Aviso: este artigo não é uma ironia, ao contrário do que possa parecer para algumas pessoas que o leiam.

Depois de eu causar polêmica e até ser rechaçado em um grande blog com um artigo expressando muito temor em vislumbrar Marina Silva na presidência, ela respondeu a várias das dúvidas mais intrigantes que havia deixado sobre si e assim mostrou-se ser uma pessoa confiável para se votar. Portanto, anuncio que meu medo "à Regina Duarte" acabou e, diante dos compromissos político-ideológicos e ambientais de Marina, meu voto para presidente vai mesmo ser para ela.

Por que essa virada? – você talvez queira me perguntar agora. De antemão, respondo que ela já não representa uma opção perigosa, inclinada à suja bancada evangélica ou à instalação do criacionismo nas escolas.

Compreendo que seu suposto apoio a pastores políticos de uma reunião de anos atrás (http://noticias.gospelmais.com.br/ministra-marina-silva-se-reune-com-liderancas-evangelicas.html) qualquer outro/a político/a declararia em seu lugar naquela hora, lugar e situação, a não ser que fosse uma pessoa declaradamente inimiga do (neo)pentecostalismo. Sei hoje também que ela declara não ser contra o laicismo nem a favor do ensino criacionista em escolas públicas, segundo entrevista dela no programa de televisão Roda Viva, esclarecendo a imagem duvidosa que ela havia deixado de si mesma diante de um blogueiro adventista cerca de um ano e meio antes.

Ao contrário de outros políticos evangélicos, ela parece ser uma saudável e lúcida exceção que não mistura livremente sua convicção religiosa com seu jeito de fazer política. Pelo menos assim é que sua imagem figura diante dos muitos grupos virtuais de apoio à sua futura candidatura à presidência e depois de ter se esforçado em corrigir os equívocos e dúvidas sobre sua maneira de agir politicamente deixados em anos anteriores.

Assim sendo, já sei o bastante sobre ela para poder lhe dedicar confiança suficiente para um voto em 3 (1º turno) e 24 ou 31 (2º turno) de outubro de 2010.

Com essa nova confiança em Marina, vejo sua personalidade e ideologia como as mais afins com as necessidades brasileiras e também globais. Seus pontos mais fortes, a simpatia incondicional com o meio ambiente e suas feições de mulher do povo – esta semelhante às características de Lula de homem do povo –, são trunfos que ninguém mais ostenta na corrida presidencial cuja pista está sendo construída.

Mulher de origem muito humilde como Lula, negra e lucidamente evangélica, Marina é a segunda cara do povo que pode assumir o cargo político máximo do Brasil – a primeira foi Lula – e tem tudo para dar continuidade às políticas de remediação emergencial da pobreza extrema (Bolsa-Família e a tentativa do Fome Zero), sob o risco de figurar permanentemente como traidora das esperanças do povo caso os extinga sem uma política substituta que crie oportunidades populares.

Gente como Dilma Rousseff – que mais parece uma boneca de botox, tamanho é o esforço artificial de tentar construir uma imagem popularmente amigável em termos de aparência e personalidade – e José Serra – homem que nos lembra o sombrio período do domínio direitista do Poder Executivo brasileiro, seus nulos avanços sociais e sua política econômica nada animadora – nem de longe são tão amigáveis para um povo sofrido quanto Marina. Não conseguirão convencer o povo de que serão socialmente bons e justos na presidência nem se nascerem de novo.

O programa de governo de Marina ainda não está suficientemente revelado, mas, a esta hora, pergunto: quem é que já mostra um programa completo ou quase completo meses antes de ser autorizada a propaganda eleitoral? Com a confiança e esperança que eu mais milhões de brasileiros/as temos, ela não vai decepcionar quando revelá-lo ao país daqui para julho próximo. Se ela não quiser perder o apoio da população com que ela mais se assemelha, deverá apresentar propostas socioambientalmente amigáveis e uma política econômica de socialização dos ganhos.

Um ponto fundamental de suas intenções de governo, no entanto, já está mais que largamente revelado e conhecido: seu irredutível compromisso com o meio ambiente, que também nenhum/a outro/a candidato/a iguala. Dilma já foi sua adversária dentro do governo Lula em se tratando de chocar desenvolvimentismo com sustentabilidade e zelo ambientais. Era Dilma decidindo obras dentro de lugares ambientalmente sensíveis, como a Amazônia, e Marina brigando para que esse planejamento antiecológico fosse imediatamente mudado.

Pergunto: em termos de meio ambiente, de garantir a sobrevivência da biosfera, incluída nela a humanidade, quem é mais confiável? Marina Silva, mulher que praticamente nasceu na mata e tem desde sempre uma dedicação incondicional à preservação dos biomas brasileiros, ou sua adversária "botoxada" que só recentemente começou a esboçar um discurso ecologizado por necessidade política de se atualizar e se mostrar uma figura amigável com as necessidades ambientais do planeta? Ou Serra, que, com o Rodoanel e seu sérios estragos na Mata Atlântica de São Paulo, mostra o que podemos esperar de atenção ecológica de um possível governo de direita?

Aliás, Dilma e Serra sim é que dão medo.

Dilma está representando a tentativa do governo Lula de ter uma continuidade. Mas estamos vendo pelo Brasil diversos casos de continuidade quebrada, mesmo em governos do PT. Como eu já falei em artigo anterior sobre o favoritismo de Dilma de outrora (http://acertodecontas.blog.br/artigos/dilma-j-favorita/), ela tem semelhanças inegáveis com o hoje prefeito do Recife João da Costa e o projeto de continuidade que João Paulo, prefeito anterior, montou com ele na campanha de 2008.

Se levarmos ao pé da letra essas semelhanças, então estaremos ferrados se Dilma ganhar, porque vimos em Recife o rompimento da aliança João Paulo-João da Costa e um governo muito tosco em termos de gestão urbana, que nada lembra as promessas de continuidade. Já suspeitamos hoje que Dilma nada tem a ver com o modo Lula de governar, e o tempo muito provavelmente vai nos dar essa certeza caso ela ganhe.

Serra, por sua vez, representa tudo o que o Brasil não quer ver ou ter de volta: uma perspectiva de política direitista, conservadora, elitista, (pós-)neoliberal, capenga economicamente, antissocial, indiferente com o meio ambiente, insensível às necessidades das classes mais necessitadas. As queixas do povo de São Paulo com seu governo estadual muito provavelmente passarão a ser nacionais caso ele ganhe.

Outros possíveis candidatos, pelo pouco que conhecemos deles, também não inspiram a mínima confiança de que melhorem o Brasil se ganharem. Ou pelo menos não a mesma confiança que Marina semeia.

Por tudo isso, declaro meu voto, sem mais nenhum medo, em Marina Silva e minha esperança de que minhas expectativas e esperanças nela se confirmem na campanha eleitoral presidencial a partir de julho e no seu triunfo eleitoral. Mesmo que ela esteja pequena nas pesquisas agora, é muito provável que, com uma campanha e estratégia bem delineadas, ela surpreenda daqui para outubro, assim como muitos outros políticos surpreenderam nas últimas décadas. Marina, minha esperança está oficialmente contigo.