Introdução. A Educação Física escolar é um momento de aprendizagem, uma oportunidade de acompanhamento especializado para a atividade física. No entanto, os adolescentes que cursam o Ensino Médio não apresentam afinidades com a disciplina, não frequentando as aulas. Por isso, construiu-se este trabalho com a intenção de mostrar os fatores que ocasionam a evasão nas aulas de Educação Física em turmas de primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Gabriel de Almeida Café. Procedimentos Metodológicos. Decidiu-se por uma pesquisa qualitativa-descritiva, usando o método indutivo, ouvindo 04 professores da disciplina e 04 turmas, num total de 152 alunos entre 14 e 16 anos, através da observação participante, da análise de documentos na Secretaria Escolar e de questionários para professores e alunos, aplicados no turno normal de estudo. Resultados. Foi verificado que 46% dos alunos se evadem por desinteresse das aulas de Educação Física, pela metodologia esportivista sem finalidade clara e que somente alguns desses pedem dispensa de acordo com a lei, outros ficam reprovados. Os alunos que gostam de educação física são os atletas Discussão. As metodologias aplicadas não atraem os adolescentes porque enfocam somente a prática descontextualizada de esportes. Propõe-se o emprego do Planejamento Participativo para redimensionar a Educação Física escolar.

 

Palavras-chave: Evasão, Educação Física, Ensino Médio.

 

ABSTRACT

Introduction. Physical School Education is a time of learning, a specialized accompaniment opportunity for physical activity. However, adolescents who attend high school do not have affinities with the discipline, not attending classes. Therefore, this work was built with the intention of showing the factors that cause evasion in the classes of Physical Education in classes of first year of the High School of the State School Gabriel de Almeida Café. Methodological Procedures. A qualitative-descriptive study was used, using the inductive method, listening to 04 teachers of the discipline and 04 groups, in a total of 152 students between 14 and 16 years, through participant observation, analysis of documents in the School Office and questionnaires for teachers and students, applied during the normal study shift. Results. It was verified that 46% of the students are evading because of lack of interest in Physical Education classes, because of the sportivist methodology with no clear purpose and that only some of them ask for exemption according to the law, others are disapproved. Students who enjoy physical education are the Discussion athletes. The methodologies applied do not attract adolescents because they focus only on the decontextualized practice of sports. It is proposed the use of Participative Planning to resize Physical Education at school.


 
Keywords: Evasion, Physical Education, Secondary Education.

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

 

A Educação Física, no decorrer de sua trajetória, assumiu algumas características de atuação educacional e representou diferentes papéis, de acordo com o momento histórico vivido pelo Brasil. Foi introduzida no âmbito escolar sob forte influência militar em 1882, através parecer de Rui Barbosa, que estabelecia a relação professor-aluno como instrutor e recruta, reforçando o comportamento de subordinação, obediência e disciplina com o lema ordem e progresso. À época, seu propósito era formar indivíduos fortes e saudáveis que pudessem defender a pátria e seus ideais. Na década de 1930, a disciplina Educação Física escolar, além de manter a perspectiva militar, incorpora os princípios da área médica (biológicos) como Higienista e Eugenia – para aprimorar a raça e formar indivíduos fortes e saudáveis. (MARINHO, 2005)

Depois do período das grandes guerras, há o declínio dessa corrente, emergindo, na década de 1970, o pensamento Esportivista, através do qual se mostra a superioridade do país através do Esporte. A relação professor-aluno, nesse contexto, é de treinador-atleta, excluindo das aulas os alunos menos “aptos”. (MATTOS; NEIRA, 2008).

No decorrer da década de 1980, no afã de superar os modelos tradicionais de ensino vivenciados na gênese da Educação Física, há uma crise quanto aos seus rumos metodológicos e ao seu verdadeiro papel no processo educativo. A disciplina passa, então, por várias mudanças de enfoque, na busca de um sentido escolar. Surgem, então, várias correntes, como a Desenvolvimentista, que tem no movimento humano seu principal objeto de estudo e concebe o desenvolvimento motor como advindo da adaptação a necessidades cotidianas. Tem Go Tani como seu maior representante.

A corrente Construtivista-Interacionista, representada por João Batista Freire, privilegia o aproveitamento das experiências de atividade física trazidas pelos alunos – o jogo simbólico, o jogo de regras –, dentro da cultura corporal do movimento. Já a Crítico-superadora, através da sistematização cíclica dos conteúdos, propõe uma gama de conhecimentos relacionada à cultura do movimento. Critica o tecnicismo esportivo das vertentes tradicionais, visando a transformação social e obedece aos princípios da relevância dos conteúdos, da contemporaneidade, da adequação às possibilidades sócio-cognitivas dos alunos e da provisoriedade do conhecimento (DARIDO, 2003).

