INTRODUÇÃO

Devido à escassez de profissionais qualificados no mercado de trabalho, a educação de crianças surdas se torna defasada tornando o ensino-aprendizagem de baixa qualidade. Desta forma, faz importante conhecer ferramentas de Inclusão Educacional para alunos surdos, principalmente no meio escolar, para que os

professores possam melhorar a compreensão deste público que é marginalizado, aqui entendida a palavra como, posto à margem, devido às suas limitações. 

A busca é por demonstrar que apesar das dificuldades e limitações que os profissionais dispõem para abordar o tema, este não pode ser mais ignorado como se não pertencesse às várias camadas sociais presente no cotidiano de todos.

Por ser notória a defasagem de inclusão de alunos surdos, apresentaremos duas ferramentas que podem auxiliar nesta abordagem: O Taxonomia de Bloom, que é uma classificação em seis níveis de cognição e a questão de inteligências múltiplas, que esta relacionada ao Quociente de Inteligência (QI), que é uma ferramenta que avalia a relação da inteligência com a faixa etária do indivíduo.

Também trazemos uma abordagem sobre a história da educação dos surdos, direcionando o foco para a Lei de Libras (Lei 10.436/2002), que pode ser visualizada como um marco referencial de mudanças sobre a abordagem do tema.

Ao nos depararmos com a questão de inclusão educacional, podemos ver que existem propostas sobre o tema, mas para que possamos explanar este tópico seguiremos o roteiro que vai desde as categorias de deficiências e as ferramentas de abordagem social até uma síntese da histórica da educação de surdos, pela perspectiva da promulgação da Lei de Libras (Lei 10.436/2002).

Neste trabalho faremos o uso de pesquisa bibliográfica, do tipo Exploratória, que de acordo com GIL, 2002 visa um acesso mais próximo com o problema investigado e oferece informações sobre determinada temática, facilitando a delimitação de um assunto estudado, tendo o objetivo de aprimorar as ideias e o planejamento flexível em relação ao fato apresentado.

 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Quando nos deparamos com a situação de alunos que possuem deficiência auditiva, podemos ver que o corpo discente do estabelecimento de ensino não está com o conhecimento necessário para viabilizar o entendimento para este público.

Tal forma de proceder por vezes é fruto da falta de contato que o instrutor tem com o assunto, a saber, inclusão educacional, e por tanto se torna uma dificuldade para os seus alunos.

No que diz respeito à inclusão de alunos nas escolas, podemos nos deparar com as 13 categorias de deficiências definidas pela Individuals with Disabilities Education Act (IDEA; Lei de Educação para Indivíduos com Deficiência), a saber: Autismo; Surdocegueira; Surdez; Distúrbio Emocional; Deficiência Auditiva; Retardo Mental; Deficiências Múltiplas; Deficiência Ortopédica; Outras Deficiências de Saúde; Dificuldade especifica de aprendizagem; Distúrbio de fala ou linguagem; Lesão cerebral traumática; e Deficiência visual incluindo a cegueira.

Este rol de deficiência apresentadas por Jan W. Valle e David J. Connor, em seu trabalho intitulado: “Ressignificando a deficiência: da abordagem social às práticas inclusivas na escola”, há uma descrição detalhada de cada uma delas.

Cabe ressaltar, que embora exista uma relação de deficiências, não se pode esperar que necessariamente haja uma relação harmônica entre a criança e a categoria, bem como não se pode ter a certeza que uma vez relacionada a deficiência, esta será uma condição social do aluno durante seu período letivo.

Por exemplo, uma criança com um distúrbio de comunicação poderia manifestar características de uma criança rotulada como tendo um transtorno emocional/comportamental; uma criança rotulada como atrasada em termos cognitivo e desenvolvimental poderia apresentar características associadas à dislexia (VALLE; CONNOR, 2014).

Aqui podemos visualizar que uma associação a uma determinada característica, não é considerado fator predominante para a determinação de uma abordagem, mas instrumento que norteia em abordagens sobre a deficiência.

A seguir demonstraremos as ferramentas que compõe o objeto do nosso trabalho:

Ferramenta 1 – Taxonomia de Bloom, baseado no trabalho de Benjamim Bloom e do grupo de psicólogos que liderou, buscou um sistema de classificação que recebeu o referido nome e apresenta seis níveis que vai do simples ao complexo.

Este sistema é composto, de forma geral por dois tipos de categorias, as que utilizam baixo nível de pensamento que são: conhecimento, compreensão e aplicação. Há também outra vertente que se relaciona ao alto nível de pensamento e abrangem: análise, síntese e avaliação.

Estudos mostram que a maioria das perguntas feitas em salas de aulas e em provas se encontra nos níveis mais baixos de cognição e gira em torno do que os estudantes se recordam das informações, sem necessariamente compreendê-las (VALLE; CONNOR, 2014, p. 104 apud Bloom, 1984).

Por meio desta ferramenta buscou-se, no estudo do cérebro, que os estudantes respondessem a perguntas com níveis altos de cognição e que participem de atividades que requerem mais do que memorização e aplicação (VALLE; CONNOR, 2014, p. 104 apud WOLF, 2001).

