A crise socioeconômica e política na qual o Brasil vem se afogando exige de nós uma profunda reflexão. Não se pode apenas atacar a onda fascista que arrasta a democracia a uma zona de risco jamais imaginada nestes 30 anos de regência da Constituição Cidadã, promulgada em 1988, encerrando mais de duas décadas de um regime ditatorial no país. Faz-se necessário também, e acredito que seja uma das ações mais importantes de serem feitas na luta contra o fascismo, uma profunda e sincera crítica aos governos de centro-esquerda que tivemos nas últimas décadas, encabeçados pelo Partido dos Trabalhadores.

Desde a queda da Presidente Dilma Rousseff, vítima de um golpe jurídicoparlamentar articulado pela cúpula do PMDB, até então aliado do governo e titular da Vice-Presidência da República, tem-se pensado e articulado o processo de retorno da centro-esquerda ao comando do Poder Executivo do Estado. É claro que a primeira pessoa a representar este processo seria Lula. Nesta perspectiva, o ex-presidente da República assumiu de forma gradual a crítica ao impeachment sofrido por Dilma, colocando-se como o fator de ruptura do golpe. Evidentemente outras figuras e partidos, representantes do campo progressista da política brasileira, trabalharam para participarem desta articulação, como o PSOL, o PCdoB, o PDT e o PSB. Uma coisa era certa, ninguém ousava desafiar a liderança e a popularidade do ex-presidente Lula. Vislumbrava-se, a longo prazo talvez, uma grande aliança progressista em torno de Lula para derrubar o governo golpista nas urnas e, consequentemente, frear o crescimento do deputado Jair Bolsonaro, representante da indústria de armamentos, das igrejas neopentecostais e do fascismo crescente em nossa sociedade.

Tudo mudou no dia 07 de abril de 2018, quando Lula foi preso pela Polícia Federal, em São Bernardo do Campo, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde a figura histórico-política do ex-presidente teve origem. Sua prisão abriria espaço para outras candidaturas e possível aliança em torno de outro nome. De todas as possibilidades existentes, a figura mais forte e preparada era a do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, do PDT. O também ex-ministro de Lula tinha o apoio de diversos setores da esquerda e centro-esquerda brasileira, até mesmo dentro do PT. Ainda assim, mesmo preso, Lula foi inscrito como candidato à presidência. Mas tanto o PT como qualquer outro ator deste drama nacional sabiam que Lula não seria o candidato petista a disputar a eleição. E também todos sabiam que o único nome que poderia derrotar o súbito crescimento das intenções de votos em Jair Bolsonaro era Ciro Gomes. No entanto, mais uma vez, o Partido dos Trabalhadores preferiu lançar-se à sorte do destino. Não aceitou se aliar ao PDT de Ciro, negociou apoios a eleições aos governos dos estados em troca dos partidos, como o PSB, não apoiarem Ciro Gomes e declararem neutralidade no primeiro turno da eleição presidencial, atacou vergonhosamente o candidato do PDT na campanha eleitoral, assim como fez com Marina Silva em 2014 e agora novamente. Mesmo com todas as pesquisas eleitorais mostrando que Ciro Gomes tinha a maior possibilidade de vencer Bolsonaro num segundo turno, o PT não aceitou abrir mão do seu projeto de poder, não abdicando da liderança da chapa presidencial. Fernando Haddad venceu Ciro, com ajuda da máquina eleitoral petista, mas será que, imerso em seus erros e contradições, o PT consegue vencer Bolsonaro? [...]