudo para o povo. Eu não me conformo.

 

                              II PARTE – A MANIFESTAÇÃO

 

MÉDIUM- Eu sou Motinha e quero mandar uma mensagem...

DOUTRINADOR- Sim meu irmão, fale.

MÉDIUM- Eu gostaria que o senhor convidasse Nando II para conversar comigo, amanhã, aqui no centro espírita.

DOUTRINADOR- Sim, meu irmão. Iremos convida-lo.

                                             NARRADOR

            O convite foi feito, porem Nando II veio com uma conversa meio estranha, dizendo que não acreditava em Deus e que não acreditava em espírito e que foi por isso que os religiosos voltaram nele, mas resolveu ir, mesmo assim, pois estava perto da campanha política.

                                SEGUNDA MANIFESTAÇÃO

DOUTRINADOR- Irmão Motinha está presente?

MÉDIUM- Sim. Trouxeram o Nando II?

DOUTRINADOR- Sim. Está sentado perto de você.

NANDO II- (em tom de deboche) Assim não dá! Há! Há! Há!

MÉDIUM- Nando II. Você está cuidando de minha família assim como você me prometeu?

NANDO II- Estou sim. Eu trato sua família como trato o nosso querido povo ferrado.

MÉDIUM- Oh! Não seu traidor! Está deixando minha família passar fome, é?

NANDO II- Não! De jeito nenhum. Estão todos bem.

MÉDIUM- Não esqueça que ainda sou seu sócio.

NANDO II- Claro que somos sócios... em tudo!

MÉDIUM- O que quer dizer com isso?

NANDO II- É que eu estou tratando muito bem a minha comadre. Há! Há! Há! Agora, seus filhos, eu aposentei a todos antes que completassem quarenta anos. Eu juro. Satisfeito?

MÉDIUM- Ah. Isso foi uma prova de amizade, mesmo. E nossas fazendas, como vão, estão produzindo?

NANDO II- Tem um ano que eu não vou lá, mas tá tudo bem...deve estar, né? Eu passei tudo em meu nome. Dei um jeito no cartório... mas dei emprego para o resto de sua família e todos estão bem, ganhando salário mínimo. Só teve um problema com seu sobrinho que morreu de fome. Você deve ter encontrado com ele por aí, não?

MÉDIUM- Como!?

NANDO II- É. Não comia não. O salário não dava.

MÉDIUM- Seu miserável! Eu vou me vingar de você!

NANDO II- Como? Você já era.

MÉDIUM- Já era? Eu vou lhe perseguir até você tornar a lembrar de tudo o que escreveu.

NANDO II- Oh! Não! Não faça isso. (apavorado) Minha vida estava tão boa. Logo agora que eu vou ser reeleito com a ajuda do FME, CIA, Urna Eletrônica, TV Geral e outros bichos. Por favor, me deixe em paz.

            Nando II saiu impressionado e receoso. Ao entrar em seu quarto foi surpreendido pelo espírito de Motinha, hipnotizando e fazendo sexo com sua mulher, Ruzinha.

NANDO II- Seu traidor! Transando com a minha Ruzinha. E na frente de minha filha.

MOTINHA- (limpando o suor da testa) e atrás também!

NANDO II- Vou acabar com sua raça. Vou mandar lhe castrar!

MOTINHA- Esqueceu que já morri? Há! Há! Há!

 

                                               IV PARTE

 

            Motinha volta para a companhia dos seus.

JUNINHO- Motinha, meu amigo! Resolveu voltar!

MOTINHA- Ah meu jovem. Você precisava ver o pandemônio que eu fiz com meu sócio. (todos sorriram com o relato)

DEUS- Isso que você fez é pecado, meu filho. Mandarei você para o inferno! Você já veio de um, agora eu quero que experimente o outro. Ordeno que vá para o inferno! Já! E todos vocês também!

