Família 18 - EXEMPLOS POSITIVOS E NEGATIVOS DE FAMÍLIAS NO NT
Publicado em 24 de outubro de 2010 por Josué Ebenézer de Sousa Soares
Como já fizemos com as famílias do Antigo Testamento, vamos listar uma série de famílias do Novo Testamento para verificar aquelas que deram contribuições positivas para a sociedade e aquelas que serviram de mau exemplo.
Verificando as famílias do Novo Testamento e a forma como se relacionaram, comportaram e viveram a fé teremos mais uma oportunidade de inspiração e edificação, além de tirar lições importantes sobre os erros do passado para que não venhamos a repeti-los.
Exemplos de má conduta familiar no NT
No Novo Testamento, a lista de famílias que tiveram um comportamento inadequado é menor do que no Antigo Testamento. Ainda assim, vamos encontrar alguns deslizes em famílias que tinham tudo para dar um bom testemunho, mas que, de alguma forma, vacilaram e não passaram à história como exemplo edificante. Vamos analisar algumas dessas situações, e verificar onde erraram, para que possamos avaliar a família hoje.
1º) A família de Herodes: ganância e crueldade no caminho de Jesus (Mt 2.1-18; 14.1-12) - Se teve uma família que marcou negativamente a história de Israel essa família é a herodiana. Representante da última dinastia judaica, a família esteve envolvida com o governo imperial de Roma, atendendo aos caprichos dos césares, para que através de seus favores pudesse continuar no poder.
Seus membros tudo fariam para "se darem bem". Se fosse preciso sacrificar um dos familiares para prosseguir levando vantagem, não hesitavam. Tanto é que Augusto chegou a afirmar que "preferia ser um suíno de Herodes a um de seus filhos". Matou a própria esposa, Marianne; e os dois filhos, Alexandre e Aristóbulo.
A extrema crueldade da família se percebe em dois episódios bíblicos: a matança indiscriminada dos meninos judeus com o fito de eliminar Jesus (2.16-18) e o assassinato de João Batista, entregando sua cabeça numa bandeja (14.1-12) evento que envolveu vários membros dessa família imoral.
2º) A família de Judas: suborno e corrupção suicidas (Mt 27.1-10) - A história de Judas é trágica. Teve a grande chance de fazer história como um discípulo de Jesus, mas jogou fora sua oportunidade, ao optar pelo caminho mais fácil da corrupção. Não sabemos qual foi a sua formação familiar, mas, por certo, apresentou falha de caráter quando foi solicitado a dar provas de fidelidade. Se estava no grupo de Jesus era porque tinha condições. Se fora eleito tesoureiro do grupo, também era porque reunia condições (Jo 12.6; 13.29). Talvez possamos entender o seu comportamento pelo fato de não ter sido vigilante e ter dado "brechas" para Satanás agir. O fato é que Judas notabilizou-se pela incorreção, pela fraude e pela covardia. Aceitou o suborno dos principais sacerdotes (Mt 26.14-16), traiu e entregou Jesus à multidão (Mt 26.47-50) e, por fim, querendo devolver as trinta moedas de prata, foi acometido de grande remorso e suicidou-se (Mt 27.1-10).
3º) A família de Pilatos: lavando as mãos e continuando sujo (Mt 27.11-26) - Ao ter que decidir sobre uma possível libertação de Jesus que estava preso, bem que a esposa de Pilatos tentou tirá-lo da situação crítica em que se encontrava. Foi uma mulher sensata. Percebeu logo quem era Jesus, mas não teve forças suficientes para convencer o marido a tomar a medida acertada para a ocasião. A mulher de Pilatos alertou: "Não te envolvas na questão desse Justo" (Mt 27.19), mas ele preferiu apelar para um gesto apoteótico, e não menos patético. Ao lavar as mãos (27.24), Pilatos optou pelo caminho de "ficar em cima do muro", para usar expressão recorrente em nossos dias. Seu gesto passou para a história, mas a falha de caráter o desqualifica.
