Estudo sobre a coerência e o discurso literário na língua inglesa.
Artigo elaborado como disciplina do curso Doutorado em Letras da Universidad Internacional Tres Fronterais.
Stélio Thauassu Rabelo Ferreira*
Com seu textos (que não são nunca simples artigos), reconhecemos sempre a generosidade de um homem que parece escutar o leitor e emprestar-lhe um pouco da sua inteligência, mesmo nos assuntos mais particulares, mais improváveis. Lemos outros linguistas (é indispensável), mas gostamos de Benveniste.
(Roland Barthes)

Resumo

O conceito de coerência tende a ser considerado como uma noção textual (Toolan 2012). Tem sido metodicamente discutido também nas teorias do discurso, ou seja, em uma teoria social do discurso (Fairclough, 2010). Tomando uma abordagem que combina metodologicamente e teoricamente várias áreas do estudo linguístico, este capítulo visa a exploração da coerência no discurso literário. Mais especificamente, reúne observações relevantes e referências à leitura e compreensão de mensagens implícitas em narrativas literárias a partir de perspectivas linguísticas funcionais, pragmáticas e cognitivas. Em breve, procedemos a uma explicação do conceito em narrativa, considerando a coerência como uma característica importante da narrativa (literária). Analisando aspectos e subtipos de coerência em romances e contos, percebemos o discurso literário como uma estrutura de múltiplas camadas em que “as características comunicativas de um texto literário são a fonte de coerência do significado literário” (Kikuchi 2007: 2). O capítulo também aborda algumas questões problemáticas, como a noção de literariedade e discurso literário, resultando em um tipo de leitura diferente daquela estudada na pesquisa de processamento de discurso convencional (cf. Miall, 2002). A relevância dos conceitos pragmáticos de cooperatividade e polidez no estudo da coerência nas narrativas literárias é discutida mais adiante; exemplos de discurso literário são fornecidos para ilustrar estágios e tipos específicos de processos inferenciais. O capítulo prossegue com a implementação de descobertas recentes de pesquisa em psicologia cognitiva como pertencentes a processos de leitura e compreensão do discurso e às formas em que a informação textual é armazenada e recuperada da memória (cf. van Dijk 1978) e conclui numa discussão sobre a dominância da coerência em determinados elementos da estrutura genérica de narrativa literária tão intimamente relacionada às características do gênero e registro. Palavra –chave: Coerência, discurso, linguística.

1. Introdução

O processo de interpretar textos é melhor visto como análogo à interpretação do contexto da situação. O leitor tenta dar sentido a uma interação complexa entre as sugestões e os recursos do leitor. De fato, os recursos do leitor são, com efeito, um mapa mental da ordem social (cf. Fairclough, 2010). Podemos ver esses mapas mentais como interpretações particulares das realidades sociais. No entanto, um mapa mental é necessariamente apenas uma interpretação das realidades sociais e é aberto a muitas interpretações, política e ideologicamente investidas (Fairclough 2010: 83). A importância do contexto da situação nos leva à percepção de que visualizar o contexto da situação em termos de mapas mentais permite ao leitor ler e compreender o texto em dois níveis. O primeiro nível pode ser caracterizado como leitura da situação: certos elementos são colocados em primeiro plano, enquanto outros são baseados em segundo plano, todos os elementos sendo relacionados entre si de várias maneiras. No segundo nível, o leitor está ciente de certas especificações que são relevantes para o tipo de discurso em particular com o qual ele está lidando. As diferenças entre os tipos de discurso são importantes em muitos aspectos, por exemplo, socialmente quando o leitor compreende elementos particulares de contexto e situação com base em seu contexto social e complexo experiencial. Desta forma, os componentes de ação de um texto ou de suas partes criam o que é geralmente denominado como a força do texto (cf. Fairclough, 2010, de Beaugrande e Dressler, 1981). A força do texto está relacionada à sua coerência em muitos aspectos. Coerência é geralmente entendida como uma propriedade de textos, mas alguns autores sugerem vê-la como uma propriedade de interpretações. 4 Em geral, um texto é coerente quando suas partes constituintes são significativamente relacionadas, de modo que o texto como um todo faz sentido. Isso não exige ou garante automaticamente a explicitação de marcadores formais dessas relações significativas, e a abertura de um texto pode variar; sua coerência pode ser mais ou menos incompleta e falta de vínculos coesos (van Peer 1989: 279). Ainda assim, o leitor geralmente é capaz de integrar e inferir a mensagem em um texto literário. Várias teorias e abordagens concentram-se em vários aspectos da coerência. Alguns deles buscam respostas que identifiquem o papel de um pretexto na interpretação de um texto literário, apontando especificidades do contexto de criação e contexto de recepção (cf. Widdowson 2004, 2012). Em uma teoria social do discurso, a função ideológica da coerência tem sido enfatizada (Fairclough, 2010: 84). A ideia principal vem da nossa crença de que um texto faz sentido apenas para um leitor que é capaz de inferir relações significativas na ausência de marcadores explícitos. Como enfatizado por Fairclough (ibid .: 83-84), a maneira particular pela qual uma leitura coerente é gerada para um texto depende da natureza dos princípios interpretativos que o leitor utiliza. Estes estão associados a determinados tipos de discurso de certas formas naturalizadas. Lidando especificamente com o discurso literário, primeiro precisamos identificar a coerência em uma variedade de concepções e aplicações.