Qual será o futuro da família? Diante de tantas crises do mundo moderno, analisadas ao longo destes estudos, parece que este futuro é desalentador. Os que somos pais pensamos logo em nossos filhos. Que tipo de sociedade eles vão herdar desta geração? Valerá a pena viver num mundo tão hostil? Por que Deus não abrevia estes dias, poupando seus servos da perversidade deste mundo corrupto? Com certeza, Deus está atento ao que acontece em nossos dias e não se olvida nos seus propósitos. Jesus diz que, nos tempos do fim, por causa dos escolhidos, os dias serão abreviados (Mt 24.22).

                Nossa sociedade é marcada pela licenciosidade e pelo descompromisso com os valores cristãos. O mundo contemporâneo está mergulhado em profunda imoralidade. A psicóloga Margarida Félix afirmou que "a civilização do orgasmo que se nos impõem por todos os lados é falsa, anti-humana, geradora de mortes, doenças, infelicidades e frustrações. Ela é imposta para atender as ganas de poder e lucro de grupos bem ocultos e poderosíssimos." (Ultimato, nº 280, pág. 20). É lamentável que pessoas inescrupulosas queiram auferir lucros às custas da perda de valores da família.

                Como a Igreja reagirá para proteger a família cristã? De que forma as famílias podem se precaver para enfrentarem e serem vencedoras deste mundo? Vamos verificar estes desafios da família cristã moderna e buscar um crescimento espiritual condigno.

 

Perfil da família do futuro

                As mudanças sociais implementadas nos últimos anos apontam para novas realidades da família do futuro. Com certeza a família de amanhã não será mais a mesma. Ela evidenciará novos jeitos de ser e novos formatos que são fruto destes tempos apressados em que vivemos.

a) Na família do futuro o tempo de convivência será cada vez mais curto - Seguindo-se esta tendência encontrada hoje nas famílias, onde a correria e a superficialidade são marcas muito fortes, vislumbramos uma vida familiar futura em que não haverá muito mais tempo para a convivência. Cada membro da família terá sido de tal forma absorvido pelo mundo presente com seus envolvimentos e suas cobranças, e privilegiará de tal maneira estas investidas de fora, que sobrará pouco tempo para convivência com os demais integrantes da família. Nesta linha de atuação, perceber-se a opção pelas situações mais imediatas da vida, que facilitam a sobrevivência física: emprego, salário, educação, relacionamentos sociais. Mas esta troca do importante pelo urgente é altamente nociva, pois geradora de instabilidades emocionais que só se satisfazem por meio de sentimentos que apenas a família pode oferecer de forma correta: amor, companheirismo, proteção, carinho, espiritualidade.

b) Na família do futuro o número de filhos será cada vez menor - Por conta da pressa do mundo atual e futuro, e, em função de um certo egoísmo que se instalou numa sociedade que perdeu o referencial da paternidade e da maternidade, "filho" passou a ser sinônimo de trabalho, atrapalho, prejuízo, "dor de cabeça". Assim sendo, as famílias optarão por ter apenas um filho e, em muitos casos, nenhum, pois estarão voltadas mais para o casal, sua relação, seu trabalho, seu prazer. Esta visão errônea do que representa um filho na vida de um casal, será mais um elemento diabólico a fomentar relacionamentos superficiais e descartáveis, provocando separações e uma sociedade estéril de valores e princípios cristãos. Obviamente, quem abrir mão de filhos, por conta dos possíveis desgastes pessoais que eles possam trazer, também está abrindo mão de uma das maiores bênçãos dotadas ao ser humano por Deus que é a de acalentar no filho o sonho da esperança e da continuidade. Fazer dele, o objeto de todo amor e carinho, de todos os sonhos e ideais mais nobres que se possa ter neste mundo. Ou seja, famílias sem filhos são incubadoras de desastres emocionais e mentais. As frustrações vêm mais tarde, quando o tempo, inexorável tempo, não mais pode ser recuperado.

                c) Na família do futuro a espiritualidade será servida à conta-gotas - Se já está difícil a vivência da espiritualidade no lar hoje, em função de todas as pressões internas e externas que provocam o seu afastamento, na família do futuro tal dificuldade será sobremodo elevada. Como os efeitos da prática da espiritualidade não são tangíveis, como o mundo materialista e consumista quer suas atuações, a prática de uma vida piedosa no lar, vai sendo esquecida, adiada sine die, e quando menos se percebe, está totalmente abolida da vida cotidiana. O mundo contemporâneo quer o lucro, o progresso. Quer mensurar com cifras, estoques, resultados, os efeitos de seu trabalho. A espiritualidade é perfeitamente perceptível, mas de forma discreta, muitas vezes insinuante, nos gestos, nas palavras, nas orações. O frenesi do mundo moderno provoca o agito e a perturbação e muitos se deixam levar por esta onda. Menos culto doméstico, menos leitura bíblica, menos oração, menos amor e menos comunhão. Os membros da família do futuro não encontrarão tempo para a espiritualidade e utilizarão do recurso da aplicação tópica de gotas de espiritualidade para apenas sobreviver.