4º) A família de Demas: desertando de Deus para ficar com o mundo (2Tm 4.10) - A Bíblia fala pouco de Demas, mas o pouco que fala não é nada edificante. Ele, que havia sido companheiro de Paulo no trabalho missionário, o abandona em troca de um amor tresloucado pelo "mundo presente". A cidade de Tessalônica exerceu algum tipo de atrativo sobre a vida de Demas, de modo que os apelos de Paulo não fizeram efeito. Como Demas, muitas famílias hoje têm optado pelo caminho da mundanidade e, conseqüentemente, abandonando o caminho de Deus, com sérios prejuízos para a moral e para a formação ética dos componentes da família.
5º) A família de Alexandre: maltratando o próximo (2Tm 4.14) - Outro personagem que muito prejudicou o apóstolo Paulo foi Alexandre. Também não se sabe muito dele. Apenas que era latoeiro, uma profissão antiga, em que se trabalha em lata ou latão; algo como o funileiro de hoje. A expressão que Paulo usa sobre o comportamento incorreto de Alexandre é: "Me fez muito mal." Que mal foi esse, não o sabemos, mas desagradou bastante a Paulo que afirmou: "O Senhor lhe retribuirá segundo as suas obras." A maldade no coração de uma pessoa, impossibilita a construção de relacionamentos sadios. O melhor, quando isso ocorrer, é afastar-se da pessoa depois de tentar insistentemente ajudá-la.
6º) A família de Ananias: o clímax da reprovação divina (At 5.1-16) - Vamos encerrar esta lista não muito agradável, retratando a família de Ananias. Ele, junto com Safira, formava um casal proprietário de terras que acompanhava os discípulos no trabalho e se identificava com Pedro. Porém, naquele alvorecer do cristianismo, em que a vida comunitária era não só expressão de comunhão, mas também iniciativa sábia em busca de auto-defesa - já que eram minoria numa sociedade pagã -, a mentira combinada de ofertar parte do produto da venda da propriedade, afirmando ser isto o valor integral, foi uma iniciativa desastrada e insana.
Pedro repreende-os e coloca a questão da forma como deveria ser: "Não mentiste aos homens, mas a Deus" (v. 4). Os mesmos serviçais que levaram o Ananias morto (v. 5), também levaram o corpo de Safira para o sepultamento (v. 10). Este foi o desfecho cruel de uma família que se deixou dominar pela mentira, pela ganância, pela falsa aparência e por toda sorte de atitudes más; tentando angariar o favor humano, esquecendo-se de que estava contrariando a vontade de Deus.
Exemplos de boa conduta familiar no NT
Vamos, agora, estudar a vida de algumas famílias do Novo Testamento, que apresentaram uma conduta exemplar e um caráter irrepreensível, servindo de testemunho vivo do poder de Deus e da atuação transformadora na vida daqueles que se submetem com humildade à vontade do Pai.
1º) A família de Zacarias: justiça e fidelidade a toda prova (Lc 1.5-80) - Zacarias e Isabel formam um dos mais belos casais da Bíblia. Ele era sacerdote e ela descendente de Arão. Segundo o texto sagrado, "ambos eram justos diante de Deus, andando irrepreensíveis em todos os mandamentos e preceitos do Senhor" (v. 6). Zacarias era do tipo que tinha profunda convicção de sua vocação, por isto mesmo encontrava prazer e alegria no que fazia. Mas ainda faltava algo para a família ser completamente feliz; faltava o filho. Isabel era estéril e eles já eram idosos (v. 7).
Se faltava o filho, não faltava a fé. Deus honrou a fidelidade de Zacarias e Isabel, enviando seu anjo para comunicar-lhes a grande bênção que lhes daria. Tudo foi muito rápido e surpreendente, mas o casal estava dependente da graça divina. Findo o tempo determinado, nasce o filho de Isabel, João Batista, nome determinado pelo anjo (v.13).
