Resumos de Sociologia para Ensino Médio.

Professor Werner Leber

 

EXTRATIFICAÇÃO SOCIAL EM MARX, WEBER E BOURDIEU

 

Sociologia no Ensino Médio 

 

CLASSE SOCIAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL EM MARX, WEBER E BOURDIEU. 

 

Max Weber utiliza critérios econômicos para definir classe social (p. 26)[1]. As condições de mercado e produtos desse mercado somado aos interesses e posses de bens econômicos definem o que Weber considera Classe Social (p. 23). Weber leva em consideração o Espaço Social, que nada tem a ver com Espaço Geográfico. Espaço Social dá-se pelas condições sociais de consumo e de acesso às oportunidades de bens e serviços disponíveis no mercado, conforme a posição econômica (renda e potencial de consumo) que se ocupa nas sociedades. Por exemplo, Professor e Magistrado podem ocupar o mesmo espaço geográfico (morar no mesmo bairro ou na mesma cidade), mas são essencialmente distintos pelas rendas. Do mesmo modo, um magistrado brasileiro equipara-se pela renda a um magistrado americano ou francês. Geograficamente estão distantes, mas socialmente estão próximos uma vez que usufruem de bens e serviços compatíveis com as suas respectivas rendas.  (veja quadro explicativo, p. 27). Weber vê as classes justapostas, ou seja, a classe alta caracteriza-se pelo poder de consumo e a baixa pelo oposto disso; a média fica no meio das duas, mas sem os conflitos e dilaceramentos que Marx denuncia. (final da página 27). 

Marx vê o capitalismo como um processo antagônico e de conflito entre opressores e oprimidos – Burguesia e Proletariado - respectivamente. Para Marx, a burguesia forma a classe dominante e o proletariado forma a classe de dominados. Marx define Classe pela produção capitalista e pela ideologia de que ela se serve. Quem está de posse da Propriedade dos meios de produção forma a classe detentora de capital e, portanto, opressora. Portanto, para Marx, propriedade (meios de produção; capital) são fundamentais para se entender classe social. Para Marx, classe social está além de uma consideração meramente econômica. As questões jurídicas (relações de força entre dominados e dominantes) são decisivas. Como diz nosso texto (p. 28): “A forma como os indivíduos experimentam as suas condições de existência, portanto aquilo que eles pensam que são, o modo como vivem (ou pensam que vivem, grifo meu), seus interesses e sua capacidade de organização política, digamos assim, formam e conformam as relações de produção. Em síntese, as relações de produção dizem respeito às relações políticas, ideológico-culturais e econômicas e, estas, não podem ser reduzidas, para Marx, apenas ao montante de renda ou à posição no mercado (como faz Weber)”. 

O que isso significa? Que a ideologia (os juízos; o que se pensa de si e da sociedade) é, às vezes, mais determinante que a renda em si. Ela faz com que trabalhadores (explorados e oprimidos) não vejam a real situação em que vivem (alienação) e também não percebam a sua força: a produção vem somente pelas mãos dos trabalhadores; toda riqueza é produzida por trabalhadores, no capitalismo. A ideia “riqueza” e a ideia “pobreza” já é uma construção ideológica de quem detém os meios de produção (proprietários) e não uma situação real de economia. Para Marx não há pobres, mas empobrecidos em detrimento daqueles que detém os aparelhos jurídicos e ideológicos do Estado. Desse modo, os trabalhadores, os empobrecidos, passam a acreditar que “todos somos iguais” (que a Lei é igual para todos) e, assim, acreditam que as possibilidades de oportunidades são iguais para todos também. (Discurso ideológico das classes dominantes). 

Pierre Bourdieu utiliza um critério diferente. Para ele as classes sociais não se dão nem pela produção e nem pela situação de acesso aos bens no mercado somente. Para ele, as produções culturais são decisivas. Os etilos de vida de cada classe, a padrão estético, o padrão de comportamento, os hábitos de consumo formam uma espécie de marca para caracterizar o que seria classe social. Assim, para ele (p. 28), “[...] a relação entre as classes nem é de exploração, nem de mera justaposição. As classes constroem seu Capital Simbólico, seu estilo de vida, suas marcas sociais, sobretudo em oposição às demais, isto é, para se distinguir das demais”. Conforme o sociólogo francês, hábitos de determinada classe social podem ser incorporados por outra. E tão logo isso ocorra, aquela que viu seus hábitos incorporados por outra, trata de criar novas caracterizações simbólicas para se diferenciar outra vez. Daí a produção simbólica caracterizar classe social.

