"A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”. (Freire:1999)

RESUMO:

A procura por alternativas que acene para o desafio de estabelecermos uma educação de qualidade aqui no Brasil tem sido atualmente tema de muitas pesquisas no âmbito educacional. As propostas educacionais que são aplicadas nas nossas escolas, nos dias atuais, destoam completamente daquilo que habitualmente é apresentado como discurso de valorização para uma educação completa e crítica. Para superar o tradicionalismo educativo vigente nas escolas brasileiras, necessitamos ampliarmos o debate sobre como dinamizar as potencialidades das instituições educacionais a fim de propor mudanças no sistema educacional que se encontra fragmentado e ineficaz. Nesse artigo trago com foco dessa possibilidade de mudança, a reflexão sobre os objetivos educacionais da Pedagogia Progressista, a qual refere-se às inquietações de Paulo Freire e outros autores que elaboraram propostas de ensino que podem se tornar parte da construção de uma educação com propósitos para uma formação mais completa aos estudantes brasileiros, uma educação capaz de incluir o aluno na dinâmica das escolas, como o protagonista de sua própria formação.

 

PALAVRAS CHAVE:

Escola, Educação, Imaginação, Democracia, Ressignificação, Cidadania.

INTRODUÇÃO

Neste artigo vou me permitir viajar pelos caminhos da imaginação, pelos desvãos corpóreos que conjugam os meus eus consciente e inconsciente que coabitam em mim desde sempre – do broto vingado, à expansão da flora – para tentar elaborar, a partir de então, o porvir de um pensamento que fale daquilo que a minha subjetivação percebe acerca da democracia e sua relação imediata com o processo educacional brasileiro.

Diante disto, informo aos leitores navegantes que a rota que será traçada aqui, neste artigo, poderá levá-los por caminhos incertos, confusos, tortuosos, cheios de perigos vertiginosos, o que poderá provocar-lhes sensações perturbadoras, capazes de lhes causarem náuseas, e até vômitos... Mas, este, enfim, é o objetivo principal dessa construção textual; fazer com que vocês enjoem à exaustão e vomitem, solenemente, se assim desejarem, sobre minhas esquisitices intelectuais.

Iniciando a construção deste trabalho, passo a dizer aquilo que presumo ser os passos iniciais para se entender como a democracia, ou a ausência dela, perpassa o universo da educação de uma forma quase sempre sutil. Neste sentido, tentarei mostrar para vocês, de forma didática, como se eu fosse um professor expondo sua prática pedagógica numa sala de aula. Para começarmos, vamos fazer o seguinte exercício de imaginação: pensemos nesse professor, na sala de aula, dando os primeiros passos na sua atividade docente:

 

– O professor   dirige-se ao quadro e escreve no mesmo a “ordenação” de sua aula, expondo, assim, uma pauta de conteúdos programáticos construída, na sua totalidade, pelo corpo técnico-pedagógico escolar, a qual foi formatada a partir de critérios poucos “democráticos”. Esses conteúdos, por sua vez, terão de ser repassados da forma que está para os educandos, aos quais cabe, apenas, recebê-los, passivamente, e depositá-los na mente, para reproduzi-los posteriormente, quando isto for solicitado, através de uma atividade ou uma avaliação. 

Sinceramente, eu não acredito que as relações de ensino e aprendizagem na escola devam ser assim de uma forma tão passiva. Penso que o educando precisa ser o sujeito de seu aprendizado a partir de uma visão geral de mundo; não apenas como um copiador e reprodutor oprimido desse processo educacional, que, na maioria das vezes, não valoriza suas particularidades. Acredito que o aluno precisa ser mais ativo, agir como o protagonista desse contexto educacional, contribuindo, desta forma, com sua aprendizagem de forma significativa.

Nessa perspectiva, cabe ao sistema educacional estimular e sensibilizar seus alunos para o desenvolvimento dessa autonomia: incentivá-los para que eles venham a ser os protagonistas desse processo de produção e construção do seu próprio conhecimento, como dizia FREIRE (1996, p. 21): “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”.

Diante dessa “proposta” programática fechada em si mesma, caberia aqui o seguinte questionamento: afinal, para que serve o discurso de democratização na escola se os alunos não a exercem em sua plenitude? Se não lhes são abertas possibilidades de, pelo menos, poder opinar sobre o que foi pré-definido, pela direção pedagógica da escola, acerca dos conteúdos a serem vistos em sala de aula? De que serve esse discurso “democrático” se a prática cotidiana dentro da mesma não torna afirmativo o que está sendo dito? Não é óbvio vermos participação ativa de atores sociais onde há a plena liberdade democrática de expressão e atuação?

Para mim, uma escola que não dá voz e nem vez aos seus alunos, não pode falar em democracia, pois não a exercem de verdade. Um discurso que não é seguido, imediatamente, pela prática, como falava Paulo Freire, não serve para nada, é só discurso vazio. O aluno não está na escola apenas para ser doutrinado passivamente, porque este não é um ser autômato programável. É inadmissível admitir que educandos sejam vistos como “seres programados para aprender”, como afirmou o bioquímico e geneticista francês François Jacob em 1965. Prefiro conceber como verdade o que disse Paulo Freire sobre a capacidade social e histórica que o ser humano desenvolveu, ao longo do tempo, de aprender:

“Somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem aberturas aos riscos e à aventura do espírito” (FREIRE, 1996, p. 68). 

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