Se fôssemos analisar pelos padrões modernos, diríamos que a história da família foi uma história de sucesso. Além de o casal ser muito amoroso e companheiro; eram fiéis e dedicados no serviço do Templo, de modo que a notícia do filho, como dissera o anjo, (v.14) trouxe alegria para muita gente (v. 58). Além do mais estamos falando de João Batista. Quem não queria ter um filho como este? Dele, Jesus disse: "Entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior do que João, o Batista..." (Mt 11.11). O êxito da família, tanto dos pais quanto do filho, com certeza, foi decorrente de uma vida de intensa comunhão com Deus e da dedicação operosa a serviço do Reino dos Céus.
2º) A família de José: caráter e dignidade acima de tudo (Mt 1.18-2.23) - Pertencente a tribo de Judá e descendente de Davi, José, como já vimos, era carpinteiro de profissão. Homem digno, estava noivo de Maria quando soube que ela estava grávida, coisa que muito o inquietou. Sendo um homem justo, não quis prejudicar sua noiva e projetou deixá-la sem fazer alarde (1.19), mas o anjo do Senhor anuncia a chegada do Messias: "o que está sendo gerado é do Espírito Santo" (1.20) e José se alegrou com a notícia preservando a gestação do menino (1.25).
A família de José constitui-se no exemplo máximo de vidas que agradam a Deus e são escolhidas para propósitos seus. José era justo, digno, honrado. Maria, honesta, agraciada, abençoada por Deus. Formam o que se pode chamar de um casal perfeito. É neste contexto que Jesus vem ao mundo. Interessante que José soube esperar o momento certo para desposar-se com Maria. Isso é importante para os jovens de hoje em dia que muitas vezes casam-se precipitadamente. O casamento de José e Maria é exemplo de casamento feito no tempo de Deus.
Vidas de caráter, justiça e dignidade oferecem condições para que os filhos cresçam de modo saudável. Era um lar assim que Jesus precisava e o historiador Lucas dá testemunho disso: "E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens" (Lc 2.52).
3º) A família de Jairo: exemplo de fé e paternidade responsável (Mt 9.18-26) - Jairo era um líder em Israel. Chefe da sinagoga (v. 18), tinha uma filha, que acometida de uma doença, veio a falecer. A morte não foi obstáculo para Jairo sair resoluto ao encontro de Jesus. Ele sabia que o Mestre poderia tornar a fazê-la viver se este fosse o seu propósito. Jesus ainda demorou a chegar à casa onde estava a menina, visto que uma mulher que estava doente há doze anos o interrompera (v. 20) e uma multidão comprimia-se sobre ele. Quando lá chegou o milagre aconteceu. Percebe-se em Jairo um pai responsável, preocupado com a filha e desejoso de encontrar uma solução. Neste momento aflorou o que ele tinha de melhor: uma fé persistente. Jairo tornou-se um exemplo para as famílias que têm enfermos: acima de tudo é preciso ter fé!
4º) A família de Tiago e João: união familiar e serviço dedicado (Mt 20.20-28) - Tiago e João eram filhos de Zebedeu. Discípulos de Jesus esforçavam-se para fazer o melhor para o serviço do Mestre, tendo abandonado suas atividades junto com o pai, pescaria (Mt 4.22), para dedicarem-se à implantação do Reino de Deus. Trabalhadores incansáveis, corretos e respeitadores, não se furtaram aos compromissos da evangelização, como não o fizeram no ofício de consertar redes (Mt 4.21). A mãe deles, carinhosamente acompanhava as atividades dos filhos e fazia de tudo para que tivessem progresso na propagação do Evangelho da Paz. Isto denota uma unidade familiar e um desempenho no serviço como pouco se vê. Além do mais, revela a boa base familiar que receberam, pois agora os estavam qualificando como trabalhadores e discípulos de Jesus.
Houve apenas um deslize na conduta da mãe de Tiago e João. Na ânsia de ajudar, ela acabou dando uma mãozinha onde não deveria: Quis uma posição destacada para os filhos no Reino de Deus. Jesus aproveitou a oportunidade para ensinar sobre a humildade e o serviço cristão. É o caso de pais e mães de nossos dias que insistem em defender os filhos quando estão errados, ou procurar obter favores para eles de modo protecionista e nocivo. Estão prejudicando a formação do caráter dos filhos e não o sabem, ou, sabendo, preferem arriscar. O futuro apresentará a conta do prejuízo.
