Entrevista da Repórter Vitória Caetano com o Padre Joacir d'Abadia  - Romaria do Muquém 2015

 

A Web TV Maria recebe, Padre Joacir, que atualmente reside em Alto Paraíso, na Diocese de Formosa. O padre é autor de 08 livros, 04 dos quais são publicados no exterior.

Repórter Vitória Caetano: _ Padre, como é que o senhor concilia o sacerdócio e uma carreira de filósofo?

Padre Joacir: Olha! É muito interessante este trabalho tanto de pesquisa quanto também de fé. A Igreja sempre foi pioneira naquilo que consiste a ciência. Se nós formos pegar na história, os primeiros colégios e as primeiras faculdades eram direcionados principalmente à formação e também eram tidos como um meio da Igreja trabalhar na sua formação.

O que venho trabalhando é justamente falar de uma filosofia antropológica que é tratar da pessoa. A Igreja desde seus primórdios vem tratando sobre a pessoa de diversos modos, tem umas épocas que vai tratar mais no sentido de pecado, outra no seu sentido mais acadêmico, mas em todo o tempo vai estar sempre em jogo a própria pessoa.

Também na minha filosofia eu trago muito isso de trabalhar o ser humano enquanto sua própria totalidade, então eu concilio fazendo esse jogo entre a fé e a razão, olhando sempre para o mesmo norte: Jesus que está sempre indicando qual é o caminho. Não importa de onde nós saímos nem onde vamos chegar. O importante é que temos que trilhar um caminho de luz que tem como base o próprio Senhor.

Repórter Vitória Caetano:  Padre, o senhor é Especialista em Docência do Ensino Superior e Membro do Conselho de Projetos e Pesquisas da UnB. _ Fé e razão não são coisas opostas?

Padre Joacir: Olha! Muito se pensou sobre isso e até mesmo na faculdade, na ciência sempre procuramos compreender essa pergunta.

Temos uma frase de Pasteur - que foi um grande pensador-, na qual ele afirma: "A pouca ciência afasta de Deus e a muita ciência aproxima de Deus". E, é justamente isso, nós só vamos pensar que a fé e a razão vão se distanciar quando temos pouca fé, quando temos pouca razão, então um vai ficar contra o outro.

Agora quando temos uma base e a outra base, vamos saber que - pegando o exemplo da própria Igreja-, os pensadores e os doutores, são pessoas maravilhosas que pensaram coisas que até hoje estão valendo. Então, assim, a fé e a razão caminham juntas. Quando nós temos sempre a luz que é o próprio Senhor, não tem como negarmos a fé e a razão.

Repórter Vitória Caetano: O senhor tem "d'Abadia" no sobrenome. _ De onde vem e por que o senhor faz questão de estar presente aqui no Muquém?

Padre: Graças a Deus você fez essa pergunta para eu lhe responder, porque já é o sétimo ano que eu venho na Romaria e eu tenho sempre esse desejo de continuar valorizando aquilo que eu carrego em meu próprio nome.

A minha família é uma família que tem devoção a Nossa Senhora.

Sempre teve uma devoção muito forte a Santa Luzia que nós celebramos dia 13 de dezembro e com isso nós sempre estivemos muito ligados a fé em Nossa Senhora, aos santos. Com isso, o nosso nome - já pesquisei e não tem nada a ver em dizer que foi consagrado a santo-, "d'Abadia" é realmente um sobrenome, também já tenho esse nome a carregar.

Antes de me tornar padre, já estive participando umas duas vezes e já tem cinco anos que eu venho ininterruptamente.  Tive a oportunidade de celebrar aqui duas vezes [em 2012 e 2014]. Tenho sempre muito essa fé que Nossa Senhora é quem vai nos abrindo as portas e há muito tempo que eu já tenho tantas experiências com Nossa Senhora.

Na minha Paróquia mesmo, eu conto inúmeros fatos que já me aconteceram em relação a Nossa Senhora, e, principalmente, Nossa Senhora d'Abadia, não sei se por causa do próprio nome, mas eu tenho muito isso na minha vida: trazer ela como base pra minha fé.

Tudo o que eu peço a ela eu recebo, então estar aqui é uma forma de agradecer.

Repórter Vitória Caetano: Conta pra gente um desses fatos, uma dessas Graças que o senhor recebeu das mãos de Nossa Senhora.

