ESPIRITISMO:  GÉRMEN  DO  MONISMO-UBALDIANO 

O que vem a ser, objetivamente, o Monismo ubaldiano? O Espiritismo pode ser visto como Doutrina Monista, mais especificamente, do ponto de vista ubaldiano? Em artigo anterior: “Espiritismo, Panteísmo e Monismo”, já divulgado pela internet, vimos que sim, que o Espiritismo agrega situações e evidentes fundamentos para tal. Mas estou de retorno ainda para tal confirmação resumindo o tema ao mínimo possível, mas deixando-o o mais claro quanto o puder fazê-lo, sem muito cansar a mente do leitor que, porventura, visualizá-lo. 

Todos nós sabemos que o processo evolutivo se dá do menor para o maior, do mais simples para o mais complexo, das idéias mais rasteiras para as mais dilatadas, num crescendo incessante que parece não ter fim. Exemplos: 

Três grandes sucessivas revelações divinas no tempo-evolução: 

-Moises: primeira revelação;

-Jesus Cristo: segunda revelação, e, por fim:

-Espiritismo: terceira revelação da Lei de Deus. 

Três grandes idéias sucessivas em Física: 

-Clássica, primeiramente;

-Relativística, surgindo simultaneamente com:

-Física Quântica que, por sua vez, prossegue ainda. 

E, assim, sucessivamente, evolutivamente, engrandecendo vastamente nossas idéias de uma e de outra coisa, num processo seqüencial incessante, tendente ao infinito. Como se sabe, o Espiritismo, em sendo essencialmente progressivo, ele também dilata incessantemente, e incansavelmente, seus preceitos, suas idéias no campo científico, filosófico e moral. De Kardec a André Luis, psicografia do notável medianeiro Chico Xavier, quantos aprofundamentos, quantas novas e tão imensas revelações?

E Kardec questionava a alta sabedoria espiritual como, por exemplo, no item 18 de “O Livro dos Espíritos” (1857): 

P: “Um dia o homem penetrará o mistério das coisas que lhes estão ocultas?”. 

R: “O véu se levanta para ele à medida que se depura; contudo, para compreender certas coisas, precisa de faculdades que ainda não possui”. (Opus cit.).

E, portanto, na medida em que o homem se depura, novas revelações e novas compreensões das coisas vão surgindo, melhorando seu entendimento e percepção das coisas, seja de sua exterioridade, seja de sua interioridade, de cunho espiritual e moral. Ora, óbvio está que: não se verificou uma grande depuração humana nos últimos cento e cinqüenta anos, desde a Codificação Espírita; mesmo assim, é possível constatar como se dilatou vastamente nossas noções doutrinárias, como se ampliou, duplicou, triplicou o campo literário espírita com seus inúmeros médiuns, seus competentes escritores, divulgadores nos dois campos de sua paralela atuação: humana e extra-humana, física e extra-física, ou seja, dos homens e dos Espíritos desenfaixados das vestes carnais.

 

Hoje, como a educação avançou muito, e, com a universalização das idéias, seja pela imprensa, pela internet, e muitos outros meios de comunicação, o mundo esteve e está a exigir novos padrões e novos entendimentos das coisas, da vida, e, do universo, e, porque não: de Deus?

 

Passaram-se, torno a frisar, cento e cinqüenta anos. No já referido artigo anterior, denominado: “Espiritismo, Panteísmo e Monismo”, vimos a relação e o entrelaçamento de tais doutrinas, a que se podem juntar mais alguns trechos contidos em “O Livro dos Espíritos” (Allan Kardec - 1857), que preconiza em seu item 604:

 

 

 

“Tudo se encadeia na natureza por laços que não podeis ainda compreender, e as coisas, as mais díspares na aparência, têm pontos de contato que o homem não chegará jamais a compreender no seu estado atual”. (Opus cit.).

 

E completam tal encadeamento harmônico, logo mais adiante:

 

“... tudo, na natureza, se harmoniza por Leis gerais que não se afastam jamais da sublime Sabedoria do Criador”. (Opus cit.).

 

E, refletindo a unidade de todas as coisas, ministram no item 607:

 

“Não dissemos que tudo se encadeia na natureza e tende à unidade?”. (Opus cit.).

 

Eis, pois, naqueles, e, em tais tópicos de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, uma ligeira introdução à Doutrina da Unidade, ou seja, ao Monismo ubaldiano onde tudo no universo se junta e se estrutura tal como organismo unitário harmônico, onde o complexo universal se torna um todo coeso e único, estando Deus como fonte exclusiva e Transcendente (pessoal) de todas as coisas, porém, nelas inserido em uma Sua outra forma, ou seja: Imanente (impessoal), presente em tudo, em todos e em cada um.

