Drº. Luciana Erina Palma ([email protected]);

            Luciana Dionéia Bastos Mucha ([email protected]);

            Marlene Maria Pletsch ([email protected]);

            Rosani Bast ([email protected]);

            Rubia Jaqueline Schaefer ([email protected]);      

Resumo

Neste trabalho buscou-se verificar as estratégias metodológicas para a inclusão de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (ANEE) em escolas públicas em classes normais de ensino. Participaram da coleta duas escolas municipais e duas escolas estaduais da rede pública da cidade de Santa Maria – RS. Realizou-se uma entrevista semiestruturada, com a qual buscou-se analisar as estratégias metodológicas utilizadas pelas escolas e pelos professores de Educação Física nas aulas para a inclusão de ANEE, bem como identificar as contribuições das estratégias metodológicas utilizadas pela escola para a inclusão de ANEE na classe normal de ensino e pelas professoras de Educação física em suas aulas. Procurou-se saber como as aulas são planejadas e estruturadas, levando em consideração a participação de um ANEE na escola e na turma de Educação Física. Dentre as principais estratégias encontradas nas escolas podemos citar as adaptações curriculares, o diálogo, o mesmo tratamento e o mesmo planejamento para todos os alunos e o respeito às individualidades e às necessidades de cada um. Constatou-se que, dentro das possibilidades de cada escola, as estratégias utilizadas pelas mesmas contribuem para a inclusão dos ANEE na classe regular de ensino, porém vale ressaltar que esse processo é complexo e que exige muito preparo das partes envolvidas.

1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS 

            O presente trabalho tem por finalidade apresentar algumas considerações sobre a importância da inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais (ANEE) nas classes regulares de ensino, bem como as estratégias metodológicas utilizadas pelas escolas e pelos professores de Educação Física em suas aulas para que a inclusão ocorra de fato.

            Carvalho apud Duek 2007, pág 35 e 36

“escolas inclusivas são escolas para todos, implicando num sistema educacional que reconheça e atenda às diferenças individuais, respeitando as necessidades de qualquer dos alunos. Sob essa ótica, não apenas portadores de deficiência seriam ajudados e sim todos os alunos que por inúmeras causas, endógenas ou exógenas, temporárias ou permanentes, apresentem dificuldades de aprendizagem ou no desenvolvimento”.

            Um dos objetivos da educação inclusiva é fazer com que as pessoas cresçam sabendo que existe diversidade de seres, que não são todos iguais e que cada um é único. Acredita-se que a escola seja um dos lugares adequados para transmitir esse conhecimento.

             Hoje, ouve-se muito falar em inclusão e integração e, em muitos casos estes dois termos são usados como sinônimo, porém não possuem o mesmo significado. Integração seria a pessoa com necessidades educacionais especiais (NEE) estar entre as pessoas sem NEE, e inclusão diz respeito à pessoa com NEE estar entre as demais e ser aceita dentro deste grupo com suas individualidades. Diga-se que para que haja inclusão, a pessoa com NEE deve ser aceita do seu jeito e se sentir inserida no grupo, aceitando também os demais membros do grupo como eles são e vice-versa.

Sassaki apud Duek 2007 pág. 35

“pontua que estamos vivendo um momento de transição entre o paradigma da integração e da inclusão, fase em que é possível verificar a coexistência desses dois pressupostos. Segundo o autor a integração visa preparar a pessoa com deficiência para que ela possa conviver em sociedade, enquanto que a inclusão propõe a modificação da sociedade como condição básica para que as pessoas com deficiência possam se desenvolver e exercer a sua cidadania”.

            Julga-se que para obter os resultados esperados em termos de desenvolvimento integral, nos aspectos cognitivo, motor, afetivo e social, não basta que a criança com NE esteja integrada, ela precisa estar incluída.

            Já nas aulas de Educação Física a individualidade dos alunos acentua-se, evidenciando as diferenças entre eles. Os alunos precisam conviver com as diferenças e saber que cada um possui o seu corpo e sua maneira de se expressar com ele. Esse fato não pode ser um motivo para que os alunos com NEE não participem das atividades desenvolvidas durante a aula, ou menos ainda ser um argumento usado pelos professores para “preservar” esses alunos.