Padre: Olha! Eu tive uma época na minha comunidade, em Alto Paraíso que também é dedicada a Nossa Senhora das Graças, um momento que foi muito importante, uma experiência de fé. Quando eu cheguei era uma comunidade muito pobre, assim uma coisa que não estava fluindo muito bem. Como eu moro em Alto Paraíso, é uma cidade que se conhece mundialmente porque tem as experiências esotéricas, lá tem todas as seitas, todas as religiões, então, com isso, a fé do povo era uma coisa bem arraigada, aquela realidade difícil.

            Teve uma época que eu precisei de pagar as contas, sabe que uma das coisas da Igreja, nas comunidades pequenininhas a gente sofre para pagar as contas. Temos que rezar e sermos pessoas de fé mesmo. E, não tinha nada, então fui, e, clamei a Nossa Senhora.

            _ Falei: "Oh! Nossa Senhora, ajuda-nos pra conseguir pagar as contas!"

             Tinha um rapaz da Comunidade Luz Divina que fazia Pastoral comigo lá em Alto Paraíso, o Jean. Aí eu falei:

            _ "Jean, vai lá na Igreja e olha o quanto nós temos no cofre".

 Ele olhou com a lanterna do celular e voltou para casa e falou assim:

_ "Padre, nós temos 6 notas de RS 2,00".

Então, logicamente, nós tínhamos R$ 12,00. Contudo, veio na minha cabeça: "padre vai lá olhar". Já estava à noite e eu falei: "não vou fazer um negócio desse, seria muito incrédulo da minha parte". Quando foi de manhã eu chego lá e olho quanto nós tínhamos. Na verdade, cada nota daquela era R$ 100,00, então, nós tínhamos R$ 600,00 reais. Quando eu chego e chamo a minha secretária e falo assim:

_ "Olha quanto temos para pagar".

Falei para ela o fato e ela ficou toda empolgada, fomos e pagamos todas as contas. Então eu falei:

_ "Mas Deus tem alguma coisa para falar sobre isso, porque não é só dar o dinheiro assim por dar".

Aconteceu que na mesma hora quando nós pagamos chegou uma pessoa e disse:

_ "Olha padre, eu fiquei sabendo que o senhor é uma pessoa muito caridosa, que faz as doações para a comunidade, gostaria que o senhor me ajudasse também".

Respondi:

_ "Olha, eu não sei se eu sou caridoso, mas o que eu tenho feito para as pessoas é o que eu venho fazendo sempre".

_ "Mais no que você quer que eu o ajude?"  e ele disse: _ "olha, o garfo da minha bicicleta quebrou e eu tenho que continuar viajando, eu sou viajante. O senhor pode me ajudar?".

Aí eu falei assim:

_ "quanto custa esse garfo da bicicleta?".

Ele respondeu:

_ "Ó, eu passei em tal bicicletaria e está dizendo que lá é R$ 68,00".

Olhei para ele e falei: ­

_ "Mas R$ 68,00 reias é muito caro, né?! Até brinquei.

Aí ele falou:

_ "É caro, é o melhor!"

Rebati:

_ "Olha, eu gostaria de dar o melhor para você, mas no que pudermos ajudar queremos ajudar".

Pedi a secretária para ligar lá e tinha um de R$ 43,00. Aí eu falei para a menina:

_ "conta quanto nós temos, quanto  que sobrou das contas".

Pra vocês verem, naquele dia nós tínhamos R$ 43,00 que tinha sobrado das contas.

Olhei para ele e falei:

_ "Olha, você vai sair daqui recebendo a sua própria graça, porque nós também recebemos uma graça. Nós temos R$ 43,00 reias é o que é preciso para você".

Só que ele pegou, recebeu aquilo e foi embora. Depois quando terminou aquele fato que eu percebi:

_ "Era Jesus, que estava aqui. Era Nossa Senhora que estava mandando para me testar”.

E, quando eu olhei para ver onde eu encontraria aquele homem, não mais o vi na cidade, ninguém falou se viu esse homem ou não. Mas o fato é que Nossa Senhora, ela me mostrou, ela me testou.

Então, são por esses fatos que eu digo que Nossa Senhora tem sempre trabalhado na minha vida. Então, jamais fui desamparado quando eu clamei. E seja em seus diversos títulos: Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora d'Abadia, ou seja, Nossa Senhora está sempre presente na minha própria vida.