Eu quero colo
Publicado em 14 de março de 2010 por Amarília Couto
Texto
Eu quero colo! Cada vez que sinto um olhar endurecido, que ouço palavras ríspidas e grosseiras, que têm na humilhação o seu objetivo, eu necessito de colo. E ao assistir aos noticiários da TV, onde a maldade impera e parece que o bem não tem vez, que a ética mudou de planeta e a solidariedade anda acuada, temendo um assalto à mão armada, eu quero colo. Quando vejo o amor sendo banido das relações, o sexo perdendo a beleza das emoções, as pessoas calculando os minutos, os segundos, economizando sorrisos e afagos, distribuindo tapas e gritos, eu busco colo. E a insanidade do Poder constituído, cujos representantes enlouquecidos defendem os próprios interesses, ultrajando os desejos de um povo há tempos esquecido, justificando a posse de castelos e latifúndios tão bem cuidados, farreando com o dinheiro público em detrimento da miséria alheia, eu desejo colo. Pra me sentir protegida, pra fugir do mundo hostil, pra nascer de novo e voltar a ser gentil, acreditar que a esperança ainda existe, que nem tudo é apenas triste, que o amor sempre fará diferença, que a ternura pode mais que a ofensa e que a violência pode arrefecer a cada dia, se eu fizer a minha parte e você também fizer a sua, numa corrente do bem infinita, em busca de uma civilidade perdida, que poderá ser reconstruída a partir de pequeninos gestos. |