Atualmente existem diferentes metodologias que podem ser usadas pelos professores para alcançar os objetivos adaptando-as as características de cada turma fato este que facilita a participação dos alunos com NEE nas aulas.

            A Educação Física se utiliza de vários recursos oferecidos para atender os estágios psicomotores de desenvolvimento da criança e para alcançar resultados compatíveis com suas necessidades. Corrobora-se com Hurtado (1996), quando ele afirma que tem que se considerar que “a aprendizagem inicial de qualquer atividade é uma função direta da experiência, a qual se constitui num meio que lhe permite desenvolver eficientemente sua capacidade de percepção das coisas, dos objetos e dos seres que estão ao seu redor”. A aprendizagem deve ser uma atividade permanente, natural e atrativa, devendo haver esforço conjunto tanto de quem ensina como de quem aprende para que ela realmente se efetive.

          De acordo com Moran apud Palma (2000, pg. 12)

“na educação procuramos conseguir maior autonomia nas decisões pessoais, tornar-nos cidadãos, aprendendo a colaborar, a interagir, a relacionar-nos e a não isolar-nos egoisticamente no nosso mundo. Aprendemos a respeitar as diferenças, os ritmos; a dialogar com a diversidade, encontrando o denominador comum, os pontos de partida, de apoio para o diálogo, para a sensibilização, para poder ajudar a maior parte das pessoas a evoluir, a perceber melhor, a dominar os instrumentos da compreensão, da sensibilização, da emoção, da comunicação.”     

           Nesse sentido a Declaração de Salamanca que aconteceu no período de 07 a 10 de junho de 1994, na Espanha, com o objetivo de promover a educação para todos preconizou:

 “O principio fundamental das escolas inclusivas consiste em que todos os alunos devam aprender juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem. As escolas inclusivas devem reconhecer e satisfazer as necessidade diversas dos seus alunos, adaptando aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos adequados, se uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoio de serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da escola.”

           

            De acordo com Avis apud Servat (2004, p. 21)

“Para trabalhar com o portador de NEE a escola não só deve estar adaptada como também é fundamental que a direção, os professores e os servidores do estabelecimento do desenvolvimento e da integração de cada aluno no contexto social/escolar e a contribuição que cada um pode prestar para uma vivência comum”.

Corroborando Oliveira apud Servat (2004, p.22) diz que “ a inclusão é consequência de uma escola de qualidade, isto é uma escola capaz de perceber cada aluno como um enigma a ser desvendado”.

                  Partindo do que foi exposto surgiu o interesse de analisar as estratégias metodológicas utilizadas pelas escolas e pelos professores de educação física nas suas aulas para a inclusão de ANEE, bem como identificar as contribuições das estratégias metodológicas utilizadas pela escola para a inclusão de ANEE na classe regular de ensino e pelas professoras de Educação física em suas aulas. Procurou-se saber como as aulas são planejadas e estruturadas, levando em consideração a participação de um ANEE na escola e na turma de Educação Física. Já com a direção da escola verificaram-se quais as atitudes que a direção e a coordenação pedagógica tomam para que ocorra a inclusão, se há a promoção de eventos integrativos, passeios, palestras e ainda algo de fundamental importância, a estrutura da escola, se a mesma está equipada e preparada adequadamente tanto pessoalmente como fisicamente para receber esses alunos. Acredita-se que esse trabalho tenha sido de fundamental importância, pois com ele se verificou a atual situação de algumas escolas e de alguns professores de Educação Física com relação à educação inclusiva. Julgou-se relevante verificar essa situação, pois foi uma maneira das escolas e/ou comunidade escolar manter ou rever seus conceitos e seu modo de agir frente a esta questão.