5º) A família de Áqüila: trabalho incansável para a Igreja de Cristo (Rm 16.3-5) - Em termos de igreja cristã estabelecida, a família que mais vai se notabilizar é a composta pelo casal Áqüila e Priscila. O desprendimento, a dedicação e o amor ao trabalho foram algo de extremo valor na vida deste casal. Percebe-se que a igreja que começou na casa de Tito teve o apoio deles, além de serem da mesma profissão que Paulo, o que trouxe logo uma identificação (At 18.1-11).
O maior testemunho, porém, que se pode dar do casal é o que registrou Paulo em sua Epístola Aos Romanos: cooperadores (16.3), abnegados (16.4), hospitaleiros (16.5). Percebe-se na forma como Paulo faz esta saudação, uma gratidão incontida pelo que representou o casal em sua vida, em termos de cooperação no Evangelho, disposição de prosseguir mesmo em meio às dificuldades e, também, disponibilização dos bens (sua casa) para a Obra do Senhor.
Aplicações para a vida
O estudo de casos que fizemos em torno de famílias do Novo Testamento, nos ajuda a concluir sobre questões importantes para as famílias hoje:
1ª) É preciso ter cuidado com os valores que estão unindo os casais. É importante haver uma unidade na família, mas esta unidade precisa estar voltada para as coisas aprovadas por Deus.
2ª) Contentar-se com as coisas humildes é uma recomendação bíblica da qual nenhuma família deve se desviar. Por conta do progresso e do enriquecimento a qualquer custo, famílias têm negado os valores cristãos e enfrentado sérios problemas de ordem moral e espiritual.
3ª) A comunicação e o diálogo na família devem levar a uma vida de sinceridade e transparência. A mentira nunca foi uma boa opção para nada, muito menos para esconder de Deus nossos erros.
4ª) Nenhuma família terá perdas se optar pelo caminho da justiça, da fidelidade, da dignidade e da dedicação.
Verificando as famílias do Novo Testamento e a forma como se relacionaram, comportaram e viveram a fé teremos mais uma oportunidade de inspiração e edificação, além de tirar lições importantes sobre os erros do passado para que não venhamos a repeti-los.
Exemplos de má conduta familiar no NT
No Novo Testamento, a lista de famílias que tiveram um comportamento inadequado é menor do que no Antigo Testamento. Ainda assim, vamos encontrar alguns deslizes em famílias que tinham tudo para dar um bom testemunho, mas que, de alguma forma, vacilaram e não passaram à história como exemplo edificante. Vamos analisar algumas dessas situações, e verificar onde erraram, para que possamos avaliar a família hoje.
1º) A família de Herodes: ganância e crueldade no caminho de Jesus (Mt 2.1-18; 14.1-12) - Se teve uma família que marcou negativamente a história de Israel essa família é a herodiana. Representante da última dinastia judaica, a família esteve envolvida com o governo imperial de Roma, atendendo aos caprichos dos césares, para que através de seus favores pudesse continuar no poder.
Seus membros tudo fariam para "se darem bem". Se fosse preciso sacrificar um dos familiares para prosseguir levando vantagem, não hesitavam. Tanto é que Augusto chegou a afirmar que "preferia ser um suíno de Herodes a um de seus filhos". Matou a própria esposa, Marianne; e os dois filhos, Alexandre e Aristóbulo.
A extrema crueldade da família se percebe em dois episódios bíblicos: a matança indiscriminada dos meninos judeus com o fito de eliminar Jesus (2.16-18) e o assassinato de João Batista, entregando sua cabeça numa bandeja (14.1-12) evento que envolveu vários membros dessa família imoral.
