Fazer valer o que vale

      Em uma época em que um hamburger custava bem menos que hoje, um garoto, flanelinha com pouco mais de 13 anos, entrou em uma lanchonete e, por medida de segurança, primeiro perguntou ao garçon quanto era um sanduiche simples. O atendente, com uma certa má vontade, respondeu 20,00. O garoto sentou-se a uma mesa e começou aa contar as suas moedas.

       Meio sem jeito, voltou ao atendente e refez a pergunta: quanto custa um misto quente? Mais uma vez houve pouca disposição em responder mas, 15,00 falou o moço. Mais uma vez, o garoto voltou a contar as suas poucas moedas. Meio desolado, minutos depois, se arriscou: prometo ser, pela última vez: quanto custa um pão na chapa, sem recheio? O atendente, já sem paciência ameaçou o garoto de estar importunando, que se não tivesse mais o que fazer, ali não era o seu lugar e, se não tinha dinheiro voltasse a trabalhar, ganhar mais e comer. Mas falou, 12,00.

      O menino se dirigiu ao caixa, efetuou o pagamento, esperou na mesa e  recebeu o pão. Com muita calma degustou o seu lanche que, de fato, era sua primeira refeição do dia, apesar de ser pouco mais das 13 horas, saiu sem chamar a atenção dos outros clientes que lotavam a lanchonete naquele horário.

      Entre uma mesa e outra, o garçon passou pela mesa onde o garoto comera e, como se estivesse livre daquele cliente que tinha tão pouco para gastar, recolocou a cadeira no lugar e começou a passar um pano na mesa e, de repente, um susto: ali estavam algumas moedas. Ele ficou meio sem entender e começou a contá-las: 3,00.  Ele contava e recontava as moedas. O menino não pedira o misto quente porque queria que sobrasse a gorjeta do garçon.

      Que lição, em fração de segundos, se pode extrai dessa passagem? Que sentimento nutrido pelo garoto atingiu frontalmente aquele garçon que talvez pela rotina, tenha se habituado a ver no guardador de carro ou em qualquer um outro cliente um acúmulo de serviço, ou ainda pela aparência simples, não o achar digno do mínimo de respeito, ou ainda pelo fato de ele também já ser vítima de maus tratos pela qualidade de vida que leva, falta de conhecimento de boas maneiras e capacidade de demonstrar carinho, atenção ou respeito? Quanto custa ser generoso?

      A generosidade não tem custo, mas tem um grande valor. Diante de tantos desafios e enfrentamentos seja no âmbito familiar, seja no trabalho, no trânsito, nas oportunidades de lazer há de se reconhecer quer praticar a generosidade é um primeiro passo para desarmar conflitos, aplacar ânimos e encontrar a paz. Quando a comunicação se torna um dos pontos mais fragilizados da sociedade virtual é preciso buscar meios que possibilitem a harmonia entre todos.

       A generosidade define caminhos essenciais à formação de um ser humano íntegro, nobre, que consegue conviver em equilíbrio com aqueles que o rodeiam, respeitando limites e reconhecendo o outro, como o grande responsável pela harmonia com o meio, a partir de si mesmo. Mas não precisa ir muito longe para começar a ser generoso. Existe uma expressão bem peculiar entre avós, mesmo quando pertencentes a classe sociais menos instruídas: quando a vovó vai cortar um pedaço de bolo para o seu neto querido, ela sempre se vangloria, de cortar uma “fatia bem generosa”, significa que ela caprichou no tamanho do pedaço. Então, paaraa sermos generosos precisamos de pouco: a oportunidade de por em prática esse senimento quue é um gatilho para disparar outros sentimentos e comportamentos.

      A generosidade é uma virtude que temos praticado pouco e menos ainda, ensinado. O resultado das ações de generosidade é que nos tornamos pessoas mais felizes, capazes de ver a vida de forma otimista e predispostas agir enquanto humanos bem intencionados. Por partir de gestos que nada esperam de volta o ser humano generoso demonstra sinal de abundância de sentimentos positivos. Trata-se da oportunidade de se buscar uma filosofia de vida, do tipo: “Na vida prática, uso o que tenho em favor dos meus; o que não sobra, aos que precisam”. Entre a caridde e a generosidade, temos que a Caridade é uma forma de distribuição, ceder ao outro, o que lhe sobra, o que não lhe fará falta, certamente, nos deixará felizes, pois proporciona ao outro, motivo de satisfação e alegria. Generosidade é uma forma de compartilhar o que você tem e que ainda quer, é ser gentil e permanecer na confiança de que nada lhe faltará.

       De que modo poderemos ser generosos a fim de econtrarmoss respostas para tantos impasses e conflitos pessoais e familiares?  Entre alguns exemplos de generosidade podemos tomar atitudes simples, como ceder o lugar no ônibus para uma pessoa mais velha, ou que pareça não estar em condições de ficar de pé.

        Um dos antídotos mais eficazes para a não generosidade é abrir espaço em sua vida para aqueles que realmente precisam de sua ajuda. Uma das maneiras mais fáceis de fazer isso é matar a fome e a sede de alguém, de preferência, de pessoas fora do nosso círculo social ou familiar. Pesquisadores indicam que em ambientes com crianças, as pessoas tendem a ser mais generosas. Então, aprende-se com o tempo a ser não-generosos?

       Embora seja vista como o oposto de interesse próprio, enumerar os benefícios pessoais da generosidade é uma das etapas mais importantes para começar. Ao receber seu próximo pagamento, transforme sua primeira despesa em um ato de doação. Muitas vezes, esperamos para ver quanto nos resta antes de determinar o quanto podemos dar. O problema é que, na maioria das vezes, depois que começamos a gastar, não sobra nada. O hábito de gastar tudo isso está profundamente enraizado em nossas vidas. Para neutralizar esse ciclo, sejamos generosos primeiro. Sejamos, de antemão, gratos por tudo.

  • Sebastião Maciel Costa