 

2- METODOLOGIA

            Os participantes desta pesquisa foram escolas da rede pública estadual e municipal da cidade de Santa Maria/RS que possuíam ANEE incluídos na classe regular de ensino. A escolha das escolas se deu de forma aleatória, respeitando somente o número de duas escolas municipais e duas escolas estaduais. O instrumento utilizado para coletas dos dados foi uma entrevista, com roteiro de perguntas semi-estruturadas contendo alguns pontos como: estratégias metodológicas, planejamento das aulas, relacionamento entre os alunos e dos pais com a escola, estrutura física, baseado em SANT’ANNA (1995).

             Entrou-se em contato com a 8° Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e a Secretaria Municipal de Educação e Desportos (SMED) para obter uma listagem das escolas da rede pública de Santa Maria que possuíam ANEE incluídos na classe regular de ensino. Posteriormente entrou-se em contato com as escolas para a apresentação da proposta de trabalho.

            Após definir as escolas, foi agendada uma entrevista com a coordenação pedagógica e os professores de educação física da escola. As escolas que tinham mais de um professor de educação física foi escolhido um do grupo de professores. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os representantes de cada escola, as quais foram gravadas, transcritas e logo após analisadas.

            Os procedimentos aconteceram em 3 etapas: inicialmente foi  realizada uma visita as escolas onde foi apresentada a proposta de trabalho; depois foram marcadas entrevistas com a coordenação pedagógica (supervisora pedagógica) e com professores de educação física de cada escola, as quais foram gravadas e posteriormente transcritas; por final foi feita a análise dos dados obtidos com as entrevistas.

 

  • APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

            Como já foi mencionado participaram do trabalho duas escolas estaduais que foram chamadas de 1E e 2E e, duas escolas municipais que foram chamadas de 1M e 2M. Em cada escola foram entrevistadas a supervisora pedagógica a qual respondia pela direção da escola e uma professora de Educação Física. Todas as professoras que foram entrevistadas possuíam ANEE incluídos na classe regular de ensino, além disso, uma delas já havia trabalhado com a classe especial.

            Os resultados serão colocados em quadros e logo após serão brevemente explicados.

            No primeiro quadro será apresentado os dados da entrevista com as supervisoras pedagógicas das escolas.

 

QUESTÃO

1E

2E

1M

2M

Discussão sobre inclusão

 - proporciona discussões nas reuniões pedagógicas

- o tema é discutido na escola.

 -busca conhecimentos nessa área

- O tema é discutido, nas reuniões pedagógicas.

Formação dos professores em Relação à Inclusão

 

- formação inicial é falha,

- Há formação continuada            -professores são incentivados a buscar cursos fora da escola.

- A formação inicial precária,  - possibilita formação continuada,         -favorece participação em cursos e palestras.

- proporciona cursos de formação e qualificação na área da Educação Inclusiva;

- leituras, discussões e troca de experiências nas reuniões pedagógicas.

-formação continuada,         -cursos com especialistas da área.

Estratégias metodológicas para a Inclusão

- planejamento;      - organização das situações pedagógicas;          -consideração pelo ANEES;

- apoio da educadora especial.

- adaptações curriculares;       - discussões.

- atendimento igual;

- apoio da educadora especial.

- projetos alunos sem NEE  interagem com a classe especial;   -trocas de experiências      – trabalho desenvolvido dentro das salas de aula.

Estrutura física da escola

- adaptação conforme a necessidade dos alunos.

- não está adequada

- não está totalmente adaptada para atender os ANEE.

-boa estrutura;

- sala de recursos bem equipada;

- não existem rampas nem corrimãos.

Relação dos ANEE com os alunos sem NEE

- relação harmoniosa

- relação satisfatória.

- os alunos sem necessidades especiais são beneficiados.

- relação harmoniosa, com algumas ressalvas

- relação satisfatória.

Relação da família com a escola

- estão frequentemente na escola;

-diálogo constante

- falta a família ajudar;

- aceitar as deficiências de seus filhos;

- entender que a escola não vai curá-los.

- vem melhorando satisfatoriamente

- satisfeitos;

- contentes.

