ARISTÓTELES

ÉTICA A NICÔMACO (LIVRO II)

            Aristóteles define o homem como um ser racional e considera a atividade racional o ato de pensar, como essência da natureza humana. E como, para ele: O que é próprio de cada coisa é, por natureza, o que há de melhor e de aprazível para ela. Para o homem a vida conforme a razão é a melhor e a mais aprazível já que a razão, mais que qualquer outra coisa é o homem. Onde se conclui que essa vida é também a mais feliz.

            Para ser feliz, portanto o homem deve viver de acordo com a sua essência, isto é de acordo com a sua razão, a sua consciência reflexiva e orientando os nossos atos para uma conduta ética, a razão humana nos conduz a prática da virtude.

            Para Aristóteles ser feliz é usar a razão com propriedade de tal forma que isso se torne uma virtude. Para ele existe dois tipos de virtude a intelectual e moral. A intelectual teve grande parte sua geração e crescimento ao ensino, e requer experiência e tempo; e a virtude é adquirido do seu resultado.

            Para Aristóteles, a virtude representa o meio-termo, a justa medida de equilíbrio entre o excesso e a falta de um atributo qualquer, por exemplo: A virtude da prudência é o meio-termo entre a precipitação e a negligência; a virtude da coragem entre a covardia e valentia insana; a perseverança é o meio termo entre a fraqueza de vontade e a vontade obsessiva etc.

            A virtude não é uma entidade abstrata, um em-si fixo, imutável, mas uma maneira de ser humana, encarnada, portanto relativa à nossa condição e à nossa situação. Isso significa primeiramente que a moral é racional ou não é moral. A virtude é conduta regida pela razão, não pelas paixões ou pelo desejo. Com efeito, a razão é uma instância superior, universal, que permite conhecer a medida. Ela não se submete às inclinações, mas as julga. Ela faz perceber os fins e os meios e os articulares.

            Voltemos um instante à proposição anterior: A virtude não é a média, ela é a média justa. Saímos então do registro de quantidade, onde tudo está situado num mesmo plano, para passar ao registro de qualidade. Tanto nas paixões como nas ações, há condutas que estão abaixo ou acima do que convém. Há apenas um justo ponto e somente um– aquele que é pura e simplesmente justo. A virtude não é a resultante de vícios que se contrabalançam, sua média aritmética, mas a medida em relação à qual os vícios aparecem como vícios. Isso permitirá definir finalmente a virtude como vértice de superioridade.

            Aristóteles tira uma dupla conclusão dessas análises:

            Na ordem das essências fixadas pela razão (a quididade), a virtude define-se simplesmente como mediedade. Ela consiste numa posição média, já que está cercada por dois vícios simétricos, segundo o excesso e a falta. Não se pode dizer mais do que isso, pois permanecemos no universo das essências que não fornece o bem prático.

            Na ordem da excelência e do perfeito, a virtude é um vértice. Saímos do registro da definição teórica para outras no da racionalidade prática, mas nem por isso caímos na posição média entre comportamentos excessivos e contrários. Com efeito, a noção de meio não deve mais ser apreendida de maneira horizontal, plana, mas verticalmente, em relevo. Portanto, o meio justo é deslocado em relação aos vícios. Ele sobressai, como vértice de um triângulo. Essa mediedade, verdadeiro vértice de eminência, é exatamente o contrário de mediocridade.

          “A virtude é, portanto, uma disposição adquirida voluntária, que consiste em relação anos, na medida, definida pela razão em conformidade com a conduta de um homem ponderado. Ela ocupa a média entre duas extremidades lastimáveis, uma por excesso, a outra por falta. Digamos ainda o seguinte: Enquanto, nas paixões e nas ações, o erro consiste ora em manter seu aquém, ora ir além do que é conveniente, a virtude encontra e adota uma justa medida. Por isso, embora a virtude, segundo a essência e segundo a razão que fixa sua natureza, consiste numa média, em relação ao bem e à perfeição ela se situa no ponto mais elevado”.

(Ética Nicômaco, II, 6)

 

 

Ângela Cristina da Silva Duarte

 

 

Bibliografia

ARISTÓTELES. Ética a nicômaco. 1°edMartim Claret, 2005.

ABBAGNANANO. N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.