Éthos-Essa noção primitiva do ethos remete, assim, à idéia de um espaço constituído e ordenado pelo homem segundo sua razão. O ethos indicará, nesta primeira expressão, um espaço construído e permanentemente reconstruído pelo homem, espaço no qual serão inscritos os costumes, hábitos, valores, normas e ações. Esta ordem geral à qual se refere o ethos é denominada costume, maneira de ser habitual, comum a um determinado grupo humano.

Ethos como costume: modo de ser que procede da vivência comum dos princípios, valores, normas, leis e hábitos que expressam a idéia de BEM (universal) partilhada pelos membros de uma coletividade (comunidade, povo, etnia, civilização etc.).

Ethos como hábito: constância no agir de um indivíduo por meio do qual este incorpora à sua personalidade aquele ideal de BEM (virtude) e o efetiva por meio de ações, sempre perguntando pelo sentido delas.

A questão ética surge, portanto, no momento em que é feito um apelo à iniciativa do ser humano, pressuposto que sua ação não é condicionada (inteiramente) pelo curso natural das coisas. Importa, pois, determinarmos o "lugar" da ética na atividade do ser humano. A dimensão ética da ação inscreve-se na temporalidade própria do existir: capacidade de iniciativa para forjar, por si mesmo, seu ser futuro: poder de agir, decisão fundada na deliberação.

 É consenso geral de que, quando falamos em moral e ética estamos falando, ainda que sem mencionar, nos conceitos de certo/errado. A maior parte do tempo em que nós falamos nesses conceitos, não está apenas descrevendo que uns acham algo certo, outros acham algo errado, estamos na verdade buscando uma base para dizer por que tal coisa deve ser considerada certa e porque tal coisa deve ser considerada errada (digamos, uma norma), o que implica em que tal coisa deve ser feita, e tal coisa não deve ser feita (a norma prescreveria algumas ações ou não-ações). Nesse sentido, a ética trata então do que deve ser, e não do que é.

A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros relações justas e aceitáveis. Via de regra está fundamentada nas idéias do bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz. A ética envolve um processo avaliativo especial sobre o modo como os seres humanos intervêm no mundo ao seu redor, principalmente quando se relacionam com os seus semelhantes. Esse processo avaliativo diz respeito ao mérito ou demérito do agir humano. São as atribuições de mérito ou demérito que impregnam esse agir com um tipo de valor: o valor moral.

) Ética e moral

Ética" é a condição humano que possibilita questionar a "Moral" instituída na sociedade, visando a sua transformação.

Uma distinção "acabada" entre ética e moral implica, antes de tudo, seguir o caminho que o pensamento filosófico fez até o momento em que esses conceitos adquiriram sentido próprio e, posteriormente, distinto. O primeiro passo é a passagem do ethos, como modo de vida centrado na idéia de Bem e impresso na cultura como costume, à ética, como inteligibilidade da ação virtuosa, como reflexão sobre a vida concreta dos homens que constroem a si mesmos como existência para o Bem. Esse passo foi preparado por Platão e consumado por Aristóteles, com o qual a ética adquiriu estatuto de disciplina autônoma (ciência da práxis).

Ethos e Cultura -ação humana, enquanto portadora de significação, é a medida (métron) das coisas, no sentido de que toda ação – seja como agir (práxis), seja como fazer (poiésis) – constitui um universo simbólico que é, a um só tempo, obra (ergon) dos homens e referência para sua própria ação, ou seja, seu ethos. Ora, a essa obra coletiva, a essa ação criadora de objetos, signos e formas pelas quais um determinado grupo humano se reconhece como coletividade, damos o nome de "cultura". Nesse sentido, como já afirmara Vaz (1993, p. 36), "o ethos é co-extensivo à cultura

No interior da tradição, o ethos é vivido e concebido como um processo dialético a partir do qual se constitui o que podemos chamar de uma unidade fundamental de sentido desde sempre existente, a qual se reproduz como inteiridade, isto é, como totalidade. Esta inteiridade corresponde efetivamente ao que se chamará aqui de ordem social herdada, ou simplesmente, de moral herdada.

Ética como questionamento da moral na cultura:O ponto a partir do qual pensamos a questão ética contemporânea supõe uma compreensão de homem cujo pensamento e atividade redefinem, permanentemente, o sentido do mundo – e do seu mundo particular –, sem que isso indique, de per si, uma "deterioração" dos valores herdados da tradição, isto é, supõe a consideração dos agentes sociais como criadores, instituintes, do sentido do seu ethos

Toda sociedade, para existir, precisa, como vimos anteriormente, de regras morais que a regulam, sejam estas regras escritas ou presentes na subjetividade de cada sujeito. Sem regras morais, não há sociedade. Contudo, só as regras morais não bastam, pois elas representam somente o momento em que a sociedade vive. É a capacidade humana de questionar estas regras morais que possibilita a transformação da sociedade. A este questionamento é que chamamos de "Ética.