Diante de todas as tendências surgidas, que se consolidaram, renovaram e até se repetiram, a Educação Física desponta como conhecimento imprescindível ao ser humano, seja qual for o objetivo que a esteja norteando. Oliveira (2004) diz que as escolas e os meios de comunicação quase sempre trabalham para produzir – como numa fábrica – indivíduos “adaptados” à sociedade da qual fazem parte.  As pessoas são formadas (ou deformadas) para exibir um perfil dependente, acrítico e submisso. No entanto, a Educação Física oferece a possibilidade de restabelecer os laços de identificação deste homem consigo mesmo e pode participar neste processo, criando ambientes favoráveis para alguém tornar-se, realmente, pessoa.

O fundamental é que se visualize essa disciplina escolar como parte importante do processo educativo. Por isso, o próprio Estado, ao estabelecer diretrizes para a educação nacional, formalizando uma base comum de ensino no Brasil, em 20 de dezembro de 2001, sancionou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (Lei 9.394) que, no que diz respeito à Educação Física, em sua seção I, artigo 26, parágrafo 3º, apresenta o sustentáculo que ampara os professores da disciplina: “a Educação Física, integrada à proposta da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”.

Caso contínuo, Pereira e Moreira (2005) relatam que a lei 10.328/2001, de 12 de dezembro, por sua vez, dimensionou a disciplina como Componente Curricular obrigatório, com a finalidade de incluir e, ao mesmo tempo, reconhecer que a Educação Física deve ser integrada à proposta pedagógica da escola, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar.

Sendo a Educação Física obrigatória ou não, as dificuldades deveriam ser mínimas posto que, de acordo com Phillippe Perrenoud, ela é uma disciplina melhor aceita em relação às demais do currículo escolar, dando ao professor um leque de possibilidades quanto a saberes fundamentais para desenvolver competências e autonomia, o que facilita o processo ensino-aprendizagem (FERREIRA, 2006).

Essa aceitação ocorre porque a Educação Física Escolar conta com diversos conteúdos da cultura corporal em que se destacam: o jogo, o esporte, a dança, a ginástica, as lutas, as atividades expressivas e outras manifestações com características lúdicas. O foco da área, portanto, não deve estar relacionado apenas às habilidades e às competências para o esporte, mas para a ampliação dos conteúdos no âmbito dessa cultura, que possibilitarão o desenvolvimento integral do educando (DAÓLIO, 2004).

Por oferecer todas essas possibilidades, seria natural, como já foi colocado, que a Educação Física fosse uma disciplina privilegiada pela preferência do alunado. No entanto, hoje, especificamente no Ensino Médio, nota-se um acentuado grau de evasão nas atividades da disciplina, fenômeno este que alguns professores não conseguem impedir, e se tem agravado no decorrer do tempo, sem que tenha esclarecidos seus reais motivos.

A inquietação a este respeito foi o que levou à construção do presente estudo, que enseja a busca de respostas para o entendimento do problema e procura descobrir-lhe as causas, apontando caminhos para equacioná-lo. Através de pesquisa bibliográfica e de campo, seu objetivo é identificar e analisar os motivos dessa evasão, notadamente nas turmas do Ensino Médio.

Por outro lado, há também a necessidade de que se faça um diagnóstico dessa situação – a evasão nas aulas de Educação Física –, uma vez que é incipiente a pesquisa científica na área de Educação Física em âmbito local, já que poucos trabalhos relacionados à temática foram apresentados.

Desta feita, realizou-se uma abordagem qualitativa-descritiva do tema, utilizando como instrumentos: observação participante, análise documental, entrevista e questionários. O universo estudado foi uma amostra de 04 turmas de primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Professor Gabriel de Almeida Café, que atua somente nessa modalidade de ensino e é um educandário tradicional por sua localização, prestígio e procura significativa na capital do Estado do Amapá. Procurou-se ouvir também os professores da disciplina e tomar pé do quantitativo de alunos que pedem dispensa das aulas.

Na prática, mesmo dentro das limitações do tema, cria-se uma importante contribuição para o meio acadêmico e profissional da área, disponibilizando dados relevantes para o entendimento da evasão nas aulas de Educação Física e para a reflexão da prática pedagógica.

