Foram 430 anos de escravidão no Egito. O libertador escolhido, Moisés levou 40 anos para percorrer, junto de seu povo, um dificultoso caminho até a “Terra Prometida”. Este período em que os descendentes de Israel saíram do Egito e entraram na região de Canaã foi um tempo de grandes milagres e surpreendentes maravilhas. Toda a sobrevivência foi milagrosa, distante das cidades, em lugares que dificultam a manutenção do homem, como desertos áridos e lugares inóspitos. A escolha da rota para esta jornada não foi aleatória. Esta opção parecia estar apoiada em fatores geográficos, ambientais, estratégicos e de segurança. Os quarenta e dois acampamentos, ou estações, não demonstravam objetivos em si, mas meros estágios intermediários da grande viagem à terra de Canaã. Apesar disto, cada um destes lugares tinha uma história e um real significado, e aparentava ser parte integrante de um plano Divino. Todo o período de caminhada pelo deserto, então, configurou-se como uma provação necessária para a geração que as vivenciou, uma vez que um grupo de escravos tornou-se uma nação, com unidade nacional, leis e um sentido de existência. Esta é a história do nascimento de um povo. O “povo escolhido”. O ponto alto desta desértica marcha foi o recebimento da Torá no Monte Sinai, que marcou de forma única e definitiva a existência e a história de Israel.

O povo escravizado estava sob o comando de Moisés e este tentou de várias maneiras convencer o Faraó sobre a libertação de seu povo, bem como das pragas que o Senhor remeteria àquela terra.

Rumando em direção ao Mar Vermelho (Êx 14, 5-31) após a décima praga, o Faraó, aterrorizado, não somente permitiu, mas ordenou que deixassem os israelitas o Egito. Os hebreus pois, levando mulheres, crianças, gado e demais haveres, se retiraram em caravana na direção do Oriente. Chegando, porém, às margens do mar Vermelho, viram-se em dificultosa situação, que lhes teriam acarretado a morte, se não fosse uma intervenção extraordinária de Deus.

Saíram cerca de 600 mil homens israelitas, as mulheres e as crianças. Também saíram muitas outras pessoas que criam no Senhor. Antes de partir, os israelitas pediram aos egípcios roupa, e objetos de ouro e de prata. Os egípcios estavam com muito medo, por causa daquela última praga, quando seus primogénitos amanheceram mortos. Eles deram aos israelitas o que pediram. Após alguns dias, os israelitas chegaram ao mar Vermelho.

Ali descansaram. Neste intervalo, o Faraó e seus homens se arrependeram de ter mandado os israelitas embora, pois teriam perdido a mão-de-obra escrava. Assim, o Faraó novamente mudou de idéia. Aprontou depressa seu carro de guerra e seu exército, e foram atrás dos israelitas com vários carros especiais construídos no Egito. Quando os israelitas viram o Faraó e seu exército, ficaram com enorme temor. Não havia como fugir. De um lado havia o mar Vermelho, e de outro lado vinham os egípcios. Estavam completamente acuados, até que o Senhor colocou uma nuvem entre seu povo e os egípcios. Assim, os egípcios não podiam ver os israelitas para atacá-los. O Senhor disse então a Moisés que estendesse o seu cajado sobre o Mar Vermelho. Quando fez isso, Deus trouxe um grande vento oriental. As águas do mar foram divididas e retidas em ambos os lados. Então os hebreus atravessaram o mar em terra seca. Levou horas para a imensa multidão israelita  passassem a salvo com todos os animais. Por fim, os egípcios conseguiram ver de novo os israelitas, seus escravos em fuga. Entraram então no mar, atrás deles quando, por intervenção divina, ele foi fechado. Os egípcios foram engolidos e aniquilados pela força das águas.

Para chegar à terra de Canaã, Moisés não tomou o caminho mais curto — com cerca de 400 quilômetros ao longo da costa arenosa do Mediterrâneo. Se tivesse feito isso, teriam passado diretamente pelo meio do território dos inimigos filisteus. O Senhor disse: “Se eles se defrontarem com a guerra, talvez se arrependam e voltem para o Egito” (Ex 13.17). O “povo escolhido” atravessou o centro da ampla península do Sinai, onde enfrentou o calor escaldante do planalto de cascalho e calcário.  Eles acamparam em Mara, onde o Senhor fez com que as águas amargas se tornassem potáveis.  Após partir de Elim, o povo murmurou pedindo comida; Deus enviou então aves codornizes e depois o “pão de mel”, maná. Em Refidim, o povo resmungou outra vez (pedindo água), e os amalequitas que atacaram Israel foram derrotados, sendo que o sogro de Moisés o aconselhou a obter ajuda de homens capazes. Mesmo assim, o Senhor fez jorrar água da rocha do Monte Horebe. Durante toda a viagem, Deus os protegiam do calor com uma nuvem que os acompanhavam e à noite, com uma coluna de fogo que iluminava o caminho.

 

Moisés conduziu então Israel em direção às montanhas mais ao sul, acampando junto ao monte Sinai. Ali, o povo de Deus recebeu a Lei, construiu o tabernáculo e ofereceu sacrifícios. No segundo ano do Êxodo, rumaram para o norte, atravessando um “grande e atemorizante ermo”. A jornada à região de Cades (Cades-Barneia) aparentemente levou 11 dias. (De 1:1, 2, 19;8:15) Por causa do relatório negativo de dez espias, o povo ficou com receoso e, por isso, teve de vaguear por mais 38 anos. (Núm 13:1–14:34) Entre os lugares onde acamparam estavam Abrona e Eziom-Géber. Depois, voltaram a Cades ( Núm 33:33-36).