A Ética Filosófica de Platão

Platão foi o primeiro a enfrentar filosoficamente, isto é, com rigor de método e profundidade de reflexão, a questão do "Bem". A interrogação platônica visará à questão do "Bem em si mesmo" e de como este Bem se apresenta como bem-para-nós, ou seja, como bem na vida humana.

Platão, para explicar sua concepção de Ética, inventou o Mundo Ideal, lugar abstrato onde existe o Bem, a Verdade, a Justiça, o Belo e todas as noções perfeitas que existem. Em nosso mundo real, só percebemos a sombra deste mundo ideal, onde existe a luz plena. Para alcançar o mundo ideal, segundo Platão, precisamos de um método, a que ele chama de dialética

A Moral Ascética de Platão;Para Platão, o que nos destrói é a injustiça, a desmedida e a desrazão. A justiça é, na polis, reflexo da ordem e da harmonia do universo; pela justiça nos assemelhamos ao que é invisível, divino, imortal e sábio. Não peço que me mostres o exemplo de um ato justo, mas peço que me faças ver a essência por força da qual todas as condutas são justas.

A  ética platônica não pode ser pensada sem se considerar o método que sua filosofia institui, isto é, a dialética. Em Platão a dialética é a busca do ser-em-si de todo ente, ou seja, a Idéia (Ιδέα): o ser na sua imutabilidade.

Agostinho e sua ética do amor como caminho para a felicidade;

 Agostinho (354 a 430) nunca escreveu um tratado sobre Ética, mas esteve sempre atento a todas as grandes questões de seu tempo. Dentre elas, destaca-se o fato de que o cristianismo pouco-a-pouco foi deixando de ser uma religião marginal, e muitos no próprio estado romano passaram a ver possibilidades de instrumentação ideológica desta religião. O imperador Teodósio em 380 torna o cristianismo uma religião lícita, sendo ele próprio um de seus adeptos. Por todo o império ocorrem conversões – boa parte delas motivadas apenas pela nova conjuntura de um imperador cristão, mas também o próprio cristianismo está profundamente marcado por divisões internas, comumente chamadas de heresias.

É na relação entre a realidade, sempre precária e parcial, e o princípio para o qual tendem todas as criaturas, isto é para seu Criador, que Agostinho faz sua aplicação da dialética platônica. O que vivemos em nossa realidade cotidiana é um arremedo do que verdadeiramente existe. A cidade dos homens em sua permanente incompletude e erros – daí a importância da noção de pecado original -, nos remete em nossa busca espiritual pelo bem e a felicidade, ao encontro com Deus.

A Ética Normativa de Kant: reformula a questão ética de tal forma que a tradição de especulação moral posterior a ele não pode mais deixar de se reportar ao seu pensamento. Em verdade, sua teoria ética é o resultado do empreendimento intelectual de Kant para equacionar a questão do conhecimento.

A Ética Comunicativa e a Ética da Responsabilidade; Hans Jonas discute a Ética, a partir da preocupação com a tecnologia e com as questões que envolvem a ação do homem sobre a natureza. Nenhuma ética anterior levou em conta as condições globais da vida humana, nem o futuro remoto, mais ainda, a existência mesma da espécie. O fato de que precisamente hoje estão em jogo essas coisas exige, em uma palavra, uma concepção nova de direitos e deveres, algo para o que nenhuma ética, nem metafísica anterior  proporciona os princípios e menos ainda uma doutrina já pronta. (JONAS, 1995, p. 34).

) Por Uma Ética da Emancipação Social: Rawls, Lévinas e Dussel:

Rawls deixa claro que seu interesse fundamental não é o conceito de justiça em geral, mas o problema mais específico da justiça social, ou seja, o problema da justificação da desigualdade que inevitavelmente existe em qualquer organização, inclusive na organização social. Que haja desigualdade é inescapável: em qualquer organização, haverá, por exemplo, distribuição de papéis e funções; haverá também uma distribuição do produto do esforço coletivo, segundo algum critério. Põe-se, assim, o problema da justiça na distribuição de encargos, benefícios, autoridade, direitos e deveres.

Lévinas em seu discurso é ético-religioso, procurando um certo personalismo e a efetivação da paz no mundo. Desse modo, há o anúncio de uma escatologia. Seu pensamento tem uma inspiração bíblica; procura fazer uma filosofia que pense a unidade do ser, ainda que não possa ser negada a multiplicidade ontológica. Há uma espécie de nostalgia do mesmo, da circularidade do ser, onde tudo se reencontra no Todo.

