ESTRANGEIRISMOS

Por Lilian Ferraz Zanella | 26/04/2014 | Educação

 

ESTRANGEIRISMOS

 

 

RESUMO: Atualmente, a presença de estrangeirismos em nossa linguagem verbal e não-verbal é significante, para alguns também é preocupante, enquanto para outros é apenas uma conseqüência da flexibilidade da língua. Parlamentares brasileiros elaboraram projeto de lei proibindo o uso de tais termos, sociolinguísticas, como Marcos Bagno, definem esse projeto como um absurdo, uma vez que a língua é variável e recebe novos termos a todo instante, inclusive termos estrangeiros. A discussão vai além da linguística e entra no campo político. Em vista disso, podemos considerar que os estrangeirismos incorporam-se fácil e rapidamente em nossa língua por uma série de fatores, não podemos “expulsá-los”, mas precisamos de bom senso, ao utilizarmos esses termos para fazê-lo de uma maneira ponderada.

Palavras-chave: Variações linguísticas – Estrangeirismos – Identidade linguística

 

 INTRODUÇÃO

 

 

          O estudo dos Estrangeirismos em nossa língua é de grande relevância, visto que termos, principalmente da Língua Inglesa, estão se incorporando na Língua Portuguesa, tanto na forma oral quanto na escrita. Quanto a isso, há um debate movido por questões políticas, apesar da superfície linguística. Estudiosos dessa área já deram seu parecer sobre os projetos de lei que visam limitar o uso de estrangeirismos e expõem que eles ignoram o fato de que a língua varia, pois recebe, recebeu e será impossível proibir que venha a receber novos termos e, dentre eles, os estrangeirismos.

          Isso se torna ainda mais difícil, pois a Língua Inglesa vem divulgando-se no mundo com o domínio político-econômico dos Estados Unidos e da Inglaterra. No Brasil, ela vem invadindo o vocabulário das pessoas pela Informática e meios de comunicação em geral. 

          Diante dessa questão, formou-se uma discussão: a presença de estrangeirismos na Língua Portuguesa é positiva e enriquecedora culturalmente? Ou é negativa, pois abala nossa identidade linguística e traz influência ideológica de seus países de origem?

 

 REFERENCIAL TEÓRICO

 

 

          A Sociolinguística é a ciência que estuda a inter-relação entre a linguagem e a sociedade que a usufrui. É muito importante realçar a diferença entre a Sociologia da Linguagem e a Sociolinguística, pois a primeira estuda a linguagem em sua prática social, dando ênfase ao social, aos indivíduos. Enquanto a segunda, apesar de também investigar a prática da língua, dá prioridade para a linguagem em suas investigações.

          Os estudiosos dessa área iniciaram fazendo algumas críticas à teoria de Chomsky, quando ele aponta uma abordagem homogênea da língua, afirmando que todos os falantes de uma língua têm condições de chegar a um nível ideal, o culto, independentemente de seu meio social. Já para Labov, o termo “Sociolinguística” soa uma redundância, devido que língua e sociedade são indissociáveis, pois a primeira é um produto e expressão da segunda, tendo, assim, ideias contrastantes com as de Chomsky.

          Apesar disso, a Sociolinguística teve um início um tanto confuso, em 1952, pois seus pesquisadores ainda não haviam entendido direito qual seria o objeto de estudo da ciência em questão. Foi então que um grupo desses pesquisadores formado por Fishman, Hymes, Labov e outros, concluiu que, se a Sociolinguística investiga as inter-relações entre a linguagem e a sociedade que a usufrui, é preciso compreender como se dá o uso dessa linguagem por essa sociedade, e ainda mais, se a linguagem é utilizada por toda a sociedade, ou seja, por pessoas que vêm de meios sociais, econômicos e culturais distintos, portanto utilizam a linguagem de maneira distinta também. E é essa distinção ou variação linguística que Labov e outros sociolingüistas concluíram ser a principal preocupação e o objeto de estudo da Sociolinguística. Tais variações ocorrem por inúmeros fatores. Neste estudo, analisaremos o Estrangeirismo, que é um dos fatores que vêm encadear as variações linguísticas.

          Para Saussure (apud Bourdieu, 1985) o mundo social é um universo de trocas simbólicas e essas trocas podem ser entre indivíduos falantes de uma mesma língua ou entre falantes de línguas diferentes. Dessa forma, um deixa influência no outro, sendo que tais trocas, ou intercâmbios, podem ocorrer através de diálogo face a face, pela informática, pela literatura e outras manifestações culturais.

          Rosa (2001) trata justamente sobre as influências trazidas por intercâmbios linguísticos (no caso da análise da autora e também da presente pesquisa, em particular do anglicismo). Sobre isso, ela afirma que quando o interlocutor consegue deixar influências e inclui termos de sua língua na língua de seu receptor, está utilizando a linguagem como forma de poder e até de impor sua ideologia. Entretanto, diante disso, criam-se inúmeras problemáticas, alguns acreditam que os estrangeirismos são verdadeiras “armas ideológicas”, já outros, que enriquecem nosso vocabulário e são uma forma de aquisição cultural como conhecimento de mundo.

