A questão ambiental exige tratamento difuso e transversal, precisa estar presente não apenas nas secretarias de meio ambiente, mas também (...) na rede de ensino. (BRANDÃO, 2005, p.97)

Segundo a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD/MEC (2007) o Brasil tem cerca de 48 milhões de habitantes entre 15 e 29 anos, dos quais 34 milhões têm entre 15 e 24 anos. É nesta faixa etária que se encontra a parte da população brasileira atingida pelos piores índices de desemprego, evasão escolar, falta de formação profissional, mortes por homicídio, envolvimento com drogas e com a criminalidade[1].

Ainda, segundo os dados da SECAD/MEC, estes jovens, na questão do Meio Ambiente, apresentam:

Desinformação sobre o tema (o que é Meio Ambiente, quais as implicações para o cotidiano, quais as possibilidades na área ambiental). • Visão segmentada do tema, desconectada de questões sociais, políticas, culturais e econômicas. Meio Ambiente continua sendo considerado apenas sinônimo de “natureza” (fauna e flora). Além de o tema ser pouco e superficialmente conhecido, não participam de nenhuma organização, projeto, campanha ou ação de proteção ambiental. (2007).

O SECAD/MEC, em seu caderno Educação Ambiental: aprendizes de sustentabilidade (2007) revela algo preocupante:

Em primeiro sobre o destino do lixo nas escolas, em 2004, no Brasil, 49,3% das escolas que realizam Educação Ambiental utilizavam a coleta periódica como destino final do lixo; segundo lugar encontram-se as escolas que queimam o lixo, com 41,3%; terceiro lugar, as escolas que jogam o lixo em outras áreas, com 11,9%. A porcentagem de escolas que reutilizam ou reciclam o lixo não ultrapassa 5%.

     Estes dados apresentados, em relação às desinformações e desinteresse dos alunos, bem como a prática relacionada com o destino do lixo, desconectados da teoria apresentada em sala, relacionadas com a Educação Ambiental ou até mesmo dos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas, revela que ainda estamos longe do ideal e algo precisa mudar em relação à forma do ensino do meio ambiente ambiental dos estabelecimentos de ensino do Brasil.

     Em que pese o apelo feito por Brandão (2005) no epílogo deste subtema, mesmo com este desinteresse é preciso que a Educação Ambiental faça parte da rede de ensino. E uma proposta interessante, apresentada por MELLO (2007), a respeito deste tipo de educação:

Educação sobre o ambiente – informativa, com enfoque na aquisição de conhecimentos para o meio ambiente se tornar um objeto de aprendizado. • educação no meio ambiente – vivencial e naturalizante, em que se propicia o contato com a natureza ou com passeios no entorno da escola; • educação para o ambiente – construtivista, busca ativamente por projetos de intervenção socioambiental que previnam problemas ambientais. (p.18)

     Com estas preposições, o professor terá elementos para assegurar que a Educação Ambiental possa ser efetivada e leve o aluno a mudar sua visão de mundo. Como Afirma BRANDÃO (2005) à educação não munda o mundo, a educação muda às pessoas e, por sua vez, as pessoas mudam o mundo.

MUDANÇA DE POSTURA PEDAGÓGICA

A escola é a unidade social especializada em educação. Mas não é o único lugar onde pessoas trocam experiências e conhecimentos. Ela é a instituição educacional por vocação. Mas não é o único lugar educativo na vida de todos os dias de uma cidade. (BRANDÃO, 2005, p. 74).

O Ministério do Meio Ambiente (2004), por meio da Secretaria Executiva, lançou um livro, com o título Identidades da Educação Ambiental Brasileira, onde se busca retomar vários conceitos, dentre eles o que se deve compreender por Educação Ambiental:

Educação Ambiental é o nome que historicamente se convencionou dar às práticas educativas relacionadas à questão ambiental, que designa uma qualidade especial que  permitem o reconhecimento de sua identidade, diante de uma Educação que antes não era ambiental. (LAYRARGUES, 2004, p.08)

Louvável neste livro e, como salienta a designação do que é Educação Ambiental, atrelada com a identidade, que o educador focado nesta questão, identifique-se com ela e se torne um agente transformador. Como afirma FREIRE (1997), uma prática pedagógica só pode ser transformadora quando se tem a prática dialógica que permite a ideia de que a ação pedagógica deve ser uma ação dialógica. Neste sentido argumenta SPOLAOR (2004): uma Educação Ambiental que tenha compromisso social que promove uma aproximação dialógica entre a perspectiva crítica de Educação Ambiental e os processos indutores de conquista e proteção do equilíbrio ecológico e dos direitos humanos.