Quando finalmente chegou o tempo de entrarem na Terra Prometida, os israelitas não rumaram em linha reta para o norte. Contornaram a terra de Edom e seguiram pela “estrada real”. (Núm 21:22; De 2:1-8) Para uma nação inteira — com crianças, animais e tendas —, não foi fácil percorrê-la. Dentre tantas adversidades, eles tiveram de entrar e sair de desfiladeiros profundos — como o de Zerede e o do Árnon, com quase 520 metros de profundidade. ( De 2:13, 14, 24). Finalmente, os israelitas chegaram ao monte Nebo. Miriã havia morrido em Cades; Arão, no monte Hor. Moisés morreu perto da terra na qual ele queria entrar, tão perto que dava para avistá-la. (De 32:48-52; 34:1-5) Coube a Josué liderar Israel na conquista da terra, terminando assim uma jornada que começara 40 anos antes. (Jos 1:1-4)

 

“Eu os tirei do Egito e os levei para o deserto” (Ez. 20.10). A palavras do Senhor para o profeta Ezequiel tem um significando muito maior do que uma simples região arenosa. A palavra “deserto” vem do latim desertu e significa “lugar solitário” ou “de solidão”; lugar ermo. O povo de Israel enfrentou o deserto em sua caminhada à terra prometida. Curiosamente o deserto surge na vida dos israelitas após 400 anos de escravidão egípcia e tem a duração de 40 anos. O trajeto do Egito à Canaã, terra prometida por Deus aos filhos de Israel, levaria no máximo 40 dias para ser completado. Mas Israel levou 40 anos. Quem foi o responsável por tamanho equívoco? Moisés? Os seus auxiliares? A falta de um roteiro planejado por um experiente viajante?

Primeiramente, não se tratou de um equívoco, mas de uma experiência criada propositalmente; e não teve nada a ver com falha humana, nem com ação maligna, mas com a própria intervenção de Deus. Centenas de anos após a vivência dessa experiência, Deus chama o profeta Ezequiel e revela: “Você sabe quem estava por detrás daquele aparente equívoco que levou Israel para o deserto, depois de 400 anos de Egito? Eu mesmo. Fui eu quem levou Israel para o deserto. Eu estava vendo as abominações que eles estavam cometendo e precisava deixá-los ‘face a face’ comigo, fazê-los passar debaixo do meu cajado (objeto que simboliza o cuidado e a disciplina pastoral) e se sujeitarem ao regramento da aliança que foi estabelecida entre nós” (Ez 20).

 

Interessante é observar que o povo murmurou contra Moisés e o acusou de ser o responsável por toda aquela atribulada experiência desértica. Muitos se lembraram das melancias e das cebolas do Egito, com forte expressão saudosista. Eles não conseguiam discernir tudo o que acontecia, porque eram carnais, que a experiência do deserto não tinha a ver com Moisés, mas com Deus. Sabemos que a geração que entrou em Canaã não foi a mesma que saiu do Egito, pois a geração que deixara o Egito morreu no deserto em virtude de terem murmurado contra o Deus onisciente. 

Quando nos deparamos com atormentosos momentos, é comum perguntarmos por que os estamos experimentando tamanha adversidade e queremos encontrar sempre uma razão, algo que explique e justifique o que estamos enfrentando. Contudo, quando lemos o capítulo 20 do livro do profeta Ezequiel e vemos a experiência de Israel no deserto, provocada pelo próprio Deus, aprendemos que muitos momentos de provação nos são permitidos, não para o nosso sofrimento, mas para o nosso crescimento, para nosso amadurecimento. Êxito o que chamamos de “desertos necessários”. Mas nenhum de nós amadurecemos quando o emocional ou espiritual está vivendo bem. Precisamos passar por momentos de grandes adversidades para nos desenvolver como pessoas. Isso acontece desde o parto, essa experiência estranhamente dolorosa que nos tira do anonimato aconchegante do útero e nos expulsa para uma realidade não conhecida. Prantamos. Não por causa das palmadas do obstetra, nem por conta da dor da primeira respiração, comparada à inalação de ácido sulfúrico. Choramos por termos perdido o lugar que nos conferia segurança e comodidade. Estávamos guardados. Mas, se não fosse essa chocante experiência, não haveria nascimento, nem crescimento, nem desenvolvimento. Apenas morte.

Deus viu que o povo precisava amadurecer antes de adentrar a terra prometida, na tão sonhada Canaã, onde abundava leite e mel. Israel também precisava se livrar dos vícios adquiridos em 400 anos de escravidão. Se eles tivessem saído do Egito e entrado na Palestina, um mês e meio depois, eles teriam estragado Canaã. Assim também somos todos nós. Se Deus nos abençoar no exato momento em que pedimos bênçãos, é certo que não saberemos aproveitá-las e desfrutá-las adequadamente. A imaturidade estraga a unção de Deus.

Temos que aprender a não murmurar, muito menos acusar o Senhor quando estivermos nos deparando com momentos de dificuldades. Temos que apenas adorar e perfazer nossas orações, e agradeça a Deus pela grande oportunidade que Ele está nos concedendo, de crescer um pouco mais. Temos que aprender sobre cada luta ou provação, como um deserto necessário em nossas vidas. Ao invés de perguntarmos “por quê?”, perguntemos “para quê?”. Pois há sempre um propósito divino por detrás de cada sofrimento, por trás de cada obstáculo, no caminho de cada deserto que devemos enfrentar.