 

A principal alegação, e muito equivocada, de que o Monismo ubaldiano é panteísta, parte, em princípio, penso eu, da maledicência humana, bem como, secundariamente, da leitura apressada de seus textos pinçando frases constantes de “A Grande Síntese” (Pietro Ubaldi - 1937 –Fundapu), sem levar em conta a magnífica obra em sua globalidade gigantesca. Assim, tal maledicência acaba por deter-se em idéias e conceitos incompletos do autor que, em face da grandiosidade do seu trabalho, vagarosamente os expunha e os completava seguidamente para a composição maximamente elevada de tão sábia obra.

 

 

 

Mas tal maledicência, e ignorância de alguns pares, não se aplicam apenas e tão-só ao conteúdo da “Síntese”, haja vista que se estende ao conjunto dos vinte e quatro (24) volumosos tratados, não lidos, não estudados, e, portanto, mal digeridos pelos seus contestadores, que, só por aí, se colocam em terreno movediço, fazendo-os cair por sua displicência, sua incúria e ausência de lealdade cristã, sendo, tais elementos, de uma discutível sabedoria e erudição.

 

Ora, é preciso ler, conhecer, estudar, para então, com boa margem de segurança, opinar, descrever, criticar, favoravelmente ou não, pondo-se a favor ou contra, consoante seu nível de percepção, de entendimento ou de despertamento espiritual. Mas este é, compreensivelmente, o Espírito humano, encaminhando-se para mais altas esferas de sabedoria e de valores ético-comportamentais.

 

De “A Grande Síntese”, capítulo seis (6): ‘Monismo’, retiro:

 

“A isto podeis chamar de Monismo. Atentai mais aos conceitos que às palavras. Por vezes a Ciência acreditou ter descoberto e criado um conceito novo, só porque inventou uma palavra. E o conceito é este: como do Politeísmo passasteis ao Monoteísmo, isto é, à fé num só Deus (mas sempre antromórfico, pois realiza uma criação fora de si), agora passais ao Monismo, isto é, ao conceito de um Deus que É a criação. Lede mais antes de julgar. Farei que lampeje em vossas mentes um Deus ainda maior que tudo o que pudesteis conceber”. (Opus cit.).

 

Ao afirmar que: “Deus É a criação”, Ubaldi, ou, “Sua Voz”, não se identifica com o Panteísmo de Spinoza, pois, em tal caso, “Deus É a criação” no sentido Monista da concepção ubaldiana, ou seja, de Deus Imanente, Presente, Inserido nela, porém, distinto da mesma por Sua Transcendência o que não se verifica com a filosofia panteísta do sábio citado.

 

“Deus É a criação”, mais ainda, por realizar uma criação dentro de Si,  e não fora de Si, distante da criação. Ora, se Deus é Infinito, Sua criação se dá dentro de Si mesmo, e não fora de Si.

 

Mas isto, ou seja, dita explicação, dada por este modesto articulista, e que, por sinal, a considero bastante coerente e claramente inteligível de tal instrução de “Sua Voz”, mesmo assim, ainda a vejo um tanto sucinta, e, portanto, incompleta, em vista de mais ampla e mais dilatada explicação do Monismo ubaldiano, cujos pilares, mais adiante, haverão de completar-se por definições ainda mais abrangentes de sua magnífica obra filosófica, detentora, porém, de base inegavelmente científica; mas não deixa de ser bastante interessante o fato de, por aí mesmo, constatarmos como “Sua Voz”, conhecendo antecipadamente a malícia e as diabruras da tosca mentalidade humana, ter advertido por duas vezes:

 

“Atentais mais aos conceitos que às palavras”. (Opus cit.); e,

 

“Lede mais antes de julgar”. (Opus cit.).

 

E tal malícia, tal diabrura da insensatez humana, desencadeara a falsíssima idéia de que o Monismo ubaldiano se equivale ao Panteísmo; não faltassem as advertências de “Sua Voz” que, antecipadamente às críticas maldosas dos seus possíveis opositores, firmemente admoestava: “Atentai mais aos conceitos”; “Lede mais antes de julgar”; e, realmente, logo mais adiante, no capítulo oito (8): intitulado ‘A Lei’, viria a preconizar “Sua Voz”, dilatando mais amplamente seus conceitos:

 

“A Lei. Eis a idéia central (Deus Transcendente: inserção deste articulista) do universo, o sopro divino que o anima, governa e movimenta (Deus Imanente: inserção deste articulista), tal como vossa alma, pequena centelha dessa Grande Luz, governa vosso corpo”. (Opus cit.).

 

E, em seguida, acentua:

 

 “O universo de matéria estelar que vedes, é como a casca, a manifestação externa (Deus Imanente: inserção deste articulista), o corpo daquele princípio (Deus Transcendente: inserção deste articulista) que reside no âmago, no centro”. (Opus cit.).