Contribuições das estratégias

-âmbito intelectual;               - âmbito social

- todos ganharam enquanto contexto de sociedade.

 

- em termos sociais

- para os alunos se sentirem bem dentro da escola

Quadro 1: Respostas da entrevista com as SUPERVISORAS PEDAGÓGICAS

 

De acordo com as entrevistadas o tema da inclusão é discutido em todas as escolas, a formação inicial dos profissionais é precária, porém tentam suprir essa defasagem com a formação continuada. Faz- se um planejamento e ainda uma adaptação curricular levando em consideração os alunos com necessidades especiais. Nem todas as escolas possuem as adaptações na estrutura física que necessitam, outras já possuem sala de atendimento especializado equipada. A relação entre os alunos com necessidades especiais e os alunos sem necessidades especiais de modo geral é satisfatória, havendo uma troca de saberes. A relação da família com a escola vem melhorando, há um diálogo, mas ainda deve haver uma conscientização por parte dos pais de que a escola não vai curar seus filhos. E que a inserção dos alunos com necessidades especiais nas classes regulares de ensino traz muitos benefícios no âmbito social e intelectual dos mesmos.

            No quadro a seguir serão expostos os dados da entrevista com as professoras de educação física das escolas.

 

QUESTÃO

1E

2E

1M

2M

Discussão sobre inclusão

- discutido nas reuniões pedagógicas;

- solicitação de informações sobre o assunto.

- discutido na escola.

- discutido nas reuniões pedagógicas;

- cursos de formação continuada.

- constantes discussões

Estrutura  física da escola

 

- não foi modificada para receber os ANEE;

- supre as necessidades dos alunos matriculados;

- conforme necessidade fará as adaptações necessárias.

-há adaptação para atender os ANEE;

- ginásio adaptado com banheiro para cadeirantes.

- não está totalmente estruturada.

- não está adequadamente estruturada;

- aulas de educação física são realizadas no pátio da escola.

Estratégias metodológicas

- respeito as individualidades.

- ANEE na mesma turma desde os anos iniciais.

- conversa;

- explicação;

- demonstração.

-materiais variados;

- ANEE para fazer a arbitragem nas aulas de esportes.

Relação dos ANEES com os Alunos sem NEES

- satisfatória

- satisfatória.

- satisfatória;

- base de todo trabalho é a conversa;

- as vezes há um pouco de rejeição e/ou super proteção

- não têm problema;

- não há discriminação

Realização do planejamento

- às vezes faz;

- deve ser adaptado ao momento;

- depende das condições climáticas e ambientais.

- realiza

- baseado nos princípios da psicomotricidade.

- direciona o seu trabalho para modalidades esportivas

Planejamento com ênfase nos ANEES

- não dá ênfase ao ANEE;

- adapta as aulas as condições de todos os alunos

- não dá ênfase aos ANEE.

- igual pra todos os alunos

- não dá ênfase aos ANEE;

- não planeja atividades diferenciadas.

Contribuições das estratégias metodológicas

- contribui uma vez que proporciona mesmo tratamento a todos;

-ações sem discriminação

por usar uma metodologia progressiva associativa, todos  se beneficiam.

- maior autonomia;

 - aprendem a conviver com as diferenças.

-agir sem discriminação;

-respeito à individualidade;

-desenvolvimento das suas capacidades.

Quadro 2: Respostas da entrevista com as Professoras de Educação Física das Escolas

 

            De acordo com as professoras de educação física o tema da inclusão é discutido nas escolas, nas reuniões pedagógicas, porém, a estrutura das escolas não foi modificada para receber os alunos com necessidades especiais, de acordo com as necessidades serão adaptadas. Dentre as estratégias metodológicas utilizadas nas aulas de educação física, as professoras destacaram que tentam atender as necessidades dos alunos, respeitando a individualidade e oferecendo materiais variados. A relação entre os alunos nas aulas é satisfatória. Todas as professoras realizam seu planejamento, mas não levam em consideração os alunos com necessidades especiais, aplicando o mesmo planejamento para todos os alunos. As estratégias metodológicas usadas pelas professoras contribuem na aquisição de maior autonomia, no desenvolvimento das capacidades e no respeito à individualidade.