 Dussel,  nega a negação presente no sistema de Hegel, o qual, segundo sua visão, não contempla a alteridade, mas, apenas, a identidade. Sistematiza sua proposição, demonstrando que as éticas formais baseiam-se numa perspectiva da identidade, que vê o mesmo, o único, como uma espécie de fechamento de totalidade. Propõe, pois, uma perspectiva da alteridade, quando ocorre o olhar para o outro, superando o mesmo, o idêntico, possibilitando uma abertura compreensiva para a diferença, para o reconhecimento da diferença, permitindo ações que possibilitem a libertação dos que se encontram na situação de opressão.

Dissociação entre o mundo real e os valores éticos Platão contrapõe a necessidade de uma reconstrução da sociedade segundo estes valores, por mais radical que ela possa parecer.

No pensamento de Platão, o reencontro da ética e da realidade se dá através de uma grande reforma social, política e econômica que torne a cidade mais simples, mais desligada dos valores materiais, mais igualitária. A preservação desta nova cidade só poderia ser feita se o poder fosse centralizado neste estrato dominante dos guardiães para os quais a simplicidade e a privação – bem como a educação – deveriam ser ainda mais rígidos.

A ética como elemento de harmonia social em Santo Agostinho, procura demonstrar que o amor é o sinal distintivo dos cidadãos da Cidade Celeste e o fundamento da moral tanto individual como da sociedade humana e tem por meta a busca da felicidade do homem. O amor gera a concórdia que num plano social é a base de uma sociedade justa. Dessa forma, Agostinho faz da ordem social um prolongamento da ordem moral interior, sendo que a organização dos homens em sociedade, fundamentada no amor, não tem outra finalidade senão garantir a paz ou felicidade temporal dos homens, com vista à paz eterna ou verdadeira felicidade.

) Ethos mundial. Trata-se de uma ética que possa ser aceita pela maioria da população ou até mesmo pela sua totalidade.

A busca de um ethos mundial vem sendo justificada por várias razões, entre elas, o aumento da pobreza, a degradação ambiental, a intensificação de situações que provocam verdadeiras injustiças sociais, o aumento de conflitos étnicos, formas explícitas e disfarçadas de atentados contra a democracia real e o agravamento da crise espiritual e da própria ética.

Esse ethos mundial tem a ver com a totalidade do mundo e até do cosmos. Diz respeito não só à vida humana, mas a toda vida no planeta. Tem a ver com valores fundamentais que respeitam as diferentes visões de mundo e podem contribuir para solucionar os atuais problemas graves da humanidade. Gira em torno de quatro eixos fundamentais:

1.cultura da não-violência;

2.cultura da solidariedade;

3.cultura da tolerância;

4.cultura dos direitos iguais

3) Para Boff (1999), há algo nos seres humanos que se encontra surgido há milhões de anos no processo evolutivo quando emergiram os mamíferos, dentro de cuja espécie nos inscrevemos: o sentimento, a capacidade de emocionar-se, de envolver-se, de afetar e de sentir-se afetado. A isso os gregos chamavam de pathos.

Dar centralidade ao cuidado não significa deixar de trabalhar e de modificar o mundo. Significa renunciar à vontade de poder que reduz tudo e todos a objetos, desconectados da subjetividade humana. Significa recusar-se a toda forma de dominação. Significa abandonar a ditadura da racionalidade fria e abstrata para dar lugar ao cuidado.

4) Ética e Meio Ambiente: Quando chegam as imagens de grandes incêndios em florestas temperadas, há um grande destaque aos prejuízos materiais - mansões, carros de luxo e outros. Raramente, os textos da mídia se referem aos "outros" danos. Perda da qualidade do ar, emissões de gases-estufa, emissões de gases cancerígenos e indutores de problemas pulmonares, cardiovasculares, psicológicos, alergênicos e outros. Tampouco se consideram os danos à vegetação, ao solo, à fauna, à água. Nessa escala de consideração, a perda de valores estéticos não é sequer citada.

5) Ética e Juventude: A dinâmica do mundo contemporâneo pode ser percebida por uma diversidade de forças sociais, que atuam de forma interconectada, objetivando desenvolver projetos pessoais ou grupais. Dentre as distintas energias, não pode ser desconsiderada a capacidade dinamizadora da juventude. Por isso, a compreensão do fenômeno juvenil, vinculado ao tema da ética, exige uma reflexão que considera, ao menos, o perfil das juventudes, os grandes desafios dos jovens e as potencialidades inerentes à juventude para colaborar com a construção de uma humanidade mais ética.

