Quem trabalhou na Unipar até o final dos anos 1980 deve se lembrar de uma figura magra, esguia, de cabelos brancos, sempre muito elegante, que aparecia por lá uma vez por semana. Era o velho Ernani Pilla (1910- ?), o presidente da empresa. Ele ficava no Rio de Janeiro e trabalhava na sede do Grupo Unipar. Sua secretaria se chamava Maria Lídia, muito simpática e na época estudava Arqueologia, pois seu sonho era fazer pesquisa arqueológica depois da aposentadoria. Numa das festas de aniversário da empresa ela compareceu a convite da Cleonice.

Gaúcho, filho de italianos, a família Pilla fez parte da história do Rio Grande do Sul. Seu irmão, Raul Pilla (1892-1973), foi um dos fundadores do lendário Partido Libertador em 1928 e era um ardoroso defensor do sistema parlamentarista. Médico, jornalista e professor, foi membro da Aliança Libertadora e um dos líderes da Revolução de 1923, conflito entre os chimangos e maragatos no Rio Grande do Sul. Por ser um constitucionalista, rompeu com Getúlio Vargas em 1932 e foi para o exílio, na Argentina. Até hoje ele é lembrado como um herói dos pampas.

Ernani Pilla, economista de formação, por sua vez, participou da fundação da Refinaria União situada em Capuava ao lado do economista Alberto Soares Sampaio e sempre esteve presente nos vários empreendimentos desse capitão da indústria. Na Refinaria foi diretor e, posteriormente, diretor e presidente do Grupo Unipar, depois da morte de Sampaio. É bom lembrar que a Refinaria União foi pioneira em benefícios para os empregados, inaugurando os programas de participação nos lucros.

Conta o Aderbal Brenn, que o Pilla gostava de falar sobre seu irmão Raul durante o almoço quando ele vinha na fábrica. Numa entrevista sobre o irmão para um pesquisador, ele comentou: “O Raul, sempre que estava em casa, ficava fechado estudando ou ouvindo música clássica, mas isso depois que apareceu a vitrola. Não fazia política para se exibir. Fazia por vocação, um ideal. Mas ele adorava discussões e isso acontecia sempre nos jantares de família”.