EU. VOCÊ. O OUTRO. OS SONHOS: FENÔMENOS DE REPRESENTAÇÕES IMAGINÁRIAS OU UM ADVENTO DA VIDA COTIDIANA?

 

Dr. Joaquim Humberto de Oliveira Coelho¹

Henrique Guilherme Guimarães Viana ²

Resumo

Eu, você e os outros sonhamos, sempre. O fenômeno, o estado, a projeção lúdica – um fenômeno em que o centro da consciência deixa o corpo físico durante o sono, ou seja, com grande frequência é confundida com o sonho. Na verdade, nessa linha de pensamento, há diferenças entre sonho e projeção. O universo onírico é dotado de símbolos e estão espalhados por toda parte. Atuam em nossa percepção de uma forma ou de outra, estando assim, integrados ao nosso fazer cotidiano. São nas manifestações artísticas e literárias, no entanto, que eles se expressam em sua forma mais extrema, evocando matrizes culturais, construções históricas e material oriundos do inconsciente, quer seja entendido no sentido freudiano, martiniano ou yunguiano da palavra. O sonho pode ser uma utopia, uma associação de imagens confusas, desconexas que se formam enquanto dormimos. Assim, este artigo objetiva explicitar uma pesquisa empírica, com cinco sonhadores, a partir dos seguintes critérios:  classes sociais, faixa etária e grau de instrução diferenciados. Será apresentado no decorrer deste trabalho, as narrativas do sonhador, sua interpretação, o desenho ou a imagem que o representa e breves considerações interpretativas do entrevistador bem como a escolha de uma narrativa/imagem para uma análise mais detalhada e fundamentada teoricamente.

Diante da grandiosidade do tema e da pluralidade de estudos encontrados na pesquisa, nas diversas áreas e caminhos sociais, permito-me, antes da introdução desse trabalho, apresentar a partir de estudos de pesquisadores e teóricos alguns fragmentos textuais que dissertados não somente sobre o universo onírico, mas também sobre tempos modernos, os caminhos da sociologia, as questões da sociedade, pobreza, riqueza, imaginário, mobilidade social, trabalho e consumo, entre outros aspectos. São questões que de alguma forma se cruzam e dialogam interdisciplinarmente.

Enquanto para Karl Marx, “a vida moderna avançou muito em comparação ao período pré-industrial, ampliou oportunidades de trabalho e de mobilidade social – mas não para todos! E quanto mais esses poucos acumulam, menos o capitalismo distribui a riqueza entre os demais. Como vencer a enorme barreira que separa essas duas classes”? (BOMENY, MEDEIROS, 2010. P. 123)

Max Weber deu importância “à compreensão dos valores, das crenças, daquilo que orienta homens e mulheres em suas condutas de vida. Se compreendêssemos essas condutas, nos aproximaríamos de um entendimento do que é a vida social. As religiões é um exemplo disso – o protestantismo orientou de tal forma a vida social, que tal conduta propiciou o desenvolvimento do capitalismo. Dessa maneira o modo de vida, a cultura e a economia explica a vida social”. (BOMENY, MEDEIROS, 2010. P. 123)

Se para Èmile Durkheim, “se só prevalecer o interesse econômico, não haverá sociedade; pois os seres humanos fazem muito mais do que apenas trabalhar e consumir. Se as pessoas não acreditarem mais nos benefícios das ações coletivas, não virem mais vantagens em se associar, de se agregar, estaremos diante da anomia – a ausência de normas. Isso quer dizer que estaremos diante da não sociedade. Hoje parece ter-se o lema “” cada um para si” – dessa forma fica difícil fazer justiça”. (BOMENY, MEDEIROS, 2010. P.124)

Nobert Elias, diz que “hoje existe uma padronização em relação ao que é civilização. O ocidente apostou fortemente numa ideia: a de que aqui e só aqui se desenvolveu a civilização, a modernidade. Um país visto como atrasado, decadente ou inferior deve ficar no esquecimento, por ser algo ruim, ameaçador e repugnante. “Não é um modelo a ser seguido”. (BOMENY, MEDEIROS, 2010. P,126)

Michel Foucault, “buscou as respostas aos problemas sociais, não na dimensão econômica ou na esfera do Estado, mas nas relações cotidianas ensaiadas nas salas de aulas, nas organizações, nas prisões, nos manicômios. Para ele, os intelectuais foram os grandes responsáveis pela perpetuação de verdades, e saberes que controlam aos indivíduos (numa relação de poder). Os intelectuais acabam reproduzindo um padrão social impostos pelos países capitalistas “civilizados”. (BOMENY, MEDEIROS, 2010. P, 126).

