Levi Lima de Oliveira, Luciana da Silva Moraes Sardeiro

RESUMO

O presente artigo aborda as metodologias ativas e a escola inovadora buscando, ao analisar as características da área de ciências humanas, investigar quais metodologias seriam mais promissoras na promoção do saber e na produção científica daquela área do conhecimento. O texto objetiva discutir as metodologias ativas mais eficientes no ensino superior das ciências humanas através da associação da conceituação daquelas às características que compõem estas, à luz da teoria de Mikhail Bakhtin. Os resultados alcançados por este trabalho demonstram que a produção científica na área de humanas, pautada não somente nos aspectos cognitivos, mas também nos afetivos indubitavelmente estará a serviço da procura pelo melhoramento das relações da sociedade, assim sendo, as metodologias que incentivam a construção coletiva, o debate, a comparação com o conhecimento já postulado e com os resultados evidenciados pela história, dando ênfase aos aspectos tradicionais como intuito de partir para o novo, alcançam maiores e melhores resultados tanto como ferramenta pedagógica quanto como interação social dos atores da construção  científica.

 

Palavras-chave:   Educação,  Metodologias Ativas, Ciências  Humanas

 

  1.  INTRODUÇÃO

 

Vivenciamos presentemente a era do conhecimento ou era da informação onde a complexidade da prática docente e sua imprecisão são corriqueiramente postas à prova. Mudanças significativas pelas quais passa a sociedade contemporânea ensejam uma reinvenção na docência de modo que acompanhe o desenvolvimento da humanidade, fugindo das  antigas  práticas  em  que  prevalecia  a  imitação  do  existente  em  detrimento  da  criatividade.

Nesse contexto, a sala de aula deve se tornar espaço social estimulante da criatividade e da produção de novos saberes, de forma democrática e coletiva, sem a velha crença de que a criatividade é privilégio de alguns em detrimento de outros. Ao contrário do que se costuma ouvir do censo comum, em que popularmente a criatividade adquire uma conotação mágica, esse fenômeno não se constitui em um dom divino, uma qualidade de pessoas privilegiadas, sendo poucos os agraciados com ela (BENETTI, 2010). Na prática, a sala de aula deve partir dos conhecimentos trazidos por todos os elementos para a construção do novo saber, valorizando e agregando saberes cognitivos, que são os conhecimentos organizados na mente dos seus conhecedores e os afetivos, que representam os sentimentos dos seus conhecedores, que podem ser pensados como experiências afetivas que são concomitantes ao conhecimento cognitivo.

A sociedade do conhecimento exige uma escola inovadora onde se deve imprimir indubitavelmente a qualidade da educação, aspirando formar profissionais cada vez mais cultos, informados, com sólida preparação científica e humanística (PUENTES, AQUINO; BORGES,  2010).

As ciências humanas, que têm como objeto de estudo o homem e a sua relação com o meio, com a sua forma de se organizar em sociedade, possui em suas ramificações uma pluralidade de conhecimentos que passam, constantemente, pela tendência da subjetividade que permeia os aspectos de pertinência antropológica, dessa forma o desafio que se faz presente é o de envolver todos os atores do processo com o mesmo ânimo e motivação para o aprendizado, o que exige ferramentas cada vez mais interativas e atraentes. Ao estudar o homem enquanto ser social, prezando pelo despertar da capacidade de reflexão no próprio homem quando reflete e problematiza a realidade social, essas ciências valorizam a atividade intelectual, como é o caso da antropologia, história, linguística, pedagogia, psicologia, direito, dentre outras.  (ROCHA,  2012).                              

As transformações políticas, tecnológicas e sociais demandam do profissional docente o redimensionamento de sua profissão, não apenas uma renovação de metodologias mas um novo fazer da docência.

As metodologias ativas que tem dentre seus papeis o de livrar os estudantes da mera condição de expectadores do mundo são de uma grande valia para a nova docência, uma vez que o pensar coletivo é incentivado através da sua dinâmica e do seu engajamento com a complexidade que envolve as ciências e com a autonomia do aluno. (BORGES; ALENCAR, 2014).

A proposta deste trabalho é discutir as metodologias ativas mais eficientes no ensino superior das ciências humanas, associando, para tal feito, a compreensão de Metodologias Ativas e que, com suas especificidades se mostram promissoras dentro da área de Humanas, considerando o papel do professor dentro desse contexto para catalisar os resultados das melhores práticas didáticas utilizando-se dos melhores expedientes que podem oferecer aos atores da aprendizagem uma nova experiência docente numa realidade tão tecnológica e individualista  como  a  contemporânea.

