O que é consumismo? A palavra é um neologismo ainda não de todo assimilada pelos lexicólogos. Vem de consumo. Mas um consumo compulsivo, um gasto desmesurado, aplicando-se as riquezas na satisfação das necessidades pessoais. Consumismo, então, é a gastança descontrolada, quase doentia, a que estão sujeitos os indivíduos que se deixam engodar por uma sociedade voltada para a produção e a comercialização do que se produz, sob a intermediação de um instrumento que pode ser altamente nocivo chamado marketing.

Sabemos que esta é uma febre mortal que acomete a sociedade moderna e a joga sobre o leito da gastança. Tanto que nossa sociedade já foi devidamente catalogada como "sociedade de consumo". Mas, por que ela nos escraviza? Por uma razão muito simples: Nossos olhos se deixam levar pela aparência e somos muito susceptíveis às novidades. Além disso, há um sentimento perverso que nos corrói: a inveja. Se utilizamos um bem material para satisfação das necessidades econômicas próprias, e o fazemos descontroladamente, e se compramos para o gasto próprio de maneira abusiva e obcecada, então já fomos mordidos pelo agente transmissor dessa febre. O difícil é sair dela; curar a doença!

 

O consumo como "deus" destes tempos mercadológicos

                A complexidade dos tempos modernos, no que diz respeito ao consumo, é tamanha que não podemos nos descuidar do que ocorre à nossa volta. O "deus-consumo" arregimenta uma legião de fiéis que diariamente acorrem aos seus templos para piedosa e dispendiosa devoção. Se a nossa cultura industrializada depende dos consumidores para subsistir, muitos dos cidadãos tornam-se fanáticos nesta empreitada. O problema do consumo, não é o fato em si, mas o excesso, o consumo do descartável, a consumição indevida, desnecessária, descontrolada.

                A própria sociedade se incumbiu de preparar as arapucas mercadológicas para aprisionar o consumidor inveterado: cartões de crédito, cheques pré-datados, crediários, além dos famosos caderninhos de balcão. Somem-se a isto as facilidades: comprar sem dinheiro, pagar depois, parcelar, dividir em inúmeras vezes, à perder de vista... Crédito pré-aprovado, facilidades etc. Comprar, consumir, gastar... Quem, pelo menos uma vez na vida, não caiu nesta armadilha? O importante é, quando se cai, aprender logo a lição para não mais voltar a incorrer no erro. Caso contrário, aos poucos, o indivíduo vai entrando numa consumpção terrível, em que ao consumir, é consumido; ao gastar, se gasta e se desgasta. A pessoa consumptível é aquela que entra num processo de definhamento gradual, porém lento, em que seu organismo vai se desintegrando. O consumidor voraz pode atrair sobre si este tipo de consumptibilidade na forma de doença psicossomática, à medida que perde o controle da situação.

                O "deus-consumo" é insaciável. Nunca está satisfeito. Mais ainda, não se contenta com pouco, ao contrário, quanto mais alimentado é, mais tem sua fome aumentada. É cruel e implacável. Quer sempre tornar seus suditos e fiéis cada vez mais dependentes dele. Cuidado! Há muitos que não tiveram volta neste caminho tortuoso.

 

Os shoppings-centers como templos desse novo culto

                O culto ao consumismo tem como ponta de lança a superficialidade da vida moderna em que o "ter" se sobressai ao "ser"; em que a aparência conta mais ponto do que a essência; em que se valorizam mais os valores da estética do que da ética; em que se está mais interessado no invólucro do que no conteúdo, na casca do que na polpa. Vivemos os estertores de várias gerações que valorizaram o corpo mais que o espírito. E como conseqüência, vivemos num mundo de futilidades e transgressões.

                Lembremo-nos da situação degradante porque passou Saul, o primeiro rei de Israel. Depois de ter sido ungido rei sobre o povo, desobedeceu às ordens expressas de Samuel, o sacerdote, contrariando a vontade de Deus e colocando a culpa no povo e acrescentando que o motivo era nobre como se os fins justificassem os meios (1Sm 15.1-31). Na seqüência, quando ocorre a escolha do novo rei, dentre os filhos de Jessé, ao deparar-se com Eliabe e com ele ficar impressionado, Deus disse para Samuel: "Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como vê o homem. O homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração" (1Sm 16.7). Deus vai mais além da superfície. Ele nos conhece por dentro. E como está o nosso "eu" interior?

                Nunca se viu tanta gente vazia. Vazia de amor, de afeto, de respeito próprio. Vazia de Deus. Esse niilismo é algo extremamente prejudicial à vida em sociedade, pois vem a ser um posicionamento ético-teológico que prescinde de Deus, ao incorporar uma descrença absoluta. O indivíduo que se deixou amordaçar pelo consumismo, passa a ter uma visão materialista e utilitarista da vida, desejando a qualquer custo os objetos de sua predileção seja por força de atração e sedução da mídia, seja por influência do grupo, do meio social, das circunstâncias mais próximas.

                O estrangulamento da qualidade de vida e o aniquilamento dos relacionamentos humanos como forma agregadora de emoções, sentimentos, experiências, compartilhamento, tudo visando ao crescimento do indivíduo como um ser holístico é a marca deste tempo. Para atender a demanda do consumismo, foram erigidos verdadeiros templos, catedrais modernas, para onde afluem os fiéis a cada dia. São os shoppings-centers. Suas portas estão sempre abertas, os apelos a epiderme são grandes: sentir, ver, tocar, saborear, vestir, curtir. O cristão precisa estar atento quanto às formas avassaladoras com que o Diabo tenta seduzir-nos, dentro de sua estratégia de atrair a vista, despertar desejo, aninhar-se no coração, maquiar a razão e promover corrupção.