 

                                                V PARTE

 

            O inferno é um lugar com luz fraca, sempre variando as cores em ordem: verde, amarela, azul e branca. O Diabo é um velho com a cabeça branca e um chicote na mão direita. Ele é conhecido como Cabeça:

DIABO- Ah! Temos novos adeptos do inferno.

MOTINHA- O Diabo é o Cabeça!?

DIABO- Claro. Lá em Ferro eu uso o disfarce de gente.

JUNINHO- Papai!

MOTINHA- Porque aqui no inferno a luz é fraca?

DIABO- Somos abastecido pela Coelba, né?

MOTINHA- E se fizermos uma globalização da energia? Não já fizemos a privatização?

DIABO- Não dá. Acaba faltando luz no céu, aí Deus fecha o inferno para economizar e eu perco mais uma aposentadoria.

MOTINHA- Aqui tem telefone?

DIABO- Tem sim. É da Telemármore.

MOTINHA- Eu queria passar um trote para Nando II. Só para fazer gozação.

DIABO- Mas tenha cuidado para a linha não cruzar, senão Deus corta meu telefone. A Teleferro é da CIA.

            O telefone toca  no  Palácio  da Planície  Ferrada. O Presidente  de Ferro atende, um pouco nervoso:

MOTINHA- (em tom de deboche) Alô? É o Nando II? Eu fui transferido. Como vai seu reinado? Como vai Ruzinha e sua filha? Aqui é o Motinha, lembra?

NANDO II- (coçando a testa) Vá para o inferno! (bate o telefone).

 

                VI PARTE – DEUS CHAMA OS NEOLIBERAIS

 

DIABO- O homem mandou nos chamar.

MOTINHA- Pra que?

DIABO- Nunca pergunte, pra que? Vá! Manda quem é planeta e obedece quem é satélite.

JUNINHO- Já sei, papai. É para resolver a minha canonização. Vou virar santo! Oba!

DIABO- Deve ser. Você merece.

JUNINHO- (megalomaníaco) Oba!

DEUS- Fiquem calados. Eu vos chamei para comunicar a minha decisão de globalizar o inferno. Agora, Inferno, Céu, Purgatório, Paraíso e Terra, vai ser tudo a mesma coisa e...

MOTINHA- Vai ser um mangue!...

DIABO- Ninguém pediu sua opinião. Nando II foi atrás de você e acabou o povo descobrindo tudo.

JUNINHO- Eu tive foi um trabalho danado para enganar todos os deputados novamente. Já pensou que trabalheira? Comprar todos eles novamente?

CASTELINHO- Bom. Vamos ver o que o homem tem a dizer. Às vezes é até noticia boa. Um golpe... quem sabe é Deus.

DIABO- Não. Às vezes ele está se sentindo doente e quer que eu fique no lugar dele.

MEDISSE- Boa idéia! Porque não planejamos um golpe globalizado, assumimos o poder e privatizamos tudo. Só que os compradores somos nós e os avalistas, o povo.

JUNINHO- Vai ser o diabo...

DEUS- Não precisa nada disso. Isso é coisa antiga. Já está tudo controlado. Vamos globalizar  tudo e acabou.  Desta  vez  eu me senti  impotente diante das malvadezas do Diabo. Quem não aderir, morre de fome.

DIABO- E quem aderir, também. Há! Há! Há! Isso é que é um plano diabólico! Nisso, eu tenho experiência. Parece até que saiu de mim. O povo ferrado está acostumado a apedrejar seus heróis a mando de seus algozes.

JUNINHO- É mesmo, papai.

DIABO- Cale a boca! Aqui, quem man... negocia sou eu.

MEDISSE- E se o povo se revoltar?

DIABO- Chicote neles. Quando não aguentarem mais apanhar, nós lhe daremos um copo de cachaça e um pedaço de pão, aí eles ficam do nosso lado e tudo volta ao normal.

JUNINHO- Você é genial, papai. (beijando a mão do Diabo)

DEUS- Diabo! Está na hora de voltar à Terra. Nando II está precisando de apoio moral. Verifique se foi falha no sistema de controle da TV Geral.

