ESDRAS PINTO DA SILVA: UM MESTRE INESQUECÍVEL

Esdras foi meu professor de inglês no colegial e com seu jeito debochado, alegre e divertido, conquistou rapidamente os alunos.  Antes de sua chegada a nossa diretora, Lucia Jorge Abdalla nos alertou que iriamos ter um professor tal qual a Hamide Assain José, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Era para dizer que teríamos um grande professor pela sua simpatia, disposição para dialogar com os alunos e uma visão humanista da educação.

As aulas de inglês saíram da chatice de costume e começamos a ver o idioma de Shakespeare sob nova perspectiva. Trazia música dos Beatles e outros para ouvirmos. Imprimia textos de grandes autores do idioma para analisarmos e discutirmos em classe. Boas piadas e histórias interessantes tornaram o curso inesquecível.

Ele gostava de incentivar os alunos a participarem da vida estudantil, mesmo não expondo claramente suas posições políticas. Mas estimulava a rebeldia, a transgressão, pois acreditava que o mundo não poderia ficar como estava. Criticava o preconceito e as posições carcomidas de algumas pessoas e professores. O nosso jornalzinho, chamado o Praxe, era um canal para discussão de algumas questões possíveis na época, em plena ditadura. Diferentemente de alguns professores que mantinham uma certa distância da atividade,  participava do jornal, emprestando seu gravador para as entrevistas e dando sugestões.

Visitei o Esdras algumas vezes em sua casa e sempre fui muito bem recebido pela sua família. Seus pais, eram pessoas bastante formais, mais simpáticos e acolhedores. Fui lá várias vezes com a minha então namorada e depois minha esposa. Conversávamos longamente sobre música popular, tema que ele era um profundo conhecedor. Sua biblioteca era também farta e ele a colocava a disposição dos seus alunos e amigos.

Depois de algum tempo perdi o contato com ele, reencontrando-o na Universidade Metodista onde eu fui fazer um mestrado. Retomamos os contatos e ele nos visitava com frequência, sempre trazendo novidades sobre seu trabalho na Universidade como agitador cultural, promovendo eventos, num dos quais participei como convidado para discussão sobre música e sociedade.

Mas o nosso querido amigo e professor despediu-se da vida de repente, sem aviso prévio. Um enfarto o surpreendeu numa noite calourenta de abril de 2014. Foi uma luz que brilhou durante sua história de vida. Generoso, inteligente, crítico mordaz dos preconceitos e do tradicionalismo, deixou órfãos muitos amigos que lembrarão dele com tristeza e saudades.