 

3.3-  Pontos Relevantes entre as Escolas

      Notou-se que há um engajamento de todas as escolas na busca de um aperfeiçoamento na área da educação inclusiva. Todas as supervisoras demonstraram certa preocupação com esse assunto, relataram à importância de uma formação continuada principalmente nessa área, uma vez que a maioria dos professores saem das universidades despreparados para trabalhar com os ANEE. Ressaltaram também a necessidade das discussões e das trocas de experiências o que tende a ser somado ao trabalho que cada professor realiza.

De acordo com Duek (2007 pág. 41) “a experiência de trabalhar com alunos com necessidades educacionais especiais está contribuindo para que o professor reveja seus conceitos e posturas, auxiliando na formação de atitudes positivas, de reconhecimento e valorização das diferenças, bem como a ressignificação da própria experiência e coexistência”.

 O professor como orientador no processo ensino-aprendizagem possui a tarefa de proporcionar aos seus educandos as melhores formas, maneiras as estratégias de aprenderem e se desenvolverem, independentemente dos contextos em que estão inseridos. Todos possuem as mesmas necessidades não importando classe social, raça, cor, ou menos ainda pessoas com diferenças significativas ou NE. O papel imprescindível do professor é saber associar os conhecimentos e os saberes cotidianos com as práticas educativas da sala de aula contribuindo dessa forma efetivamente no processo ensino-aprendizagem.

            Há uma grande preocupação por parte das comunidades escolares em oferecer a todos os alunos, ANEE ou não, oportunidades e possibilidades iguais na educação, pois todos têm o mesmo direito à uma educação de qualidade.

            De acordo com os relatos, em todas as escolas a relação entre os alunos sem NEE e os com NEE é satisfatória, há o respeito e a ajuda mútua que também são importantes e necessários. Concorda-se e reforça-se a opinião de uma das supervisoras quando ela afirma que nessa “era da inclusão” quem mais sai ganhando são as pessoas que têm a chance de conviver com os ANEE, pois assim todos aprendem a lidar com as diferenças e com as individualidades das pessoas.

            A presença dos pais nas escolas vem crescendo nos últimos tempos, uma causa desse crescimento pode ser a aceitação por parte dos pais da limitação do seu filho. Dessa maneira eles auxiliam no bem-estar do ANEE e podem acompanhar e contribuir diretamente na educação dos mesmos.

            Outro aspecto comum às escolas salientado pelas supervisoras foi a infraestrutura das escolas, pelo fato de serem escolas públicas e não terem muitas condições financeiras, acabam tendo alguns problemas na questão das adaptações necessárias para o melhor atendimento aos ANEE. Afirmaram que as escolas estão minimamente estruturas para fazer o atendimento e à medida que surgirem dificuldades serão realizadas as modificações necessárias.

            Observou-se que todas as escolas, independentemente de qualquer critério, consideram de suma importância o bem-estar dos educandos. A inclusão está se tornando cada vez mais um objetivo que todos estão buscando e alguns já estão alcançando. Entende-se que isso faz muito bem para a integridade dos ANEE, já que todos têm os mesmos direitos e deveres, respeitando sua individualidade.

   Da mesma forma as professoras demonstraram uma preocupação na questão dos conhecimentos na área da educação inclusiva. Todas têm consciência que devem estar em constante aperfeiçoamento para assim poderem oferecer aos ANEE uma educação de qualidade.

 De acordo com Duek (2007 pag. 35)

“o olhar do professor é que guiará o desenvolvimento da criança incluída, e quanto maior a rigidez de suas expectativas e a tendência de querer enquadra esse aluno em padrões pré-existentes, maior a probabilidade  de tal comportamento repercutir de maneira negativa sobre os ritmos de aprendizagem. Em outras palavras, a rigidez nas perspectivas acarreta dificuldades quanto ao cambiamento de certas concepções e práticas em relação ao aluno com necessidades educacionais especiais, ficando ele, impedido de avançar na sua aprendizagem, assumindo de fato o seu lugar de aluno”.

