Erro de português, colonialismo e preconceito

 

No poema “Erro de português” Oswald de Andrade, nos apresenta um erro cometido pelos portugueses e por todas as nações colonialistas e imperialistas: impor aos índios a cultura europeia.

Diz o poema:

Quando o português chegou

Debaixo duma bruta chuva

Vestiu o índio,

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português.”

Observando direitinho e analisando o que disse o modernista, podemos dizer que no mesmo poema, o Oswald também cometeu um erro.

Qual? Inverter o processo.

Dizer que o índio, numa outra situação, poderia “despir” o português.

Essa afirmação é o inverso do que fez o português ao “vestir” o índio. Ou seja, impor ao outro sua cultura é um erro: do português ou de qualquer outro povo. E quem se sente ou se acha superior, sempre faz isso. A história está repleta disso.

Tirar do outro a cultura que lhe pertence ou impor ao outro o que não lhe é próprio é um erro. O erro consiste em supor que aquele que tira ou aquele que impõe é superior àquele de quem se retira ou a quem se impõe. E o erro não está na cultura diferente, mas na suposição da superioridade. Uma aparente superioridade que confere um aparente poder de impor ou tomar.

Isso fizeram os portugueses em relação aos índios do Brasil. Os ingleses em relação aos povos aborígenes norte-americanos, australianos, africanos... Isso também foi feito por espanhóis, franceses e todos os outros colonizadores e mais tarde pelas nações imperialistas.

Em nome de uma aparente superioridade foram cometidas inúmeras atrocidades. Em nome dessa aparente superioridade desenvolveu-se um aparente progresso. Desde os tempos coloniais o que moveu as nações a se sobreporem às outras foi essa aparência: em nome da fé, em nome do progresso e sobretudo em nome do lucro. Desde os tempos coloniais até o imperialismo dos séculos XIX e XX se manteve o mesmo erro do português, cometido pelo nosso Oswald e petrificado pelo uso: supor que um povo é superior ao outro. Supor que o outo é inferior a mim.

O resultado disso, qual foi? A solidificação de todos os tipos de preconceitos. Uma característica humana que foi assumida pela história e virou mau hábito...

 

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO