ESCUTANDO OS PAIS DE CRIANÇAS AUTISTAS: a escuta como suporte, uma revisão de literatura.

INTRODUÇÃO

Os pais, em geral, ficam ansiosos com as etapas do desenvolvimento dos seus filhos tais como: sentar, sorrir, olhar, reagir a sua estimulação oral, falar as primeiras sílabas e sucessivamente os primeiros nomes; mamãe, papai, mas quando isso não ocorre, alguns se angustiam. E passam a se preocupar com a demora destes sinais de desenvolvimento podendo ocorrer sentimentos de agitação, incômodo, decepção e dúvidas sobre sua capacidade de cuidados e também, se algo de errado se passa com seu filho.
A maioria dos nascimentos resulta em bebês normais e saudáveis, mas em alguns deles isso não ocorre. Os primeiros minutos, dias e semanas depois do nascimento, são cruciais para o desenvolvimento. Os cuidados dos pais com a criança devem ser dobrados, garantindo assim sua sobrevivência e saúde. Um ambiente favorável, com estímulos, cuidados, atenção e pais responsivos, colaboram para o desenvolvimento da cognição da criança (PAPALIA;
OLDS; FELDMAN, 2006).
Para constituir a identidade, a criança precisa de interação com o ambiente como:
pegar, acarinhar, olhar, brincar, sendo essa interação deveras importante no processo do desenvolvimento. Segundo Jonh Locke, a criança nasce sem conhecimento algum, e a partir da interação com o outro ela vai se inscrevendo no mundo (ALMEIDA, 2012).
Neste sentido pode-se afirmar que a relação mãe-bebê é decisiva no desenvolvimento psicológico da criança. Quando não ocorre essa interação a criança não se constitui como sujeito, ficando sem respostas, podendo surgir várias patologias, uma dessas patologias pode ser o autismo, que abordaremos neste artigo (TELES, 2015).
O autismo é um transtorno do desenvolvimento, que apresenta prejuízos na interação social, comunicação e comportamento. Ocorre mais em meninos do que em meninas, e geralmente é manifestado antes da idade dos três anos, tem sua base ainda desconhecida (LAMPREIA; LIMA, 2011).
Segundo a Revista Autismo (2010), junto com o Projeto Autismo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas, da Universidade de São Paulo, informa que no Brasil existe dois milhões de pessoas com autismo. No mundo, a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que tenhamos 70 milhões de autistas (PAIVA, 2013).
Por ser um transtorno que afeta desde muito cedo os vínculos parentais, é observado uma angústia significativa nos pais por não saberem gerenciar suas vidas com os comportamentos estereotipados dos filhos, sentindo-se, algumas vezes, culpados e frustrados (BENEVIDES, et al., 2010).
8 O comportamento de um bebê autista é diferente de outros bebês, pois o bebê autista não se reconhece pelo nome, os pais o chamam e ele não responde como ele é capaz de identificar outros sons como: som da televisão, de alguns brinquedos, não se trata de um problema de surdez. A criança prefere ficar sozinha,quando deixada no berço, ela não reclama, prefere o berço ao colo dos pais. A criança não fala, não olha e mostra certa apatia.
Tem uma fisionomia pouco expressiva e não interage com outras crianças. Crianças sem autismo geralmente imitam os adultos e querem todas as atenções voltadas para ela, já as crianças com sinais de autismo não acompanham os acontecimentos a sua volta. Quando a mãe sai para trabalhar ou volta do trabalho, a criança não mostra interesse por ela (TELES, 2015).
A questão problemática dessa pesquisa é descrever como a escuta pode se tornar um suporte para os pais que tem seus filhos autistas. O objetivo geral é demonstrar como o diagnóstico do filho pode causar impacto nesses pais. E como objetivos específicos:
apresentar o autismo na perspectiva da psiquiatria e psicanálise; Citar a expectativa que esses pais têm em relação ao futuro dos seus filhos e destacar o significado que esses pais expressam sobre maternidade e paternidade em ter um filho autista.
O instrumento utilizado desta pesquisa é de caráter metodológico qualitativo e bibliográfico, que através de livros e artigos científicos foram extraídos as falas dos pais de crianças autistas. Como aporte teórico utiliza-se a psicanálise com os seguintes autores Fink (1998) e Kupfr (1999), conceitos básicos da neurologia e psiquiatria com Junior (2000) e Nascimento (2014).
Segundo Koche (2011), o objetivo da pesquisa bibliográfica é analisar as principais contribuições teóricas existentes sobre um determinado fenômeno ou problema.