DIABO- Isso eu garanto que não. O Martinho Ferreti é craque na arte de idiotizar as massas.

DEUS- Então, verifique o que fugiu ao controle geral.

DIABO- Deve ser alguma declaração idiota que ele fez.

DEUS- Como? Do tipo “o povo é otário” de Ciro Ferrado?

JUNINHO- Mas isso faz muito tempo. O povo até já esqueceu...

DEUS- Pior foi o jogador: “em Ferro não pode ter eleições porque o povo não sabe votar.”

CASTELINHO- Mas o povo continua sendo otário, não é?

JUNINHO- Até quando eu saí de lá, sim.

DEUS- Agora se apresse, Diabo.

JUNINHO- Tchau papai! (dando adeus)

DIABO- (no ouvido de Juninho) Vê se consegue enganar todo mundo aqui, para tomarmos o céu.

 

                                               VII PARTE

 

            O Diabo volta à Terra e, em forma de gente, transforma-se no terrível Cabeça e ruma para Ferrilha:

NANDO II- Ainda bem que você chegou.

CABEÇA- Que tumulto é esse por aqui?

NANDO II- Ah. Foi só porque eu fui chamar os aposentados ferrados de vagabundos e...

CABEÇA- Seu idiota! Esqueceu que você se aposentou aos 38 anos? Esqueceu que eu já me aposentei umas dez vezes, sem nunca ter trabalhado?

NANDO II- Ah! Perdão chefe! (ajoelhando e chorando copiosamente) Eu juro obediência. (cabeça dá um leve e sutil sorriso de vitória) Gostou dos festejos? Eu fiz em rede nacional, com feriado, bandeira a meio pau e tudo. A TV Geral quem me ajudou.

CABEÇA- Gostei não. Parecia mais um funeral.

NANDO II- Ah chefe, já comprei um bocado de aliados políticos, mas custou muito caro. Essa reeleição...

CABEÇA- Tem nada não. Manda o povo apertar mais o cinto. Até que ficam mais elegantes.

NANDO II- Não dá. É ano eleitoral.

CABEÇA- Deixa comigo. Vou pedir ao Martinho Ferreti para entrarem ação. Senão der certo, manda o Gilmar agir na urna eletrônica. Mas eu creio que a TV Geral vai resolver. É propaganda para os homens e novela para as mulheres.

NANDO II- E para as crianças?

CABEÇA- Usaremos o Xô da Xôxa. Nada mais. Criança não vota. Se gritarem, eu as mando para a Criançalária.

NANDO II- Mas deixe suas malvadezas para depois das eleições, tá?

CABEÇA- Claro. Eu sou malvado mas não sou burro. O homem mandou você se afastar do poder por uns dias.

NANDO II- Mas não vá se acostumando, não. O eleito fui eu. Mas, o que a gente faz com o Cabeça de ET?

CABEÇA- Manda ele fazer uma viagem. Você acha que eu vou deixar que ele me tome essa chance de ser o Presidente de Ferro?

 

                                             VIII PARTE

            Cumprindo sua missão, tudo sob controle, Cabeça volta para o Céu e encontra seus coligados que o recebe com festas e músicas.

JUNINHO- Papai! Meu herói!

DIABO- Andei fazendo umas malvadezas lá embaixo. Há! Há!

DEUS- Assim  não dá para negociar. Acaba o povo colocando em dúvida a minha idoneidade moral.

DIABO- Tem nada não. A TV Geral cuida de sua imagem... e via satélite.

JUNINHO- Não viu como ele cuidou da imagem de Dulcídia? Ela vai até virar Santa Ferrilda...

MOTINHA- Quando não tiver mais nada para a gente fazer, o que é que a gente faz?

DIABO- Desfaz e faz tudo novamente.

JUNINHO- Boa ideia. Então eu vou reencarnar logo, pra não demorar muito.

MOTINHA- Antigamente eu era de esquerda lá em Ferrorizonte mas quando conheci o Diabo...

