ÉTICA E LIVRE VONTADE DE AGIR HUMANO

Por Paulo Nhavene | 23/08/2022 | Educação

Resumo

A ética é um elemento vital na formação dos laços sociais, é uma característica própria de toda acção humana e, por este entendimento, todo homem possui um senso ético, estando constantemente a avaliar e julgar as suas ações, com o intuito de saber se são benévolas ou malévolas, corretas ou incorretas, justas ou injustas.

É de extrema relevância destacar que a ética está diretamente ligada aos hábitos e costumes, e esses mudam conforme o tempo e a localização. Sendo assim, o que é considerado ético hoje, pode não o ser amanhã e o que é considerado certo em determinado país ou localidade, pode não o ser em outro. Esses todos aspectos condicionam na livre vontade de agir humano.

O presente trabalho visa em primeira instância, definir a ética e indicar as suas diferenças com a moral, para além de abordar sobre a livre vontade de agir humano na sociedade. Para a execução deste intento, foi empregue o método de pesquisa bibliográfica, onde foi possível através de revisão de artigos científicos e dissertações encontrar concordância no desenrolar deste texto.

Ética – etimologia

Etimologicamente falando, a palavra ética vem do grego "ethos", e tem o seu correspondente no latim "morale", com o mesmo significado: conduta, ou relativo aos costumes. "Ethos˝ ética, em grego, designa a morada humana. Podemos concluir que etimologicamente ética e moral são palavras sinónimas. Ética significa tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para ser uma moradia saudável (Pereira, 2010).

Salienta Pereira que, a ética surge quando os filósofos de cultura ocidental apontam suas teorias aos “contemporâneos dos mistérios do universo e das forças cósmicas (cosmogonia), para a essência moral e o carácter dos indivíduos”, então, o homem passa a ser objeto de pesquisa, iniciando a temática do discurso moral e político como forma de enquadramento social e, essa tendência movimenta o mundo das ideias, que, percorre em diversos períodos na visão de filósofos até os dias actuais.

Conceitos de Ética

A ética pode ser olhada como o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal, ou ainda, conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano (Ferreira, 2005).

Por sua vez, Menezes (2017), entende a ética como o estudo de valores e princípios que orientam as acções humanas. É baseada na ideia do bem.

Portanto, podemos considerar nas ideias dos autores referidos que, a ética manifesta ser um juízo respeitável para orientar e modelar as acções humanas, de modo a produzir relações harmoniosas no perímetro particular, no público e entre ambos. A ética são normas e ou princípios que devem guiar-nos enquanto seres pensantes e cientes das nossas atitudes.

Para Dubrin (2003), a ética é definida como as escolhas morais que uma pessoa faz e o que essa pessoa deveria fazer. É o que ela considera como certo e errado ou como bom e mau. É transformar valores em ação.

Uma definição mais abrangente de ética, onde se entende como hábitos e comportamentos aceitos em determinado espaço de tempo e em determinada localidade de acordo com os costumes vigentes, enquanto considerados morais pela maioria da sociedade, deixando clara a condição situacional da ética (Álvaro Valls, 2000).

Existe um outro aspecto que se deve olhar antes de agir, como a questão dos hábitos e costumes, além da localidade ou meio onde o indivíduo se encontra inserido. Estes aspectos condicionam a livre vontade do agir humano.

Ética e moral

A moral é a matéria com a qual a ética trabalha. Muitas vezes, os termos ética e moral são usados como se fossem sinónimos, e, de fato, em alguns momentos da história da filosofia eles chegaram a significar a mesma coisa (Stacey, 2010).

Para Menezes (2017), existe muita diferença entre a ética e a moral. O quadro abaixo ilustrado relata alguns pontos que diferenciam a ética da moral.

Ética Moral Definição A ética é o estudo e a reflexão sobre os princípios da moral, das regras de condutas aplicadas a alguma organização ou sociedade. A moral refere-se as regras de conduta que são aplicadas a determinado grupo, em determinada cultura. De onde vem?

Da reflexão sobre as ações humanas.

Dos costumes e do sistema social. Por que seguimos? Por que compreende que há um bem e que oriente e se manifesta a partir das ações. Porque a sociedade desenvolve as próprias normas e define o que é certo e errado. Flexibilidade

Sujeito a reflexão e a mudanças ao longo do tempo.

Pouco sujeito a mudanças, pois, varia de acordo com cada cultura ou grupo Significado Ética vem da palavra grega ethos que significa ˝conduta˝ modo de ser. Tem origem na palavra latina moralis que significa ˝costume˝ Origem

Universal

Cultural Tempo Tende a permanência Temporal Uso

Teórico

Prático Exemplo A ética é a ciência das virtudes humanas A moral cristã prevê que a compaixão e o amor ao próximo são valores imprescindíveis da vida em sociedade.