2º) A família de Judas: suborno e corrupção suicidas (Mt 27.1-10) - A história de Judas é trágica. Teve a grande chance de fazer história como um discípulo de Jesus, mas jogou fora sua oportunidade, ao optar pelo caminho mais fácil da corrupção. Não sabemos qual foi a sua formação familiar, mas, por certo, apresentou falha de caráter quando foi solicitado a dar provas de fidelidade. Se estava no grupo de Jesus era porque tinha condições. Se fora eleito tesoureiro do grupo, também era porque reunia condições (Jo 12.6; 13.29). Talvez possamos entender o seu comportamento pelo fato de não ter sido vigilante e ter dado "brechas" para Satanás agir. O fato é que Judas notabilizou-se pela incorreção, pela fraude e pela covardia. Aceitou o suborno dos principais sacerdotes (Mt 26.14-16), traiu e entregou Jesus à multidão (Mt 26.47-50) e, por fim, querendo devolver as trinta moedas de prata, foi acometido de grande remorso e suicidou-se (Mt 27.1-10).
3º) A família de Pilatos: lavando as mãos e continuando sujo (Mt 27.11-26) - Ao ter que decidir sobre uma possível libertação de Jesus que estava preso, bem que a esposa de Pilatos tentou tirá-lo da situação crítica em que se encontrava. Foi uma mulher sensata. Percebeu logo quem era Jesus, mas não teve forças suficientes para convencer o marido a tomar a medida acertada para a ocasião. A mulher de Pilatos alertou: "Não te envolvas na questão desse Justo" (Mt 27.19), mas ele preferiu apelar para um gesto apoteótico, e não menos patético. Ao lavar as mãos (27.24), Pilatos optou pelo caminho de "ficar em cima do muro", para usar expressão recorrente em nossos dias. Seu gesto passou para a história, mas a falha de caráter o desqualifica.
4º) A família de Demas: desertando de Deus para ficar com o mundo (2Tm 4.10) - A Bíblia fala pouco de Demas, mas o pouco que fala não é nada edificante. Ele, que havia sido companheiro de Paulo no trabalho missionário, o abandona em troca de um amor tresloucado pelo "mundo presente". A cidade de Tessalônica exerceu algum tipo de atrativo sobre a vida de Demas, de modo que os apelos de Paulo não fizeram efeito. Como Demas, muitas famílias hoje têm optado pelo caminho da mundanidade e, conseqüentemente, abandonando o caminho de Deus, com sérios prejuízos para a moral e para a formação ética dos componentes da família.
5º) A família de Alexandre: maltratando o próximo (2Tm 4.14) - Outro personagem que muito prejudicou o apóstolo Paulo foi Alexandre. Também não se sabe muito dele. Apenas que era latoeiro, uma profissão antiga, em que se trabalha em lata ou latão; algo como o funileiro de hoje. A expressão que Paulo usa sobre o comportamento incorreto de Alexandre é: "Me fez muito mal." Que mal foi esse, não o sabemos, mas desagradou bastante a Paulo que afirmou: "O Senhor lhe retribuirá segundo as suas obras." A maldade no coração de uma pessoa, impossibilita a construção de relacionamentos sadios. O melhor, quando isso ocorrer, é afastar-se da pessoa depois de tentar insistentemente ajudá-la.
6º) A família de Ananias: o clímax da reprovação divina (At 5.1-16) - Vamos encerrar esta lista não muito agradável, retratando a família de Ananias. Ele, junto com Safira, formava um casal proprietário de terras que acompanhava os discípulos no trabalho e se identificava com Pedro. Porém, naquele alvorecer do cristianismo, em que a vida comunitária era não só expressão de comunhão, mas também iniciativa sábia em busca de auto-defesa - já que eram minoria numa sociedade pagã -, a mentira combinada de ofertar parte do produto da venda da propriedade, afirmando ser isto o valor integral, foi uma iniciativa desastrada e insana.