A ação pedagógica envolve, desde o início, uma condução teórico-metodológica de parte do educador, o que não significa dizer que o professor, nos moldes da educação autoritária, tenha um saber a impor ou uma verdade a revelar aos alunos.

A mudança proposta por Freire e enaltecida por Spolaor devem ser enfatizada também no contexto da Educação Ambiental, num fazer pedagógico que segundo SPOLAOR (2017), caracteriza-se:

O fazer pedagógico caracteriza-se, então, a partir de matrizes alicerçadas em práticas de cuidado com o meio ambiente que objetivam um autoconhecimento indutor de sentimentalismos antropocêntricos e mudanças individuais e comportamentais em relação à natureza (p. 47).

O professor, como o elemento intelectual capaz de realizar materialmente a teoria-prática, desenvolvendo sua atividade educativa provocando mudanças focadas na Educação Ambiental, uma vez que o educador tem em suas mãos um recurso original que é o aluno um ser em formação/transformação.

Quando se problematiza este fazer pedagógico, especificamente relacionado com a Educação Ambiental, faz-se com base nas necessidades da docência de se provoca mudanças. Assim, relacionam-se os objetos de investigação com os desafios do ensino-aprendizagem, onde o professor deve, além de instigar seus alunos, promover sempre à intervenção.

A vontade de ensinar deve pautar-se no fazer pedagógico, como ferramenta que possibilita a promoção de situações de ensino-aprendizagem que vincula a vida cotidiana e a problemática relacionada ao meio ambiente que deve pulsar não apenas a escola, mas também os espaços não escolares, como mencionado por BRANDÃO (2005), no preambulo deste subtema.

Neste contexto, a escola, por meio de uma mudança em sua prática pedagógica, a escola torna-se um local de aprendizagem que permite a compreensão do significado da Educação Ambiental. Uma vez que vivemos em uma sociedade onde se almeja o equilíbrio ambiental, mas muitas vezes este desejo fica no discurso, não se conseguindo romper as amarras de um sistema econômico injusto.

Diante desta constatação se deve dar ênfase ao trabalho de conscientização, pautado em uma prática pedagógica que construída através de um envolvimento de todos na conquista do respeito ao meio ambiente e, não apenas tornar-se crítico frente às ameaças que circundam todo o planeta, mas ter atitude frente e dentro da nossa sociedade.

O processo de construção destes valores se dá a partir de um trabalho educacional cujos princípios estejam ligados a uma concepção de educação que visa o desenvolvimento integral do Ser Humano, onde as relações entre os sujeitos provoquem a transformação baseada na ligação do saber específico com o conhecimento voltado à conscientização da vida neste planeta.

Ainda hoje se educa dentro de um padrão social, onde a fome, pobreza e lixo são partes intrínsecas da realidade. Como visto na terceira parte deste artigo, as constatações da SECAD/MEC (2007) são chocantes no que diz respeito que na própria escola não se consegue, por exemplo, tratar o lixo de uma maneira correta.

Isso faz parte de um contexto histórico permeado dentro da sociedade do consumismo, sua política excludente, coloca uma divisão social, onde os indivíduos tornam-se marionetes e, a Educação Ambiental figura como um mero resquício que não consegue levar seus sujeitos a perceber a importâncias de valores como autonomia, solidariedade, cooperação e criticidade que são fundamentais para a transformação do mundo envolvido políticas que priorizaram somente o ‘ter’ e esqueceram o ser humano. Esta forma de conceber conceitos meramente conteudista, sem a introdução de valores, segundo SPOLAOR (2017) tornam a Educação Ambiental conservacionista uma vez que distancia a prática educativa da reflexão.

É preciso direcionar o processo de ensino-aprendizagem para as questões ambientais que podem transformar o aluno e professor em cidadãos conscientes e críticos. Estamos diante de sérios problemas de ordem mundial, como por exemplo, o efeito estufa ou a falta de água, é função dos educadores se envolverem com esses problemas mostrando formas em que o educando sinta-se capaz e agir corretamente destas situações.

O trabalho no âmbito escolar com a temática relacionada com a Educação Ambiental é amplo e requer dedicação, reflexão e tomada de atitude para que sejam provocadas as transformações necessárias para a harmonização ambiental, assim poderemos obter, além da boa convivência social entre os sujeitos, também poderemos obter a possibilidade de se contemplar a construção de uma sociedade mais digna de se viver e com um meio ambiente equilibrado.

 

[1] Disponível em < http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao2.pdf>Acesso em 13 fev. 2018