Fatal

 

             Dois médicos jovens, Eduardo e José após uma cansativa manhã de atendimento foram almoçar no restaurante do hospital onde trabalhavam. Trocaram idéias sobre a vantagem de atender a domicílio para aumentar a renda e poder pelo menos, conseguir alguns dias de férias com a família. Também concordaram em relação à necessidade de fazer o máximo de economia.

            Após a sobremesa, Eduardo levantou-se e foi ao banheiro. Retornando falou para o amigo:

── Fui escovar os dentes, pois tenho várias consultas para  atender à tarde.

── Por que não fazes como eu ── retrucou José. Quando atendo chamados, após almoço ou janta, solicito permissão para ir ao banheiro.  Sempre encontro uma pasta dental, uso os dedos e dou uma tapeada.

             Eduardo gostou da idéia, pensando que também a adotaria. Alguns dias depois desse encontro, ele estava terminando de jantar, saboreando uma pizza de alho e óleo, quando telefonaram para que fosse atender uma velhinha que estava com a pressão arterial descompensada.

            Saiu às pressas. Lá chegando, como costumava fazer, cumprimentou a paciente. Antes da consulta, lembrando do que comera e da dica do colega José, foi ao banheiro. A pasta estava em cima da bancada, bem ao seu alcance. Com ela e os dedos lavou os dentes.

 Quando quis abrir a boca, não conseguiu. Ela estava grudada Não poderia falar e muito menos atender. Na azáfama, não tinha percebido que o creme dental era Corega, usado para firmar dentaduras.