Pedro repreende-os e coloca a questão da forma como deveria ser: "Não mentiste aos homens, mas a Deus" (v. 4). Os mesmos serviçais que levaram o Ananias morto (v. 5), também levaram o corpo de Safira para o sepultamento (v. 10). Este foi o desfecho cruel de uma família que se deixou dominar pela mentira, pela ganância, pela falsa aparência e por toda sorte de atitudes más; tentando angariar o favor humano, esquecendo-se de que estava contrariando a vontade de Deus.
Exemplos de boa conduta familiar no NT
Vamos, agora, estudar a vida de algumas famílias do Novo Testamento, que apresentaram uma conduta exemplar e um caráter irrepreensível, servindo de testemunho vivo do poder de Deus e da atuação transformadora na vida daqueles que se submetem com humildade à vontade do Pai.
1º) A família de Zacarias: justiça e fidelidade a toda prova (Lc 1.5-80) - Zacarias e Isabel formam um dos mais belos casais da Bíblia. Ele era sacerdote e ela descendente de Arão. Segundo o texto sagrado, "ambos eram justos diante de Deus, andando irrepreensíveis em todos os mandamentos e preceitos do Senhor" (v. 6). Zacarias era do tipo que tinha profunda convicção de sua vocação, por isto mesmo encontrava prazer e alegria no que fazia. Mas ainda faltava algo para a família ser completamente feliz; faltava o filho. Isabel era estéril e eles já eram idosos (v. 7).
Se faltava o filho, não faltava a fé. Deus honrou a fidelidade de Zacarias e Isabel, enviando seu anjo para comunicar-lhes a grande bênção que lhes daria. Tudo foi muito rápido e surpreendente, mas o casal estava dependente da graça divina. Findo o tempo determinado, nasce o filho de Isabel, João Batista, nome determinado pelo anjo (v.13).
Se fôssemos analisar pelos padrões modernos, diríamos que a história da família foi uma história de sucesso. Além de o casal ser muito amoroso e companheiro; eram fiéis e dedicados no serviço do Templo, de modo que a notícia do filho, como dissera o anjo, (v.14) trouxe alegria para muita gente (v. 58). Além do mais estamos falando de João Batista. Quem não queria ter um filho como este? Dele, Jesus disse: "Entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior do que João, o Batista..." (Mt 11.11). O êxito da família, tanto dos pais quanto do filho, com certeza, foi decorrente de uma vida de intensa comunhão com Deus e da dedicação operosa a serviço do Reino dos Céus.
2º) A família de José: caráter e dignidade acima de tudo (Mt 1.18-2.23) - Pertencente a tribo de Judá e descendente de Davi, José, como já vimos, era carpinteiro de profissão. Homem digno, estava noivo de Maria quando soube que ela estava grávida, coisa que muito o inquietou. Sendo um homem justo, não quis prejudicar sua noiva e projetou deixá-la sem fazer alarde (1.19), mas o anjo do Senhor anuncia a chegada do Messias: "o que está sendo gerado é do Espírito Santo" (1.20) e José se alegrou com a notícia preservando a gestação do menino (1.25).
A família de José constitui-se no exemplo máximo de vidas que agradam a Deus e são escolhidas para propósitos seus. José era justo, digno, honrado. Maria, honesta, agraciada, abençoada por Deus. Formam o que se pode chamar de um casal perfeito. É neste contexto que Jesus vem ao mundo. Interessante que José soube esperar o momento certo para desposar-se com Maria. Isso é importante para os jovens de hoje em dia que muitas vezes casam-se precipitadamente. O casamento de José e Maria é exemplo de casamento feito no tempo de Deus.
Vidas de caráter, justiça e dignidade oferecem condições para que os filhos cresçam de modo saudável. Era um lar assim que Jesus precisava e o historiador Lucas dá testemunho disso: "E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens" (Lc 2.52).