               

Vencendo o mundo com as armas da fé

                Poderíamos falar sobre muitas outras tendências que, infelizmente, demarcam a família do futuro; mas, a grande questão que se nos apresenta, é: Será que tem que ser assim? Estamos fadados a experimentar o fracasso da família? É claro que podemos reagir. Quando analisamos a família nestes estudos, procuramos mostrar uma tendência perceptível na sociedade secularizada, que de maneira mais atuante do que desejaríamos afeta a família cristã, mas que não precisa ser assimilada de forma passiva, sem qualquer esboço de reação.

                Embora a família, no contexto que chamamos de mundano, tenderá, cada vez mais, a se afastar do propósito original do Criador; o povo de Deus deve reagir vivendo um padrão familiar digno, honesto, puro; com respeito, amor, carinho e compreensão; e dar a resposta que o mundo precisa ouvir: É possível a família! Este é um empreendimento divino que permanecerá. Que respostas da fé podemos dar a todas as investidas de Satanás para destruir a família?

                a) Crendo que o Senhor é quem dá sustentação à família - Como disse Salomão: "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam" (Sl 127.1). A família deve ter cuidado com as armadilhas destes dias em que vivemos, que procuram lhe roubar o tempo da espiritualidade, da comunhão, da piedade cristã e da devoção. Reagir contra estas tendências é criar possibilidade de deixar um legado de fé para as gerações vindouras e é isto que Deus espera de nós (Sl 78.5-7). A dependência de Deus deve ser buscada continuamente e isso se dá de forma prática no cotidiano da vida.

                b) Reconhecendo que filhos são bênçãos de Deus - O crente precisa ter a visão de que filhos são bênçãos e não maldição. Lamentavelmente, pela forma com que muitos pais se relacionam com seus filhos, percebe-se uma grande insatisfação no cumprimento deste papel social. Percebe-se que está sendo pesado, desgastante, difícil de suportar. Se isto estiver ocorrendo com você, busque forças em Deus e supere. Marido e mulher devem ser parceiros na criação de filhos. Ambos devem se apoiar mutuamente para que haja harmonia. Lembre-se do que a Palavra de Deus diz: "Os filhos são herança do Senhor" (Sl 127.3). Em função disto, a recomendação que se segue é para se ter muitos filhos (Sl 127.5). Talvez o mundo moderno, tais as injunções sócio-econômicas, não permita isto; mas saiba que todos os filhos que você tiver, próprios ou adotivos, com fé e dependência de Deus, serão formados para abençoar o mundo.

c) Vivendo uma vida de temor a Deus - Nossa sociedade perdeu o sentido da vida e o seu valor. Com isto, perdeu certos medos. Perdeu o respeito às instituições, perdeu a dignidade. Perdeu até o medo da morte. Vive-se como se pode e arrasta-se por esta vida como dá. Para muitos, Deus já foi descartado há tempos. Mas, para nós cristãos, o valor da vida, segue o padrão do valor que damos a Deus. Daí a necessidade que temos de viver como pessoas "tementes a Deus", ou seja, pessoas que põem no Senhor a sua confiança, que o amam e têm como objetivo de vida agradá-lo, honrá-lo em todos os seus procedimentos. Neste padrão de vida, somos abençoados. E esta é outra arma poderosa para vencer este mundo presente: o temor do Senhor, como nos diz o Salmo 128: "Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos."

 

Céu e terra passam, mas a família continua

                Alguns pessimistas são pregoeiros de que o futuro da família é a sua desintegração, a nulidade de sua existência, deixando de ter qualquer relevância para a humanidade do amanhã. Este, de fato, seria um mundo sombrio. Mas, enquanto houver um ser vivente temente a Deus na face da terra haverá esperança, inclusive para a família.