DIABO- Há! Há! Há! Você era um bom menino. Você e seu amigo. Eu também era de esquerda, mas quando conheci o Céu...

MOTINHA- Como é que você consegue ir à Terra, dar as ordens e retornar para o Inferno?

DIABO- É porque eu fiz dois pactos: um comigo mesmo e o outro com a ordem do Advogados de Ferro.

 

                                               IX PARTE

 

            O Diabo se despediu de todos e voltou à terra. É que Nando II tinha um encontro com Bill Kid e precisava ser aconselhado para não fazer asneiras:

CABEÇA- Veja lá o que vai dizer ao homem!

NANDO II- Eu já li suas instruções, três vezes.

CABEÇA- Só não quero que você esqueça o que eu escrevi.

NANDO II- Lá vem o Bill Kid.

BILL KID- My boy!

NANDO II- Lá em Ferro vai tudo bem, todo mundo passando fome, um Estado da floresta foi incendiado...

BILL KID- Parcialmente. Eu queria a floresta inteira.

NANDO II- Na próxima seca eu mando incendiar o resto e plantar tudo de pasto e soja transgênica e não me interrompa mais senão eu esqueço de tudo o que o Cabeça escreveu para eu decorar. Levei três dias estudando... Ih! Esqueci.

CABEÇA- Eu sabia...

BILL KID- Você está fazendo muitas besteiras em véspera de eleição. Tem que ser competitivo para atingir a qualidade total. Use o 5 S.

CABEÇA- Temos nos esforçado. Até favelado está vendendo tudo para comprar computador e deixando de comprar comida para colocar créditoem celular. Nãoestá bom?

BILL KID- Então está bom mesmo. Cuidado para não descobrirem que computador não sabe plantar feijão e quando ele se enraiva, apaga tudo.

NANDO II- Mas quando descobrirem, já morreram todos de fome.

BILL KID- Agora vão embora que eu vou me divertir com minhas estagiárias.

NANDO II- Não dá para arranjar uma pra mim, não?

CABEÇA- Você já esqueceu isso também. Pede a benção e vamos embora para Ferro.

NANDO II- Ih! Deve ser mesmo. Parece até que eu sou um ferrado. Esqueço tudo rápido demais. Já esqueci...

CABEÇA- O sistema faz isso...

 

                                                X PARTE

 

            Ao entrar em seu quarto, lá estava Motinha materializado novamente, em cima de Ruzinha:

MOTINHA- Eu estou desfrutando de nossa sociedade.

CABEÇA- (sorrindo) Vocês são sócios em tudo, é?

NANDO II- Sai do meu quarto você também, Cabeça.

MOTINHA- Quando eu for embora, você esquece.

RUZINHA- Eu não tive culpa. Ele me hipnotizou!

CABEÇA- Há! Há! Há! Assim não dá! Esse país é um mangue mesmo. Só eu voltando lá para cima. Eu mandava matar os dois.

MOTINHA- Dona Ruzinha me disse que há quatro anos  ele só transa com o país, então...

NANDO II- É mentira dela! Eu transo com o povo também!

CABEÇA- Só esqueceu de transar com ela. Agora eu vou visitar minha capitania que está jogada às traças.

NANDO II- Saia de cima de minha mulher!

MOTINHA- Você pensou que ia ficar com tudo, é?

NANDO II- Mas o banco é meu. Você pode ficar com tudo, menos com meu banco.

MOTINHA- Pra que eu quero banco? Eu quero é prazer. Fique com seu banco europeu.

NANDO II- Não! O meu banco é nacional!

MOTINHA- Até a próxima vez.

NANDO II- (para Ruzinha) Na próxima vez eu lhe demito das Voluntárias Sociais, ouviu?

RUZINHA- Mas ele tornou a me hipnotizar! Eu não tenho culpa!

NANDO II- Está bem. O pior é que o Cabeça viu tudo e ele te um arquivo em que é anotada todas as suas malvadezas.

