EXISTE UMA JANELA...

No meu quarto existe uma janela...

Que parece morta aos olhos de quem não viveu a mesma história...

Para os arquitetos o vão é para permitir a entrada do vento e da luz do sol.

Sabem muito os arquitetos. Talvez não que depois deles entra em ação o toque suave do maior de todos eles...

Na soleira sentam sanhaçus e sabiás em visitas aligeiradas, como a querer matar a saudade da árvore mãe que virou soleira...

Na cumeeira, um rouxinol dobra o canto anunciando o nascer de todas as manhãs,

Enquanto um galo se movimenta devagarzinho dos galhos de um pé de jasmim para o cume do muro frontal à soleira para bradar o seu último canto matinal, harmoniosamente seguido pelo canto de outros galos.

Ali me lembro dela.

Baixinha, moreninha, faceira, cheia de vida!

Carinhosamente encostava-se a mim, aninhava-se, e silenciava...

Como a sorver a suavidade da brisa que soprava esvoaçando vagarosamente seus cabelos escorridos pelos ombros.

Ah, manhãs divinais!

Assim vivemos por muitos janeiros.

Até a quebra do compasso, num dia turvo, em que ela foi apreciar o amanhecer em outra soleira...

Quiçá um dia...  Senhor de todos os arquitetos, tenha de volta o canto dos sanhaçus, dos sabiás, do rouxinol, e ela,

O perfume dela!