Adaptado de Menezes (2017).

A ética e a moral são conceitos que se complementam uma da outra. Enquanto que uma é teórica, a outra é prática. Tanto a ética, assim como a moral têm um impacto na livre vontade de agir humano.

Livre vontade de agir humano

É necessário dizer que, nem todos os actos do homem são morais, mas apenas os voluntários (Souza e Silva, 2015).

O homem só age moralmente quando, pela sua livre vontade, determina as suas acções com a intenção de respeitar os princípios que reconheceu como bons. O que o motiva, neste caso, é o puro dever de cumprir aquilo que racionalmente estabeleceu sem considerar as suas consequências (Pereira, 2010).

A moral arca assim, um conteúdo puramente formal, isto é, não nos diz o que devemos fazer (conteúdo da acção), mas apenas o princípio (forma) que devemos seguir para que a acção seja considerada boa.

Segundo Ramalho (2010), a vontade livre possui como tarefa própria, concretizar sua liberdade no mundo objetivo do espírito, o que diferencia, propriamente, sua tarefa da tarefa do pensamento. Sob esta perspectiva, Hegel (2003), concebe a vontade livre fundamentalmente como uma actividade e, mais especificamente, como uma actividade livre finalista que tenciona realizar-se na objetividade.

Livre vontade de agir é estimada como uma capacidade particular de atuantes racionais para escolher um curso de acção entre algumas alternativas que significa a probabilidade de uma autodeterminação interna, sem barreiras de uma pessoa na realização de determinados objectivos e actividades.

De acordo com Souza e Silva (2015), é comum conceber que nosso agir e nosso pensar estejam unidos entre si. De facto, é bastante evidente para nós, que nossas decisões possam ser levadas a termo em nossas acções. A vontade é o aspecto prático do espírito, por outro lado, é o posicionamento de diferenças e autodeterminação em relação ao mundo externo. A singularidade aparece como um conceito concreto onde a universalidade e a particularidade apareceram como os momentos do devir (Hegel, 2003). A vontade livre apenas em si, é a vontade que é livre em conceito, formalmente, mas não em conteúdo. A vontade é a definição essencial de liberdade, mas ainda é puramente formal, é apenas um esboço do que é a liberdade, e ainda não é a ideia de liberdade. O conteúdo da vontade ainda precisa ser especificado. Não é qualquer escolha com a qual o “eu” é capaz de se identificar. Para

ser livre em um sentido real, o “eu” tem que se encontrar, em alguma escolha particular que deve representar uma realidade adequada a ele mesmo (Hegel, 2003).

Considerações finais

O agir é antecipado pelo pensar, isto é, pensar nas acções humanas. O assunto mais ecuménico (buscar pela união apesar das diferenças) que existe actualmente é o da dignidade humana, viver com qualidade e felicidade. No entanto percebe-se que o mundo se tornou uma guerra, e o homem como um todo, encontra-se mergulhado em meio a tanta balbúrdia.

O comportamento ético não consiste exclusivamente em fazer o bem ao outro, mas sim, agir pelo exemplo mostrando o aprendizado recebido. É o exercício da paciência em todos os momentos da vida, a tolerância para com as falhas alheias, a obediência, o silêncio perante uma ofensa recebida e posterior reflexão.

O agir humano é uma capacidade particular de cada indivíduo e tem grande impacto na moralidade e consequentemente na tomada de decisões. A livre vontade de agir humano deve estar dentro dos padrões e das regras da sociedade em que estiver inserido.

Referências Bibliográficas

Dubrin, A. J. (2003). Fundamentos do comportamento organizacional. Trad. James Sunderland Cook e Martha Malvezzi Leal. São Paulo: Thomson.

Ferreira, A. B. H. (2005). o dicionário da língua portuguesa. 6. ed. rev. Atual. Curitiba: Positivo.

Menezes, P. (2017). Qual é a diferença entre ética e moral? Universidade Porto (FPCEUP).

Pereira, G. A. (2010). Curso de formação de agentes de reflorestamento: Noções básicas de ética e cidadania Universidade Federal Rural Do Rio De Janeiro

Ramalho, J. S. (2010). Liberdade e Natureza: o problema da finitude e infinitude da vontade na Introdução da Filosofia do Direito de Hegel.

Stacey S. (2010). Relação fundamental entre Ética e Moral, e-Tec Brasil.

Valls, A. L. M. (2000), O que é ética. 9. ed. São Paulo: Brasiliense.

Souza, G. G. M e Silva F. A. C. (2015). Investigações sobre o agir humano, Mossoró: UERN. Hegel, G.W.F. (2003). Princípios da Filosofia do Direito. Tradução: Orlando Vitorino. São Paulo: Martins Fontes

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