ESPIRITISMO,  PANTEISMO  E  MONISMO 

Mas o que é o Monismo? É, simplesmente, a Doutrina da Unidade. Sem complicar muito por agora, avançaria dizendo que existem várias formas de Monismo, inclusive o materialista de Haeckel. E o Panteísmo, o que é? Derivado do grego, seus termos estão a expressar: 

 [(Pan) = (Tudo)];  [(Theos) = (Deus)], e  [(Ismo) = (Doutrina)] 

O Panteísmo, criado pelo grande filósofo Bento Spinoza (1632-1677), preceitua que tudo e todos constituem um Deus Universal Abrangente e Imanente. Assim, o universo todo, e tudo o mais que o contêm, sua natureza, seus seres e coisas, bem como Deus, são idênticos, inexistindo um Deus pessoal, antropomórfico, criador. Assim, se tudo é Deus, constituindo uma forma de Monismo, e, portanto, de uma mesma e única substância, todas as coisas e seres também O são, levando-se, pois, a acreditar na Divindade da natureza e de tudo a que a constitui. 

De forma distinta do referido, o Monoteísmo cristão vê Deus em sua Transcendência, porém, distante da criação, se opondo frontalmente ao referido Panteísmo Imanente que, como visto, compreende uma identidade completa de Deus com a natureza. Assim, como já citado, tal escola filosófica acaba por caracterizar-se como monista, pois que tudo é Um só organismo integralizado e indissolúvel da realidade, compreendendo Deus como entidade Imanente, entrosado à criação. 

Mas o que o Espiritismo tem a ver com o Panteísmo? É que o Espiritismo, como Ciência e como Filosofia de aspectos éticos fundamentados no mais puro cristianismo, acaba por abranger e entrosar-se a todos os campos do saber, iluminando e ampliando os horizontes culturais humanos com a verdade e a pureza de sua fonte revelativa imortal. E, no que se refere a tal, “O Livro dos Espíritos” (Allan Kardec - 1857) dedica-lhe um parágrafo especial, no capítulo primeiro.

Em seus dois principais itens sobre tal tema, temos o seguinte posicionamento espírita para a momentosa questão: 

“15 - Que pensar da opinião segundo a qual todos os corpos da natureza, todos os seres, todos os globos do universo seriam partes da Divindade e constituiriam, pelo seu conjunto, a própria Divindade: ou seja, da doutrina panteísta?”. (Opus cit.). 

Obtendo-se a seguinte resposta dos sábios Espíritos codificadores: 

“R - O homem, não podendo se fazer Deus, quer ao menos ser uma parte d’Ele”. (Opus cit.). 

“16 - Aqueles que professam esta doutrina pretendem nela encontrar a demonstração de alguns atributos de Deus. Os mundos sendo infinitos, Deus é, por isso mesmo, infinito; o vazio ou nada não estando em nenhuma parte, Deus está por toda parte; Deus estando por toda parte, uma vez que tudo é parte integrante de Deus, ele dá a todos os fenômenos da natureza uma razão de ser inteligente. Que se pode opor a esse raciocínio?”. (Opus cit.). 

“R - A razão. Refleti maduramente e não vos será difícil reconhecer-lhe o absurdo”. (Opus cit.). 

Se as referidas instruções sobre o Panteísmo, contidas no referido capítulo um (1) de “O Livro dos Espíritos” (Allan Kardec - 1857), tem alguma validade filosófica até nossos dias, é possível ver, por outro lado, que tal questão, onze anos depois de publicada sua obra basilar, ou seja, com a publicação de “A Gênese, os Milagres e as Predições” (Allan Kardec - 1868), o Espiritismo parecia conceber uma mais ampla e moderna visão das coisas, melhorando sua percepção da realidade. Pois que, já aí, vai dar sinais de uma espécie de entrosamento e de uma solidariedade universal entre todas as coisas, numa forma de Deus Transcendente (pessoal) e Imanente (impessoal) à Sua criação.