RUZINHA- E agora? Você também é culpado. Fica trazendo homem pra dentro de nosso quarto...

NANDO II- Ih! A culpa deve ser minha mesmo. Desculpe eu chegar sem avisar. (abraçando-a)

RUZINHA- Claro...

 

                                                XI PARTE

 

            Cabeça vai visitar seu latifúndio que é do tamanho de um estado de ferro. Dá as ordens ao feitor e volta para o céu:

JUNINHO- Papai!

DIABO- Já dei as ordens lá embaixo e agora vim dar as ordens cá em cima.

JUNINHO- Deus disse que quem manda aqui, é ele. Ontem ele me colocou de castigo. Vai deixar por isso mesmo, é?

DIABO- Se ele repetir, vou dar um golpe no céu.

JUNINHO- Mas papai...

DIABO- Eu mando no Céu, na Terra e no Inferno.

MOTINHA- Mas, você não é o testa de ferro de Martinho?

DIABO- Sou testa de ferro de sua mãe!

MÃE DE MOTINHA- Tira meu nome dessa sujeira!

DIABO- Cale a boca, sua vagabunda!

JUNINHO- Papai!

MOTINHA- Eu não xingo sua mãe porque você nunca teve. Você é um filho de chocadeira!

DEUS- Não briguem mais, meus filhos senão volta todo mundo para o Inferno.

DIABO- Quem vai para o Inferno é você. Aqui, quem manda sou eu.

DEUS- Toda vez que você vem lá de baixo, vem cheio de razão. Quando eu estiver de saco cheio, lhe trago definitivamente para cá.

DIABO- Aí eu lhe mando para o Inferno.

MOTINHA- É melhor deixar esse cara lá embaixo mesmo, Deus. Ele acaba lhe corrompendo também.

DEUS- É mesmo. Tem razão.

DIABO- (no ouvido de Motinha) Eu tenho um plano.

MOTINHA- Qual?

DIABO- Vamos privatizar o céu!

MOTINHA- Mas Deus já privatizou. Privatizou também sua imagem e a do filho dele. Viu como Didi Rossi e Bubú estão ganhando rios de ferrões com o nome dele... vai ter eleição, não é?

DIABO- Cale a boca e ouça. Eu fraudo as eleições e lhe coloco com Presidente do Céu.

MOTINHA- Mas vai ter que usar a urna eletrônica pois o homem é poderoso demais.

CASTELINHO- Eu organizo um golpe de estado. O Goubi me ajuda. Ele é especialista nisso.

GOUBI- Quem falou meu nome?

DIABO- Ta aí um homem de valor! (apertando a mão e tapinhas no ombro) Saudades dos anos 60, hein?

GOUBI- Eu tenho tanta saudade... ainda tem comunista em Ferro?

DIABO- Eu tentei acabar com o resto mas, quando eu mato um, aparece dois... Vou deixar que eles se acabem de velhice, mesmo.

GOUBI- Ah! Se eu pudesse voltar... eles iam ver como se tortura.

MEDISSE- Saudades do pau-de-arara! Eles falavam até o que não existiam. A pimentinha... eles deliravam. Viam até Deus... ou!

DEUS- Vocês só pensamem violência. Porisso que o Goubi era gerente do Inferno mas depois que o Cabeça apareceu, eu demiti o Goubi. Ele estava velho e caduco.

DIABO- Porque não colocou o medisse?

DEUS- Você acha que eu ia colocar meu santo nome em vão?

DIABO- Mudando de assunto, vamos fazer uma eleição aqui no Céu?

DEUS- Tudo bem. Meu candidato é Jesus.

JUNINHO- Quem é esse cara?

MOTINHA- É o filho do homem!

JUNINHO- Eu também sou filho do homem. Então eu saio contra Jesus.

DEUS- Jesus é meu filho com Maria. Ela mora naquela mansão da esquina.

DIABO- Então o senhor também deu sua trepadinha...