3º) A família de Jairo: exemplo de fé e paternidade responsável (Mt 9.18-26) - Jairo era um líder em Israel. Chefe da sinagoga (v. 18), tinha uma filha, que acometida de uma doença, veio a falecer. A morte não foi obstáculo para Jairo sair resoluto ao encontro de Jesus. Ele sabia que o Mestre poderia tornar a fazê-la viver se este fosse o seu propósito. Jesus ainda demorou a chegar à casa onde estava a menina, visto que uma mulher que estava doente há doze anos o interrompera (v. 20) e uma multidão comprimia-se sobre ele. Quando lá chegou o milagre aconteceu. Percebe-se em Jairo um pai responsável, preocupado com a filha e desejoso de encontrar uma solução. Neste momento aflorou o que ele tinha de melhor: uma fé persistente. Jairo tornou-se um exemplo para as famílias que têm enfermos: acima de tudo é preciso ter fé!
4º) A família de Tiago e João: união familiar e serviço dedicado (Mt 20.20-28) - Tiago e João eram filhos de Zebedeu. Discípulos de Jesus esforçavam-se para fazer o melhor para o serviço do Mestre, tendo abandonado suas atividades junto com o pai, pescaria (Mt 4.22), para dedicarem-se à implantação do Reino de Deus. Trabalhadores incansáveis, corretos e respeitadores, não se furtaram aos compromissos da evangelização, como não o fizeram no ofício de consertar redes (Mt 4.21). A mãe deles, carinhosamente acompanhava as atividades dos filhos e fazia de tudo para que tivessem progresso na propagação do Evangelho da Paz. Isto denota uma unidade familiar e um desempenho no serviço como pouco se vê. Além do mais, revela a boa base familiar que receberam, pois agora os estavam qualificando como trabalhadores e discípulos de Jesus.
Houve apenas um deslize na conduta da mãe de Tiago e João. Na ânsia de ajudar, ela acabou dando uma mãozinha onde não deveria: Quis uma posição destacada para os filhos no Reino de Deus. Jesus aproveitou a oportunidade para ensinar sobre a humildade e o serviço cristão. É o caso de pais e mães de nossos dias que insistem em defender os filhos quando estão errados, ou procurar obter favores para eles de modo protecionista e nocivo. Estão prejudicando a formação do caráter dos filhos e não o sabem, ou, sabendo, preferem arriscar. O futuro apresentará a conta do prejuízo.
5º) A família de Áqüila: trabalho incansável para a Igreja de Cristo (Rm 16.3-5) - Em termos de igreja cristã estabelecida, a família que mais vai se notabilizar é a composta pelo casal Áqüila e Priscila. O desprendimento, a dedicação e o amor ao trabalho foram algo de extremo valor na vida deste casal. Percebe-se que a igreja que começou na casa de Tito teve o apoio deles, além de serem da mesma profissão que Paulo, o que trouxe logo uma identificação (At 18.1-11).
O maior testemunho, porém, que se pode dar do casal é o que registrou Paulo em sua Epístola Aos Romanos: cooperadores (16.3), abnegados (16.4), hospitaleiros (16.5). Percebe-se na forma como Paulo faz esta saudação, uma gratidão incontida pelo que representou o casal em sua vida, em termos de cooperação no Evangelho, disposição de prosseguir mesmo em meio às dificuldades e, também, disponibilização dos bens (sua casa) para a Obra do Senhor.
Aplicações para a vida
O estudo de casos que fizemos em torno de famílias do Novo Testamento, nos ajuda a concluir sobre questões importantes para as famílias hoje:
1ª) É preciso ter cuidado com os valores que estão unindo os casais. É importante haver uma unidade na família, mas esta unidade precisa estar voltada para as coisas aprovadas por Deus.
2ª) Contentar-se com as coisas humildes é uma recomendação bíblica da qual nenhuma família deve se desviar. Por conta do progresso e do enriquecimento a qualquer custo, famílias têm negado os valores cristãos e enfrentado sérios problemas de ordem moral e espiritual.
3ª) A comunicação e o diálogo na família devem levar a uma vida de sinceridade e transparência. A mentira nunca foi uma boa opção para nada, muito menos para esconder de Deus nossos erros.
4ª) Nenhuma família terá perdas se optar pelo caminho da justiça, da fidelidade, da dignidade e da dedicação.