Perdido ou perdida, é alguém que sem o endereço ou com ele incompleto, procura uma casa, uma repartição ou alguém e não encontra. Perdido é também um cão abandonado pelo seu dono ou que saiu para dar uma voltinha e não consegue encontrar o caminho de volta. Perdido, é um governo sem pé e sem cabeça que não sabe o que está fazendo num palácio, mesmo tendo sido eleito pela maioria dos votos válidos e com quase trinta anos como deputado.

 Mas uma bala nunca é perdida. Uma bala voando é o resultado do disparo de uma arma que em poucos segundos vai encontrar um obstáculo onde vai se alojar. Quando alguém dispara uma arma sabe que a bala pode encontrar uma pessoa na possível segurança de seu lar, transitando pela rua, numa escola ou até no trabalho.

Alice Pamplona de cinco anos estava no colo da mãe, o lugar onde as crianças se sentem com a maior segurança do mundo. Nada como o aconchego do colo materno para o descanso, para chorar ou rir. Alice em seu pequeno mundo de fantasias, de repente, recebeu um forte impacto no pescoço e uma dor indescritível. Não conseguia respirar, seu coraçãozinho parou com o impacto. Foi tudo muito rápido e uma bala que os jornais dizem perdida, tirou a vida de uma criança.

Era uma bala perdida ou alguém perdido na vida com uma arma na mão? Pode ter sido um bandido, como pode ter sido um policial, mas foi, de qualquer forma, uma mente irresponsável que atira a esmo só para ouvir o barulho do disparo ou para tentar responder aos disparos de um bandido em fuga. Mesmo na perseguição policial o disparo precisa ser responsável, preciso. Não se atira a torto e a direito numa região densamente povoada. Isso faz parte do protocolo de qualquer polícia minimamente preparada em países civilizados.  O disparo deve ser pensado, refletido e seguro, pois as vidas importam, sejam elas de pobres, de ricos, de brancos, de negros, de índios, de crianças, de jovens e de idosos.

Pela inércia, uma lei da física, uma bala disparada vai procurar um obstáculo enquanto durar o seu estado de movimento. Pode encontrar uma porta, uma janela, um quintal e atingir até uma pessoa dormindo. Por misso, não existem balas perdidas, como a imprensa noticia quase que semanalmente. Existem criminosos desconhecidos que dispararam armas sem um mínimo de consciência dos resultados dos seus atos. As balas disparadas têm um endereço de origem. Alguém atirou e pode ter sido por ódio, por medo, por irresponsabilidade, por imperícia ou tudo isso junto. Como era hora de queima de fogos, não se pode duvidar que algum mentecapto tenha disparado sua arma apenas para festejar. Um tiro, mesmo para o alto, pode ser fatal na sua curva descendente.

Quantas vidas já foram tiradas na chamada cidade maravilhosa cantada em prosa e verso em canções e por nossos poetas? E as maiores vítimas têm sido as crianças na sua inocência de que a sua casa, sua escola está segura. A primeira vez, a segunda, a terceira e todas elas sempre têm alguma justificativa e invariavelmente tosca. Será que pelo menos os policiais não poderiam ser mais bem treinados e conscientizados da responsabilidade dos disparos, já que não podemos exigir isso dos bandidos?

Assim, vemos a rotina de famílias que perdem seus filhos, pais e mães por criminosos ocultos pelo anonimato de uma bala disparada a distância. E ainda por cima, temos um governante irresponsável que tem como uma de suas metas de governo, liberar a compra de armas como se fossem brinquedos, mesmo sabendo que mesmo policiais podem tirar a vida de inocentes ou arriscar a própria com uma arma na mão.

Enfim, as lágrimas pelas perdas são apenas dos familiares e amigos, pois a população já está considerando normal a morte pelas chamadas “balas perdidas” e os governantes e legisladores lavam as suas mãos como fez Pilatos.