Entrosamento que se destina a dilatar nossa visão de mundo, nossa concepção das coisas em Deus, compondo um organismo coeso e único, tal como unidade indissolúvel e orgânica. 

Mas não seria tal idéia uma premonição do trabalho monista ubaldiano, que revelaria haver uma espécie de organismo unitário, constituindo a unidade cósmica e universal em Deus? Não haveria de ser, referida instrução, prenúncios da vinda de tal missionário de Jesus, o referido e grande intuitivo Pietro Ubaldi (1886-1972), autor de uma obra monumental, a que se pode denominar: Monismo? 

Dita instrução, codificada na obra de Allan Kardec (1804-1869), está inserida no referido livro (“A Gênese, os Milagres e as Predições”) em epígrafe, no capítulo dois (2), itens 26 e 27.

 

Naquele primeiro item citado, refere o codificador:

 

“26 – Temos constantemente sob as vistas um exemplo que nos permite fazer idéia do modo por que talvez se exerça a ação de Deus (por meio de um fluido inteligente universal: inserção do articulista baseando-se em informe de tal obra de Kardec) sobre as partes mais íntimas de todos os seres e, conseguintemente, do modo por que lhe chegam as mais sutis impressões de nossa alma. Esse exemplo fora retirado de certa instrução que a tal respeito deu um Espírito.” (Opus cit.).

 

Tal instrução, dada por Quinemant, pondera que:

 

“27 – O homem é um pequeno mundo, que tem como diretor o Espírito e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará uma criação cujo Deus seria o Espírito. (Compreendei bem que aqui há uma simples questão de analogia, e não de identidade)”. (Opus cit.).

 

E prossegue o sábio instrutor Quinemant da referida obra codificada de Allan Kardec:

 

 

 

 

“Os membros desse corpo, os diferentes órgãos que o compõem, os músculos, os nervos, as articulações são outras tantas individualidades materiais, se assim se pode dizer, localizadas em pontos especiais do referido corpo”. (Opus cit.).

 

“Se bem seja considerável o número de suas partes constitutivas, de natureza tão variada e diferente, a ninguém é lícito supor que se possam produzir movimentos, ou uma impressão em qualquer lugar, sem que o Espírito tenha consciência do que ocorre”. (Opus cit.).

 

“Há sensações diversas em muitos lugares simultaneamente? O Espírito as sente todas, distingue, analisa, assina a cada uma a causa determinante e o ponto em que se produziu, tudo por meio do fluido perispirítico. Análogo fenômeno ocorre entre Deus e a criação. Deus está em toda parte, na natureza, como o Espírito está em toda parte, no corpo. Todos os elementos da criação se acham em relação constante com ele, como todas as células do corpo humano se acham em contacto imediato com o ser espiritual. Não há, pois, razão para que fenômenos da mesma ordem não se produzam de maneira idêntica, num e outro caso”. (Opus cit.).

 

“Um membro se agita: o Espírito o sente; uma criatura pensa: Deus o sabe. Todos os membros estão em movimento, os diferentes órgãos estão a vibrar; o Espírito ressente todas as manifestações, as distingue e localiza. As diferentes criações, as diferentes criaturas se agitam, pensam, agem diversamente: Deus sabe o que se passa e assina a cada qual o que lhe diz respeito”. (Opus cit.).

 

“Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, a de todos os mundos e, por fim, de todas as criações com o Criador”. (Opus cit.).

 

 

 

 

 

 

E agrega, ainda, dentre outras sábias considerações, o nosso honorável mestre codificador:

 

“Nada obsta a que se admita, para o princípio da Soberana Inteligência, um centro de ação, um foco principal (Deus Transcendente de Pietro Ubaldi: inserção deste articulista) a irradiar incessantemente, inundando o universo (Deus Imanente do mesmo Ubaldi: inserção deste articulista) com seus eflúvios, como o Sol com a sua luz”. (Opus cit.).