Ao tratar do tema da juventude e das juventudes é oportuno, inicialmente, considerar que não existe um conceito uniforme para definir esse processo existencial e relacional. Por isso, mais do que compreender a juventude como um período da vida biológica, um fenômeno cultural ou um agrupamento social, é necessário ter consciência de que as juventudes são manifestações extremamente diversificadas, extrapolando qualquer tentativa de enquadramento conceitual. Portanto, em vez de referendar um conceito é mais interessante compreender a juventude como um movimento, como uma energia ou como uma potencialidade social.

6) Ética e Universidade

Um dos temas importantes que demandam uma pergunta ética é sobre o conhecimento e, sem dúvida, a Universidade tem um papel privilegiado no seu tratamento, tendo em vista que poucas instituições têm a liberdade de lidar com o conhecimento de forma crítica como ela.

7) Ética e Etnia

Ética e etnia são termos carregados de significação que podem provocar discussões instigantes no contexto da realidade brasileira, bem como na realidade de outras nações no mundo atual. Assim, essa aula tem como pretensão desafiar o leitor universitário a refletir sobre esta questão tão atual e, geralmente, tão mal compreendida, especialmente em nossa sociedade. O ponto de vista aqui defendido é o de que a etnia deve ser vista como uma diferença que realça a dignidade e a cidadania na pessoa humana e não como um elemento que avalia o ser humano por meio de uma escala de valores preconceituosa e superficial, com base em dicotomias como bem x mal, superior x inferior, feio x bonito e tantas outras formas.

8) ética em seu processo de individualidade do sujeito clama por uma postura do ser honesto, do ter coragem para assumir, do ser íntegro, humilde, flexível, transparente. Mas, encontra pela frente a Internet que tem modificado sobremaneira o comportamento humano.

Ao se navegar na Internet, torna-se fácil verificar desejos obsessivos; o ter mais que o ser, a posse, o poder e o prazer desregrados. O comércio eletrônico (e-commerce) que tem levado, até devido à facilidade dos processos de uso, bem como a quantidade de boas ofertas, ao desejo na obtenção de bens que de forma abrangente, tornou-se prestígio social. Quem muito tem, mais prestígio adquire

9) Os gregos tinham consciência de que os homens são desiguais por natureza. Ora, se os homens são desiguais, é preciso "igualá-los". A consciência da desigualdade natural entre os homens põe o problema de que o que é o melhor para todos não acontece naturalmente, mas tem que ser decidido coletivamente. Portanto, o que é justo, não o é por natureza, nem é dado por Deus. A justiça, o bem comum, deve ser instituído pela sociedade (e cada sociedade deve encontrar os meios para fazê-lo). De todo modo, esta idéia é importante: fazer justiça é estabelecer a igualdade política entre os membros da sociedade.

A política implica o governo, como vimos, mas não se reduz a ele. O governo, no caso de uma República, concerne o poder executivo, encarregado justamente de executar as ações que presumidamente realizam o bem público. Mas este é apenas um aspecto da coisa, e nem é mesmo o essencial. O risco, na verdade, é o de reduzirmos a atividade política àquilo que compõe a "política" tal qual ela é feita em nossos dias, ou de confundi-la com os seus "desvios" (luta pelo poder, fofocas de bastidor, intrigas, corrupção, eleição, etc.).

10) Sugere-se, portanto, que a educação profissional aplicada através da EAD gera melhores benefícios e possibilidades em processos de treinamento e desenvolvimento pessoal, no ambiente corporativo, na formação pessoal e na busca de uma ética não subjugada diante do avanço da informática

Ethos mundial propõe uma reflexão sobre o significado e aurgência de um novo ethos mundial que garanta a preservação e a possibilidade da vida humana sobre a Terra, assegurando um mundo habitável não apenas para nós,mas também para as futuras gerações. A relevância dessa problemática filosófica envolvendo o tema da ética vem ocupando destaque no pensamento contemporâneo.

Esta ética exige refletir com seriedade e responsabilidade sobre três problemas que suscitam a urgência de uma ética mundial: a crise social, provocada pelo agravamento da pobreza, gerada pela acumulação de riquezas, que contraditoriamente aprofunda o fosso entre ricos e pobres; a crise do sistema de trabalho, deflagrada pelo desemprego estrutural, fruto das mudanças tecnológicas que gera um imenso exército de excluídos em todas as sociedades mundiais; e a crise ecológica, provocada pela atividade humana irresponsável, que ameaça a sustentabilidade do planeta com o desequilíbrio ecológico, criando "o principio de autodestruição". Daí a crescente importância das questões éticas e ecológicas envolvendo a relação homem-natureza.

 Referencias bibliográficas,

ARENDT, Hanna, Condição Humana. Trad. Celso Lafer. Florence, Editora Universitária (USP)

ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco in Aristóteles– Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.