2  .   MATERIAL  E  MÉTODOS

Objetivando reconhecer as metodologias ativas mais promissoras para a área de humanas o presente trabalho utilizou-se de: pesquisa bibliográfica descritiva com revisão de literatura. Foram selecionados textos e artigos científicos – disponíveis na base de dados virtuais do Google Acadêmico [http://scholar.google.com.br/]. Publicados entre os anos de 2003 e 2015 – principalmente as que retratam as metodologias ativas, educação inovadora e das que tratam das ciências humanas e suas peculiaridades. A temática principal foi construída com base na interpretação daqueles textos e sua associação à teoria Bakhtiana dentro da interpretação de outros autores citados neste artigo. A análise do  material  foi  qualitativa  e  sua  intepretação  dialética.

3. REFERENCIAL  TEÓRICO

3.1 Escola Inovadora

A sociedade globalizada e informada da multiplicidade de saberes existentes, cujo uso no desenvolvimento material e espiritual é cada vez mais proeminente é ávida por uma escola que a acompanhe nesta gana multidisciplinar. Dessa forma, a educação superior grassa imenso prestígio independente da área de atuação.

Na medida em que a sociedade se sustenta cada vez mais nas ciências, a educação superior passa a ocupar um lugar fundamental no desenvolvimento cultural, socioeconômico e ecologicamente sustentável dos indivíduos, das comunidades e das nações por sua capacidade para preservar, gerar e promover novos conhecimentos, tecnologias e valores (PUENTES et al, 2010).

3.2 Professor inovador

Para uma docência inovadora os atores do processo devem andar em consonância. Um e outros devem ser elementos participativos de processos evolutivos similares, dessa forma, com o surgimento das novas metodologias atreladas as novas tecnologias de informação e comunicação surge também a necessidade de uma nova postura docente.

O gosto pela docência tem que ser algo inerente ao professor de Ensino Superior. Cabe ao professor universitário ser incentivador da iniciação científica propriamente dita, do contato primário do estudante com a forma mais epistemológica de fazer ciência. O professor universitário tem que ir para além do incentivo à curiosidade ingênua do seu aluno, ele deve proporcionar o desejo de conhecer conteúdo, fundamentos e interdisciplinaridade das disciplinas em que atua. A docência deve ser respeitada como área especifica do conhecimento humano, o “fazer docente” é a ferramenta que pode aproximar o aluno da ciência, do conhecimento e da pesquisa. Especialização na área de atuação do professor é fundamental, sem deixar, porém, de sê-lo a formação especifica para a docência (OLIVEIRA, 2015).

4 Ensino  na  área  de  humanas

A mediação educativa para cada curso possui suas especificidades, assim como cada aluno escolhe a sua área de atuação em consonância com suas aptidões profissionais, dessa forma a escolha d metodologia adequada e da tecn logi acertada decerto af tará positivamente  o  rendimento  dos  alunos.

Segundo Assmann (2001, p. 21, apud Sopelsa; Augusto, 2008) a escola só melhora ao criar melhores situações de aprendizagem, melhores contextos cognitivos, melhor ecologia cognitiva, melhores interações geradoras de vibração biopsico-energético. É imprescindível melhorar qualitativamente o ensino nas suas formas didáticas e na renovação e atualização constante  de  conteúdo.

A área de humanas tem como característica marcante a predominância pela discussão dos temas em detrimento de outras estratégias metodológicas, nesse contexto coexistem as novas formas de pensar e fazer ciência com a experiência do docente. Em que pese a equalização da hierarquia do conhecimento na academia contemporânea, tão bem difundida pelas metodologias ativas, ainda se tem no professor a figura de experiência e de conhecimento aprofundado. Segundo Sopelsa et al, 2010 fazendo um pequeno recorte, observamos que o curso das ciências humanas e o das ciências sociais aplicadas consideram as discussões entre professor e alunos como a mais proveitosa enquanto os cursos tecnológicos  e  de  saúde  consideram  mais  eficazes  as  aulas  práticas.

Para Bakhtin (2010) produzir conhecimento dentro das ciências humanas tem como premissa questionar a forte presença do positivismo ocidental moderno, considerando que o conhecimento que os homens podem ter do mundo natural é diferente do conhecimento que podem ter de si mesmos, sobre a sua natureza, suas criações e formas de vida. Neste sentido também considera que conhecer implica em aceitar o abalo de nossas certezas, problematizando, sempre que possível, as explicações que não comportam réplicas, distinguindo o conhecimento produzido no interior das ciências exatas do conhecimento no âmbito  das  humanas.

