O mundo vive um momento sui generis de total descontrole sobre a aplicação e vivência de princípios e valores nas relações sociais. Ninguém quer receber instrução e ninguém quer ser taxado de "chato" por querer organizar, disciplinar ou manter as bases da boa convivência. Há um alto preço a se pagar, inclusive nas próprias igrejas. As instituições que deveriam ser reguladoras da ordem e da boa conduta soçobram diante do caos imperante. A Família transferiu para a Igreja a responsabilidade da educação religiosa e a Igreja, em muitos casos, faz o jogo do sistema e não quer manter firme a sua conduta cristã, abrindo brechas para o Inimigo.

                Acusa-se a Igreja de ter-se transformado em "clube social" para onde todos afluem embonecados, no desfile semanal da passarela da moda. Se a Igreja não se mantiver firme na pregação do Evangelho e na condenação do pecado, ela perderá a sua relevância para uma sociedade já em extremo decaída. Já no livro de Deuteronômio temos a instrução divina acerca do zelo que a família deve ter na preservação da fé em Deus e da experiência religiosa: "Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração. Tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, andando pelo caminho, deitando-te e levantando-te" (6.6,7 - ECA).

                Vamos estudar um pouco acerca da situação vigente em nosso mundo e como a família precisa ser instrumento de Deus para preservação de princípios e crescimento espiritual de seus membros.

 

Reconhecendo os desvalores do mundo presente

                Diz-se que "uma nação está condenada a repetir os seus erros se não conhecer a sua história". Muitos crentes querem "tapar o sol com a peneira" dizendo que os tempos modernos são outros e que os nossos jovens e adolescentes precisam de mais espaço para respirar suas idéias e valores. Conheço muitos pais que se arrependem amargamente disto, ao verem hoje seus filhos nas drogas, com lares desfeitos e fora da Igreja porque eles, pais, não souberam reconhecer a maldade do mundo e pôr limites em suas vontades. O que a psicologia pregava sobre a não-recriminação, hoje ela ensina ao contrário: saiba estabelecer limites!

                Vivemos uma era de amplas possibilidades. O acesso aos bens de consumo e às idéias se tornou mais democrático, embora muitos ainda não possam dispor dos cenários e adereços de seus sonhos. A questão é que junto com o ouro veio o cascalho. E é esse lixo moral que a família não pode permitir que entre em seu lar. Nossa sociedade é uma sociedade permissiva, onde tudo é possível desde que haja certas regras e compromissos. Só que, quase sempre, estas regras opõem-se à ética cristã. Daí que, entre ficar com o socialmente aceitável e o biblicamente recomendável, o crente deve optar pelo segundo.

                Segundo os padrões da sociedade, pode-se consumir álcool, desde que seja socialmente; não recrimina-se quem fuma, desde que respeite os locais para não-fumantes; não há problemas numa pequena mentira, afinal os fins justificam os meios; relacionamentos sexuais pré-conjugais não são questionados, desde que sejam motivados pelo amor e outras explicações do gênero. A questão é que a moral do mundo é diferente da moral cristã.

                Na sociedade em que vivemos houve uma inversão de valores, em que o certo passou a ser o errado e vice-versa. Ai de quem contrarie o sistema, por uma conduta díspar. As adolescentes têm vergonha na escola, de proclamarem-se virgens, pois as colegas zombam na cara. Este é o mundo em que vivemos. As famílias precisam estar bem entrosadas, unidas, num relacionamento onde reina o amor, o carinho e a compreensão para que os mais novos possam suportar todas as pressões a eles sobrevindas.

               

A importância de se estar firmado em princípios

                Concluímos, então, pela importância de se estar fundamentado em princípios e valores normativos que sirvam de balizamento para que os membros da família possam pautar suas ações e ancorar seus ideais.

                Que princípios, para a família, seriam estes, à luz das Escrituras Sagradas?

                a) O princípio do respeito mútuo - Uma boa convivência na família não prescinde do respeito para poder existir. O respeito deve existir tanto entre cônjuges, quanto de pais para filhos e destes para com seus progenitores (Is 9.15; Mc 12.6). Todos querem ser felizes e alcançar sucesso na vida, mas isso começa com uma boa base no lar, assegurada pela valorização que cada um faz do seu familiar - este próximo tão próximo -, que Deus colocou perto da gente para nos ajudar a ser alguém neste mundo.

                b) O princípio da solidariedade responsável - Outro princípio importante concernente à família é o da solidariedade responsável. Precisamos nos interessar pelo parente; investindo nele o que pudermos; esforçando-nos para torná-lo um vencedor; cooperando para resolver seus problemas; apoiando-o em suas necessidades; encorajando-o e estimulando-o em seus desencantos; sustentando-o com as nossas orações e "chegando junto" (At 16.9) quando ele estiver precisando, seja em que área for de sua vida. Não fora pelo instinto de preservação, que o sentimento de fraterno interesse pelo membro da família, nos leve a tornarmo-nos empáticos (sentindo junto com o outro) em suas alegrias e tristezas.