MOTINHA- Então Diabo. O jeito é você candidatar o Juninho.

DEUS- Assim não dá! Vou apelar para a reeleição com voto indireto

DIABO- Voto indireto? Eu pensei que o voto era secreto.

DEUS- Tudo bem. Mas eu nomeio os juízes eleitorais.

DIABO- Assim eu não tenho chance. Quanto ganha um juiz daqui?

DEUS- Nada.

DIABO- Oba! (no ouvido de Juninho) Eu capitalizo o Céu e compro todos eles.

JUNINHO- Não dá. Os juízes daqui já foram comprados lá na Terra e estão pagando penitência. Eu já sondei isso. Já esqueceu do escândalo do voto eletrônico? Já esqueceu do juiz de São Pedro?

GOUBI- Chiii. Só um golpe militar.

MEDISSE- Conte comigo.

JUNINHO- Não dá. A maior parte dos militares que davam golpes estão vivos na Terra.

MOTINHA- Eu tenho a solução.

DIABO- Diga!

MOTINHA- O jeito é comprar o filho do homem.

JUNINHO- Não dá.  Se ele já está com  a eleição  ganha,  porque  vai   se vender?

DIABO- É. Vamos todos para o Inferno e planejaremos algo malvado. Vou precisar de você, Goubi. Com a experiência que você tem em perversidades...

GOUBI- Prontamente chefe. Mal posso esperar!

 

                                               XII PARTE

 

            Todos no Inferno:

DIABO- Vamos todos nos concentrar no mal...

GOUBI- É comigo mesmo. Estou bolando uma ideia horrorosa!

DIABO- É pra isso que você está aqui.

JUNINHO- Eu também, papai! Uma ideia horripilante e malvada!

DIABO- Deixa o Goubi falar, pois ele tem experiências concretas.

GOUBI- Nós arranjaremos uma mulher de casa de massagem e oferecemos ao filho do homem.

JUNINHO- Ele não é donzelo?

MOTINHA- Nós filmaremos tudo e mostraremos que ele não é santo nenhum.

DIABO- Faremos o segundo escândalo sexual do Céu.

JUNINHO- Oba! Ideia macabra!

GOUBI- Como nos velhos tempos.

JUNINHO- Ah. Lembrei. Não dá. As prostitutas daqui também estão pagando penitência.

DIABO- Assim não dá!

JUNINHO- Eu tive uma ideia desgraçada. Cocaína!

GOUBI- Filme pornô!

JUNINHO- Tô pagando pra ver!

HITLER- Vai ser uma desgraça!

DIABO- Respeite o nome de minha companheira, oh Hitler!

 

                                               XIII PARTE

 

            De volta ao Céu, Deus os esperava:

DEUS- O que decidiram, meus filhos?

DIABO- Quero falar com Jesus, em particular.

JESUS- Vamos ali naquele canto..

            O Jesus deles é um jovem branco, loiro dos olhos azuis. O Diabo o leva para uma sala escura. De repente começam a projetar um filme pornô na parede. Jesus fixa o olhar para a parede ao mesmo tempoem que Juninhotapa sua boca com a mão e o Diabo tapa seu nariz com o pó:

DEUS- O que está acontecendo aí?

JESUS- Nada papai. Tô numa boa!

DEUS- Que palavreado é esse? Onde aprendeu isso?

JESUS- Não sei. Só sei que o Diabo vai ganhar essa eleição.

DEUS- Que pó é esse no seu nariz?

JESUS- É o néctar papai. É um pó diferente de poeira cósmica. É legal, papai!

DEUS- O que vocês fizeram com meu filho?

DIABO- O senhor ouviu o que ele disse. Juninho já está eleito e pronto.

DEUS- Se vocês insistirem nisso, eu reencarno o Juninho e pronto!

DIABO- Isso nunca! Eu preciso de alguém para controlar o céu!

DEUS- O Céu, quem controla sou eu! Vocês já controlam o Inferno e a Terra, não basta?

