Uma casa confortável, família aumentando e crescendo, não havia falta de trabalho e as provisões eram suficientes. O mobiliário era simples; e em quase todas as casas era tudo era igual. As camas da marca Patente, e colchões com recheio de junco cheiroso. Os de mola surgiram muito depois. Bastava uma mobília na sala, uma mesa de quarto pés na sala de jantar e um guarda-louças. Nem em todas as casas havia uma geladeira, da marca GE, daquelas que às vezes dava choque na porta. Em algumas casas havia um rádio na sala, o que já era luxo. Salões de beleza não existiam; as unhas eram aparadas com uma tesourinha, tinham que estar muito limpas e “envernizadas” sei lá com que. Os esmaltes surgiram depois. Mulher de respeito não pintava as unhas de vermelho. Eram conceitos bobos, mas em nada prejudicavam.
À rua ia-se apenas por necessidade e as senhoras não saíam à noite a não ser acompanhadas. Os filhos, mesmo já casados, mantinham todo o respeito com os pais e aos domingos as famílias iam à igreja de sua religião, onde os ofícios religiosos eram momentos solenes, não eram usados microfones e as músicas eram sacras e belas. As crianças sempre andavam acompanhadas, brincavam nas pracinhas, onde havia pequenos balanços, gangorras, rodas giratórias e trapézios, e compravam pipocas salgadas ou doces. As doces eram cor de rosa e eu não gostava porque me davam enjôo. As filhas ajudavam nos afazeres domésticos e não raro se formavam em pedagogia.
Os rapazes pediam licença pra namorar as mocinhas junto ao portão e só iam ao cinema acompanhados de alguém da família dela. Depois do noivado o rapaz podia frequentar a casa da moça e ficar na sala até um pouco mais tarde. Quando algum dos pais começava a ir “disfarçadamente” até à sala e abrir a boca com sono, era o primeiro sinal para que o rapaz se mancasse e fosse saindo de fininho; e nada de ficar enrolando no portão. Tudo sem estresse. Noivado muito longo era motivo para que o pai da moça o chamasse de lado para uma conversa de homem pra homem sobre a data do casório.
Maridos metidos a machão costumavam afirmar: mulher minha não trabalha fora de casa. Aí também já era demais, me desculpem os antigos, mas o ideal era a mulher ficar em casa, se possível com empregadas, cuidando da educação dos filhos e do bem estar de todos. De vez em quando, orgulhosamente mais uma vez já começavam a exibir aquele barrigão, fazendo propaganda da macheza do marido e mostrando que eram boas parideiras. Os filhos cresciam e seguiam o modelo dos pais e tudo dava certo. Pena que o modelo foi ficando démodé e hoje, socialmente o globo parece estar girando ao contrário. Não generalizando, mas a felicidade dos nossos dias é muito diferente e significa dinheiro e luxo a qualquer custo. Ser feliz é morar num condomínio de alto luxo,
usar roupas de marca e outros motivos para ostentação, embora de um momento para outro a vida lhe leve para o fundo de um poço lamacento, como não faltam exemplos para nos orientar. Tudo vale pra se manter uma vida de luxo, como manter um amor espúrio até mesmo tentando enganar a si mesma, sacrificando uma criança inocente e já muito assustada, até ela perder a vida de uma forma cruel, pagando o preço da felicidade fútil e interesseira da mãe.
Autora: Junia - 12.4.21