Na exploração desta percepção podemos visualizar que o cérebro é observado sobre uma ótica diferente, não apenas como um centro de resposta de certo/errado, mas, inclusive como uma ferramenta que se estimulada pode atender além do esperado.

Os tópicos abordados são divididos em Níveis, a saber: Conhecimento; Compreensão; Aplicação; Análise; Síntese; e Avaliação.

Através da utilização de verbos relacionados ao nível de conhecimento que se quer ter acesso, esta ferramenta permite um trabalho que pode integrar ou mesmo proporcionar uma adequação ao que se pretende com o resultado real. Para que possamos verificar algumas formas de aplicação utilizaremos alguns exemplos relacionando os verbos úteis com os níveis:

Conhecimento – Use, Cite, Encontre; Compreensão – Converta, Expresse, Construa; Aplicação - Resolva, Explique, Tente; Análise – Examine, Deduza, Selecione; Síntese - Crie, Associe, Construa; e Avaliação – Decida, Priorize, Avalie.

Cabe ressaltar que o que apresentamos acima trata de um rol exemplificativo, não totalizando o trabalho que pode ser explorado/estudado pelo Taxonomia de Bloom.

Ferramenta 2 – Inteligências Múltiplas, esta nova percepção postou por terra o Quociente de Inteligência (QI), que era tido como o referencial de inteligência de um indivíduo e era obtido por meio de um exame de avaliação.

 Por muito tempo, pensou-se que a inteligência era fixa, intata e quantificável, conhecida por um quociente de inteligência (QI). Entretanto, essa visão foi abalada pela teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner, em que ele defende que todos os indivíduos apresentam tipos variados de inteligências (VALLE; CONNOR, 2014, p. 108 apud GARDNER, 1983).

 Através desta nova percepção puderam-se trabalhar as dificuldades/limitações dos alunos de forma que o conhecimento passe a ser mais “natural”, podendo-se assim diminuir a distância entre o professor e o discente.

As Inteligências múltiplas de Gardner são: Linguística; Espacial; Lógico – matemática; Corporal-cinestésica; Musical; Intrapessoal; Interpessoal; e Naturalista.

No trabalho denominado “Ressignificando a Deficiência” (VALLE; CONNOR, 2014) os autores desdobram comentários sobre a abordagem das Inteligências Múltiplas, demonstrando através da apresentação de tabelas a relação entre as múltiplas inteligências e pessoas que possuem essas capacidades e pontua atividades que devem ser realizadas para desenvolver essas habilidades.

Com essa apresentação didática, o professor ou mesmo o educador pode se valer de tal conhecimento para procurar diminuir a distância que às vezes se apresenta entre o educando e o mestre. Claro que merece o comentário de que se trata de uma forma auxiliar no trabalho e não exaure em si mesmo todo o assunto.

Quando tratamos da inclusão educacional, faz-se necessário que se faça uma breve síntese de como a educação para os surdos aconteceu.

Segundo Sá, 2004, “primeiramente os surdos foram ‘descobertos’ pelos ouvintes, depois eles foram isolados da sociedade para serem ‘educados’ e afinal conseguirem ser como os ouvintes; quando não mais se pôde isolá-los [...]”.

Fica evidenciado que ao ter contato com esta nova forma de “comunicação” o mestre se expõe a uma realidade que não era trabalhada há alguns anos quando se tratava da Licenciatura ou no Magistério.

A própria evolução intelectual do público, como frisado por Sá demonstra que ao longo do tempo foi possível a este grupo se tornar visível e assim conquistar situações antes não exploradas, como por exemplo: a Promulgação da Lei de Libras (Lei 10.436/2002).

As associações de surdos tiveram um crescimento exponencial, a partir do século XVII na Europa, pois buscou trabalhar a parte social, bem exposto por Widel

O propósito das associações era manter uns aos outros em caso de doença, morte e desemprego. Além disso, as associações se propunham a fornecer informações e incentivos através de conferências e entretenimentos relevantes (WIDEL, 1992, p. 20-21).

Podemos evidenciar por esta perspectiva que a necessidade tornou esta camada da sociedade mais unida. Por não possuírem alto poder aquisitivo, sua contribuição se deu no âmbito social. Desta forma podemos verificar que apesar de não dispor de meios para alcançar conquistas maiores, esta camada social se torna presente e de sua forma particular procura consolidar suas conquistas que, podem ser verificadas pelas entidades que foram criadas com a causa da surdez em seu âmago.

Por oportuno, frisamos que no Brasil houve um grande avanço no que se refere à inclusão dos surdos no contexto social, pois através da Lei de Libras (Lei 10.436/2002), foi reconhecido através do seu artigo 1° a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), possuidor de estrutura gramatical própria para ser utilizada em comunidades públicas no Brasil.