 

            Possuem a mesma opinião no que diz respeito a infra- estrutura da escola, pois elas sabem que as escolas por dependerem de recursos públicos só realizam as modificações estritamente necessárias, acredita- se que este seja um dos motivos que as escolas estão minimamente estruturadas para atenderem os ANEE.

            Mostraram-se compreendidas da necessidade do planejamento, mesmo que muitas vezes ele não aconteça da maneira como deveria, mas ele é de fundamental importância para o andamento do trabalho.

            Libâneo, 1992, nos diz que

“o planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua organização e cooperação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. O planejamento é um meio para se programar as ações docentes, mas é também um momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado a avaliação”.

 

 

            Acredita-se que com o planejamento podemos de certa forma prever o que acontecerá no decorrer da aula facilitando o andamento da mesma. De acordo com Pilleti (1993) para poder planejar adequadamente a tarefa de ensino e atender as necessidades dos alunos é preciso conhecer a realidade e saber para quem será o  planejamento.

            Pilleti (1993) ainda define objetivos como a descrição clara do que se pretende alcançar como resultado da nossa atividade.  Para Libâneo (1992), os objetivos expressam a antecipação dos propósitos em relação ao desenvolvimento e transformação da personalidade dos alunos face as exigências individuais e da sociedade e também o significado pedagógico dos conteúdos. Os métodos, são as formas pelas quais os objetivos e conteúdos se manifestam ao processo de ensino.

            O método de ensino é determinado pela relação objetivo - conteúdo, que pode também influenciar a determinação de objetivos e conteúdos. A matéria de ensino é o elemento de base para a elaboração dos objetivos que uma vez definidos orientam a articulação dos conteúdos e métodos, tendo em vista a atividade de estudo dos alunos. E ainda, os métodos, expressando formas de transmissão e assimilação de certas matérias, agem na seleção de objetivos e conteúdos.

            Pode-se dizer que o conteúdo determina o método, pois é a base de informações concretas para atingir os objetivos. Mas, o método pode ser um conteúdo quando é também objeto da assimilação, ou seja, quando é necessário para a assimilação dos conteúdos.

            Duas das professoras entrevistadas possuem lugares adequados para as aulas de educação física um ginásio coberto, enquanto que as outras duas, uma realiza as aulas nas quadras abertas de um parque municipal e a outra no pátio da escola.

Todas apontaram a conversa como principal estratégia metodológica pra que ocorra a inclusão, além de um mesmo tratamento dado a todos os alunos, respeitando as diferenças existentes. Nenhuma delas realiza um planejamento focado no ANEE, porém todas disseram que eles realizam as atividades dentro de suas possibilidades.

            Em relação a esta questão Carmello apud Servat (2004, p.16), coloca que a palavra estratégia possui o seguinte significado e origem: “sua raiz é grega – STRATEGIA -  e significa ‘ estrada guia’. Em termos gerais, denota o caminho utilizado para realizarmos nossos objetivos e sonhos. Temos várias trilhas para alcançar nosso objetivos. Estratégia sugere algo mais flexível e também apresenta um componente de imprevisibilidade”.       

            Carmello apud Servat (2004, p.16) compreendem estratégia a partir de duas principais linhas “linha de largada e linha de chegada”. Na linha de largada, a estratégia vista como um plano, um sentimento, um caminho guia, e depois, a linha de chegada, como um modelo mental, observando o comportamento explicitado que gerou o resultado.

De acordo com Bordenave e Pereira apud Servat (2004, p. 83) “ para a estratégia didática, dois conceitos são essenciais. São eles os de experiência de aprendizagem e atividades de ensino-aprendizagem. Para realizar seus objetivos, o professor necessita conseguir que os alunos se exponham, ou vivam, certas experiências, capazes de neles induzir as mudanças desejadas”.