As ciências exatas são uma forma monológica de saber: o intelecto contempla uma coisa e emite um enunciado sobre ela. Aí só há um sujeito: o congnoscente (contemplador) e falante (enunciador). A ele só se contrapõe a coisa muda. Qualquer objeto do saber (incluindo o homem) pode ser percebido e estudado como coisa porque, como sujeito, não pode tornar-se mudo;  consequentemente,  que  se  tem  dele  só  pode  ser  dialógico.  (BAKHITIN,  2003)                              

5 Metodologias  Ativas

As metodologias ativas partem de experiências reais ou simuladas, visando às condições de solucionar com sucesso para daí desenvolverem o processo de aprender, seus desafios provém das atividades essenciais da prática social em diferentes contextos. Nas metodologias ativas o engajamento do aluno é condição essencial para o sucesso das novas aprendizagem e pela compreensão, bem como a escolha e o interesse para ampliar suas possibilidades. Embora já defendidas e mencionadas há muitos anos no meio acadêmico ainda são as metodologias ativas um expediente muito próspero na docência atual. Algumas dessas metodologias sofrem, com o tempo, adequação às novas tecnologias mas prosseguem em bases sólidas como um terreno fértil da inovação e da promoção da interatividade e renovação do fazer docente. Na área de humanas as metodologias ativas que mais logram sucesso são aquelas que trazem à lume o saber do docente para o confronto com as inquietações surgidas no  processo  de  aprendizagem.

Neste contexto Berbel (2011, p.37) ressalta que cabe ao professor, portanto, organizar-se, para obter o máximo de benefícios das metodologias ativas para a formação de seus  alunos.

6 RESULTADOS  E  DISCUSSÃO

 

De acordo como a proposta deste trabalho as metodologias propostas pelos autores que abaixo relacionaremos foram as que apresentaram características mais promissora para o ensino da área de humanas. Embora dentro do período pesquisado são escassos os trabalhos que referenciam tal adequação foi possível a seleção de três metodologias ativas com o uso da práxis educativa mais aconselhável, não que em momento algum negue a importância das demais, dessa forma, seguem descritas com as considerações de seus teóricos e suas conclusões. 

A pesquisa científica é uma das metodologias ativas muito estimuladas no ensino superior que se alinha a área de humanas por ser uma metodologia que permite ao aluno ascensão de conhecimentos. Permite o desenvolvimento de habilidades intelectuais a níveis mais complexos, além de permitir desempenho técnico prop rcion ndo amplitude no poder de argumentação,  de  elaboração  de  instrumentos  de  pesquisa

O Estudo de Caso, que se caracteriza por apresentar um caso real, fictício ou adaptado da realidade para análise de problemas e tomada decisão. Conceitos já estudados são empregados com a finalidade habituar os alunos a analisar, refletir e decidir em ângulos distintos sobre situações que poderão ser encontradas no cotidiano de sua profissão. O estudo de caso é amplamente utilizado nos cursos de administração e direito, dentre outros, onde os alunos refletem os variados aspectos da área de atuação. Nesta metodologia ativa o professor torna-se mais reflexivo, dialógico multiprofissional e competente para atuar nos processos educacionais em cenários de aprendizagens significativos e envolventes na intervenção em problemas demandados pelos ambientes de aprendizagem, possibilitando assim, a autonomia dos estudantes e uma nova cultura fundamentada na atualização, com a energia necessária para levar à reflexão professores e alunos sobre sua práxis e contribuir para o desenvolvimento  sustentável  da  sociedade.(GEMIGNANI,  2012).

O processo do incidente, outra metodologia ativa também muito utilizada e com grande potencial pedagógico dentro da área de humanas, é uma variação do estudo de caso, onde uma ocorrência ou incidente é apresentado sem riqueza de detalhes para que surjam no próprio aluno as dúvidas que serão tiradas pelo professor, que ficará à disposição para fornecer-lhes esclarecimentos num determinado período de tempo, findo esse período, os alunos são divididos em grupos menores e passam a estudar a situação em busca de soluções. Esta é, sem dúvida uma das mais relevantes metodologias ativas para a área de humanas por suas características de agregação de valores coletivos e valorização da construção da autonomia  dos  estudantes,  promovendo  a  autoconfiança.  (BERBEL,  2011).

 

CONSIDERAÇÕES  FINAIS

 

A produção científica na área de humanas sempre terá forte inclinação a instigar o pensamento coletivo e a busca pela melhoria da sociedade, dessa forma terão maior valor as metodologias que incentivem a construção coletiva, o debate, a comparação com o conhecimento pré-existente, a crítica aos resultados demonstrados pela história e o reconhecimento e valorização dos aspectos mais tradicionais de sua produção científica, além dos  elementos  emotivos  que  grassam  o  conhecimento  em  pauta.

Este trabalho pode ser utilizado como direcionamento de pesquisa investigativa buscando perquirir os níveis em que se manifestam as premissas aqui postuladas, podendo através daí o aprofundamento no assunto à luz das teorias existentes, associando à áreas como a psicologia, a  psicopedagogia  e  à  docência  no  ensino  superior.

 

REFERÊNCIAS

 

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BAKHITIN, M. M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes,  2003.

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SOPELSA, O.; AUGUSTO, M. As Metodologias que Operam a Mediação Educativa no

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todos os nossos professores e alunos que sempre nos inspiraram na busca pelo conhecimento e pelo entendimento da prática docente, que certamente são elementos  fundamentais  e  indispensáveis  para  a  construção  deste  trabalho.