                Podemos parafrasear Mateus 24.35, e dizer que "o céu e a terra passarão, mas a família jamais passará". Como isso se daria, já que as perspectivas não são das melhores? Como confrontar isto com alguns ensinamentos bíblicos sobre a inexistência de laços familiares no Céu? Interessante que muitos crentes se perguntam se encontrarão os entes queridos no Céu. Querem ter a certeza de que vão reencontrar os seus, nas mansões celestiais.

                De fato, Jesus deixou algumas instruções sobre isto. Respondendo a uns saduceus, que não criam na ressurreição dos mortos e vieram até ele para o interrogar sobre de quem seria mulher no céu, uma que havia casado com sete irmãos. Ao que Jesus disse: "Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; serão como os anjos de Deus no céu" (Mt 22.29,30; cf. Lc 20.34,35). Sim, há uma instrução bem clara de que não haverá nenhum tipo de relacionamento sexual ou conjugal no céu.

                Além disso, se o céu não é lugar de lágrimas, choro, sofrer, ranger de dentes (Ap 7.17; 21.4). Se a carne e o sangue não herdarão o Reino dos Céus (1Co 15.50), não tem sentido pensar em certas lembranças e certas recordações que possam trazer algum tipo de desgosto. Se houver lugar para recordações terrenas nos céus, será somente para as boas, nunca para algo que venha a trazer sofrimento.

                Que família, então, permanecerá? Será a família, maximizada, transformada, restaurada. A família transposta de sua realidade terrenal, para aquela divina, celeste. Conquanto seja prenhe de significados e valores, a família sofre das limitações da materialidade. O seu conceito ainda que belo, profundo; anda desgastado neste mundo, e a família precisa ser redefinida, recriada, em Cristo Jesus. Essa família que é formada em Cristo, que foi resgatada pelo sangue precioso derramado na cruz do Calvário, essa nunca morrerá. Permanece para sempre.

                O Apóstolo Paulo desenvolve esta idéia na oração que faz em favor dos efésios: "Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome" (Ef 3.14-21). Deus reúne os salvos junto de si e forma uma grande família espiritual. O Apóstolo Pedro sintetiza estas idéias nas seguintes expressões: "geração eleita", "sacerdócio real", "nação santa" e "povo adquirido" (1Pe 2.9). Ainda Paulo, usa as expressões: "família da fé", quando escreve aos gálatas (6.10) e "concidadãos dos santos" e "família de Deus" aos efésios (2.19).

                Essa família maior, formado dos salvos, dos redimidos, ela permanece para sempre. Se é assim, podemos e devemos lutar pela salvação de nossos familiares e procurar reproduzir em nosso lar aqui na terra, os valores e as experiências mais prazerosas do pertencer a família de Deus.

 

Aplicações para a vida

                Depois destes estudos intensos sobre a família, peçamos à Deus que, objetivamente, nos ajude a trabalhar para o fortalecimento de nossas famílias. De modo prático, o que podemos fazer para a melhoria da qualidade de vida familiar? Vejamos:

                1ª) Esteja mais presente em casa, com seu cônjuge e seus filhos - Invista tempo naquilo que de melhor você tem que é a sua família. Talvez, por conta deste mundo frenético em que vivemos, você tenha se descuidado da atenção que deve devotar para os seus. Dê um tempo em sua correria e pare mais em casa, para ter momentos especiais com os seus familiares.

                2ª) Dê mais carinho ao seu cônjuge e a seus filhos - Qual foi a última vez que você deu um beijo espontâneo, gratuito, em seu cônjuge, pais ou filhos? Se suas demonstrações de afeto e carinho estão muito escassas e estéreis, reative seus sentimentos e multiplique incontavelmente essas demonstrações para que todos os seus se sintam amados.

                3ª) Leia mais a Bíblia com seu cônjuge e seus filhos - Se você não consegue fazer um programa sistemático de leitura bíblica, seja esporádico, mas sempre que lembrar e estiver com todos em casa, tome da Bíblia e convoque a todos para uma leitura e reflexão. Mostre o valor da Palavra para os seus. Vença todos os inimigos que afastam a leitura bíblica de seu lar.

                4ª) Ore mais com e pelo seu cônjuge e seus filhos - Submeta sempre sua família aos pés da cruz. Seja um intercessor constante por sua família. Além disso ore com todos e por todos. Ore, também com cada um. Na sala, no quarto, ao dormir, ao fazer uma refeição. Ore sempre, mesmo que inusitadamente. Mostre para os seus familiares que a fé é sua força para vencer este mundo (1Jo 5.4,5).