Pedrinelli apud Servat (2002, p.33) reforça a idéia de Bordenave e Pereira quando diz que “o professor deverá planejar as atividades de forma que o aluno possa participar o máximo possível”. Servat nos diz ainda que “na elaboração das atividades, o professor deverá elaborar as estratégias que irá utilizar durante a explicação e a realização das atividades, e estar preparado para improvisar estratégias nos momentos em que os alunos apresentarem dificuldades”.

            As professoras relataram que a relação entre os alunos é harmoniosa, a convivência é boa, há um companheirismo, ajuda mútua. Isso é relevante pois assim os ANEE se sentem incluídos na turma e desenvolvem suas capacidades de maneira satisfatória.

            Nos relatos de uma das docentes no que diz respeito a busca de conhecimentos, ela reclamou da falta de cursos que priorizem a inclusão, disse que o que ela mais encontra são informações para turmas especiais e não para ANEE incluídos na turmas regulares. Vê-se assim o engajamento e o comprometimento dessa professora na busca de aperfeiçoamento dos seus conhecimentos, buscando cada vez mais artifícios, metodologias para oferecer aos ANEE uma boa educação.

            Percebeu-se que na escola 2E tanto a supervisora quanto a professora estão atualizadas na questão da inclusão, pela maneira com que argumentaram as questões levantadas pode-se constatar que possuem um conhecimento amplo na área, já as representantes das escolas 1E e 1M também se mostraram interessadas, mas com um conhecimento menor, e as da escola 2M mostraram-se também interessadas em trabalhar a Inclusão, porém com alguns equívocos no trabalho prático quando se compara com os conceitos e entendimentos sobre Inclusão e Educação Inclusiva. Por exemplo, a professora da escola 2M se mostrou confusa quando diz que inclui a ANEE, uma vez que a mesma não participa da aula como os outros e sim somente arbitra os jogos de vôlei.

            Segundo Oliveira apud Servat (2004, p.20):

                                                                  “A educação inclusiva se caracteriza como processo de incluir os portadores de necessidades especiais ou com distúrbios de aprendizagem na classe regular de ensino, em todos os seus graus, pois nem sempre a criança que é portadora de necessidades especiais (deficiente), apresenta distúrbios de aprendizagem ou vice-versa, então todos esses alunos são considerados portadores de necessidades educativas especiais”.

   A inclusão é uma maneira de mostrar que todas as pessoas, independente de suas restrições, têm direito as mesmas oportunidades, tanto em relação a educação como em relação a convivência em sociedade. Convivendo com outros indivíduos, as pessoas com necessidades educacionais especiais (NEE) têm chances de aprender e aperfeiçoar seus conhecimentos, pois, inseridos num grande grupo, são instigados a desenvolver suas potencialidades, facilitando assim o seu desenvolvimento.

            Mantoan apud Duek (2007 pag. 38)

 “destaca que a maioria dos professores tem uma visão funcional do ensino e tudo que ameaça romper o esquema de trabalho prático que aprenderam a aplicar em suas salas de aula é inicialmente rejeitado. Acredita-se, portanto, que a inclusão tem a ver com a postura que o professor assume frente ao que lhe é estranho, desconhecido. No caso da deficiência, isso dependerá de como o educador percebe a diferença do outro”.

 

            Nota-se que as escolas estão no caminho certo para o alcance do objetivo tão almejado, a inclusão. Sabe-se que o percurso é árduo, mas com muito empenho das comunidades escolares, direção, professores, alunos, família os obstáculos se tornam menores e o objetivo é alcançado com êxito.

 

 

 

 

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Pôde-se perceber que as escolas participantes possuem preocupação em relação à inclusão dos ANEE. Todas as professoras se mostraram envolvidas na busca de conhecimentos na área, uma vez que alegaram que sua formação foi falha nesse sentido. Constatou-se que para os professores trabalhar com os ANEE por um lado é um grande desafio e por outro um belo aprendizado. É natural que inicialmente haja um receio, pois, o ser humano tem uma adversidade ao novo, ao diferente e o professor precisa estar preparado para encarar esse desafio, pois se acredita que querendo ou não o professor é o maior agente da inclusão na escola.

