É realmente fascinante pensar na possibilidade da existência de vida inteligente em outros planetas. O famoso astrônomo americano Carl Sagan era bastante cético quanto a esta possibilidade. No livro “O homem assombrado pelos demônios” não descartou essa possibilidade de forma definitiva, apesar de considerar o contato com outras possíveis civilizações cientificamente inviáveis.  Uma viagem a um planeta com condições de vida semelhante às nossas, poderia levar centenas ou milhares de anos, pois estaria fora do sistema solar; isso tornaria impossível um contato em tempo real. Uma civilização que desejasse fazer contato com a Terra precisaria utilizar robôs controlados a distância e isso envolveria custos astronômicos e por isso também sou cético com relação aos discos voadores passeando pela Terra sem nenhum propósito objetivo.

Mas vamos dar asas à imaginação e pensar na possibilidade de uma visita interplanetária seja lá de que forma for pousando em nosso planeta. Primeiramente, penso que por uma questão estratégica para evitar riscos de um ataque ou de pânico entre os terráqueos, os extraterrestres escolheriam um local bem ermo, como o deserto do Saara, longe de tudo e de todos. A partir daí, fariam os contatos através de algum sistema virtual e somente depois mandariam os emissários, pois já que teriam conseguido chegar até aqui, dominariam sistemas de comunicação bastante sofisticados.

Mesmo com todos os cuidados, o mundo entraria em um estado de pânico total e a ONU, se representasse efetivamente as nações, seria a interlocutora natural, mas provavelmente o Conselho de Segurança, com as cinco grandes potências se prepararia para a eventual defesa da Terra ou para negociar um acordo de paz. Mas não vejo a possibilidade de que seria uma visita de um conquistador nos moldes europeus em relação à América no século XVI. Seria previsível que viessem em missão de paz, pelo menos inicialmente, caso desejassem ocupar o planeta em longo prazo.  Haveria então a decodificação das linguagens de forma que fosse possível a comunicação entre seres de diferentes planetas. A partir daí buscariam o conhecimento das culturas, do sistema econômico e social, do estágio tecnológico etc.

O planeta Terra simplesmente pararia diante desta nova realidade. Sistemas filosóficos, religiosos, teológicos, econômicos e sociais seriam colocados em suspensão diante do novo paradigma. As nossas verdades absolutas seriam questionadas. A Bíblia e o Alcorão, bases das três principais religiões monoteístas do mundo seriam questionadas. O primeiro capítulo da Bíblia, Gênesis, precisaria ser reinterpretado. A terra e tampouco o sistema solar não seriam mais o centro do universo.  Como os extraterrestres seriam bem diferentes de nós, já que poderiam ter evoluído por meio de outra espécie, seria criado outro dilema, pois segundo a Bíblia o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus.  Bom, poderia se argumentar que os ET’s não tivessem sido criados por Deus, mas por outra divindade? Neste caso Javé não seria o senhor absoluto do universo. Bom, é melhor deixar o problema para os teólogos se isso efetivamente ocorrer.

 Os seres extraterrestres nos olhariam como seres exóticos, tal como os europeus olharam para os povos indígenas ou com um estranhamento ainda maior. Poderiam ser semelhantes às majestosas águias, capazes de voar sem necessidade de nenhuma parafernália tecnológica. Nesse caso olhariam para nós, terráqueos, com um ar de superioridade. Poderiam ver o nosso sistema econômico e social, injusto, desigual com uns poucos concentrando grandes riquezas enquanto a maioria passa por privações. Os partidos de esquerda em todo o mundo darão vivas aos visitantes e apresentariam denúncias sobre as desigualdades econômicas, sociais e étnicas. Mas eles também poderiam ser escravistas, o que seria um retrocesso para nós que, pelo menos filosoficamente, já superamos essa fase.  Poderiam também considerar as nossas formas de religiosidade primitivas, tal como os europeus consideraram as crenças africanas e ameríndias. Nesse caso poderiam tentar impor as suas crenças ou a ausência delas.

Enfim, o homo sapiens descobriria depois de setenta mil anos do seu surgimento no continente africano que não estaria só na imensidão do universo. Seríamos então apenas mais uma espécie que evoluiu a partir de organismos unicelulares até chegar à complexidade dos mamíferos, que foi o nosso caso. Mas como tudo isso são conjecturas, enquanto esperamos notícias do cosmos, vamos criando ficções em torno do que seria a última revolução humana.