 

Referida idéia, pois, aproxima Deus e Sua criação, constituindo um sistema único, reunindo Monoteísmo cristão (Deus Transcendente) e Panteísmo (Deus Imanente), que estariam, por assim dizer, entrosados um no outro, porém, sem confundi-los, onde o Deus Absoluto se adaptaria, por tal, à compreensão dicotomizada de um Deus Transcendente (pessoal) e, ao mesmo tempo, Imanente (impessoal) à Sua criação, constituindo um organismo de bloco único, inseparável, e, ao mesmo tempo, inconfundíveis, segundo tal proposta filosófica. Nesta novíssima conceituação, espírita e ubaldiana, sobretudo, temos, para Deus Absoluto, a seguinte dicotomia interconectada ou fazendo uma conexão (=c=) entre suas partes:

 

 {[Deus Absoluto] = [Deus Transcendente (=c=) Deus Imanente]}

 

Que, sem confundi-los, os integra, paradoxalmente, numa unidade solidária permanente e indissolúvel.

 

Tal artigo, pois, conquanto sua brevidade conceitual, surgira em minha mente com a clara intenção de mostrar como a idéia monista, disposta e desenvolvida pela obra de Pietro Ubaldi, está depositada, em gérmen, pois, na Codificação Kardequiana.

 

 

 

 

 

 

 

O que poderá ser constatado, ainda, no seguinte tópico de “O Livro dos Espíritos” (Allan Kardec – 1857), onde os sábios da Espiritualidade preconizam e, ao mesmo tempo, inquirem em seu item 607, a seguinte sentença:

 

“Já não dissemos que tudo se encadeia na natureza e tende à unidade?”. (Opus cit.).

 

Redundantemente, como venho a frisar: Unidade Monística, haja vista, pois, que o Monismo é, nada mais nada menos, que: a Doutrina da Unidade, como já referido, mas não panteísta no sentido específico do pensamento filosófico de Spinoza, como já visto.

 

Assim, se o Espiritismo de Kardec não é panteísta, dir-se-ia que, indiscutivelmente, o Monismo de Ubaldi também não o é, conquanto as inegáveis contribuições do Panteísmo àquelas formas mais modernas e atualizadas do pensar filosófico resgatando as verdades desta visão sintética da fenomenologia universal.

 

No campo do espiritualismo moderno, donde se inclui alguns respeitáveis intelectuais adeptos do Espiritismo, dissemina-se a visão equivocada de que o Monismo de Ubaldi é panteísta, o que estarei a desmentir taxativamente, mostrando que o grande intuitivo apenas desenvolve o Panteísmo tal como o faz com o Espiritismo, dilatando-lhes as perspectivas ideológicas e filosóficas de até então.

 

É o que abordarei, mais detalhadamente, em meu próximo escrito de título: “Espiritismo: Gérmen do Monismo Ubaldiano”, pois que o problema filosófico, tal como o científico, em nosso mundo, são de imensa complexidade conceitual, não nos permitindo tão breves ponderações em torno dos mesmos; conquanto o esteja tentando obtê-las (por breves conceituações) para não fatigar de forma mais intensa a mente do amigo e atento leitor de tais páginas.

 

 

 

 

 

Assim, de forma bastante sintética, mas compreensível à inteligência mediana, tentarei dar nova vida e nova luz às argumentações falseadas no tocante à abrilhantada verdade descrita pela novíssima moldura filosófica, e monista ubaldiana, esteja claro, do nosso tempo.

 

Moldura Monista que, por sua vez, representa um avanço à geometria cósmica de então, pois que, não só abrange e desenvolve as posturas filosóficas anteriores como vem preconizar, e implantar de vez, a mais avançada e completa teoria do universo físico, astronômico e espiritual por meio do mecanismo fenomênico involutivo-evolutivo, já devidamente analisado por este modesto autor em outros artigos e textos de sua autoria.

 

Mas no momento, é óbvio, basta-nos o enfoque que se restringe ao tema ora cogitado, já tão complexo em si mesmo!

 

Vamos, pois, à continuidade deste no que pude denominar: “Espiritismo: Gérmen do Monismo Ubaldiano”.

 

 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio

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