Está combinado!

 

Alyne Cristina Dorox Barbosa

 Fabricia Santos Santana

 

Antigamente o que valia era a palavra dada e não a assinatura no papel. Honrar os compromissos assumidos deveria ser algo natural do ser humano.

Neste nosso mundo muita gente se considera esperta por ter passado a perna em alguém negando os compromissos assumidos, por ter furado uma fila ou ter auferido uma vantagem indevida em alguma situação, por exemplo. Porém no geral as pessoas que honram os seus compromissos são geralmente aquelas que chegam ao topo, pois este é o fator que as destacam da multidão.

Honrar com compromissos quer dizer que são corretos nas suas atitudes, seus comportamentos, seus valores e com seus relacionamentos. É claro que existem outros fatores a considerar como a força de vontade, determinação, motivação, entre outros. Fatores estes que são imprescindíveis para o sucesso na vida.

Não conhecemos nenhuma religião ou filosofia que ensine aos seus adeptos a não cumprir a palavra dada, pois desprezar os compromissos assumidos é como cultivar a desonra, por isso, podemos deduzir que faltar  com a palavra dada como fazem algumas pessoas,  são frutos de hábitos adquiridos e falsos valores desenvolvidos.

Aqui no IBF – Instituto Beija-Flor buscamos a formação ética do cidadão por isto ao invés de uma simples normatização das regras impostas de cima para baixo, através de um código de ética extenso ou de um regulamento institucional de difícil entendimento, do qual todos têm que cumprir as regras de controle sem entender muito bem para que servem, criamos uma metodologia de trabalho simples e funcional. Discutimos os valores envolvidos nas mais diversas situações, como por exemplo, o respeito com o outro, com o patrimônio institucional, os valores morais, entre outros. Desta discussão são retirados os combinados que deverão ser seguidos por todos, pois palavra dada é palavra comprida!

Mas para que estas regras sejam cumpridas todos os educadores são os guardiões dos combinados, a referência de autoridade, de proteção, de confiança. Entendemos como educadores todas as pessoas envolvidas no processo educativo, desde os orientadores, voluntários, até o trabalhador do serviço gerais da instituição. A experiência tem nos mostrado que a medida que as crianças vão tomando consciência, vivenciando e refletindo sobre as mais diversas  situações vão incorporando estes valores e pouco a pouco o grupo passa a se auto zelar. 

Ao notar que a criança não está cumprindo a parte dela em relação aos combinados, chamamos para uma nova conversa individual e se persistirem na quebra da sua palavra, aí aplicamos as sanções previamente combinadas, pois como dizem os antigos: “O que que é combinado não é caro”.

A ferramenta principal do controle dos combinados é o Carômetro. Trata-se de um grande placar bonito e colorido, onde o resultado diário do comprimento dos combinados é aferido através de carinhas coloridas: a vermelha é muito ruim, amarela é ausência às atividades e verde é excelente. Esta aferição é realizada individualmente e fica afixada no placar  exposta em um local publico e de fácil acesso, de modo que cada um possa acompanhar o seu o comportamento e o do grupo como um todo.

No caso do excesso de carinhas vermelhas e amarelas, são aplicadas as sanções previamente combinadas e isto é cumprido a risca pelos educadores, como é dito no ditado popular “Sem choro e nem vela”. Exemplos de sanções: perda do direito de ir aos passeios e a eventos e suspensão das atividades, entre outras.  Vale lembrar que em nosso instituto temos uma saída externa por mês para atividades de inclusão cultural como Teatro, cinemas, passeios, de maneira que a criança tenha a chance de melhorar  o comportamento no mês seguinte, já que todo mês inicia-se um novo ciclo do carômetro.

O carômetro é uma ferramenta que interfere diretamente no comportamento das crianças, pois é a partir dele que todos observam e se auto avaliam. Trabalhamos muito com o reforço positivo, por exemplo, se uma criança apresenta bom comportamento, realiza todas as atividades propostas e respeita todos os combinados, esta certamente terá uma “recompensa”, ou seja, o reforço positivo. Se esse reforço apresentado para a criança for agradável, o bom comportamento certamente ocorrerá posteriormente até que este advenha de maneira espontânea. Da mesma maneira que, se a criança desrespeitar, não cumprir os combinados a consequência será desagradável. O objetivo é que a partir dessas consequências as crianças venham aprimorar seu comportamento de maneira favorável.

Um grande estudioso, Skinner, nos afirma que dentro do reforço positivo existem duas variáveis: a primeira que nada mais é do que a apresentação de um estimulo agradável após a criança desenvolver uma atitude desejada, e a segunda é o aumento da assiduidade de um bom comportamento. Quanto mais a criança perceber benefícios de uma boa conduta, mais ela se esforçará para se apresentar da melhor maneira. Skinner, também comenta sobre o reforço negativo: se a criança apresenta uma conduta desfavorável, esta receberá uma consequência desagradável.

De acordo com o desenvolvimento dos alunos podemos observar que, com o passar dos dias, a “punição” tende a diminuir, pois as crianças vão melhorando seu comportamento a partir do momento em que percebem que quanto mais ela se comportar, mais benefícios ela vai ganhar. O que espera-se da criança é que ela exclua o mal comportamento. Então, titulamos de condicionamento operante o procedimento pelo qual certos comportamentos ficam sob o controle de suas consequências.

O Carômetro é uma ferramenta que nos auxilia também na aprendizagem das crianças, pois uma criança que não se comporta, não apresenta a capacidade de concentração, a qual prejudica diretamente na sua aquisição de conhecimento.

A bagunça é contagiante, nos afirma Içai Tiba, e esta se dá por vários aspectos encontrados no âmbito educacional. Um aluno geralmente faz bagunça quando quer chamar a atenção, quer se “sentir” parte do grupo ou simplesmente quer suprir alguma carência.

No IBF - Instituto Beija-flor – focamos principalmente nas questões sócioafetivas da criança, o que nos proporciona uma grande possibilidade de amenizar essas questões de bagunça. Outro fator em que tentamos trabalhar para o melhor resultado, é na questão de aulas mais atrativas. Um aluno geralmente vai querer atrapalhar uma aula chata, que não esteja atraindo sua atenção, se a aula for legal, atraente o aluno não sentirá a necessidade de querer tumultua-la.

O Carômetro vem como grande auxilio em muitas questões educacionais e comportamentais. Através dele conseguimos um trabalhar diferenciado. A criança consegue se auto avaliar e perceber quando esta passando de seus próprios limites. Além de desenvolver o cooperativismo, pois ao perceber que um amigo não esta conseguindo desempenhar um bom papel, esta se dispõe a ajudar o amigo a ser uma pessoa melhor. O Carômetro é uma excelente ferramenta para melhorar o desempenho social, afetivo, comportamental e educacional de nossos alunos.