                c) O princípio da obediência à liderança - Este é um princípio muito desgastado nas famílias hodiernas. A obediência a qualquer tipo de liderança começa no lar (Ef 6.1-9). Pais que não se dão ao respeito, que não exercem uma autoridade com amor, que não disciplinam seus filhos com compaixão, que se tornam verdadeiras marionetes nas mãos de abusadas crianças sem limites, estão pondo a perder o futuro de seus filhos. Costumo dizer que é melhor usar a "vara" em casa, do que deixar os filhos apanharem da vida. Em casa a disciplina será com amor. Na vida, a correção virá cruel, em forma de vingança, implacável e sem apelação. A criança que não respeita os pais em casa, não obedece aos professores na escola, não aceita sobre si nenhuma autoridade seja religiosa (pastor, diácono), política ou qualquer outra institucional (médico, policial) dentre outras. Não se quebra este princípio impunemente. A conta virá futura, porém amarga.

                d) O princípio do amor sincero - Como não poderia deixar de ser, não pode faltar o amor na família. O amor agape, despojado, incondicional. Amor doador, de entrega, que se espelha no próprio Cristo, que vê no outro o alvo das atenções. Aquele amor, que não espera nada em troca, amor altruísta, visionário, cheio de renúncias e interesses solidários (1Co 13.1-13). Amor sem desconfiança, sem competitividades, sem outros interesses menores. Somente o amor é capaz de fazer do lar um espaço de vitória, de prazer. Irmãos, pais e filhos que se amem cooperam para o crescimento auto-sustentado da família, do ponto de vista do amparo e proteção emotiva. E num mundo tão destrutivo e estéril em que vivemos, nada melhor do que um lar assim estabelecido.

                e) O princípio da espiritualidade prioritária - Também para com a família este princípio tem muito valor. A orientação do Mestre: "Mas buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas as demais coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33), mostra que quando as questões espirituais estão indo bem, Deus cuida do resto. Se a casa não for provedora de espiritualidade, o mundo não vai poder oferecer isto para os nossos filhos. É de responsabilidade dos pais agir espiritualmente em direção aos seus, com: oração, leitura bíblica, devoção, cultos e valorização da Igreja como instituição divina. Cada família deve exercitar a confiança do salmista, entregando ao Senhor todo o seu caminhar e confiando nele (Sl 37.4,5).

 

Cuidando-se para não cair nas armadilhas de Satanás

                Estamos falando de uma diferença crucial existente entre os padrões espirituais de conduta e a prática do mundo moderno. Definitivamente não há comunhão entre a luz e as trevas (2Co 6.14-18) e as famílias cristãs precisam se precaver contra as astutas ciladas do Inimigo visando a derrotá-la.

                Desde os primeiros momentos da humanidade, percebemos esta artimanha satânica para enganar o homem. A primeira família caiu porque desobedeceu a Deus, enganados que foram pela Serpente, iludidos por suas promessas e fantasias (Gn 3.1-7). A função do Diabo é esta: mentir, enganar, perverter, falsificar, ludibriar, mudar a aparência, tornar o bom ruim e o ruim, bom.

                Muitas famílias têm-se deixado levar pelas falsas aparências de santidade de pessoas; espiritualidade, de certas práticas religiosas; boa intenção, de certos apelos; qualidade, de alguns produtos; honestidade, de alguns programas; etc. A vista engana, a aparência pode ser obscurecida pelo engodo. Devemos olhar com os olhos de Deus: "O Senhor não vê como vê o homem. O homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração" (1Sm 16.7).

                Atividades, festas, programas, colégios e cursos, amizades, envolvimentos, conversações, brincadeiras e vários outros tipos de comprometimentos que parecem, em princípio, ser tão ingênuos e sem maiores complicações são, muitas vezes, agentes de Satanás para perverter, desencaminhar, obscurecer, afastar, minar a fé e fazer com que gente criada na Igreja, hoje esteja de paquera com o mundo senão de todo enrascada com as coisas desta vida (Hb 12.1). Muitos pais são extremamente ingênuos em conduzir seus filhos. Estão sendo por eles ludibriados e posam de amigos dos meninos quando os mesmos os estão passando para trás. A recomendação de Tiago é atualíssima para os pais: "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus" (1.5).

 

Aplicações para a vida

                Diante de tudo que vimos até aqui, podemos tirar as seguintes conclusões:

                1ª) É preciso valorizar a família como projeto de Deus - A família é instituição divina (cf. Gn 2.18-25) e como tal precisa ser valorizada. Ainda não foi inventado algo melhor para substituir a família em termos de companhia, aconchego, proteção, amor e desenvolvimento sadio. Nem nunca será! A família continua sendo válida para o nossos dias e ela será garantidora do futuro da humanidade.

                2ª) É preciso fundamentar a família em princípios bíblico-cristãos - A família precisa estar atenta quanto as influências nocivas do mundo e não permitir que seus valores e princípios cristãos sejam destruídos.

                3ª) É preciso ter a família em vigilância constante - "Orar e vigiar!" Este é o binômio que a família não deve abandonar nunca. Na dependência de Deus e na vigilância quanto as ciladas armadas pelo Inimigo, a família sobreviverá nestes dias tão difíceis (Lc 21.36; 1Pe 4.7).