Falo ou não falo?

 As palavras teimam em sair borbulhando. Estão me sufocando, apressadas em serem ditas. E eu, eu  preciso de tempo... Tempo para refletir o que devo fazer, o que devo falar...                          Será, será que tenho o direito de ser o algoz dessa história?              Como já o disse alguém, as palavras pertencem a quem as ouve e não a quem as fala. Quem fala esquece. Quem ouve, jamais. Elas passam a ser remoídas de tempos em tempos. Muitas vezes nunca serão digeridas e assim, problemas passam a ter uma maior dimensão, que levará ao desconhecido, ao eu não me sabia assim, de onde saiu essa fera, eu que pensei me conhecer...                 Mas, como a vida não é feita de perguntas e respostas fáceis, esperar é preciso, ter calma é o mais certo...                                      Que a Mãe Natureza me dê um tempo, um tempo certo para que eu possa encontrar as palavras corretas, para que todas sejam escolhidas e ditas com carinho, com amor, apenas com o desejo de ajudar, e quando proferidas o sejam com a voz calma, tranquila, para passar uma sensação de paz, conforto, de se precisar venha para meu colo, eu estou aqui... Estou para o que der e vier, respeitando sempre a sua vontade e jamais, jamais tentando impor a minha, pois a cada um é permitido escolher o caminho e a  nós apontar os vários que existem e que devem ser trilhados de acordo com a vontade de quem assim o decidir. Que eu encontre as palavras certas para não ferir, não machucar, mas que sirvam apenas de alerta, que sirvam para iluminar e tornar visíveis os caminhos de quem o desejar e que deles tire o ensinamento necessário para escolher o tipo de vida que quer ter, o tipo de vida que possa unir o útil ao agradável, mas que seja uma vida dentro de seus parâmetros de melhor ou pior e não na omissão do deixar-se levar pelo que se apresenta mais fácil, com menos espinhos, com menos pedras. Nem sempre o que se a nós se apresenta como o melhor o é, mas como a cada um de nós cabe decidir, que tenhamos clareza e percepção necessárias, não para que tudo dê certo, mas para que a vontade do Pai seja realizada e que nada se sobreponha a ela. Ele sabe. Ele ouve. Ele é o Bem Supremo.                                 Falo ou não falo?                                                                                Que eu nunca seja omissa e que a cumplicidade para com o desleal não faça parte das páginas da minha vida. Que o eu não tenho culpa, o outro é que a tem, não me impeça de ser justa o suficiente para mostrar a situação a quem de direito, seja lá quem for.         Que ao falar eu nunca seja aquela que superprotege, que exerce a super vigilância, mas sim a que está sempre presente, para qualquer coisa que acontecer. Sem julgamentos,  recriminações e repressões. Só enxergando os fatos como eles se apresentam. Que eu consiga ser a que orienta sem determinar o que deve ser feito, que eu seja capaz de dar autonomia para que decisões sejam tomadas, única e exclusivamente por quem de direito. Que eu falar eu seja comedida o suficiente para não impedir que a voz do pensamento seja ouvida. Que eu não classifique nada, pois o classificar é fazer valer o poder de uma palavra sobre as outras. Como disse Foucault, dar nome é classificar. Dar nome é falar de cada sentimento, de cada coisa que eu vejo e como ela a mim se apresenta. A mim e não ao outro. Que os olhos que não querem ver, os ouvidos que não querem ouvir, a boca que quer se manter fechada para não falar o que  deve e o que não deve ser dito, não consigam atrapalhar o bem viver, que é direito do ser humano e que dele não deve abrir mão jamais, nunca, em tempo algum.                                                                             Que as minhas palavras se jogadas ao vento, sejam recolhidas por quem as quiser ouvir e não para quem eu, em minha imodéstia, julge necessário que as recolha e as ouça. Que cada palavra por mim proferida seja entendida como porta voz do bem e não do mal, indicando sempre o que prejudica, o que atrapalha a vida de cada um, mas que sejam ouvidas segundo os parâmetros de cada um e nunca os meus. Que ao passá-las adiante eu consiga que sejam ditas e ouvidas com inteligência, compreensão, liberdade, vontade de nelas ver sempre o melhor. Que elas levem a assumir o leme da vida, mostrando que a cada um de nós cabe a decisão de fazer com que nossos caminhos sejam  harmoniosos.                                     Que elas sirvam, para mim que as pronuncio ou para quem as ouve, de descoberta do sentido de uma vida plena, harmoniosa, numa vivência absoluta de saber e entender o momento que a cada um de nós pertence, de fato e de direito e que me façam perguntar:

Falo ou não falo?

 

Heloisa