Na visão de Barni e Schneider (s.d.) a Educação Física que presenciamos hoje é a somatória de um passado conturbado, com uma identidade para cada etapa da história social brasileira. Para a valorização e reconhecimento da Educação Física escolar, faz-se necessário rever algumas atitudes metodológicas dos professores, a fim de que não ocorra a evasão das aulas, e elaborar um plano que atenda às necessidades, anseios e curiosidades de sua clientela.

A ênfase, aqui, deve ser dada ao entendimento do ser em processo que constitui essa clientela: são adolescentes que têm interesses e histórias diversos conservando, no entanto, suas especificidades, dentre as quais, a dialética de opiniões, gostos, decisões. Tudo, além do corpo, dos hormônios, das vontades, aparece em constante mutação.

Para eles, há coisas mais importantes do que as aulas de Educação Física na escola: amigos, namoro, jogos virtuais, televisão, padrões de comportamento e de beleza a serem respeitados e seguidos que, em sua maioria, não incluem a atividade física (o esforço) nem o posicionamento crítico quanto à cultura do movimento corporal. Resultado: não freqüentam as aulas.

Outro ponto, destacado por Darido et al (1999), é que, por ser o Ensino Médio a etapa final da educação básica, há uma preocupação imediata de alguns alunos com foco no vestibular e no mercado de trabalho, daí, a maioria justificar sua ausência das aulas de Educação Física pela inserção neste contexto ou pelo tempo e dinheiro dispendido nas aulas do contra-turno, que têm como agravante a forma utilizada pelo professor para ministrar as aulas.

Para atender a esse público exigente, alguns autores enfatizam a importância de discutir novas propostas pedagógicas: Guedes (2001) e Nahas (2003), colocam a perspectiva da Aptidão Física e Saúde Renovada, que tem como base conceitual a Fisiologia, podendo ser trabalhada através da exploração da curiosidade sobre o desenvolvimento (hormonal) do corpo, notável nesta faixa etária, com o objetivo de desenvolver através das aulas noções de saúde e o hábito da prática regular de atividades e exercícios físicos, proporcionado um estilo de vida ativo ao longo da vida escolar e extra-escolar.

A Educação Física Plural é proposta por Daólio (2004) e tem como propósito valorizar o conhecimento prévio dos alunos – cultural e corporal – a fim de levá-los a perceber o movimento dentro de suas limitações.

A partir da concepção do fazer educativo em Educação Física, Darido et al (1999) destacam algumas propostas metodológicas para melhor adequar a disciplina no Ensino Médio, numa tentativa de evitar a evasão. Dentre estas, o planejamento participativo, que atende aos anseios dos adolescentes. Também para Martinelli et al (2006), essa seria uma alternativa de aproximação da realidade e do contexto social do aluno, uma vez que a participação e a evasão dos educandos são determinantes da relação professor-aluno.

Por exemplo, quando o profissional exige exaustivamente determinado gestos motores esportivos em suas aulas, acaba excluindo e provocando certo constrangimento para os alunos menos destros diante daqueles que apresentam maior habilidade em realizar certos fundamentos esportivos – o que caracteriza a continuidade da esportivização decorrente do ensino fundamental e provoca um distanciamento desses alunos das aulas de Educação Física.

Outro fator determinante de evasão, que deve ser revisitado, é o horário das atividades, que ocorrem no contra-turno. Em se modificando para o mesmo turno das demais disciplinas, facilitaria a democratização e o acesso às aulas, bem como o reconhecimento dos demais professores e comunidade escolar, contribuindo para o aumento da freqüência às aulas de Educação Física.

Na prática, a Educação Física escolar no Ensino Médio precisa rever a ênfase excessiva dada à aptidão física e ao rendimento padronizado, através do único conteúdo ministrado, que é o esporte. O emprego dos conteúdos da cultura corporal, apesar de complexo e trabalhoso, contribui positivamente para que os alunos conquistem a autonomia em relação à expressão corporal como forma de linguagem e de desenvolvimento.

Mattos e Neira (2008) acrescentam ser de conhecimento geral que a vivência das atividades da cultura corporal é uma importante aliada na adoção de hábitos saudáveis, trazendo benefícios biológicos, fisiológicos, psicológicos e sociais, que colaboram na melhoria da qualidade de vida e no bem-estar.

Apesar das dificuldades quanto a espaço, horário e material e dos entraves quanto a um planejamento mais detalhado e exaustivo para o professor, estratégias precisam ser traçadas para que os alunos, como sujeitos do seu processo de humanização, vivenciem diversos e diferentes movimentos, sempre refletindo sobre eles e construindo a sua consciência corporal e de seu papel como cidadãos críticos e participativos. (BETTE) CONCEPÇÃO SISTÊMICA