1 APRESENTAÇÃO DO AUTISMO NA PERSPECTIVA DA PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA.

Inicialmente discutiremos como o autismo foi pensado a partir do DSM V, para posteriormente falarmos da visão psicanalítica sobre o autismo utilizando autores que referenciam Lacan, dando ênfase mais á psicanálise do que á psiquiatria. Antigamente, muitas pessoas com autismo eram denominadas como loucas, ou então eram vistas de forma bizarra para a sociedade, pois o autismo era pouco conhecido e muitos não sabiam do que se tratava (DORIA; MARINHO; FILHO, 2006). 9 Há diversas teorias que tentam explicar o autismo, para fins de aliviar a dor de muitos que sofrem por não suportarem ver seus filhos com comportamentos que os distanciam da realidade. Hoje em dia é possível considerar que os fatores ambientais e a genética podem contribuir com uma grande influência nessa patologia, pois segundo Lang;Pottmeir(2015) relatam que o autismo tem uma carga genética herdada por meio de muitas gerações e que muitas vezes, os efeitos do ambiente, durante a gravidez(proteção e cuidado, traumas, hábitos nocivos, tabagismo, má alimentação pode afetar não apenas a mãe, mas o feto em formação).
O DSM-V classifica o Transtorno do Espectro Autista (TEA) como:
Déficits na reciprocidade socioemocional. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para a interação social, variando de comunicação verbal e não verbal. Déficits na compreensão e uso de gestos, ha ausência total nas expressões faciais. Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, ha ausência de interesse por pares. (DSM-V, pag. 91, 2014).
Pela compreensão do DSM-V, pode-se inferir que existe um transtorno global no desenvolvimento da criança, mas que é possível realizar um diagnóstico com segurança, por volta dos 24 meses ou até antes, observando que existem varias outras características psicopatológicas que acompanha o diagnostico central de autistas: 70 a 80% dos autistas são deficientes mentais. Quanto mais cedo à criança for diagnosticada com autismo, melhor será o seu desenvolvimento, comunicação e socialização (DORIA; MARINHO; FILHO, 2006).
Em 1943, o psiquiatra Suíço Léo Kanner, foi o primeiro a estudar o autismo nas crianças, desenvolvendo o titulo "transtorno autista do contato afetivo", no qual foi observado um isolamento extremo e um desejo obsessivo pela preservação da mesmice.
Kanner descreve o autismo como uma psicose, referindo que todos os exames clínicos e laboratoriais foram incapazes de fornecer dados consistentes no que se relacionava à sua etiologia, diferenciando o autismo dos quadros deficitários sensoriais, como a afasia congênita e dos quadros ligados às oligofrenias (JUNIOR; PIMENTEL, 2000). Através de um grupo com 11 crianças, kanner observou criteriosamente que a maioria delas tinha algo em comum, com características que diferenciava da psicose e esquizofrenia.
De Kanner aos dias de hoje, alguns paradigmas sobre o autismo foram quebrados e alguns ainda persistem. O psicanalista Bruno Bettelheim em seu livro "The Empty Fortress" (A fortaleza vazia), considera que essa condição é o resultado de maus pais ou de uma falha na função materna (NUNES, 2014), isso gerou muita polêmica aos pais de crianças autistas, pois para alguns soou de forma desagradável alegando ser bons pais e presentes na vida dos seus filhos, mas a psicanálise vem desmistificar o que seria falhas na função materna e paterna. Para a psicanálise estas falhas se encontram no vazio de sentido, ou seja, os pais 10 deixam de antecipar qualquer sentido nas ações ou vocalizações da criança, permanecendo pais e crianças num vazio simbólico (WANDERLEY, 2013).
Para Lacan (1950) a constituição do sujeito acontece a partir do desejo do Outro. A existência da criança no mundo foi um desejo de: prazer, satisfação, poder, vingança, por partes dos pais. Um ou ambos desejam algo, e a criança resulta desse desejo. Por tanto o que faz a criança tornar-se alguém é o fato de desejar. Esse desejo é conseqüência do desejo depositado sobre ela. Em outras palavras, ter sido objeto de desejo é fundamental para que alguém possa se tornar desejante. Antes da criança nascer houve Outro que a desejou. O desejo da criança surge a partir do desejo do Outro de constituí-la como sujeito (FINK, 1998).
Quando Lacan se refere ao Outro Primordial, ele quer dizer que esse "Grande Outro" é a mãe ou a pessoa que desempenha a função materna, fornecendo os cuidados básicos necessários para o bebê além de inseri-lo na linguagem (VITORELLO, 2011).

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