 

E mais adiante ainda, neste mesmo capítulo, a confirmação de tudo quanto exponho e tenho defendido:

 

“A Lei é Deus. Ele é a grande alma que está no centro do Universo. Não centro espacial, mas centro de irradiação e de atração. Desse centro, Ele irradia e atrai, pois Ele é tudo: o princípio (Deus Transcendente: inserção deste articulista) e suas manifestações (Deus Imanente: inserção deste articulista).

 

Mas, para o incremento de tais idéias, corretoras do Panteísmo de Spinoza, conquanto muito lhe fomente, haverá de bastar ao leitor amigo tomar conhecimento doutro brilhante e maravilhoso tratado ubaldiano: “Deus e Universo” (Pietro Ubaldi – 1951 - Fundapu).

 

Nele, o estudioso leitor terá em suas mãos, para a honesta confirmação do que estou a interceder e justificar, um capítulo completo (de número 18) dedicado ao tema: ‘Imanência e Transcendência’, que, por sua vez, e, mais uma vez, ministrará idéias que colocam o seu Monismo como uma conceituação nova e originalíssima da complexa fenomenologia universal, conquanto abranger as posições doutrinárias do Panteísmo e do Espiritismo, desenvolvendo a ambos vastamente.

 

Ora, Kardec deixou claro e evidente que o Espiritismo não é uma Doutrina Completa; deixou claro e evidente, no capítulo dois (2), item 28, de “O Livro dos Espíritos” (Allan Kardec - 1857), não saber das origens do Espírito e da Matéria ao ministrar o seguinte parecer:

 

“Vemos Matéria que não é inteligente e vemos um princípio inteligente independente da Matéria. A origem e a conexão dessas duas coisas nos são desconhecidas. Que elas tenham, ou não, uma fonte comum, com pontos de contato necessários; que a inteligência tenha sua existência própria ou que ela seja uma propriedade, um efeito; que seja mesmo, segundo a opinião de alguns, uma emanação da Divindade, é o que ignoramos”. (Opus cit.).

 

 

E, assim, esclarecendo a dúvida de Kardec, pois que tudo o que se refere ao Espírito e a Matéria, e inclusive da Energia como elemento intermediário, constantes os três da vasta fenomenologia universal, o Monismo ubaldiano ensina que tudo provém de uma mesma substância original, a substância da própria Divindade, que se diferencia em seu íntimo funcionamento motor e em sua forma exteriorizada, e nada mais. Mas o referido MONISMO ubaldiano, mais ainda, adota o explícito e tríplice entendimento de que:

 

-O universo é dirigido por um Princípio Único: a Lei;

 

-Todo o universo fora construído por meio do transformismo de uma Substância Única, Substância de Deus, potência criadora indefinível em sua mais íntima essência, mas suscetível de transmudar-se assumindo as mais diversas formas concebíveis e inconcebíveis do universo físico, astronômico e espiritual;

 

-Deus e universo, pois, constitui uma unidade orgânica, um só organismo completo por Deus Transcendente e Deus Imanente em tudo e em todos de Sua imorredoura criação, tal qual espécie de:

 

Fórmula do Monismo Ubaldiano:

 

 {[Deus Absoluto] = [Deus Transcendente (=c=) Deus Imanente]}

 

Ou então, mais resumidamente:  {[Dab] = [Dtr (=c=) Dim]}

 

Portanto, quero crer que o Monismo espiritualista de Pietro Ubaldi desenvolve e amplia vastamente os aparatos da geometria cósmica anteriores: de Spinoza e de Kardec, representando um avanço como é próprio dos grandes missionários de Jesus que não vem ao mundo a passeio, ou, então, para confundir, e sim para iluminar, desenvolver e ampliar os motivos filosóficos de então, levando-nos às alturas de uma nova e mais ampla conceituação universal, aqui, apenas esboçada, mas suscetível de ser melhor estudada e assimilada pelos que anseiam pelo seu progresso intelectual, moral e espiritual.

 

 

O Monismo espiritualista de Pietro Ubaldi, pois, está fundamentado na verdade, no que há de mais profundo e belo da criação divina, se adaptando e surgindo, pois, mais exatamente, para as mentalidades  evoluídas do terceiro milênio, ainda que, hoje, alguns de nós, já vislumbramos tal propriedade, mas só nos capacitaremos a um melhor e mais dilatado entendimento mais adiante, quando, então, com as graças de Jesus, daremos também nossa parcela de contribuição doutrinária para tal Monismo, desenvolvendo seu leque de infinitos aprofundamentos.

 

Ora, Jesus não se engana, e, não nos enganou ao nos enviar dois de seus mais importantes missionários do século vinte que se findara:

 

Pietro Ubaldi e Francisco Cândido Xavier.

 

Este último que, no conúbio sublime com um dos mais sábios Espíritos de sua lavra psicográfica, pudera endossar a verdade contida na obra monista e espiritualista ubaldiana.

 

Portanto: “Salve Emmanuel”.

 

 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio

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