          Para Faraco (2001), em tempos de desenvolvimento e descobertas científicas, de computadores com internet cada vez mais presentes em nosso dia-a-dia, nada mais comum do que uma avalanche de palavras de outra língua em nosso meio. A esse fato dá-se o nome de Estrangeirismos ou Empréstimos. Isso nada mais é do que o emprego de termos oriundos de uma comunidade x em uma comunidade y.

          Muitos desses empréstimos não duram por muito tempo, como se fossem uma moda ou uma expressão usada por alguma personagem de novela, já outros se incorporam e criam raízes na comunidade que o adotou, como é o caso do verbo “deletar”, presente nos melhores dicionários da Língua Portuguesa.

          O português, falado no Brasil, recebe empréstimo de aproximadamente cento e oitenta línguas diferentes, entre elas o espanhol, o árabe, o francês, o indígena, mas atualmente, o inglês e a maior fonte de empréstimos a todas essas outras línguas, inclusive o português. Esses empréstimos, além de consideráveis em sua quantidade, estão sujeitos a suspeita de ilegitimidade, mas no Brasil não há nenhuma comunidade que utilize, de forma constante em sua vida diária, o idioma inglês.

         Já foram criadas associações em defesa da Língua Portuguesa, que se mostram definitivamente contrárias ao estrangeirismo, denominando-o como uma “invasão linguística” em nosso País. No entanto, muitos autores afirmam que a língua é flexível e muda no decorrer dos tempos de maneira natural e seria impossível regulamentar essas mudanças, como quiseram os deputados. Afirmam ainda que a própria Língua Portuguesa tem origem em uma outra língua, o Latim, e não é uma língua genuinamente brasileira, trata-se de uma língua de um outro país, Portugal, o qual foi responsável pelo nosso “descobrimento”. Por outro lado, há também uma preocupação desses estudiosos com a imposição de vocabulário estrangeiro em nossa fala e escrita e admitem haver interesses políticos e econômicos por trás desses termos, principalmente tratando-se dos Anglicismos.

          Niskier (apud Bagno, 2000) expõe que “o sujeito que usa um termo em inglês no lugar do equivalente em português é, na minha opinião, um idiota”, para esse autor, é inadmissível a utilização de estrangeirismo e desqualifica culturalmente as pessoas que o utilizam, não compreendendo que elas são vítimas do que Carvalho (1989) chama de “american way of life”, o “modo de vida americano” que é visto como padrão de vida para o mundo ocidental e é imitado por muitos. Esse fator traz varias influências: no vestuário, na alimentação, no lazer, entre outros como a linguagem, por isso os estrangeirismos são mais utilizados na forma oral como uma espécie de “modismo”, já na forma escrita, pode tornar-se até esteticamente inadequado, dependendo do contexto.

          Mas também há uma ideia de que termos estrangeiros chamam mais a atenção e trazem maior credibilidade das pessoas, principalmente tratando-se de comércio. Por exemplo, uma criação estilística com nome inglês, atrairá mais as pessoas e, conseqüentemente, venderá mais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

  

          Após este estudo, verificamos que ainda há muito que pesquisar sobre o tema. Os estrangeirismos geram discussões que vão além da área Linguística, pois se a língua falada no Brasil é a Portuguesa, não seria ela uma língua “estrangeira” e seus termos falados e escritos, inclusive na variante padrão, seriam estrangeirismos?

          No entanto, analisando as mais diversas opiniões sobre os empréstimos linguísticos que estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, nas mais diferentes formas, podemos concluir que deve haver, como em todas as situações, o bom senso, ao analisar essa questão. Não podemos deixar de dar importância e ficarmos atentos a essa “invasão linguística”, para não ficarmos alienados e perdermos totalmente nossa identidade linguística, já fortemente abalada, mas também não fazer “uma caça aos estrangeirismos”.

          Com a tecnologia avançada trazida dos Estados Unidos e do Reino Unido, com intercâmbios culturais entre todos os países, fica impossível não haver essa permuta de termos. Nenhum perderá seu prestígio por adotar um termo estrangeiro, todavia se começarmos a substituir quase todos os termos em português, falados e escritos, estaremos desvalorizando nossa língua e criando uma crise de identidade linguística ainda maior.

          Por outro lado, se utilizamos alguns termos sem tradução para o português, conseguindo compreender seu significado, estamos desenvolvendo a interpretação e enriquecendo nosso vocabulário e nossa cultura.

      

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

 

 

BAGNO, M. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Contexto, 2000.

BOURDIEU, P. ¿Qué significa hablar? Economía de los intercambios lingüísticos. Madrid: Akal, 1989.

CARVALHO, N. Empréstimos Lingüísticos. São Paulo: Ática, 1989.

FARACO, C. (org.) Estrangeirismos: uma guerra em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2001.

ROSA, S. A influência ideológica da Língua Inglesa no vocabulário brasileiro. URI: Santiago, 2001. (Tese de Monografia)

 

INTERNET:

Câmara dos Deputados Federais

http://www.camara.gov.br/

Marcos Bagno

http://www.marcosbagno.com.br/

Jornal Correio do Povo

http://www.correiodopovo.com.br/