A língua de sinais brasileira é um sistema linguístico normal, legitimo, e é eminentemente nacional, ou seja, oriundo de comunidades e pessoas surdas do Brasil. Em verdade, é interessantíssimo pensar na história dos surdos brasileiros, cuja lutas e ações fizeram com que a Libras vencesse as dimensões continentais do país e fosse difundida em todo o território nacional, respeitados os seus regionalismos (SÁ, 2011 p. 35).

Desta forma, podemos ver que apesar da demora quanto a abordagem do tema, este foi elencado e posto dentro do ordenamento jurídico e que por sua singularidade permite que este grupo, os surdos, possam ter uma forma própria de comunicação.

Pontuamos assim este avanço jurídico no que ser refere ao tema, a Inclusão Educacional para alunos surdos no meio escolar, pois trata-se de um questionamento que vem se delineando durante o processo de consciência que a sociedade adquire.

Ao se incluir esta percepção junto ao corpo legislativo que regem as relações entre a sociedade como um todo nos é posto um verdadeiro amadurecimento quando tratamos da Lei de LIBRAS.

           Fazemos uma referencia ao Artigo 4º, da Lei de Libras que assim dispõe:

O Sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais de do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, conforme legislação vigente.

Ao apresentar este artigo da Lei 10.436/2002 pretendemos demonstrar que houve desde a abordagem legislativa do tema, uma busca por proporcionar ao público que é vitima desta situação, os surdos, maneiras para que ocorresse a inclusão dos mesmos.   

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Até o dado momento, procuramos apresentamos de forma direcionada o que nos propusemos quando delimitamos o assunto, a inclusão educacional, e podemos ver este tema traz em seu bojo uma grande diversidade de ramificação, portanto buscamos delimitar dentro de alguns tópicos que acreditamos podem servir de parâmetros para a situação proposta.

Ao apresentarmos as categorias de deficiências, procuramos demonstrar que as deficiências possuem uma gama de definições e estas podem delinear grandes formas de trabalho para o docente. Para que o trabalho se desenvolvesse fez-se necessário um conhecimento prévio da existência de categorias de deficiências definidas pela Individuals with Disabilities Education Act (IDEA; Lei de Educação para Indivíduos com Deficiência) e uma vez afeto a estas categorias, buscou-se oferecer ao educador a apresentação das mesmas para que o professor possa identificar dentro de seu contexto de trabalho em qual segmento o seu instruendo se encontra e assim tornar a distância do aprendizado menor.

Prosseguindo neste intuito, após a referida demonstração do escopo destas deficiências, delineando sobre as diversas formas de abordagem, tratamos de duas ferramentas que podem auxiliar no trabalho do professor junto com o aluno na sala de aula, a saber: a Taxonomia de Bloom e as Inteligências Múltiplas de Gardner, que conforme apresentado no decorrer deste trabalho, aumentam a percepção do conceito de inteligência, sua forma de medição e o quanto alguns estereótipos do que vem realmente a ser descrito como inteligente estão sendo remodelados para fins de quantificação.

Por fim vislumbramos as inovações que ocorreram no decurso do tempo no que concerne aos surdos, no contexto de avanços sociais conquistados, pois eles obtiveram o reconhecimento de sua deficiência, por parte da sociedade, bem como o amparo legal que lhes foi dado para que possam ser incluídos dentro da sociedade, neste caso especificamente nos referimos à promulgação da Lei de Libras (Lei 10.436/2002).

Acreditamos que os objetivos propostos no decurso deste trabalho foram expostos de forma a demonstrar que houve um avanço no assunto e que existem formas de abranger este público, a saber, os surdos.

REFERÊNCIAS

BLOOM, B.S. Taxonomy of educational objectives. Boston: Allyn and Bacon, 1984

Brasil. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 25 abr. 2002.Seção I, p. 23.).

GARDNER, H. Frames of mind: the theory of multiple intelligences. New York: Basic Books, 1983.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

SÁ, Nídia Regina Limeira de, Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus: INEP, 2002.

SÁ, Nídia de. Surdos, qual escola?. Manaus:Valler e Edua, 2011. UNITED STATES DEPARTEMENT OF EDUCATIO. Individuals with Disabilities Educacion Act (IDEA) of 1990,P.L 101-476 20, U.S.C #  1400 et seq.; Amendments of 1997, 2004.

VALLE, Jan W.; CONNOR,DAVID J. Ressignificando a deficiência: da abordagem social às práticas inclusivas na escola. Tradução de Fernando de Siqueira Rodrigues. Porto Alegre: AMGH, 2014. Tradução de: Rethinking Disability: A Disability Studies Approoach to Inclusive Practices, 1st Edition.

Valle, J et al. The disability closet: teacher with LD evaluate the risk and benefits of coming out. Equity and Excellence in Educattion, Philadelphia, v.37, n1, p.4-17, 2004.

WIDELL, Joanna. As fases históricas da cultura surda, Revista GELES – Grupo de Estudos Sobre Linguagem, Educação e Surdez nº 6 – Ano 5 UFSC- Rio de Janeiro: Editora Babel, 1992.

WOLF, P. Brain matters: translating research into classroom practice. Alexandria: Association for Supervision and Curriculum Development, 2001.