            Tanto as supervisoras quanto as professoras mostraram que possuem diversas estratégias metodológicas para incluir os ANEE, dentre elas destacaram adaptações curriculares, o diálogo, o mesmo tratamento e o mesmo planejamento para todos os alunos e respeito às individualidades e às necessidades de cada um. Acredita-se que essas estratégias sejam um início para que a inclusão seja efetivada de fato.

             Constatou-se que os procedimentos utilizados pelas escolas, beneficiam a inclusão, porém ainda existem muitas coisas a serem feitas para poder afirmar que a inclusão está acontecendo. A ideia de que só porque os ANEE estão junto com os demais eles necessariamente estão incluídos é equivocada, pois eles precisam ser aceitos e aceitarem os demais.

            O caso exposto por uma das professoras que disse que pelo fato da ANEE não ter habilidades motoras ela fazia a arbitragem das aulas de vôlei é um exemplo deste equivoco, pois ela não estava incluída na turma, ela estava de alguma maneira isolada, pois não respeitaram a suas individualidades, suas possibilidades e nem teve a oportunidade de desenvolver suas habilidades.

            Outro fator que deve ser mencionado é a participação do ANEE na sua formação, deixando de ser mera “paisagem” inserido em uma turma e passando a ser participativo na aquisição de conhecimentos. Dessa maneira o processo educacional torna-se mais prazeroso e produtivo sendo facilitado para ambas as partes.

            Constou-se que dentro das possibilidades de cada escola as estratégias metodológicas utilizadas pelas mesmas e pelos professores de Educação Física contribuem para que ocorra a inclusão. Não que seja o ideal, mas é início de uma longa caminhada que já está dando resultados.

            Após realizar esse trabalho pode-se dizer que a situação das escolas está longe de ser a melhor, tanto em infraestrutura quanto em qualificação de professores, porém estão no caminho certo, pois todos mostraram muita preocupação em buscar sempre mais conhecimentos. E ainda, o governo deve incentivar a formação continuada, mas de uma maneira que os professores se sintam instigados na busca do novo, como vimos nos relatos de algumas professoras, é possível realizar um bom trabalho, proporcionar a todos os alunos, independentemente de suas limitações uma educação de qualidade. Outro ponto que merece destaque é a questão que nem todos os ANEE têm condições de frequentar uma classe normal de ensino, pois às vezes as limitações são grandes e se ele for para uma escola regular, será prejudicado, vê-se que aí vai do bom censo dos pais e dos professores em buscar uma escola que possa oferecer todas as estratégias para o desenvolvimento integral do aluno nos aspectos motores, sociais, afetivos e cognitivos.            

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CANFIELD, M. S. (org); JAEGER, A. A... [et al.] Isto é Educação Física. Santa Maria: JtC Editor, 1996.

 

DUEK, V.P. Revista “Educação Especial” n. 29, pg 33-44, 2007 Santa Maria. Disponível em:

 

GULART, L. F. A. As formas de comunicação e o processo de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em aulas de Educação Física Escolar. Monografia de Especialização UFSM – Santa Maria, 2004. 

 

HURTADO, J. G. G M. Educação física pré-escolar e escolar; uma abordagem psicomotora. 5° edição. Porto Alegre: EDITA, 1996. 

 

LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992.

 

PALMA, L.E. A comunicação nas aulas de Educação Física: Um estudo com portadores de deficiência. Dissertação de Mestrado UFSM – Santa Maria, 2000.

 

PILETTI, C. Didática geral. São Paulo: Ática, 1993.

 

SANT’ANNA, I. M. Por que Avaliar? Como Avaliar? Critérios e Instrumentos. Petrópolis. Rio de Janeiro. Editora Vozes, 1995.

 

SERVAT, D. R. Professor de Educação Física e alunos com Necessidades Educacionais Especiais: As formas e as estratégias de comunicação utilizadas nas aulas. Monografia de Especialização UFSM – Santa Maria, 2004.