Nesse aspecto, os diálogos entre as diversas áreas apresentam divergências entre homem, sociedade, poder, civilização, problemas sociais, valores e crenças. Assim, acreditamos que de acordo com as citações anteriores, as narrativas oníricas podem ser estudadas / analisadas sob o viés de diversas áreas do conhecimento humano, como a psicologia, a psiquiatria, a filosofia, a história bem como a sociologia, caso proposto neste trabalho.

Introdução

A sociologia foi uma criação da sociedade urbana. Com a advento da industrialização as grandes cidades cresceram e tornaram-se cenário da diversificação de oportunidades, mas também de sofrimento e carência.

Os problemas da vida em sociedade acontecem simultaneamente e desafiam nosso pensamento pela velocidade com que surgem e pela complexidade que apresentam.

Portanto, a partir dessa colocação, faz-se necessário alguns questionamentos: terá havido no mundo alguma sociedade realmente igualitária na qual as pessoas tenham desfrutado de maneira semelhante os bens e as oportunidades da vida social? Nesse caso, pensamos se tratar de uma interface entre utopia e realidade.

Por que ainda na sociedade atual a pobreza é tão pouco a aceitável? Após a introdução dos princípios democráticos, de que todo o homem tem os mesmos direitos e são iguais perante a lei, as diferenças sociais parecem injustificáveis. Trata-se, na verdade de desigualdade e pobreza.

Dizer que a sociologia é um “mapa imaginário” é entender que ela oferece perspectivas parciais da realidade social. Seu papel é nos chamar atenção para uma pluralidade de opções, de contribuições, de olhares e de sugestões diferentes e as vezes até contraditórias. A sociologia faz muitas perguntas e oferecem respostas variadas diante dos desafios comuns.

Mas devemos sair do senso comum e buscar explicações através dos métodos de pesquisa propostos por diversos cientistas sociais: Ele diria que se só prevalecer o interesse econômico, não haverá sociedade; pois os seres humanos fazem muito mais do que apenas trabalhar e consumir. Se as pessoas não acreditarem mais nos benefícios das ações coletivas, não virem mais vantagens em se associar, de se agregar, estaremos diante da anomia – a ausência de normas. Isso quer dizer que estaremos diante da não sociedade.

DAS NARRATIVAS ONÍRICAS – PESQUISA EMPÍRICA

Anônima, divorciada, professora, classe média alta, católica evangelizadora, 49 anos, cor branca, tímida, dois filhos, uma de 20 anos e um adolescente de 16 anos. Apresento, a seguir, o desenho de “estradas”, de uma narrativa onírica de uma sonhadora, sua interpretação e o desenho correspondente, realizado pela mesma, e escolhido pelo entrevistador para análise fundamentada teoricamente e também para outras considerações julgadas pertinentes pelo entrevistador. Para melhor fundamentação desse artigo, serão utilizados os textos trabalhados em sala de aula, conjugados com a bibliografia referendada durante o curso Gênero e Interdisciplinaridade.

“MINHA VIDA É UMA ESTRADA” -  Análise
A sonhadora, relata: meu sonho recorrente é sempre que eu tenho que seguir numa estrada e essa estrada aparece de várias formas. Ás vezes é, uma estrada pedregosa, uma estrada de ferro ou uma estrada plana, mas, eu sempre estou sozinha e eu tenho que seguir essa estrada. O desenho se apresenta noturnamente, o que remete a medo, insegurança e também por estar só. Por lado, traz estrelas e lua que representa brilho, luminosidade a terra.

 Interpreto meu sonho como sendo, a minha insegurança, eu sou uma pessoa muito insegura e eu tenho que em algum momento, em alguns momentos de minha vida eu tenho que seguir sozinha. As estradas simbolizam é, a situação que estou vivendo naquele momento, momentos de tranquilidade que no caso é a estrada plana, momentos de obstáculos que no caso são as pedras e momentos de obstáculos maiores que nem eu mesma vou saber como vencê-los, mas, que eu tenho que fazer sozinha porque ninguém pode fazer por mim.

 Dessa forma, a “estrada” pode ser estudada e analisada sobre diversos aspectos: é rua, símbolo de poder, liberdade, inclusão, exclusão, medo insegurança, caminho público, abertura, local de grande percurso, inclusive, entre a vida e a morte; entre seguir e desistir bem como espaço de limitação diante da sua dimensionalidade.

José de Souza Martins nos diz que o que colocamos lá no mundo dos sonhos, é o medo. São os medos que nos regem quando estamos acordados, só que não sabemos. Então eles explodem no sonho. A loucura da noite e do sonho denuncia a insanidade do dia e da vigília: a insanidade de um agir conduzido e demarcado por um querer alheio, não interrogado, nem questionado. (MARTINS, 2008, p, 9)

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