 

Buscando a verdadeira satisfação da vida

                Se vivemos numa sociedade tão voltada para a aparência, que valoriza tanto os aspectos não essenciais da vida, onde estaria a verdadeira satisfação para o indivíduo? A sanha de consumo pode representar um tipo de fuga pela trivialidade, em que o indivíduo se esconde atrás de uma posse qualquer, seja uma roupa nova, um sapato, um artigo mais caro ou mesmo em frivolidades como jogos eletrônicos, lanches fast-food ou quinquilharias chinesas ou paraguaias de pouca utilidade e durabilidade.

                Ou seja, o consumismo pode estar a revelar uma insatisfação ou inadequação de alguém ao seu modus vivend. Isso gera insegurança, medos, complexos e temores. E o indivíduo pode estar trocando sua razão de existir das coisas essenciais como o ser humano, a cultura, a fé, para as descartáveis, em uma sociedade de consumo que sempre se aprestará em nos oferecer a melhor opção, mesmo que à luz dos interesses de quem vende. Há todo um jogo de sedução na arte do consumo. O vendedor - esteja ele representado por que indivíduo seja na escala da transação -, está interessado em fazer transferir o dinheiro do seu bolso para o dele. Em última instância, é dessa máxima que se estabelece o comércio.

                O crente deve ter muito cuidado com as investidas falaciosas de nossa sociedade de consumo. Se as propagandas prometem realização, felicidade, alegria, satisfação, sedução, conforto, prazer e muito mais; em apelativos comerciais para convencimento dos incautos, os cristãos devemos ter consciência de que nossa satisfação maior não está nas coisas desta vida. Há bênçãos que nos são distribuídas desde a nossa conversão e aquelas que nos são prometidas para a vida futura.

                O Apóstolo Paulo alerta no sentido de que nossa expectativa em Deus deve ser maior do que qualquer coisa que venhamos a ter ou experimentar neste mundo: "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais infelizes de todos os homens" (1Co 15.19). Além disso, Paulo mostra que o que Deus tem para nós não tem nada a ver com aquilo que muitas vezes ficamos ambicionando, cobiçando, nesta vida, ao afirmar: "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam" (1Co 2.9). O mesmo Paulo que assim cria e vivia era o que podia também declarar: "Porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia" (1Tm 1.12). É o mesmo que ouviu de Deus esta especial afirmação: "A minha graça te basta" (2Co 12.9).

 

Cada um deve viver como Deus quer

                Se cada crente tiver consciência da crueldade que promove a sociedade de consumo em que um pode ter algo, outro não; uma criança possui tal ou qual brinquedo, enquanto outra sofre ao vê-la brincando sem sequer poder sonhar em um dia possuir um exemplar; filhinhos de papai desfilam em roupas de grife e carros luxuosos, enquanto uma multidão se apinha em conduções coletivas, vestindo o roupão diário, então seremos mais atenciosos com relação ao valor da vida. "A vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui", é o que Jesus asseverou (Lc 12.15). Assim, precisamos aprender a viver sobriamente, com temperança, optando por um estilo de vida simples, sem ostentação, sabendo honrar aquele que nos chamou e que há de ser fiel para conosco, mesmo que sejamos infiéis.

                A Bíblia nos dá o exemplo de Paulo que sabia se contentar com o que tinha. Ele sabia que em qualquer situação, podia contar com a presença e proteção divinas (Fp 4.11). Por isso podia afirmar: "Sei passar necessidade, e também sei ter abundância. Em toda maneira, e em todas as coisas aprendi tanto a ter fartura, como a ter fome, tanto a ter abundância, como a padecer necessidade" (Fp 4.12).

                Encontramos, também, na Bíblia a exortação no sentido de seguirmos o exemplo deixado pelos servos de Deus, acreditando sempre em sua proteção: "Seja a vossa vida sem avareza, contentando-vos com o que tendes, pois ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei" (Hb 13.5)

               

Aplicações para a vida

                Algumas verdades bíblicas que nos ajudarão a enfrentar a sociedade de consumo em que vivemos:

                1ª) A família deve buscar as coisas que são de Deus prioritariamente - É isto que nos exorta Paulo com propriedade: "Portanto, se fostes ressuscitados com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus" (Cl 3.1).

                2ª) A família deve reconhecer que o necessário nunca lhe faltará - O salmista diz: "Nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão" (Sl 37.25). Nenhum crente sincero deve temer por sua vida.

                3ª) A família deve ter consciência de que nada trouxe e nada levará deste mundo - Se "nada trouxemos para este mundo, e nada podemos levar dele" como afirma Paulo, viver obcecadamente querendo ficar rico, pode levar ao desvio de Deus e à ruína, se colocar o amor no dinheiro (1Tm 6.7-10).

                4ª) A família deve contentar-se com as coisas simples - Paulo recomenda a vida simples: "tendo, porém, sustento e com que nos vestir, estejamos contentes" (1Tm 6.8).

                5ª) A família deve confiar em Deus, Jeová-Jireh - Com certeza, vivendo pela fé, como deve ser a vida do cristão, seremos assistidos por Deus, em cada circunstância, pois ele é um Deus provedor como descobriu Abraão no Monte Moriá (Gn 22.1-14).