A evolução tecnológica é perceptível a cada flash de notícias exposta na mídia de massa. Basta um cidadão de classe mais humilde assistir determinado jornal televisivo para se deparar com constantes evoluções tecnológicas que o trazem uma sensação de utopia, dúvida ou até mesmo crítica perante tamanha inteligência humana. A velocidade e quantidade de informações propicia, juntamente com a tecnologia, uma ilusão popular de evolução constante muito distante do convívio diário com seu ambiente. Existe uma linha de pensamento popular nas classes mais humildes que gira em torno do descrédito com as inovações tecnológicas a serem agregados no seu dia-a-dia. Apesar dos projetos de inclusão digital e a crescente facilitação de acesso à novas tendências tecnológicas, há uma descrença relativa ao beneficiamento direto da tecnologia à práticas corriqueiras desta faixa societária.

A exclusão digital não limita-se ao não conhecimento de hardwares e softwares, estende-se às televisões, rádios e todos os outros meios de comunicação que funcionam de maneira evolutiva. Tal exclusão pode ser renomeada como exclusão informativa, ou seja, uma abstinência de informações às classes nelas incluídas. Fazendo uma breve análise dos canais de comunicação que trazem as informações até as pessoas ditas incluídas digitais, são em grande parte, veículos de comunicação digitalizados e com um grau de tecnologia agregado. Esta informação leva a crer que uma pessoa que não tem acesso às tecnologias de comunicação, não está compatível com a velocidade das informações mundiais.

O jornal impresso, cada vez mais, tenta informar com qualidade e velocidade, mas não atinge o grau desses adjetivos que os sites conseguem atingir, onde as notícias são atualizadas quase que em tempo real. Este exemplo citado, mostra com clareza uma das vertentes da exclusão digital. A comparação entre classes A e B, com C e D, em relação a riqueza de conhecimentos é de fácil visibilidade. E vale lembrar que o conhecimento é proveniente de informações. O conhecimento, nada mais é que, análise crítica de dados informativos recebidos e transformados de acordo com a realidade individual. O crescimento intelectual provêm de análises e formação de opiniões, cujos indivíduos excluídos digitalmente não têm o hábito de fazer, nem a malícia pra tal procedimento.

As novidades tecnológicas são distantes da massa em geral, independente da classe social a que pertence o indivíduo, apenas a partir de sua comercialização que se dá a difusão entre cidadãos comuns, e a partir de então há a seleção de acordo com o poder aquisitivo.  Com tal realidade exposta, entende-se que a segregação social e a desigualdade é a maior causadora dos males da exclusão digital. Afinal, após a decisão de comercialização de determinada inovação tecnológica e terem sido discutidas as estratégias mercadológicas pertinentes, chega ao mercado uma espécie de amostragem para sondar a aceitação. Tal amostragem limita-se a indivíduos com condição financeira vantajosa, devido ao alto custo que são comercializados os produtos inovadores. Após a aceitação de mercado, durante um longo tempo, os preços se congelam e, somente com a supraposição de um substituto mais evoluído tecnologicamente, os valores tendem a baixar e as facilidades de acesso das classes sociais inferiores aumenta.

Em plena era do conhecimento, há uma velocidade monstruosa na disseminação de informações. Os programas sociais de inclusão digital se baseiam em alimentar esperanças populares de abertura de novos rumos com a tal inclusão. Rumos esses que dizem respeito a trabalho, saúde, praticidade, e até mesmo status social. Mas essas intenções são postas de maneira mais amena e discreta, no sentido de preservar a jogada de interesses políticos e sociais que torneiam essa realidade. A velocidade da evolução tecnológica não é compatível com a velocidade da inclusão digital proposta pos órgãos governamentais e iniciativa privada, haja vista o alto custo para manter esses projetos com tecnologias de ponta e o receio do descontrole relativo à pessoas de classes menos favorecidas.  Ou seja, a falta de informação e conhecimento tecnológico leva ao indivíduo uma sensação de dependência, o fazendo ser mais crédulo em poucas informações e menos críticos devido a falta de experiência e cultura. O que gera um ciclo vicioso às entidades que se propõe a executar a inclusão digital. Ciclo de limitação de conhecimentos propostos, moldando tais indivíduos de acordo com a necessidade do objetivo a ser alcançado pela a entidade.

Os objetivos do governo e da iniciativa privada em promover a inclusão digital, vai desde o marketing até a real necessidade de mão de obra qualificada. Cabe à população analisar com um olhar crítico todas as possíveis vertentes desse mundo tecnológico lançado aos mais humildes. Quando se fala em marketing, é referido à responsabilidade social, que hoje causa um grande impacto lucrativo às organizações, tanto visando os consumidores destas empresas, quanto aos incentivos fiscais e parceiros de mercado. E quando se fala em mão de obra qualificada é referente ao molde que empresas buscam de novos colaboradores. Elas aproveitam a falta de cultura e postura crítica dos indivíduos excluídos digitalmente e o e-alfabetizam, ou sejam, o alfabetizam digitalmente, de acordo com as necessidades da função a ser exercida.

Com tudo, os projetos de inclusão digital circundam uma possível vitória a partir do momento que tiram as pessoas do analfabetismo digital, para o início de sua busca por informações constantes. Tais projetos movimentam as pessoas, e cabe a cada indivíduo a busca pela não estagnação. Com este primeiro passo, os próximos são de responsabilidade de cada cidadão. Apesar de existir a ciência de que muitos ainda, com a participação efetiva em processos de inclusão, mantenham-se estagnados com o término da participação em tal projeto, devido a falta de visão da importância que há em ser ativo na busca por conhecimento.

Na era dos Mp3, ipods, pendrivers, palmtops, há, principalmente nas áreas rurais, pessoas que ainda não tiveram acesso nem a um televisor. O que mostra tamanha diversidade cultural e social do país, que reflete diretamente na exclusão digital. O poder aquisitivo e a luta na busca do conhecimento determinam o grau de instrução dos indivíduos no país. As inovações tecnológicas, a nível mundial, não tendem a parar, mas o acompanhamento do Brasil é, confirmadamente, um jogo de interesses individuais, ou seja, cada indivíduo tem a sua consciência das atitudes a serem tomadas em busca da informação, e sóciopolíticos, onde os que detêm o poder tornam-se manipuladores da grande massa, visando lucros e visibilidade sociomundial.

Brasil, mostra sua cara!, é uma referência à música Brasil, popularizada por Cazuza, nos anos 80 e 90. Esta frase expressiva da música pode ser adaptada à realidade da exclusão digital. A expressão mostra sua cara evoca uma atitude, uma atividade perante determinada situação, o que nos torna a questionar a vontade individual da busca pela informação, tornando-a conhecimento útil em sua vida. E incluindo o Brasil no início da frase, damos dúbio sentido. Além de uma movimentação da massa popular pela democratização digital, leva-nos a pensar no jogo de interesses que se esconde por trás das grandes potencias organizacionais que viabilizam a inclusão digital, onde seus objetivos são meramente lucrativos e mercadológicos. Então, com a análise da expressão Brasil, mostra sua cara!, há um questionamento social, onde se pede a transparência dos interesses sociopolíticos sobre a tecnologia pertinente ao país.