A cadeira circular suspensa por quatro cordas fortes presas nos caibros do telhado, era forrada com uma grande almofada estampada, tinha encosto macio para apoiar a cabeça e oscilava lentamente embalada pelo vento. Anoitecia. Eu não resisti ao convite da cadeira e me sentei confortavelmente, deixando-me embalar num gostoso pra lá e pra cá, como se fosse uma criança. A casa ficava em um lugar elevado e da varanda se avistava metade da cidade lá embaixo, pontilhada de picos luminosos que brilhavam entre a folhagem das árvores do parque. As cigarras cantavam, alguns grilos também cantavam e de vez em quando um pirilampo atravessava o espaço clareando a noite com o seu pisca pisca de luz esverdeada.  Parecia um sonho aquele lugar, e eu naquela cadeira mágica me sentia num paraíso. Alguns minutos depois uma pessoa se aproximou devagar e como sempre, em seu rosto não havia nenhum sorriso, e até estampava um certo ar de amargura. Ele morava ali há algum tempo, enquanto eu estava de passagem. Então eu lhe falei de como era maravilhoso contemplar aquele cenário, ouvir o som mágico dos bichos cantando,  sentir no rosto aquele vento e respirar o cheiro das árvores em volta, além de avistar ao longe as luzes da cidade. Lembro-me de que falei que tudo aquilo até me dava vontade de cantar. Mas ele ficou ali parado, calado, fitando o nada, piscando um pouco rapidamente os olhos. Então lhe perguntei:

Você não gosta de se sentar aqui nesta cadeira e se balançar, curtindo esses momentos assim tão relaxantes? Eu estou maravilhada!

Ele continuou ali de pé, estático, custou a falar e respondeu:

Não. Nunca me sentei aí. E nem vou me sentar.

Mas... por que? Experimenta agora então, senta aqui, falei já cedendo-lhe o lugar, e nveja como vai lhe fazer bem. Aqui a gente até esquece a vida, que nem sempre é boa. Você vai sentir o que eu estou sentido! E ele continuou, indiferente ao que eu falei:

Olha, não é obrigado que, o que for bom pra você ser bom para os outros também. E voltou, me deixando ali, perplexa.

Algum tempo depois da nossa breve conversa eu o avistei lá no fundo do quintal onde havia uma lâmpada de luz mortiça, próximo a uma lata de lixo, sentado numa cadeira bastante desconfortável olhando para baixo, fitando o chão. Tinha um cigarro preso entre os dedos. Seu rosto, como sempre, estava envolto numa nuvem de fumaça. Com certeza os seus pensamentos também estavam sempre assim, envoltos numa nuvem escura. E sempre viveu assim, até o fim.

 

Autora: Junia - em 22/01/2016