DIABO- Não! Temos que globalizar todo, já esqueceu?

MOTINHA- Pode deixar, Diabo. A gente vai controlando aos poucos.

DEUS- Nunca! Jamais permitirei o neoliberalismo no Céu. Eu sou um democrata e todos vocês vão para o inferno de onde nunca deveriam ter saído.

DIABO- Vamos meus coligados.

JUNINHO- Mas Deus não disse que ia globalizar tudo?

DEUS- Me arrependi e pronto!

DIABO- Vamos para o Inferno bolar outra ideia.

MOTINHA- (para Deus) Nós voltaremos.

TODOS- Unidos venceremos!

 

                                               XIV PARTE

 

            Foram todos para o inferno. Lá chegando, reuniram-se para planejar outras perversidades.

JUNINHO- Papai! Eu tive uma ideia dos diabos!

MOTINHA- Já? Rápido assim? Diga!

JUNINHO- Nós invadiremos o Céu e expulsaremos Deus e Jesus. Nós os acusaremos de terroristas. Vamos fazer como os Estados Unidos quando quer invadir um país que tem riquezas.

DIABO- E para onde mandaremos os dois? Na Terra não dá. Eles vão botar tudo a perder.

JUNINHO- Manda para a Lua.

DIABO- Não dá. Fica muito perto da Terra. Podem exportar influencias benéficas.

JUNINHO- E para onde os mandaremos?

MOTINHA- Manda para Marte!

DIABO- O planeta vermelho? Não dá. Eu já estou doido para acabar com aquilo ali.

GOUBI- Vocês já se esqueceram? Carnaval... Futebol...Rock...

DIABO- Grande! Você é um gênio! Vamos voltar para o Céu e fazer um carnaval dos infernos! A ideia foi minha, viu?

BUSCH- Vai ser o Diabo!

JUNINHO- Depois organizaremos a Olimpíada Planetária.

MOTINHA- Eu quero ver Jesus resistir a um carnaval.

JUNINHO- Mulheres peladas, drogas, cerveja...

DIABO- Trio Elétrico...

JUNINHO- Pulverizando o ácido...

MOTINHA- Como vamos trazer um Trio Elétrico aqui?

DIABO- Eu mando buscar em minha fazenda que ficaem Ferro. Látem pra dar e emprestar. Se for uma causa nobre como a nossa...

JUNINHO- E quem vai tocar?

DIABO- Tantos já se foram, ou melhor já vieram...

MOTINHA- E como vai fazer?

DIABO- Vai ser uma moleza. Eu consigo tudo o que eu quero. Não é sempre assim? Sou igual a Deus. Eu posso tudo! Eu vou a Ferrolho que é minha fazenda  e mando meu capataz providenciar tudo. Se tiver alguma falha, mando matar todo mundo.

                                                                        

                                               XV PARTE

O Diabo conseguiu trazer o Trio Elétrico e Juninho mandou instalar bicos para pulverizar o ácido. Depois de tudo organizado, polícia baixando o cacete, invadiram o Céu. Foi sucesso absoluto. Foi o IFOP anunciando índices falsos de 90% de aceitação celeste, o Diabo pintado de verde e amarelo, Motinha e Juninho vestidos de mulher, Medisse e Goubi com argolas de cigana, Mussolini e Hitler de batom rosa-choque, o Trio Elétrico pulverizando o ácido... Só se sabe que fizeram do Céu e do Inferno uma verdadeira Terra.

DEUS- Tirem essa coisa infernal daqui do Céu.

JESUS- Legal papai!  Tá tudo colorido! Chocante!

DEUS- Tá tudo o que?...  Pô cara, também tô vendo tudo colorido!

            De repente os dois juntaram-se aos foliões e tudo terminou num carnaval dos infernos.

 

Nazaré, 25 de julho de 1998

 

Obs: Qualquer semelhança com pessoas, fatos ou países, terá sido mera coincidência, pois trata-se de uma obra de ficção científica senão, estaríamos ferrados.

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