Para a sociologia uma questão permanece: o que é, afinal, classe social. Em gráficos estatísticos na geografia, economia e sociologia mesmo tem sido mais aceita (conforme página 26 da Apostila) a noção weberiana, segundo a qual a renda e o acesso aos bens de consumo e de serviços definem melhor o que seria classe social – critério econômico adotado quando falamos em Classes A, B, C, D e E, por exemplo. Outro sociólogo, Charles Wrigth Mills (vejam página 28)  tentou acrescentar os fundamentos Status Social e Poder às noções econômicas weberianas. Mas a sua classificação não ajudou muito, pelo menos não tecnicamente. Um mecânico, funcionário de uma indústria, por exemplo, pode ter renda maior do aquele que possui uma banca de jornais. Mas sob o aspecto Status é mais valorizado o Dono de Banca de Jornais que um Simples Operário. 

Um outro aspecto parece importante: trabalhador manual e trabalhador não-manual. No capitalismo que Marx conheceu (século XIX) os trabalhadores manuais formavam a base da produção capitalista, embora houvesse trabalhadores não-manuais em menor escala. Mas no século XX o número de trabalhadores ditos “não-manuais” tornou-se bem superior aos “manuais”. De modo geral, a expressão Nova Classe Média designa um subconjunto de trabalhadores do empreendimento produtivo capitalista, os trabalhadores não-manuais. Se antes a Classe Média era minoritária, o século XX a fez majoritária entre os grupos de trabalhadores das economias capitalistas. O setor de serviços aumentou muito no século XX e assim permanece também no século XXI. Durante os anos Noventa, grande parte da Classe Média que ocupava o setor de serviços públicos, encolheu em função das privatizações dos governos Collor, Itamar e, sobretudo, Fernando Henrique Cardoso. Mesmo assim a Classe Média ainda representa 27% da população economicamente ativa. 

Resta-nos dizer ainda que estratificação social é verificação sociológica de que a sociedade é composta por indivíduos que percebem diferenciadas rendas (classes estritamente definidas pelo poder econômico, como quer Max Weber). As rendas de uma mesma classe formam um determinado estrato social (uma classificação por poder compra). Mas classe social nem sempre confunde-se com renda. Um indivíduo pode ter poder compra da classe econômica C, por exemplo, mas encontrar-se simbolicamente (por capital cultural) na classe B ou A. Os estratos são as diferenciações estabelecidas tecnicamente por uma faixa de renda, do tipo, renda familiar entre 6 e 12 salários mínimos. Então todos os indivíduos ou famílias habitantes do território brasileiro que percebam renda na faixa acima fazem parte de um mesmo estrato econômico. O estrato econômico está ligado com o que Weber denominou Espaço Social (ver acima).

 

MOBILIDADE SOCIAL: ASCENSÃO E DESCENSO (Queda Social) – p. 30. 

 

A mobilidade social é uma característica do dinamismo capitalista. Pelo menos, conforme se observa e também na opinião de sociólogos e economistas, a mobilidade social é uma característica social marcante das economias capitalistas modernas. Não se verifica tal processo em outros modelos econômicos. Em linhas gerais chama-se Mobilidade Social a Mudança de Posição Social das pessoas de uma classe para outra por meio do aumento ou diminuição ao acesso de bens de consumo e serviços de uma sociedade. Fala-se, assim, em ascensão ou descenso social. A Mobilidade Social Ascendente se dá quando o indivíduo alcança  uma classe social economicamente mais alta do que aquela em que se encontrava. Esse tipo de Mobilidade, via de regra, ocorre por aumento de renda oriunda da qualificação profissional e acadêmica, aproveitamento de oportunidades, promoções profissionais por competência, concursos públicos, herança, casamento, e até por lances de sorte, como, por exemplo, ganho em loterias. O Descenso Social – mobilidade para uma classe de rende inferior àquela de onde veio – que pode ocorrer, por exemplo, por falência ou perda de prestígio (status) de determinada atividade exercida, má administração de seus bens, por espólio de parentes e etc. Um indivíduo muda de posição social quando sua renda e sua capacidade de intervenção social (esclarecimento) melhoram. Mas nem sempre intelectualidade (esclarecimento e formação) é um fator de Mobilidade. O capitalismo atual tem permito o enriquecimento de pessoas cuja cultura não é compatível com seu grau de instrução. É o caso, por exemplo, dos ditos “Novos Ricos”. Como também ocorre que pessoas de rendas nem tão elevadas, mas formação e cultura elevadas – nesse caso – podemos citar professores, advogados, engenheiros, farmacêuticos, odontólogos, profissões que em passado recente eram bem mais rentáveis e de maior status social também. 

 

 

REFERÊNCIA

 

BERLATTO, Fábia. Síntese dos aspectos relevantes do capítulo 7, Apostila II. Sociologia: 2ª Série, 1º volume. Ilustração de José Aguiar e Marcos Guilherme. Curitiba: Editora Positivo, 2013, p. 26-30.

 

 

[1] No que diz respeito às páginas que aparecem na resenha, ver REFERÊNCIAS, no final do texto. Sigo a paginação daquela brochura.